O Itaú demorou a reagir contra a concorrência das fintechs, mas aprendeu a lição. Quem reconhece é o próprio Itaú
Admitir os erros faz parte da nova postura do Itaú, que corrigiu a rota e está pronto para bater de frente com os novos concorrentes na arena financeira, segundo o diretor de RI, Renato Lulia Jacob
O Itaú Unibanco (ITUB4) demorou a reagir na estratégia para competir com as novas empresas de tecnologia financeira, as fintechs, o que custou participação de mercado e rentabilidade.
A afirmação surpreende não pela conclusão em si, mas por ter partido do próprio diretor de relações com investidores do Itaú, Renato Lulia Jacob. Afinal, o reconhecimento público de um erro não é algo que se espera do maior banco privado brasileiro.
Mas a declaração sintetiza bem a nova postura do Itaú, que agora tem o trabalho de convencer o mercado de que está preparado para se defender e reagir ao ataque da concorrência.
“Difícil usar um eufemismo para dizer o quão grande é essa mudança cultural no banco”, me disse Lulia, em uma entrevista por videoconferência.
Na briga com as fintechs, e agora no rumo considerado certo, o Itaú tem nas mãos três atributos invejáveis para qualquer empresa de tecnologia: uma marca reconhecida, uma “montanha” de dados e uma base de 60 milhões de clientes.
Com 13 mil profissionais dedicados à área de tecnologia hoje, o Itaú dará um “salto quântico” — nas palavras do diretor — com a conclusão do longo processo de consolidação de toda a base de dados acumulada pelo banco, prevista para o fim deste ano.
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São nada menos que 50 petabytes de informação, que poderão ser usados para aprimorar os procedimentos de análise de crédito, padrões de consumo e sistemas antifraude.
Em busca de uma referência para dar uma ideia da ordem de grandeza, me deparei com uma reportagem da revista Superinteressante, que compara esse volume de dados a tudo que a humanidade escreveu na história em todas as línguas.
E as ações?
Os números e os investimentos em modernização impressionam, mas na bolsa as ações do banco (ITUB3 e ITUB4) seguem abaixo da avaliação histórica e são negociadas a múltiplos muito inferiores aos das fintechs.
Nesse cenário, chamou a atenção a notícia recente de que o Nubank poderia ser avaliado em até US$ 100 bilhões — mais do que o Itaú, que hoje vale pouco mais de US$ 40 bilhões na B3 — em uma futura oferta pública de ações (IPO, em inglês) em Nova York.
Isso significa que as ações do banco estão baratas ou as de tecnologia estão caras? “Talvez um pouco dos dois”, afirma Lulia. Como diretor de RI, ele diz que não pode falar sobre os papéis do Itaú, mas avalia que a balança do mercado neste momento tende a pender favoravelmente para ações de valor e boas pagadoras de dividendos em relação às de crescimento, como as techs.
A lição do Itaú com as maquininhas
Ao comentar sobre o avanço das fintechs, o diretor do Itaú falou da lição aprendida no mercado de maquininhas de cartão (adquirência). Ele reconheceu que o banco não percebeu o perigo quando surgiram novas empresas dispostas a quebrar o domínio da Rede (empresa do Itaú) e Cielo (de Bradesco e Banco do Brasil).
Concorrentes como Stone e PagSeguro levaram uma parcela de mercado relevante ao oferecer um serviço que o próprio diretor do Itaú admitiu como melhor na época.
“A adquirência agora se tornou um produto central na nossa oferta, principalmente para pequenas e médias empresas. Estamos dando a volta por cima, mas isso custou muito tempo e dinheiro.”
Renato Lulia Jacob, Itaú Unibanco
O caso das maquininhas é emblemático porque os investidores que temem pelo futuro dos grandes bancos e das ações na bolsa costumam olhar para esse mercado. Mais precisamente para as ações da Cielo (CIEL3), que perderam nada menos que 90% do valor nos últimos cinco anos.
Existe o risco de isso se espalhar para outros negócios dos bancos e para as ações do Itaú (ITUB4), em particular?
“Se esse caso [do mercado de maquininhas] fosse o único, eu teria a mesma preocupação. Mas hoje temos exemplos bastante claros para mostrar que aprendemos a lição e conseguimos reagir de forma bem diferente.”
A vida do Itaú sem a XP
Como exemplo de resposta ao avanço da concorrência, o diretor de RI do Itaú cita o que aconteceu no "segundo round" da batalha, no mercado de investimentos. Primeiro com a abertura da plataforma para produtos de terceiros assim que a XP começou a despontar no mercado.
A própria compra da participação na corretora — desfeita depois que o Banco Central vetou a possibilidade de aquisição do controle da XP — também pode ser encarada como um sinal de reação do Itaú.
Em paralelo, o banco continuou trabalhando para melhorar o atendimento. Nesse sentido, decidiu replicar o modelo de agentes autônomos adotado pela ex-sócia, mas com uma estrutura interna que vai chegar a 1.500 assessores, divididos em 150 escritórios em todo o país.
A contraofensiva vem dando resultados. Lulia diz que o banco tem conseguido manter a participação de mercado e aumentar o volume de ativos sob gestão trimestre a trimestre mesmo com a proliferação de novas plataformas de investimento. “Mas sabemos que o ataque vai continuar, a briga está longe de estar ganha.”
Por falar em XP, o processo de separação terminou recentemente, com a entrega aos acionistas do Itaú de BDRs (recibos de ações) da corretora. Mas os resultados do banco já não consideram a contribuição da plataforma desde maio deste ano.
Mesmo sem a ajuda da XP no balanço, o Itaú decidiu manter a projeção (guidance) de crescimento da receita com serviços entre 2,5% e 6,5% neste ano. Ainda que, nesse caso, os críticos possam argumentar que a estimativa para 2021 já foi feita pensando na separação.
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Vale tudo nessa briga?
A disputa com as fintechs de modo geral tem sido complicada para os bancos porque elas basicamente têm permissão para rasgar dinheiro. Ou seja, em nome da conquista de clientes, as empresas podem operar no prejuízo e garantir a continuidade graças ao aporte constante de investidores de risco.
A dúvida que fica é: até que ponto o Itaú está disposto a ir para manter seu mercado? Em outras palavras, é possível ser competitivo contra as fintechs e manter os níveis de rentabilidade aos acionistas de ITUB3 e ITUB4 na bolsa?
Lulia diz que o banco não tem meta nem guia a operação pelo retorno sobre o patrimônio (ROE, na sigla em inglês). Isso significa que há disposição e bala na agulha para brigar por preço contra a concorrência se for necessário.
Ninguém espere, contudo, um “vale tudo” do bancão nessa disputa. O objetivo do Itaú é manter ao longo do tempo uma rentabilidade acima do custo de capital. Mesmo no pior momento da crise da covid-19, quando o ROE caiu para a faixa dos 14%, essa missão foi cumprida.
Ao mesmo tempo, Lulia vê as fintechs em uma nova fase da competição, bem mais complexa, conforme passam a oferecer novos serviços aos clientes.
“Não é tão difícil ser bom quando se faz um produto único. Vai ser interessante acompanhar esse processo de transição, mas não vamos ficar sentados esperando.”
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Além do banco: 10 milhões de clientes
Voltando a falar dos erros que o Itaú soube reconhecer e corrigir, o diretor mencionou o caso do Iti. O aplicativo que nasceu como uma espécie de carteira digital só engrenou quando o banco percebeu que a vocação do produto era outra: alcançar um público que precisava de serviços financeiros simples e gratuitos.
Remodelado como banco digital, o Iti cresceu rapidamente e conta hoje com 10 milhões de clientes. Desse total, mais de 80% não eram clientes do Itaú. São principalmente jovens ainda não bancarizados e que conseguem resolver a maioria dos problemas diretamente no aplicativo.
“A gente não esconde que o Iti é do Itaú”, diz Lulia, em uma possível indireta ao Bradesco, que criou o banco digital Next como uma marca totalmente separada.
O Iti é uma das iniciativas que o diretor chama de “beyond bank” (além do banco). “Estamos atentos ao que mais a gente consegue fazer além dos serviços financeiros tradicionais.”
O banco tem, por exemplo, testado as águas do marketplace digital com o programa de fidelidade Iupp, com boa aceitação dos clientes, segundo Lulia.
Por enquanto, as novas frentes não são representativas o suficiente para aparecer nos balanços, até pelo tamanho do banco. Mas a expectativa é que, no futuro, os resultados compensem a perda esperada com a maior concorrência nos serviços bancários.
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Inadimplência: a surpresa da pandemia para o Itaú
Logo no início da covid-19, o Itaú e os demais bancos se prepararam para o pior cenário e fizeram provisões bilionárias no balanço com a expectativa de uma explosão da inadimplência, o que derrubou os resultados do ano passado. Apenas no primeiro trimestre de 2020, as provisões do Itaú bateram em R$ 10 bilhões.
A alta dos calotes, contudo, acabou não se materializando. No segundo trimestre, o índice de atrasos acima de 90 dias na carteira do banco ficou em 3,6%. Sem considerar os empréstimos que foram refinanciados no auge da crise, o indicador cai pra 2,8%.
“Não usamos nem 1 centavo da provisão especifica que fizemos, ela ficou guardadinha no balanço”, diz Lulia.
E o que o banco vai fazer com todo esse dinheiro? A ideia é manter as provisões no balanço, mas agora para fazer frente ao crescimento do crédito.
“Não enxergamos mais o risco de um pico de inadimplência. A grande surpresa da pandemia foi a qualidade de crédito”, afirma o diretor de RI do Itaú. Tanto é verdade que o banco decidiu acelerar a concessão de financiamentos e aumentou a projeção para o avanço da carteira no país para até 15,5% neste ano.
Vale destacar que as ações dos bancões voltaram à cena. Explicamos isso em uma análise publicada no nosso Instagram.
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