Tesouro Direto: títulos preferidos de analistas e gestores têm alta no ano e vivem rali – e ainda há espaço para mais
Para além do Tesouro Selic, prefixados e Tesouro IPCA+ de prazos curtos estão se saindo bem de forma talvez até meio surpreendente – mas tem explicação!
No Tesouro Direto, 2022 tem sido um ano ótimo para alguns títulos e bem difícil para outros.
No lado positivo, o destaque fica, é claro, com o Tesouro Selic (LFT), título pós-fixado indexado à Selic, que tem se beneficiado da alta da taxa básica de juros. Eles estão entre os melhores investimentos do ano, em média.
Desempenho dos títulos Tesouro Selic em 2022
Vencimento | Rentabilidade no ano |
2023 | 6,84% |
2024 | 6,90% |
2025 | 6,97% |
2027 | 7,27% |
Na ponta negativa, os títulos prefixados e indexados à inflação de prazos longos sofrem com a alta dos juros futuros diante do aumento do risco fiscal, a inflação global elevada e a expectativa de aperto monetário no mundo todo.
Mas, de todos esses fatores, certamente é o aumento do risco-país por conta do fiscal que mais pesa, já que o governo furou de vez o teto de gastos para aumentar o Auxílio Brasil e conceder outros benefícios sociais, driblando a lei eleitoral, além de ter cortado impostos sobre combustíveis e energia, abrindo mão de parte da arrecadação.
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Até meados da semana passada, todos os títulos com vencimento posterior a 2032 tinham perda acumulada no ano. Alguns vencimentos só passaram para o azul nos últimos dias, com a melhora das condições de mercado.
Na parte intermediária dos prazos do Tesouro Direto, porém, observamos um fenômeno muito positivo para o investidor, com títulos prefixados e indexados à inflação que vêm se saindo bem de forma talvez até um pouco surpreendente.
Os papéis Tesouro Prefixado (LTN e NTN-F) e Tesouro IPCA+ (NTN-B e NTN-B Principal) com ou sem juros semestrais e com vencimentos que variam de 2023 a 2030 acumulam alta no ano, mesmo depois de verem um aumento nas suas taxas - e esses títulos tipicamente se desvalorizam quando isso acontece.
Além disso, eles têm vivido um verdadeiro rali. Recentemente, começamos a ver um movimento generalizado de queda nas taxas e alta nos preços entre prefixados e NTN-Bs de todos os vencimentos, com a proximidade do fim do ciclo de alta de juros no país.
Mas o fenômeno tem sido mais intenso justamente para os papéis de prazos mais curtos. Enquanto os títulos longos só começaram a ver queda nas taxas e alta nos preços mais para o fim de julho/início de agosto, os papéis com vencimentos até 2030 já passam por esse processo desde meados de julho, quando suas taxas atingiram as máximas do ano.
Este é o caso, por exemplo, do Tesouro Prefixado 2025 (LTN) e do Tesouro IPCA+ 2026 (NTN-B Principal), apenas para citar os títulos curtos ainda oferecidos para compra no Tesouro Direto.
No dia 20 de julho, esses papéis atingiram suas taxas máximas: 13,51%, no caso do pré 2025 e 6,35% + IPCA no caso do Tesouro IPCA+ 2026. Eles acumulam ganhos de 1,36% e 0,73% de lá até o fim do mês e de 3,44% e 3,10% da mesma data até agora, respectivamente.
O mesmo fenômeno de retorno positivo no ano e rali nos últimos dias é observado também entre os títulos curtos que não são mais oferecidos para compra pelo Tesouro Direto, mas continuam disponíveis para resgate, pois ainda habitam as carteiras de alguns investidores.
Observe:
Títulos | Vencimento | Alta no ano | Taxa início do ano* | Taxa atual** | Taxa máxima no ano | Alta desde a taxa máxima |
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais | 2024 | 6,82% | 5,20% | 6,13% | 7,31% | 1,86% |
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais | 2026 | 6,76% | 5,03% | 5,46% | 6,43% | 2,82% |
Tesouro IPCA+ | 2024 | 6,64% | 5,18% | 6,09% | 7,26% | 1,98% |
Tesouro IPCA+ | 2026 | 6,56% | 5,01% | 5,41% | 6,35% | 3,10% |
Tesouro Prefixado com Juros Semestrais | 2023 | 6,17% | 11,87% | 13,74% | 13,91% | 0,64% |
Tesouro Prefixado | 2023 | 6,06% | 11,83% | 13,73% | 13,89% | 0,64% |
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais | 2030 | 4,53% | 5,16% | 5,61% | 6,28% | 3,26% |
Tesouro Prefixado com Juros Semestrais | 2025 | 3,46% | 10,71% | 12,07% | 13,57% | 3,26% |
Tesouro Prefixado | 2024 | 3,36% | 10,90% | 12,43% | 13,79% | 2,67% |
Tesouro Prefixado | 2025 | 2,95% | 10,74% | 12,06% | 13,51% | 3,44% |
Tesouro Prefixado com Juros Semestrais | 2027 | 1,42% | 10,66% | 12,07% | 13,53% | 4,95% |
Todas as taxas máximas do ano foram atingidas no dia 20 de julho, com exceção dos títulos prefixados com e sem juros semestrais com vencimento em 2023, que atingiram suas taxas máximas em 19 de julho.
Fonte: Tesouro Direto
O que explica o rali recente
Conforme me explicou Lais Costa, analista de renda fixa da Empiricus, os títulos prefixados e atrelados à inflação de prazos mais curtos têm visto uma queda acentuada nas suas taxas, recentemente, em razão do recuo da inflação implícita.
A inflação implícita é a parte da remuneração dos títulos que diz respeito à expectativa para a inflação no futuro - no caso dos títulos mais curtos, num futuro próximo.
De maneira mais simples, bem antes de o Banco Central emitir sua decisão para os juros, indicando finalmente o fim do ciclo de alta, o mercado já tinha perspectivas de queda para a inflação, o que reduziu as taxas dos títulos e motivou sua valorização
Sim, é verdade que a inflação brasileira continua elevada, mas existem no momento pelo menos duas grandes forças deflacionárias que estão ganhando corpo, não só no Brasil, como no mundo, diz a analista. Ela cita:
- A redução dos preços dos combustíveis em razão do corte de impostos e da queda no preço do petróleo, esta motivada pelos temores de recessão no exterior. Este fator impacta toda a cadeia de produção, tanto pela redução no custo do transporte de bens, quanto pela redução do próprio custo de produção dos alimentos. O fenômeno já começou a ser sentido, mas deve continuar.
- Queda na inflação dos comercializáveis (tradables), produtos que podem ser substituídos por importados em caso de alta da demanda ou queda na oferta local. O impulso da população pelo consumo de bens duráveis, forte durante a pandemia, já diminuiu com a reabertura, e agora a demanda externa está baixando, com a perspectiva de aperto monetário nos países ricos e possível recessão.
Os títulos mais longos, por sua vez, são bem menos afetados por essa queda na inflação de curto prazo e pelo fim do ciclo de alta da Selic. Sua dinâmica de preços tem mais a ver com a perspectiva para o quadro fiscal, e esta não é das melhores.
Basta lembrar que algumas das medidas tomadas para baixar a inflação agora - como os cortes de impostos - ou ajudar a população a lidar com ela - como o aumento do Auxílio Brasil e a concessão de auxílios a caminhoneiros e taxistas - motivaram o rompimento do teto fiscal e um drible na lei eleitoral.
Em outras palavras, essa conta será paga lá na frente, na forma de uma inflação elevada por mais tempo, e ainda se abriu um precedente negativo para os próximos governos que tentem se reeleger.
“Também temos eleições à vista e não sabemos ainda como o próximo governo vai se comportar [em relação ao fiscal], mas a perspectiva não é boa para nenhum dos dois principais candidatos”, acrescenta Lais Costa.
A analista chama atenção ainda para um dado curioso: a inflação implícita caiu mais do que as taxas prefixadas, o que indica que o mercado ainda cobra um prêmio de risco relativamente elevado para investir nesses papéis.
“Como um dos vetores deflacionários veio na canetada, isso aumentou a percepção de risco do mercado. Teremos menos inflação, mas os títulos não podem pagar menos juros, porque precisa compensar esse risco”, explica.
Por que os títulos pré e NTN-B curtos têm alta no ano
Um fator que pode parecer estranho aos olhos do investidor mais experiente no Tesouro Direto é o fato de que os prefixados e Tesouro IPCA+ mais curtos têm desempenho positivo no acumulado de 2022, mesmo com a alta das suas taxas, como pode ser visto na tabela anterior.
Em geral, o que ocorre é o oposto. Quando há um aumento das taxas, os preços desses títulos públicos tendem a cair.
O que acontece aqui, porém, tem uma dimensão mais técnica e, de certa forma, mais relacionada ao fato de esses papéis terem prazos mais curtos.
De forma geral, quanto menor o prazo de um papel, menos arriscado ele é. Então, num título público, quanto mais perto do vencimento o investidor comprar o papel, mais ele paga, proporcionalmente, pois ele fica menos tempo exposto àquele risco.
As taxas dos prefixados e NTN-Bs curtas subiram do início do ano para cá, mas a alta foi menor do que a queda no número de dias úteis até o vencimento (o prazo remanescente).
Esse caso evidencia inclusive a natureza menos arriscada desses papéis quando comparados aos prefixados e NTN-Bs longos, e o porquê de eles serem preferidos pelos investidores em momentos de muita turbulência e incerteza.
Veja também: Onde investir na renda fixa no segundo semestre de 2022?
Prefixados e Tesouro IPCA+ curtos ainda estão atrativos?
Analistas e gestores de renda fixa gostam bastante desses papéis, ainda mais agora que o ciclo de alta da Selic está chegando ao fim, momento que tende a ser o mais auspicioso para a compra de prefixados e NTN-Bs.
Na reportagem do Seu Dinheiro sobre onde investir na renda fixa no segundo semestre, os prefixados de vencimentos intermediários, como o Tesouro Prefixado 2025, eram os preferidos de Pierre Jadoul, gestor da ARX, que também gostava das NTN-Bs de prazo semelhante, como o Tesouro IPCA+ 2026.
Este também estava entre os papéis preferidos de Ulisses Nehmi, da Sparta. Ambos os gestores disseram, na época, achar os títulos longos muito arriscados, e Nehmi citou nominalmente o risco das eleições - o que talvez explique também a demanda maior pelos títulos mais curtos neste momento.
O Santander já havia indicado especificamente o Tesouro IPCA+ 2026 para seus clientes no mês de julho e repetiu a indicação agora em agosto, em razão de um cenário de inflação já declinante, porém ainda com muitas incertezas à frente.
Na semana passada, o nosso colunista Matheus Spiess também deixou claro, no seu texto semanal aqui no Seu Dinheiro, que gosta das NTN-Bs mais curtas, com vencimentos entre 2025 e 2027, para carregar até o vencimento.
“Se der certo, o investidor ganha porque a curva [de juros] arrefeceu; se der errado, a inflação vai ser alta o suficiente para mais do que compensar novas altas da curva”, escreve Spiess.
Importante lembrar que, embora o Tesouro Prefixado 2025 e o Tesouro IPCA+ 2026 sejam os únicos papéis de vencimentos mais curtos oferecidos atualmente para compra no Tesouro Direto, no mercado secundário, que pode ser acessado pela mesa de operações da sua corretora, é possível adquirir outros vencimentos.
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