Vale puxa o Ibovespa e garante alta do dia, mas dólar avança com temores fiscais na véspera do Copom
Em Nova York, a volatilidade foi mais comedida. No Brasil, o conturbado cenário interno trouxe dor de cabeça e tensão para o Ibovespa e o câmbio

O movimento do mercado financeiro nesta terça-feira (03) exigiu cintos bem apertados e alta tolerância a emoções. Tanto o Ibovespa quanto o dólar viveram uma verdadeira montanha-russa.
Não foi uma viagem de montanha-russa agradável e sim uma daquelas com intensa trepidação. O dia amanheceu com cara de recuperação, mas o tempo fechou muito rapidamente. Em Nova York, as bolsas operaram em leve queda por alguns minutos, com as atenções voltadas para os resultados mistos da atividade econômica americana e as incertezas em torno do que o Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, deve fazer para garantir um controle dos preços e a recuperação pós covid-19.
O Ibovespa pegou a aversão ao risco internacional e transformou em uma verdadeira viagem ao centro da Terra, já que a tensão no cenário doméstico tem se agravado desde o fim da semana passada.
Os fatores que levaram o principal índice da bolsa a cair 1,40% na mínima do dia foram inúmeros — e quase todos com origem em Brasília. O presidente Jair Bolsonaro segue criando atritos com o Supremo Tribunal Federal, com o Tribunal Superior Eleitoral e tem dificuldades para garantir o apoio de uma base coesa no Congresso. Além disso, o chefe do Executivo também levanta dúvidas sobre a saúde fiscal do país ao falar em um Bolsa Família que não caberia dentro do teto de gastos.
A queda foi mais profunda do que a vista no exterior, mas a recuperação também foi mais intensa. Enquanto os três principais índices americanos (S&P 500, Nasdaq e Dow Jones) encerraram o dia com altas entre 0,50% e 0,80%, o Ibovespa fechou o dia com um avanço de 0,87%, aos 123.576 pontos.
O principal índice da B3 chegou a subir mais de 1% no melhor momento do dia, mas o apetite por risco teve pouco a ver com uma melhora do quadro fiscal. Basta olhar para o câmbio e o mercado de juros.
Leia Também
Na bolsa, o forte avanço das ações de Vale e Petrobras foi o que garantiu o dia dourado. A mineradora subiu mais de 3% hoje, acompanhando o movimento de recuperação do minério de ferro. O presidente da Câmara, Arthur Lira, até tentou amenizar a situação fiscal, mas não conseguiu impedir o dólar à vista de encerrar o dia em alta de 0,53%, a R$ 5,1927.
Os carrascos do Ibovespa
Por aqui, é o cenário político que mais uma vez traz cautela aos negócios. Com os frequentes ataques do presidente Jair Bolsonaro ao processo democrático, na tentativa de descredibilizar as eleições de 2022, o clima em Brasília não é dos melhores.
O Tribunal Superior Eleitoral instaurou um inquérito administrativo, com o envio de uma notícia-crime ao Supremo Tribunal Federal, contra o presidente e suas acusações falsas de fraude no sistema eleitoral e nas urnas eletrônicas.
Os atritos políticos também geram apreensão fiscal, às vésperas da decisão de política monetária do Copom, o que por si só já seria razão para uma maior cautela dos investidores brasileiros.
A preocupação com a saúde fiscal do país levou a bolsa a registrar um tombo de 3% na sexta-feira, parcialmente recuperado na tarde de ontem, mas isso não significa que o temor com o teto de gastos é coisa do passado. Para Marcio Lórega, gerente de research do Pagbank, o movimento visto ontem pode ter sido apenas um ‘repique’ de alta, já que a tendência mais baixista para a bolsa deve prevalecer.
Quando o assunto é equilíbrio fiscal, os ruídos também partem da boca do chefe do Executivo. A primeira preocupação é com a reformulação do Bolsa Família. Em meio à queda de popularidade do governo e à proximidade das eleições de 2022, o presidente já fala em um benefício de R$ 400.
Além do valor ser bem acima do que o mercado esperava, ainda há dúvidas sobre como a equipe econômica conseguirá acomodar as despesas dentro do teto de gastos. A falta de recursos para cumprir o compromisso de pagar cerca de R$ 89 bilhões em precatórios em 2022 é outro ponto de tensão.
Sem saber como honrar a dívida, a equipe econômica pode arrastar o problema por mais alguns anos ou até mesmo dar um calote, hipóteses levantadas pela chamada “PEC do Precatório”. Nesta matéria, explicamos melhor do que se trata.
Para Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos, essa situação gera desconforto e é o que pressiona o Ibovespa, tirando o brilho dos balanços corporativos e dados macroeconômicos que sugerem uma recuperação. O Credit Swap Default (CDS), termômetro do risco-país, saiu de 158 pontos no fim de julho para os quase 180 que vemos agora.
Puxando o freio de mão
O bom desempenho de empresas como a Vale e Petrobras foi fundamental para a recuperação do Ibovespa hoje, mas o resultado final teve influência também de Arthur Lira. O presidente da Câmara mais uma vez atuou como um ‘bombeiro’, tentando desfazer os nós criados nos últimos dias.
Lira afirmou que um aumento do Bolsa Família para R$ 400 não foi discutido e que o Legislativo está comprometido a respeitar o teto de gastos. Sobre os precatórios, o presidente da Câmara garantiu que um calote não está entre as possibilidades, ainda que a situação de fato seja delicada.
Para Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos, as falas serviram para amenizar o movimento do mercado no dia, mas não amenizam o problema. "O cenário é preocupante porque é um problema estrutural que existe nas contas públicas e que precisa ser endereçado através de reformas", completa.
A expectativa é de que tenhamos novidades sobre a reformulação do Bolsa Família ainda nesta semana. Até lá, é a decisão de política monetária do Copom que deve seguir fazendo a cabeça dos investidores. Com o mercado já projetando dificuldades para ancorar as metas de inflação do ano que vem, a expectativa é de uma alta de 1 ponto percentual na Selic amanhã.
As questões fiscais refletiram no câmbio e também na curva de juros. Confira as taxas do dia:
- Janeiro/22: de 6,30% para 6,35%
- Janeiro/23: de 7,86% para 7,88%
- Janeiro/25: de 8,78% para 8,77%
- Janeiro/27: de 8,95% para 9,07%
Com a variante delta do coronavírus ainda trazendo um clima de incerteza, os contratos futuros de petróleo apresentam mais um dia de queda expressiva, o que deve pesar sobre o Ibovespa já que as ações da Petrobras tendem a acompanhar o movimento.
Sobe e desce
A alta de mais de 3% da Vale levou o Ibovespa a buscar uma recuperação. A mineradora acompanha a alta do minério de ferro após uma sequência de quedas. A notícia que o relator da reforma tributária, Celso Sabino, acrescentou um aumento da alíquota de compensação financeira pela exploração de recursos minerais (CFEM) de 4% para 5,5% impactou marginalmente os papéis.
Na esteira da divulgação do balanço do Itaú Unibanco, o setor bancário teve um bom desempenho ao longo do dia. Já as ações do BB Seguridade subiram após a reação negativa dos investidores ontem, quando a companhia divulgou os seus resultados trimestrais. Confira as maiores altas do dia:
CÓDIGO | NOME | VALOR | VARIAÇÃO |
VALE3 | Vale ON | R$ 112,64 | 3,41% |
BRAP4 | Bradespar PN | R$ 76,13 | 2,98% |
GGBR4 | Gerdau PN | R$ 31,55 | 2,67% |
BBSE3 | BB Seguridade ON | R$ 21,54 | 2,57% |
B3SA3 | B3 ON | R$ 16,01 | 2,50% |
Confira também as maiores quedas:
CÓDIGO | NOME | VALOR | VARIAÇÃO |
AMER3 | Americanas S.A ON | R$ 49,02 | -4,39% |
LAME4 | Lojas Americanas PN | R$ 7,03 | -3,30% |
SULA11 | SulAmérica units | R$ 29,84 | -2,52% |
MRVE3 | MRV ON | R$ 14,13 | -1,88% |
YDUQ3 | Yduqs ON | R$ 27,97 | -1,79% |
Resumo do dia
- A rede de hamburguerias Madero está com a corda no pescoço e busca uma salvação na bolsa. A companhia quer que a oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) seja uma saída para os problemas financeiros enfrentados pelo grupo. Atualmente, a empresa tem R$ 1 bilhão em dívidas.
- A Petz segue investindo o dinheiro de seu IPO. Dessa vez, a rede de varejo para pets comprou a Zee.dog, marca premium de itens para animais de estimação.
- Quem também foi às compras foi a Locaweb. Analistas enxergam potencial de 40% para as ações.
- As ações da Marcopolo tiveram uma queda mesmo com o avanço de mais de 3.000% no lucro. Veja o que pensam os analistas sobre POMO4.
- A Viver, que estava em recuperação judicial desde 2016, anunciou a sua saída do processo de RJ. Veja como identificar outras empresas que também podem se recuperar.
Confira como fecharam o Ibovespa, dólar, bitcoin e as bolsas americanas hoje:
Ibovespa | 0,87% | 123.576 pontos |
Dólar à vista | 0,53% | R$ 5,1927 |
Bitcoin | -2,89% | R$ 198.493 |
S&P 500 | 0,82% | 4.423 pontos |
Nasdaq | 0,55% | 14.761 pontos |
Dow Jones | 0,80% | 35.116 pontos |
Inflação americana derruba Wall Street e Ibovespa cai mais de 2%; dólar vai a R$ 5,18 com pressão sobre o Fed
Com o Nasdaq em queda de 5% e demais índices em Wall Street repercutindo negativamente dados de inflação, o Ibovespa não conseguiu sustentar o apetite por risco
Esquenta dos mercados: Bolsas internacionais sobem em dia de inflação dos EUA; Ibovespa deve acompanhar cenário internacional e eleições
Com o CPI dos EUA como o grande driver do dia, a direção das bolsas após a divulgação dos dados deve se manter até o encerramento do pregão
CCR (CCRO3) já tem novos conselheiros e Roberto Setubal está entre eles — conheça a nova configuração da empresa
Além do novo conselho de administração, a Andrade Gutierrez informou a conclusão da venda da fatia de 14,86% do capital da CCR para a Itaúsa e a Votorantim
Expectativa por inflação mais branda nos Estados Unidos leva Ibovespa aos 113.406 pontos; dólar cai a R$ 5,09
O Ibovespa acompanhou a tendência internacional, mas depois de sustentar alta de mais de 1% ao longo de toda a sessão, o índice encerrou a sessão em alta
O Mubadala quer mesmo ser o novo rei do Burger King; fundo surpreende mercado e aumenta oferta pela Zamp (BKBR3)
Valor oferecido pelo fundo aumentou de R$ 7,55 para R$ 8,31 por ação da Zamp (BKBR3) — mercado não acreditava em oferta maior
Esquenta dos mercados: Inflação dos EUA não assusta e bolsas internacionais começam semana em alta; Ibovespa acompanha prévia do PIB
O exterior ignora a crise energética hoje e amplia o rali da última sexta-feira
Vale (VALE3) dispara mais de 10% e anota a maior alta do Ibovespa na semana, enquanto duas ações de frigoríficos dominam a ponta negativa do índice
Por trás da alta da mineradora e da queda de Marfrig (MRFG3) e Minerva (BEEF3) estão duas notícias vindas da China
Magalu (MGLU3) cotação: ação está no fundo do poço ou ainda é possível cair mais? 5 pontos definem o futuro da ação
Papel já alcançou máxima de R$ 27 há cerca de dois anos, mas hoje é negociado perto dos R$ 4. Hoje, existem apenas 5 fatores que você deve olhar para ver se a ação está em ponto de compra ou venda
Commodities puxam Ibovespa, que sobe 1,3% na semana; dólar volta a cair e vai a R$ 5,14
O Ibovespa teve uma semana marcada por expectativas para os juros e inflação. O dólar à vista voltou a cair após atingir máximas em 20 anos
Esquenta dos mercados: Inflação e eleições movimentam o Ibovespa enquanto bolsas no exterior sobem em busca de ‘descontos’ nas ações
O exterior ignora a crise energética e a perspectiva de juros elevados faz as ações de bancos dispararem na Europa
BCE e Powell trazem instabilidade à sessão, mas Ibovespa fecha o dia em alta; dólar cai a R$ 5,20
A instabilidade gerada pelos bancos centrais gringos fez com o Ibovespa custasse a se firmar em alta — mesmo com prognósticos melhores para a inflação local e uma desinclinação da curva de juros.
Esquenta dos mercados: Decisão de juros do BCE movimenta as bolsas no exterior enquanto Ibovespa digere o 7 de setembro
Se o saldo da Independência foi positivo para Bolsonaro e negativo aos demais concorrentes — ou vice-versa —, só o tempo e as pesquisas eleitorais dirão
Ibovespa cede mais de 2% com temor renovado de nova alta da Selic; dólar vai a R$ 5,23
Ao contrário do que os investidores vinham precificando desde a última reunião do Copom, o BC parece ainda não estar pronto para interromper o ciclo de aperto monetário – o que pesou sobre o Ibovespa
Em transação esperada pelo mercado, GPA (PCAR3) prepara cisão do Grupo Éxito, mas ações reagem em queda
O fato relevante com a informação foi divulgado após o fechamento do mercado ontem, quando as ações operaram em forte alta de cerca de 10%, liderando os ganhos do Ibovespa na ocasião
Atenção, investidor: Confira como fica o funcionamento da B3 e dos bancos durante o feriado de 7 de setembro
Não haverá negociações na bolsa nesta quarta-feira. Isso inclui os mercados de renda variável, renda fixa privada, ETFs de renda fixa e de derivativos listados
Esquenta dos mercados: Bolsas no exterior deixam crise energética de lado e investidores buscam barganhas hoje; Ibovespa reage às falas de Campos Neto
Às vésperas do feriado local, a bolsa brasileira deve acompanhar o exterior, que vive momentos tensos entre Europa e Rússia
Ibovespa ignora crise energética na Europa e vai aos 112 mil pontos; dólar cai a R$ 5,15
Apesar da cautela na Europa, o Ibovespa teve um dia de ganhos, apoiado na alta das commodities
Crise energética em pleno inverno assusta, e efeito ‘Putin’ faz euro renovar mínima abaixo de US$ 1 pela primeira vez em 20 anos
O governo russo atribuiu a interrupção do fornecimento de gás a uma falha técnica, mas a pressão inflacionária que isso gera derruba o euro
Boris Johnson de saída: Liz Truss é eleita nova primeira-ministra do Reino Unido; conheça a ‘herdeira’ de Margaret Thatcher
Aos 47 anos, a política conservadora precisa liderar um bloco que encara crise energética, inflação alta e reflexos do Brexit
Esquenta dos mercados: Bolsas internacionais caem com crise energética no radar; Ibovespa acompanha calendário eleitoral hoje
Com o feriado nos EUA e sem a operação das bolsas por lá, a cautela deve prevalecer e a volatilidade aumentar no pregão de hoje