Títulos públicos de curto prazo recuam com alta dos juros futuros após aumento da Selic
Preços e taxas dos títulos públicos se ajustaram, nesta quinta, com alta da Selic de 2,00% para 2,75%
Os juros futuros de prazos mais curtos fecharam com uma considerável alta nesta quinta-feira (18), com o mercado incorporando aos preços o forte aumento na taxa Selic efetuado pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) na noite de ontem.
Com isso, as taxas dos títulos públicos prefixados e atrelados à inflação de prazos mais curtos, que já vinham em alta em tempos recentes, subiram um pouco mais, derrubando ainda mais os preços desses papéis.
Quando os juros futuros sobem, as taxas prefixadas (cujo valor nominal já é conhecido no ato da compra do título) também sobem. Mas os preços de mercado dos títulos que têm parte ou toda a remuneração prefixada caem para se ajustar à remuneração maior.
Assim, para quem adquire o título naquele momento, é possível garantir uma remuneração mais alta até o vencimento; mas quem já tinha o título na carteira verá seu investimento desvalorizar. Lembrando que ganhos e perdas com títulos públicos em razão da variação de preços só são realizados quando se vende o papel antes do vencimento.
Ontem, o Copom elevou a Selic em 0,75 ponto percentual, passando-a de 2,00% para 2,75% ao ano. Embora um aumento de tal magnitude já fosse esperado pelo mercado, a maior parte dos investidores apostava mais numa alta de 0,5 ponto. Assim, o Banco Central claramente optou por atender às expectativas do mercado pela via de maior aperto monetário.
Além disso, o comunicado do Copom já adiantou que o mercado pode esperar mais uma alta de 0,75 ponto percentual já na próxima reunião, que ocorrerá no início de maio. Assim, em breve teremos uma Selic em 3,50%.
Essa postura mais rígida do BC no combate à inflação, subindo os juros numa velocidade um pouco maior do que o inicialmente esperado, levou os contratos de DI futuro de prazos mais curtos a fecharem em alta nesta quinta. Os juros curtos são justamente aqueles que refletem melhor as decisões de política monetária.
Já os juros longos, que refletem mais o risco-país, terminaram o dia com variações mais discretas, o que não deixa de ser um pouco surpreendente. Afinal, se pensarmos que o BC foi até um pouco mais duro do que o consenso do mercado projetava, era possível esperar um certo alívio no nosso risco de longo prazo, com consequentes quedas de juros mais acentuadas.
Veja o fechamento dos principais vencimentos de juros futuros nesta quinta:
- Janeiro/2022: de 4,277% para 4,575% (+6,96%)
- Janeiro/2023: de 6,009% para 6,16% (+2,51%)
- Janeiro/2027: de 7,914% para 7,86% (-0,68%)
Como reflexo desse movimento dos juros, títulos Tesouro Prefixado e Tesouro IPCA+ de vencimentos mais próximos viram alta das taxas e queda nos preços hoje. Já os títulos de vencimentos longos terminaram o dia em alta ou mais "de lado".
Confira o desempenho dos preços de resgate desses títulos nos últimos 30 dias nos seguintes gráficos obtidos no site do Tesouro Direto. Repare como, no caso dos títulos mais curtos, houve uma queda intensa de ontem para hoje:
Título público | Taxa resgate 17/03 | Taxa resgate 18/03 | Variação das taxas em 18/03 | Variação dos preços em 18/03 |
Tesouro Prefixado 2022 | 4,32% | 4,62% | +6,94% | -0,21% |
Tesouro Prefixado 2023 | 6,40% | 6,48% | +1,25% | -0,11% |
Tesouro IPCA+ 2045 | 3,91% | 3,84% | -1,79% | +1,68% |
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais 2055 | 4,40% | 4,35% | -1,14% | +0,85% |
A Anbima chegou a divulgar, à tarde, uma nota sobre os ajustes de preços dos títulos públicos no mercado secundário, que se refletiram nas quedas dos índices de renda fixa calculados pela instituição, popularmente conhecidos como IMAs. Pela manhã, mesmo os títulos de prazos mais longos viram uma queda intensa de preços, maior até que a dos títulos mais curtos.
Segundo a entidade, até as 12h30 de hoje, o IRF-M, que acompanha o desempenho dos papéis prefixados, recuava 0,22%. Os papéis mais curtos (de prazo inferior a um ano) recuavam 0,10% e os mais longos (de prazo maior que um ano) caíam 0,30%.
Já o IMA-B, que acompanha o desempenho dos títulos atrelados ao IPCA, recuava 0,52% até o mesmo horário. Os títulos de prazo até cinco anos tinham variação negativa de 0,44% e os de prazo acima de cinco anos registravam perda de 0,58%.
Powell derruba as bolsas mundo afora ao dar um alerta que o mercado não queria ouvir — veja o recado do presidente do Fed em Jackson Hole
O tão aguardado discurso do chefão do maior banco central do mundo aconteceu depois da divulgação de dados que mostraram que a inflação perdeu força nos EUA e, ainda assim, os investidores não gostaram do que ouviram; entenda por quê
De olho no fim da alta dos juros, Itaú BBA recomenda menos prefixados curtos e mais Tesouro IPCA+ 2035 no Tesouro Direto
Após rali recente dos prefixados, banco sugere venda para realizar ganhos e compra de papéis mais longos
Tesouro Direto: títulos preferidos de analistas e gestores têm alta no ano e vivem rali – e ainda há espaço para mais
Para além do Tesouro Selic, prefixados e Tesouro IPCA+ de prazos curtos estão se saindo bem de forma talvez até meio surpreendente – mas tem explicação!
Onde investir com o fim da alta dos juros no Brasil: com a Selic chegando ao topo, é hora de mudar algo na carteira?
No podcast Touros e Ursos da semana, o debate é sobre como ajustar a carteira de investimentos ao fim do ciclo de alta dos juros, que se já não chegou, está realmente muito perto
Copom eleva a Selic em mais meio ponto, a 13,75%, e avisa os passageiros: o avião dos juros está quase em altitude de cruzeiro
Conforme projetado pelo mercado, a Selic chegou a 13,75% ao ano; veja os detalhes da decisão de juros do Copom
O ciclo de alta da Selic está perto do fim – e existe um título com o qual é difícil perder dinheiro mesmo se o juro começar a cair
Quando o juro cair, o investidor ganha porque a curva arrefeceu; se não, a inflação vai ser alta o bastante para mais do que compensar novas altas
Melhor momento para investir em renda fixa ainda está por vir – mas convém evitar emissores desses setores
Ulisses Nehmi, da Sparta, e Marcelo Urbano, da Augme, gestoras especializadas em crédito privado, falam das perspectivas para a renda fixa e os setores mais promissores ou arriscados
O Fed entre os juros e a inflação: por que estamos na semana mais importante de julho?
O Federal Reserve (Fed) se vê entre a cruz e a espada: subir juros de um jeito agressivo e afetar a economia, ou deixar a inflação alta?
Surpresa #sqn: Por que o Banco Central Europeu não pega o mercado desprevenido nem mesmo quando surpreende
BCE elevou a taxa de juro mais do que vinha antecipando; em compensação, lançou um programa de compra de títulos para evitar a chamada ‘fragmentação’
Por que a China e o Japão estão se desfazendo – em grande escala – de títulos do Tesouro do Estados Unidos
Volume de Treasuries em poder da China e do Japão estão nos níveis mais baixos em anos com alta da inflação e aumento dos juros nos EUA
Leia Também
-
Qual o futuro dos juros no Brasil? Campos Neto dá pistas sobre a trajetória da taxa Selic daqui para frente
-
Haddad responde aos mercados sobre ruídos provocados por meta fiscal; veja o que o ministro falou
-
Juros em alta? Presidente do Fed fala pela primeira vez após dado de inflação e dá sinal claro do que vai acontecer nos EUA — bolsas sentem
Mais lidas
-
1
Tchau, Vale (VALE3)? Por que a Cosan (CSAN3) vendeu 33,5 milhões de ações da mineradora
-
2
Sabesp (SBSP3): governo Tarcísio define modelo de privatização e autoriza aumento de capital de até R$ 22 bilhões; saiba como vai funcionar
-
3
Qual o futuro dos juros no Brasil? Campos Neto dá pistas sobre a trajetória da taxa Selic daqui para frente