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Jasmine Olga
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É repórter do Seu Dinheiro. Formada em jornalismo pela Universidade de São Paulo (ECA-USP), já passou pelo Centro de Cidadania Fiscal (CCiF) e o setor de comunicação da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo
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As ações ‘à prova de crise’ favoritas para maio, segundo 16 corretoras

Dos trinta papéis selecionados pelas corretoras para o mês de maio, todos apresentam duas características essenciais: resiliência e capacidade de adaptação ao meio

Jasmine Olga
Jasmine Olga
7 de maio de 2020
5:47 - atualizado às 12:20
Selo Ação do mês
Selo Ação do mês - Imagem: Montagem Andrei Morais / Shutterstock

Enfrentar momentos de crise não é fácil. Seja de ordem pessoal ou global, crises sempre testam as nossas capacidades de lidar com os fatores negativos que nos atingem.

Em abril, foram tantas crises diferentes que você pode escolher a sua favorita. Teve crise na economia - com o aprofundamento dos reflexos pandemia do coronavírus nas atividades econômicas dos países.

Teve crise no mercado de commodities - com o petróleo WTI sendo negociado com cotação negativa.

E uma série de crises políticas em Brasília - agravadas com a saída do ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta e do ex-juiz Sergio Moro do Ministério da Justiça.

Olhando para a seleção das três ações favoritas de cada corretora com quem conversei em maio, duas qualidades essenciais para atravessar momentos de crises, que valem tanto para ativos quanto para investidores, chamaram a atenção e estão presente em quase todas as escolhas: resiliência e capacidade de adaptação ao meio.

No mês passado, as ações selecionadas já tinham como principal qualidade a sua resiliência frente ao caos que se desenhava nos mercados. E dessa vez não foi diferente.

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No diversificado quadro de indicações, com 30 ativos diferentes, é possível encontrar empresas consolidadas, que se enquadram de uma forma ou de outra dentro dessa tendência.

São ativos com caixa forte e blindados contra a crise, companhias exportadoras que se beneficiam de um cenário de real desvalorizado frente ao dólar ou que se apoiam na tecnologia, seja para desenvolver uma elaborada plataforma de e-commerce ou vendendo serviços para empresas que agora, mais do que nunca, precisam de amplo suporte para manter suas operações de forma remota.

Sobrou espaço até para os setores considerados de maior proteção, como o de telecomunicações e energia.

Dentre a seleção de favoritas das corretoras, a gigante Vale (VALE3) continua no topo, com 5 indicações. Logo em seguida, temos um empate triplo entre três outras empresas super consolidadas em seus setores: Magazine Luiza (MGLU3), JBS (JBSS3) e Petrobras (PETR4) – cada uma com três indicações.

Confira abaixo a lista completa com o TOP 3 de 16 corretoras para o mês.

Recuperação constante

Assim como em abril, a Vale (VALE3) continua sendo a opção favorita dos analistas. O racional continua sendo mais ou menos o mesmo: as ações estão descontadas, já que ainda refletem os efeitos da tragédia de Brumadinho, e são uma grande oportunidade para os investidores.

Neste mês, os analistas também conseguem ter uma visão melhor do quão preparada a empresa está para enfrentar a crise do coronavírus. É que a Vale já divulgou o seu balanço do primeiro trimestre, quando reverteu as perdas de US$ 1,642 bilhão no mesmo período do ano passado e registrou um lucro de US$ 239 milhões. 

Embora ainda esteja pagando a conta do desastre, que completou um ano no dia 25 de janeiro, a Vale conseguiu apresentar uma melhora operacional significativa. O resultado não traz os impactos totais da crise recente do coronavírus, mas é possível perceber uma boa saúde financeira da mineradora para atravessar o período.

A Elite Investimentos destaca o ‘câmbio benigno, baixo nível de alavancagem, geração de caixa sólido, estabilidade do preço do minério de ferro e a melhora operacional da companhia’ como os pontos que são gatilho para a grande confiança no papel.  

O preço do minério de ferro é um ponto de destaque para todos os analistas. Tanto a Ágora como o Santander classificam o mercado como resiliente, devido aos cortes de capacidade deflagrados pelo desastre de Brumadinho e questões ambientais da BHP, uma das principais concorrentes da Vale, na Austrália.

A queda na produção tem mantido a manutenção relativamente estável dos preços do minério de ferro, o que permite que a Vale mantenha sua geração de caixa robusta. 

“Os estoques de minério de ferro nas usinas siderúrgicas e nos portos chineses são baixos, enquanto as interrupções no fornecimento e o lento aumento da produção da Vale continuam fornecendo suporte aos preços” - Ágora Investimentos 

Com a crise batendo na porta e atividade interrompida em algumas localidades, a Vale anunciou uma série de cortes nas suas projeções operacionais para 2020: a produção de minério de ferro deve ficar na faixa de 310 a 330 milhões de toneladas, abaixo da faixa de 340 e 355 milhões anunciadas anteriormente.

A XP Investimentos pondera que, apesar da redução, o preço do minério de ferro se manteve estável no mês. O que pode ser atribuído ao anúncio da BHP de que avalia um aumento na sua produção, o que mexe com as cotações da commodity no curto prazo.

A expectativa dos analistas para os próximos meses é que a série de estímulos do governo chinês na economia local se reflita no aumento da demanda do país por minério de ferro – que volta a se aquecer após o período de ‘lockdown’ enfrentado pelo país e onde a produção de aço continua em ritmo acelerado, ditando majoritariamente os valores do mercado.

A companhia agora presta atenção nos indicadores que chegam da China, já que a redução da atividade do lado do lado de lá do globo tem grande peso na indústria, tendo em vista que a China é responsável por metade da demanda global. 

Outro ponto de destaque para a Vale, é o seu compromisso em recuperar a sua imagem, principalmente após Brumadinho. A companhia tem reforçado suas questões de segurança e investido em melhores práticas de ESG - Environmental, Social and Governance (Ambiental, Social e de Governança).

A empresa também tem planos de retomar a distribuição de dividendo quando a pandemia for superada, marcando mais um ponto na reconstrução da confiança dos investidores.

Voando junto com o dólar

Outra empresa que deu as caras entre as favoritas em abril e está de volta ao pódio é a JBS (JBSS3), maior empresa de proteína animal do mundo. 

Provando sua ‘resiliência em meio ao caos’, os papéis da companhia avançaram mais de 27% no mês passado e está de volta entre as queridinhas, com 3 indicações para o mês de maio. 

Segundo Ilan Albertman, da Ativa Investimentos, o setor de proteínas também será afetado pelo coronavírus, assim como o restante da economia, mas a JBS está preparada para absorver as consequências da crise. 

Primeiramente, a demanda deve continuar alta, mesmo em um período com queda do consumo. Ser uma empresa com um portfólio diversificado, trabalhando com carne suína, bovina, frangos e outros alimentos, e ter presença internacional forte ajuda a companhia a diluir os riscos de perda de mercado.

Algumas situações controversas dão um empurrãozinho para a JBS manter a sua lucratividade alta, como a peste suína africana, que tem aumentado os preços e volume da demanda da proteína no mercado internacional.

Por outro lado, caso a China consiga reconstruir o seu rebanho suíno, pode pressionar o preço no mercado internacional de proteínas, sendo gatilho para uma queda do valor do produto e um aumento no valor dos grãos. 

O caixa para enfrentar a crise também está saudável. A companhia trabalha com margens sólidas para 2020. No ano passado, ainda sem a pandemia do coronavírus no radar, a JBS viu o seu lucro disparar para R$ 6,1 bilhões, ante R$ 25 milhões registrado no mesmo período do ano passado. Os números do primeiro trimestre saem na semana que vem.

Outro fator que deve ser destacado é a depreciação do câmbio, que favorece amplamente empresas exportadoras como a JBS. Embora a empresa tenha os seus custos em dólar, também pratica as suas vendas na moeda americana, o que barateia o valor dos produtos para exportação.

O Santander destaca que cerca de 85% da receita da companhia está exposta ao dólar, ao juntar a operação norte-americana e as exportações saídas do Brasil. 

A JBS tem investido pesado na expansão internacional nos últimos anos. Só no ano passado foram mais de R$ 2 bilhões desembolsados, que devem trazer um incremento de até R$ 6 bilhões na receita anual da companhia. 

A esperança do e-commerce

Site do Magazine Luiza

Mesmo em meio à pandemia, com o varejo e o comércio no geral sofrendo os impactos econômicos do isolamento social, o Magazine Luiza (MGLU3) aparece entre as favoritas dos analistas.

A ação já teve um bom desempenho em abril, e se os primeiros pregões do mês são indicativos de algo, a empresa deve ter mais um bom mês pela frente.

E tudo isso porque em um momento em que a venda física se torna quase que impossível, devido às restrições impostas pelo isolamento social, a plataforma de e-commerce do Magalu está voando alto.

Sua platafoma consolidada, tanto na venda direta quanto no marketplace, ambiente virtual com venda de lojas parceiras, compensa parte das perdas impostas pela pandemia.

Para Mario Mariante, analista-chefe da Planner, a eficiência do e-commerce e logística da companhia, que tem uma capilaridade muito maior que os seus concorrentes, faz ela saltar na frente dos principais rivais.

A Ágora Investimentos destaca que o aumento das vendas nos segmentos com baixo ticket e alta frequência de compra significa um sucesso na campanha de fidelização promovido pela companhia.

Durante a quarentena, a companhia facilitou também o acesso de pequenos varejistas de São Paulo e Pernambuco atendidos pelo Senai no seu ambiente digital

No mês de maio, a empresa passa por uma das datas mais importantes do ano para o varejo – o Dia das Mães –, e deve ter no e-commerce a sua força total.

A Ágora ainda espera que o crescimento visto no e-commerce, e no papel de liderança do Magazine Luiza, se mantenha por mais algum tempo, já que após se fixar no setor de eletrônicos e eletrodomésticos, a empresa vem crescendo também na categoria de vestuários, calçados, artigos esportivos e cosméticos. A compra da Netshoes é só um dos motores para esse aquecimento.

A companhia também apresenta uma boa saúde financeira para encarar o coronavírus, já que nos últimos 12 meses o Magazine Luiza aumentou o seu caixa líquido ajustado de R$ 4,144 bilhões para R$ 6,29 bilhões em dezembro de 2019.

Para atravessar a crise sem grandes danos, o Magazine Luiza anunciou medidas para preservar o seu caixa. A companhia reduziu o salário dos seus dois principais executivos, CEO e vice-presidente de operações, em 80%. Além disso, a empresa também cortou pela metade a remuneração dos seus 12 diretores-executivos e membros do conselho de administração.

No comunicado onde anunciou as medidas para os tempos de crise, a companhia anunciou que contava com uma posição de caixa robusta de R$ 7 bilhões no fim do ano passado. O conselho do Magalu também aprovou a captação de 800 milhões de reais com uma emissão de debêntures.

Petrobras numa hora dessas?

Desde o começo do ano, a preocupação com o preço do petróleo não sai da cabeça do investidor. Primeiro foi a crise entre Estados Unidos e Irã, depois a queda brusca da demanda global pela commodity com a desaceleração da economia por conta do coronavírus.

Para ajudar, Arábia Saudita e Rússia entraram em uma queda de braço para determinar o corte (ou não) da produção de petróleo e derrubaram ainda mais o preço do barril em escala global.

A crise chegou ao ápice em abril, com o petróleo WTI para maio sendo negociado com cotação negativa, em consequência do alto nível dos estoques. Em todos esses momentos, os olhos dos investidores aqui no Brasil não saíram dos papéis da Petrobras (PETR4), que fecha a nossa lista de indicações para o mês.

Pelo menos no episódio das cotações negativas do petróleo, a estatal não foi afetada, já que a empresa tem como base de sua política de preços os contratos de petróleo tipo Brent e não WTI.

O Brent teve uma queda menos expressiva e as ações da petroleira, que mostraram resiliência durante os tempos de volatilidade, terminaram o mês de abril em forte alta – recuperando uma parte do tombo sofrido em março.

Apesar da alta recente, os analistas apontam que a Petrobras segue descontada frente aos seus pares estrangeiros.

“Com relação à sua média histórica, vemos as ações sendo negociadas com um desconto ao redor 10% para os últimos 5 anos” - Santander 

Para a Toro Investimentos, a recuperação do petróleo nos últimos dias de abril - com o WTI sendo negociado na faixa dos US$ 23 e o Brent na casa dos US$ 28 -, deixam os investidores mais confortáveis com a ideia de comprar ações da petroleira.

“Acreditamos que no mês de maio uma entrada de fluxo comprador deve acontecer de forma expressiva no ativo.”

No primeiro trimestre, a empresa apresentou uma alta de 14,6% na sua produção de óleo, LGN e gás natural. Por outro lado, a venda e produção de combustíveis registraram queda em março, conforme a pandemia se aprofundava no país. 

A Petrobras também informou que bateu recorde de exportação de petróleo em abril, alcançando a marca de 30,4 milhões de barris em meio à maior crise já enfrentada pelo setor petrolífero, com a queda expressiva da demanda. 

A empresa também já se preparou para os impactos futuros do coronavírus e anunciou uma série de medidas para a preservação do caixa durante a crise e a redução abrupta dos preços e da demanda por petróleo, reduzindo custos e aumentando a sua liquidez.

Para o Santander, essas ações resultam em uma projeção menor de produção e maior alavancagem, mas mantém uma sólida geração de caixa. 

O programa de desinvestimento proposto pela atual gestão, e que guiou boa parte do otimismo com os papéis da estatal durante 2019 foi deixado de lado apenas momentaneamente.

O presidente da companhia, Roberto Castello Branco, afirmou que o programa está mantido, mas deve sofrer atrasos.

Retrospectiva

No mês passado, o Ibovespa foi perseverante, mesmo com uma série de crises e fatores que pesaram fortemente na bolsa, principalmete nos últimos dias de abril, quando a crise política se agravou com a saída do ex-juiz Sergio Moro do Ministério da Justiça.

Ao fim do mês, o principal índice da bolsa brasileira subiu 10,5% em abril. Dentre os papéis indicados pelas corretoras para o mês, a melhor performance foi a da Marfrig, com 52,67% de valorização. A companhia lidera as altas do Ibovespa no ano.

Dentro do pódio das ações indicadas, a Vale teve um avanço de 7,29%, Banco do Brasil subiu 5,94% e JBS teve um crescimento de 27,21%. Já a Telefônica Brasil apresentou uma queda de 4,61%, com a corrida dos investidores para ativos mais arriscados.

Você pode conferir um panorama completo da performance das Ações do Mês de abril nesta matéria.

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