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Carolina Gama
Formada em jornalismo pela Cásper Líbero, já trabalhou em redações de economia de jornais como DCI e em agências de tempo real como a CMA. Já passou por rádios populares e ganhou prêmio em Portugal.
CUIDADO PARA NÃO SE QUEIMAR

Pula fogueira, iáiá! Fed dá salto maior e sobe juros em 0,75 pp para apagar incêndio da inflação — a maior alta desde 1994

Em maio, o índice de preços ao consumidor norte-americano (CPI, na sigla em inglês) subiu 1% em base mensal e 8,6% em termos anuais, no maior avanço desde 1981

Carolina Gama
15 de junho de 2022
15:04 - atualizado às 16:29
Montagem mostra o presidente do Fed, Jerome Powell, pulando uma fogueira em um cenário de festa junina
O presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA), Jerome Powell - Imagem: Shutterstock/Montagem: Brenda Silva

Olha a cobra! É mentira! Olha a inflação! É verdade! O Federal Reserve (Fed) deu um salto ainda maior na fogueira da inflação e elevou nesta quarta-feira (15) a taxa de juros em 0,75 ponto porcentual (pp), para a faixa entre 1,50% a 1,75% ao ano — a maior alta desde 1994.

O aperto monetário mais agressivo é uma tentativa do banco central norte-americano de apagar o incêndio dos preços altos, que não ainda não deu sinais de trégua. 

Muito pelo contrário. Em maio, o índice de preços ao consumidor norte-americano (CPI, na sigla em inglês) subiu 1%, de 0,3% em abril. Em base anual, o CPI teve alta de 8,6%. Este foi o maior avanço desde 1981. 

Com as labaredas nessa altura, 95% do mercado esperava uma alta de 0,75 pp na reunião de hoje — acima dos 0,50 pp que o próprio Fed vinha telegrafando até então. 

Mesmo com uma elevação deste calibre, a reação do mercado norte-americano segue positiva. O Dow Jones, o Nasdaq e o S&P 500 manteve os ganhos assim que a decisão foi anunciada. 

O caminho da roça do Fed

No comunicado com a decisão, que não foi unânime, o comitê de política monetária (Fomc, na sigla em inglês) reafirmou o forte compromisso em devolver a inflação para a meta de 2%.

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Segundo o Fomc, a inflação permanece elevada, refletindo desequilíbrios de oferta e demanda relacionados à pandemia, preços mais altos de energia e pressões mais amplas sobre os preços.

O documento atribuiu à guerra entre Rússia e Ucrânia e ao ressurgimento da covid-19 na China uma pressão ascendente adicional sobre a inflação e de queda sobre a atividade econômica global.

A ponte quebrou! O Fed vai consertar?

Os membros do comitê de política monetária do Fed indicaram um caminho muito mais forte de aumento da taxa de juros à frente para tentar segurar a inflação.

De acordo com o dot plot — o gráfico de pontos que traz as expectativas individuais dos membros do comitê —, a taxa de juros terminará o ano em 3,4%, uma revisão para cima de 1,5 ponto percentual em relação à estimativa de março.

O comitê então vê a taxa subindo para 3,8% em 2023, um ponto percentual mais alto. Confira baixo o gráfico de pontos do Fed de junho:

Olha a chuva! Não passou!

A reunião de política monetária de hoje não estava sendo aguardada apenas pelo grau da elevação da taxa de juros em si. 

O encontro de junho vem acompanhado das projeções econômicas do Fed para este ano e os próximos — e, ao que tudo indica, a chuva (ou seria tempestade?) por que passa a economia dos EUA não vai passar tão cedo. 

Para se ter uma ideia, o banco central norte-americano passou a prever um crescimento de 1,7% este ano ante 2,8% estimados em março. 

Além disso, a inflação deve alcançar 5,2% ao final de 2022 ante 4,3% projetados anteriormente. 

Confira abaixo a mediana de outras previsões feitas pelo Federal Reserve:

PIB dos EUA

  • 2023: +1,7%, de 2,2% previstos em março
  • 2024: +1,9%, de 2,0% previstos em março

Inflação medida pelo PCE

  • 2023: +2,6%, de +2,7% previstos em março
  • 2024: +2,2%, de +2,3% previstos em março

Taxa de desemprego

  • 2023: +3,7%, de 3,5% previstos em março
  • 2024: +4,1%, de 3,6% previstos em março

Preparar para a despedida

Depois da decisão de política monetária, o presidente do Fed, Jerome Powell, concedeu uma coletiva de imprensa para explicar os motivos que levaram o comitê a decidir pelo aumento de 0,75 pp da taxa de juros.

Powell mandou um recado direto sobre os planos do banco central norte-americano para a inflação: o fracasso não é uma opção.

Segundo ele, o Fed tem a obrigação de devolver a inflação para a meta de 2% e isso significa que novos aumentos da taxa de juros estão no caminho.

A boa notícia para o mercado é que a autoridade monetária ainda trabalha com altas entre 0,50 pp e 0,75 pp — e não de 1 pp como alguns passaram a especular diante do galope da inflação nos EUA.

Na coletiva, Powell também disse que a intenção do Fed com essas elevações de juros não é provocar a recessão da economia, um temor dos investidores nas últimas semanas.

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