Em meio às dificuldades enfrentadas no ano passado, o brasileiro colocou o dinheiro para trabalhar, optando por não deixar seus investimentos concentrados em poucos produtos. E também se arriscou mais em busca de rentabilidade, uma vez que a estratégia de "jogar parado" dos últimos anos, beneficiada por juros exorbitantes, não traz mais ganhos.
Dados divulgados nesta quinta-feira (4) pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) mostram que o volume financeiro aportado pelas pessoas físicas nas diversas classes de investimentos cresceu 13,4% em 2020, fechando o ano em R$ 3,7 trilhões, o maior crescimento já registrado pela instituição.
Com os juros nos menores patamares da história, o que se viu foi um aumento de 29% no volume financeiro destinado a títulos e valores mobiliários, com as pessoas indo atrás de rentabilidade. Esta situação levou, inclusive, à perda de participação dos fundos de renda fixa na carteira dos investidores. Destino de 23,1% do volume financeiro aplicado por brasileiros em 2019, esses fundos perderam espaço em 2020, para 16,1%.
Para o presidente do fórum de distribuição da Anbima, José Ramos Rocha Neto, a queda dos juros e as taxas de administração elevadas diminuíram a atratividade desta opção.
“Estamos percebendo, nos últimos anos, com a movimentação da queda dos juros, o investidor buscando mais risco”, disse ele.
Esta situação, porém, foi benéfica para as ações, cuja participação passou de 4,3% em 2019 para 5,7% em 2020.
Um produto cujo desempenho surpreendeu foi o CDB. Apesar de ser do grupo de renda fixa, sua participação passou de 10% para 13,6% em 2020. Segundo Rocha, o movimento é explicado pela expansão das operações de crédito no ano passado, que contribuíram para melhorar a rentabilidade do produto. E, para ele, este movimento pode continuar em 2021.
“O que percebemos é que, se continuar a perspectiva de expansão de carteira de crédito do país, dentro do cenário econômico atual, este movimento deve permanecer, porque o CDB tem papel na captação de recursos”, disse.
Poupança e auxílio emergencial
Porta de entrada da maioria no mundo dos investimentos, a poupança continuou sendo o principal destino de investimento dos brasileiros no ano passado.
Ainda que tenha tido um crescimento menor de volume que o grupo títulos e valores mobiliários – 21,6% ante 29% –, ela dominou a distribuição do volume de recursos investidos no país. Em 2019, a fatia era de 40%, e passou para 42,9% em 2020.
Parece contrassenso, porque as notícias apontam que a rentabilidade dela está muito baixa – desde maio de 2012, sempre que a taxa básica de juros é igual ou menor que 8,5% ao ano, a caderneta paga apenas 70% da Selic mais Taxa Referencial (TR), que costuma ficar zerada quando os juros estão muito baixos.
O presidente do fórum de distribuição da Anbima explicou que o aumento foi provocado pelo auxílio emergencial que o governo distribuiu para lidar com os efeitos da pandemia. A situação trouxe inclusive uma notícia bastante aguardada por quem atua com finanças, o aumento no número de pessoas bancarizadas – o número de contas cresceu 27,8% e ultrapassou os 100 milhões em 2020.
Entretanto, para Rocha, o movimento de saída do brasileiro da poupança visto nos últimos anos não deve ser revertido em 2021. O fim dos repasses do auxílio emergencial deve retomar o processo de busca de novos instrumentos financeiros pelas pessoas.
“Provavelmente a poupança não conseguirá manter níveis de crescimento que teve em 2020, justamente porque foi alavancada pelo auxílio emergencial”, disse. “Com o fim do auxílio, ela começará a ser consumida.”