A guerra entre a Rússia e a Ucrânia vai muito além dos tanques e das bombas usadas nos campos de batalha. Na tentativa de frear as tropas de Vladimir Putin sem pegar em armas, os Estados Unidos e seus aliados já anunciaram cerca de 50 sanções econômicas e financeiras — e prometem mais.
A ideia dessas medidas é isolar a Rússia do sistema global, minando as fontes de recursos do país para que Putin não consiga financiar suas tropas em território ucraniano e, assim, colocar um fim na guerra.
As sanções aplicadas pelos Estados Unidos, União Europeia (UE) e outros aliados após a invasão da Ucrânia, que começou em 24 de fevereiro, são consideradas as mais fortes já impostas a uma nação.
Mais da metade das reservas do banco central russo foram congeladas e muitas instituições financeiras do país foram impedidas de acessar o Swift — sistema criado na década de 1970 para padronizar e dar maior segurança aos meios de pagamento e de remessas cambiais envolvidos no comércio internacional.
Sanções também foram impostas a vários bilhões de dólares em exportações da Rússia, indústrias e a russos poderosos — nem mesmo Putin e seu ministro das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, escaparam.
O presidente da Rússia, por sua vez, não assistiu a tudo parado e vem usando as armas que pode para tentar contornar as punições do Ocidente. Além das reservas internacionais acumuladas, ele também conta, por exemplo, com uma forcinha de vizinhos asiáticos, como a China e a Índia.
Quem deu o primeiro passo não foram os EUA
O clima de tensão já era elevado antes de 24 de fevereiro, quando a guerra na Ucrânia começou. A movimentação de tropas russas na fronteira e a falta de clareza sobre as chances de uma invasão colocaram o Ocidente em alerta.
Para tentar evitar que as forças de Putin entrassem em território ucraniano, a União Europeia deu o primeiro passo. Em 22 de fevereiro, o bloco colocou em sua lista de sanções políticos, legisladores e autoridades da Rússia. Na ocasião, a UE também proibiu investidores da região de negociar títulos estatais russos.
O segundo passo foi dado pelo Japão que, no dia 23 de fevereiro, proibiu a emissão de títulos da Rússia no país e congelou os ativos de certos cidadãos russos, bem como emitiu uma restrição de viagens.
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Foi só no primeiro dia da invasão, em 24 de fevereiro, que os Estados Unidos começaram a impor sanções contra o governo Putin.
As punições iniciais dos norte-americanos incluíam a necessidade de empresas russas obterem licenças — que seriam posteriormente todas negadas — para vender computadores, sensores, lasers, ferramentas de navegação e equipamentos de telecomunicações, aeroespaciais e marítimos.
Listamos abaixo algumas das principais sanções anunciadas pelo Ocidente até agora:
Data | Autores | Setor | Sanção |
27/fev | Diversos países | Economia, Finanças | Acesso dos bancos russos ao Swift é bloqueado |
27/fev | EUA, UE, Canadá | Aviação | Companhias aéreas russas são banidas do espaço aéreo |
28/fev | Diversos países | Economia, Finanças | Transações com o banco central russo, Ministério das Finanças, fundo nacional de riqueza são banidas |
08/mar | EUA | Energia | Banimento das importações de petróleo e gás |
08/mar | Reino Unido | Energia | Eliminação gradual das importações de petróleo e derivados russos até o final de 2022 |
09/mar | UE | Riqueza privada | Congelamento de bens de 14 oligarcas, de ativos do banco central e de credores da Rússia e de Belarus |
10/mar | Reino Unido | Riqueza privada | Congelamento de bens de Roman Abramovich, dono do Chelsea, e de Igor Sechin, CEO da petroleira Rosneft |
11/mar | UE | Empresas, militar | Banimento das importações de aço e proibição da exportação de bens de luxo |
24/mar | Reino Unido | Economia, Finanças | Proibições a bancos e congelamento de bens de membros da família do ministro Sergei Lavrov |
24/mar | EUA | Riqueza privada, Finanças, Indústria | Proibições a companhias de defesa, 328 membros do parlamento e a bancos |
As empresas que fugiram da Rússia
Além das cerca de 50 sanções econômicas e financeiras impostas até agora, Putin também tem que lidar com o efeito colateral dessas punições: a fuga de empresas do país.
Diante da dificuldade de fazer negócios na Rússia, já que sistemas de pagamento, bancos e transações foram proibidas ou banidas pelos Estados Unidos e seus aliados, muitos dos grandes conglomerados internacionais anunciaram a suspensão de suas atividades no país.
Também pesou nesse êxodo a preocupação de muitas marcas com sua imagem corporativa, já que estariam presentes em um país invasor.
Listamos abaixo algumas das empresas que suspenderam ou deixaram a Rússia até o momento:
Data | Setor | Empresa |
25/02 | Automotivo | Renault |
27/02 | Energia | BP |
28/02 | Automotivo, Finanças | Volvo, HSBC, GM |
01/03 | Diversos | Apple, Nokia, Total, BMW, Ford, Boeing, Visa, Mastercard |
02/03 | Diversos | Spotify, Alphabet, Exxon, Airbus, Toyota, American Express |
03/03 | Automotivo, consumo | Volkswagen, Nike |
04/03 | Consumo, tecnologia | Airbnb, Microsoft |
06/03 | Consumo, tecnologia | Danone, Netflix, TikTok |
08/03 | Energia, consumo | Shell, McDonald´s, Yum Brands, Starbucks |
28/03 | Consumo | Heineken, Calsberg |
Putin contorna as sanções
Além de tanques e bombas, o presidente russo, Vladimir Putin, vem usando as armas que têm para tentar contornar o tsunami de sanções que atingiu a economia russa desde que invadiu a Ucrânia.
Inicialmente, ele recorreu aos oligarcas russos — os bilionários do país que têm forte ligação com o governo — para manter sua fonte de recursos financeiros ativa. Mas essa alternativa durou pouco tempo. Logo esses ricaços também foram alvo de sanções, como já contamos aqui.
Putin também vem recorrendo às reservas internacionais que foram acumuladas ao longo dos últimos anos — embora as sanções já tenham levado à apreensão de cerca de dois terços delas.
O banco central diz que também vendeu algumas de suas moedas estrangeiras para sustentar o rublo, deixando dúvidas sobre por quanto tempo ainda conseguirá sacar de seus cofres para pagar suas dívidas.
Confira o potencial das sanções sobre a economia russa:
De acordo com dados do BC russo, as reservas em moeda estrangeira e ouro do país eram de pouco mais de US$ 642 bilhões no pico de fevereiro. Em 25 de março caíram para US$ 604 bilhões, mas, ainda assim, o país segue colhendo grandes somas das exportações de energia.
Projeções da Bloomberg Economics indicam que, até o final do ano, as reservas russas devem ter um ganho de quase US$ 321 bilhões se as commodities continuarem fluindo — e aqui ele tem o apoio de países como China e Índia, que seguem importando energia russa, além de abrigarem bancos excluídos do Swift.
Putin também lançou uma nova cartada no final do mês passado, ao decretar que países não amigáveis precisarão pagar pelo gás natural russo em rublos. A medida, que também pode ser ampliada para outros bens exportados pela Rússia, tem como objetivo fortalecer a moeda local.
Rússia que se prepare, vem mais por aí…
Apesar de o número de sanções do Ocidente impostas à Rússia já passar de 50, os EUA e seus aliados europeus estão se preparando para aplicar outra série de punições ao país após crescentes evidências de crimes de guerra cometidos por suas forças na Ucrânia.
Um porta-voz do governo alemão disse na segunda-feira (04) que novas sanções seriam decididas “nos próximos dias”. O ministro da Defesa da Alemanha também afirmou que a UE deve discutir a proibição das importações de gás russo.
Até agora, Berlim se recusou a embargar as importações de petróleo e gás da Rússia, dizendo que a Europa depende muito deles. Cerca de 40% do gás da Europa é fornecido pela Rússia — e a Alemanha importa quase 60% de seu gás natural do país.
Do lado norte-americano, o secretário de Estado Antony Blinken disse no domingo (03) que Washington e seus colegas europeus estão examinando novas penalidades financeiras para a Rússia “todos os dias”.
Enquanto isso, a ministra de Relações Exteriores do Reino Unido, Liz Truss, foi até a Polônia na segunda-feira (05) para discutir a ação coordenada dos aliados da Organização do Atlântico Norte (Otan) e o aumento das medidas punitivas contra Moscou.
*Com informações de Reuters, Bloomberg e Financial Times