A fortuna dos oligarcas russos parece ter encontrado outro lar. Alvo das pesadas sanções orquestradas pelos Estados Unidos e aliados, esses ricaços estavam em busca de um novo lugar para estacionar seus bilhões e encontraram na Turquia um porto aparentemente seguro.
Mas, para receber essa grana de braços abertos, os turcos terão que trilhar uma linha tênue na guerra entre Rússia e Ucrânia.
Apesar de criticar fortemente a invasão por Moscou, a Turquia não aderiu às sanções impostas por Estados Unidos, União Europeia (UE), Reino Unido e outros aliados, dizendo que se opõe a essas punições por princípio.
Em vez disso, os turcos adotaram o papel de mediador neutro, facilitando as conversas de paz entre russos e ucranianos.
Istambul recebeu na terça-feira (29) uma nova rodada de negociações que aumentou as esperanças de que o fim da guerra pode estar mais perto do que se pensava.
Foi na maior cidade da Turquia que Moscou concordou em suspender seu ataque militar a Kiev e Chernihiv — algo que o Ocidente coloca em dúvida —, enquanto os negociadores ucranianos propuseram adotar um status neutro em troca de garantias de segurança.
Turquia: um posto avançado de ativos russos
A postura de neutralidade da Turquia é amplamente compreendida devido aos seus estreitos laços econômicos e diplomáticos com a Rússia, particularmente em relação à energia, defesa, comércio e turismo.
Como tal, os aliados ocidentais não pressionaram os turcos a aderirem às sanções e, até o momento, não houve punições por causa disso.
Essa posição transforma a Turquia em um posto avançado para ativos pertencentes a russos sancionados e, ao que parece, dentro da lei.
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O ministro das Relações Exteriores da Turquia, Mevlut Cavusoglu, disse no sábado que receberia oligarcas russos sancionados no país como turistas e investidores, desde que seus negócios obedecessem à lei internacional.
O que os turcos ganham com os oligarcas russos?
Recentemente, a imprensa internacional noticiou a chegada de vários ativos de luxo de propriedade russa na Turquia, incluindo dois iates e um jato particular do bilionário Roman Abramovich.

A entrada de investimentos estrangeiros e ativos de luxo pode fornecer um benefício para a economia turca, que entrou em modo de crise em setembro passado, quando cortes não ortodoxos nas taxas de juros aceleraram uma inflação já em espiral.
Mas quaisquer ganhos potenciais podem ter vida curta para um país que está orquestrando um delicado equilíbrio entre a Rússia e o Ocidente.
Isso porque a tolerância ocidental pode diminuir se a Turquia começar a receber ativamente a riqueza sancionada, disse Emre Peker, diretor e especialista em Turquia da consultoria de risco político Eurasia Group, à CNBC.
Turquia em apuros
A Turquia dificilmente pode se dar ao luxo de ser atingida por sanções secundárias, dada a pressão que a guerra e as sanções russas resultantes já infligiram à sua economia.
No mês passado, a inflação disparou para 54,4% — o maior patamar em 20 anos — em meio à queda da lira e à alta dos preços das commodities. Os dados que refletem totalmente o impacto da guerra ainda não foram divulgados.
Mas não é só a economia que está em jogo. O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, está empenhado em manter a reputação da Turquia como mediadora independente na guerra, enquanto tenta ganhar pontos tanto em casa quanto no exterior antes das eleições de 2023.