Quando a esmola é demais, o santo desconfia. Quando o presidente da Rússia, Vladimir Putin, decidiu na quinta-feira (31) poupar um país do pagamento do gás natural russo em rublos, poucos imaginavam o que estava por vir neste capítulo envolvendo a guerra na Ucrânia.
Com um telefonema na semana passada, o chanceler alemão, Olaf Scholz, obteve de Putin um compromisso de manter o pagamento da Alemanha — um dos países europeus mais dependentes da energia russa — em euros ou dólares.
Na ocasião, o presidente da Rússia disse a Scholz que "a decisão tomada não levaria ao agravamento dos termos contratuais para as empresas importadoras europeias".
A decisão a qual Putin se referiu era o decreto assinado por ele na quinta-feira (31), obrigando os países não amigáveis a pagar pelas compras de gás natural russo com rublos e não mais em dólar, euro ou outras divisas.
Quando foi anunciada, no fim de março, a medida adicionou uma dose extra de tensão entre Moscou e o Ocidente, já que muitos dos países afetados pela mudança têm uma dependência elevada da energia russa.
O segundo capítulo da guerra dos rublos
A Alemanha e outros países europeus nem bem desfrutaram da conquista sobre o gás natural e, neste domingo (03), foram surpreendidos com mais uma decisão do governo de Vladimir Putin.
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, foi o mensageiro das novidades. Em entrevista ao canal de televisão Russia-1, ele disse que o sistema criado por Moscou para o pagamento de gás natural em rublos deve ser usado em outros produtos exportados.
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Ele não explicou quais produtos seriam incluídos na medida, mas, além do gás, a Rússia é uma das maiores produtoras agrícolas do mundo, com uma presença forte nos mercados globais de cereais – sobretudo trigo, centeio, cevada e aveia.
Além disso, o país também é um dos maiores fornecedores do mundo de metais utilizados em todo tipo de produtos, de latas de alumínio até cabos de cobre e componentes de automóveis.
Segundo o porta-voz do Kremlin, os compradores pagarão em euros, conforme os termos dos atuais acordos.
"No entanto, dito isso, o pagamento final será apresentado ao vendedor precisamente em rublos, comprando rublos com esses euros", explicou.
Peskov disse também que o formato de pagamento significa a garantia de segurança do comércio russo, e não é uma ofensa a outros países.
Mas por que a Rússia quer receber em rublos?
Desde que invadiu a Ucrânia, em 24 de fevereiro, Putin provocou uma reação em cadeia dos Estados Unidos e aliados em uma tentativa de frear o avanço das tropas russas sobre Kiev.
Saiba mais sobre as sanções impostas à Rússia:
Embora rejeitem a ideia de pegar em armas e enfrentar Putin no campo de batalha, os países do Ocidente vêm anunciando sanções econômicas e financeiras para tentar estrangular a economia russa e acabar com os recursos que mantêm a invasão.
Alguns efeitos das sanções foram imediatos: empresas internacionais deixaram o país, a bolsa de valores teve que ser fechada por semanas e o rublo se desvalorizou.
E é aí que o plano de cobrar na moeda russa pelo gás exportado se encaixa. Esse anúncio significa que os países que impuseram sanções à Rússia terão que comprar rublos a taxas fixadas pelo banco central russo para pagar pelo gás. A medida reforçaria o rublo, aumentando a demanda por ele.
Touros e Ursos #102 — terceira via nas eleições
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*Com informações da agência Tass