Na Eternit, a recuperação judicial é página (quase) virada — e a empresa já planeja o futuro
O Seu Dinheiro conversou com Luís Augusto Barbosa, CEO da Eternit, a respeito do processo de recuperação judicial, planos futuros e o polêmico amianto
A Eternit é uma daquelas marcas que simbolizam um produto. Pense no Bombril ou na Xerox — a Eternit ocupa espaço parecido no ramo de telhas e coberturas. Essa forte presença no imaginário, no entanto, de nada serviu para evitar um processo de recuperação judicial.
Mais que isso: a reputação ajuda a explicar as dificuldades financeiras. A Eternit sempre foi ligada a um tipo de telha — a de amianto, uma substância com potencial cancerígeno. E, entre muitas idas e vindas no Judiciário a respeito do uso da substância, a empresa foi perdendo força.
Mas passados apenas três anos desde que a Eternit deu entrada na recuperação judicial, a situação da empresa é bastante diferente. O uso do amianto nas telhas foi abandonado, as dívidas com credores estão quase todas equacionadas e um projeto inovador está prestes a chegar às lojas.
"Nossa expectativa é que em dois ou três meses [a recuperação] se resolva", disse Luís Augusto Barbosa, CEO da Eternit, em entrevista ao Seu Dinheiro. Por mais que as pendências financeiras estejam perto do fim, ele ressalta que os trâmites jurídicos podem prolongar a duração do processo.
E a perspectiva de final feliz — e rápido — já é refletida na bolsa: as ações ON (ETER3) acumulam ganhos de 150% somente neste ano. Apenas no pregão do dia 12, após a divulgação dos resultados da companhia no primeiro trimestre, o salto foi de 13,9%.
Não à toa, a Eternit apareceu entre as empresas da bolsa em recuperação judicial cujas ações podem valer o risco; ao todo, há 20 companhias de capital aberto nessa situação neste momento.
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Eternit virando a página
O balanço da companhia nos três primeiros meses desse ano, aliás, mostra que a Eternit está num bom momento operacional, reportando lucro pelo terceiro trimestre consecutivo; a receita líquida e o Ebitda têm crescido sequencialmente desde o primeiro trimestre de 2020.
O que explica essa evolução? Nas palavras do próprio Barbosa, a virada completa nas operações. Hoje, o carro-chefe da Eternit são as telhas de fibrocimento, uma fibra sintética que substitui o amianto; os negócios de caixas d'água, louças e metais sanitários, menos competitivos, foram deixados de lado.
E, quem diria: o ambiente econômico surgido a partir da pandemia jogou a favor da empresa. Juros baixos e incentivos à construção civil, somados à maior permanência das pessoas em ambientes residenciais, deram impulso ao mercado de reformas e reaqueceram a demanda por telhas.
E, novamente: a Eternit é referência nesse setor.

A própria competitividade do fibrocimento também foi um fator decisivo: com materiais como aço e PVC passando por reajustes mais intensos, as telhas da Eternit foram ganhando demanda cada vez maior.
A perspectiva para o restante do ano continua bastante animadora: a Associação Brasileira das Indústrias de Material de Construção (Abramat) projeta um crescimento de 4% no faturamento consolidado em 2021 — em 2020, houve ligeira queda de 0,3%.
“Tudo, de alguma maneira, foi nos beneficiando. O cenário foi ficando positivo para todas as empresas de fibrocimento.”
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADECONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADELuís Augusto Barbosa, CEO da Eternit
Assim, apesar do processo de recuperação judicial ainda em curso, a Eternit continuou fazendo investimentos no lado operacional: a modernização das fábricas de Goiânia e do Rio de Janeiro já está em andamento, de modo a aumentar a capacidade total de produção em 7 mil toneladas por mês.
E, num movimento incomum para empresas em recuperação judicial, a companhia recentemente anunciou uma aquisição: a Confibra, no interior de São Paulo, por R$ 110 milhões — um ativo que aumentará a produção de telhas de fibrocimento em 20%.
"Estudamos investimentos brownfield (em instalações já existentes, mas que precisam de expansões e melhorias) em áreas em que não há oferta suficiente, principalmente no Norte e Nordeste", diz Barbosa, afirmando que essas regiões são atendidas por localidades distantes e que embutem um custo elevado de frete.

Recuperação judicial a jato
Independente da estratégia comercial e do bom momento do mercado de fibrocimento, chama a atenção a relativa rapidez com que a Eternit atravessa o processo de recuperação judicial: o pedido foi protocolado na Justiça em março de 2018, sendo homologado no ano seguinte.
Apenas para comparação: a GPC e a OSX, duas companhias da bolsa que concluíram com sucesso seus processos de recuperação judicial no ano passado, ficaram sete anos nessa situação.
A celeridade no processo da Eternit se deve, em grande parte, ao plano bem amarrado: desde o começo, a companhia deixou claro que somente a venda de ativos seria capaz de equacionar as dívidas.
"É por isso que a gente conseguiu aprovar o plano rapidamente, os credores viram que tínhamos ativos suficientes, que o plano era viável", diz Barbosa. Entre as vendas planejadas, destaque para a unidade de louças sanitárias, que rendeu à Eternit R$ 97,5 milhões líquidos, e a de um imóvel em Aparecida de Goiânia (GO), por R$ 24,5 milhões.
O plano de recuperação judicial da Eternit enquadra os credores em quatro categorias: trabalhistas, com garantia real, quirografários (sem preferências) e micro e pequenas empresas — a segunda e a quarta classe já foram equacionadas, e a terceira já está em fase de pagamento. “Nosso plano nunca previu o uso de caixa vindo da operação [para pagar os credores].”
Dito isso, repare que a Eternit possui uma situação de endividamento bastante confortável. O fortalecimento recente da posição de caixa está relacionado com a venda de ativos, mas, ainda assim, é possível notar uma queda gradual na dívida bruta:

Eternit e as telhas fotovoltaicas
Barbosa, no entanto, não se satisfaz com a reestruturação da Eternit: o executivo faz questão de pensar nos próximos passos da companhia — e das inovações que a tradicional fabricante de telhas pode trazer ao mercado.
A grande aposta é o projeto de telhas fotovoltaicas. O produto já foi aprovado pelo Inmetro e está em fase final de testes — a Eternit prevê que ele chegará às lojas no segundo semestre deste ano.
"Estamos estudando o produto há três anos", diz Barbosa, destacando que, neste primeiro momento, as células fotovoltaicas estarão disponíveis apenas em telhas da família Tégula, feitas de cimento — as telhas de fibrocimento estão numa fase anterior de testes para o projeto solar, podendo levar seis meses adicionais para estarem prontas.
O apelo está no caráter modular: não é preciso ter um telhado inteiro com o produto; de acordo com a sua necessidade de consumo, é possível instalar um número maior ou menor de telhas.
"Não é para competir na área de usina fotovoltaica, aí a placa é a melhor solução. Mas para casas, pequenos comércios, indústrias, agronegócio... Aí o produto é bem competitivo", diz Barbosa.

E mesmo as discussões no Congresso a respeito do fim dos subsídios à energia solar não tiram o otimismo do executivo em relação ao projeto — para ele, é pouco provável que uma decisão que inviabilize a exploração dessa matriz energética seja aprovado.
A discórdia do amianto
A história de reestruturação da Eternit, contudo, traz um ponto que pode deixar muitos investidores desconfortáveis: por mais que a companhia não use mais o amianto em seus produtos, ela continua explorando a mina em Minaçu (GO) e exportando a fibra.
"É um produto polêmico, mas temos a absoluta convicção de que a operação é segura", diz Barbosa. "Paramos de usar porque entendemos que o mercado não queria mais".
Mas o que é exatamente o amianto? De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), trata-se de um ativo reconhecidamente cancerígeno e que atinge especialmente os trabalhadores envolvidos na extração e processamento da substância. A inalação de seu pó afeta os pulmões e reduz a capacidade dos órgãos realizarem trocas gasosas.
O Supremo Tribunal Federal baniu definitivamente o amianto na indústria brasileira em 2017 — a Eternit deixou de usar a substância antes da decisão do STF. Mas há uma lacuna no parecer do Supremo: o uso é proibido, mas e a exploração da substância?
Sem uma decisão que esclareça o impasse, a Eternit voltou a operar a mina de Minaçu, destinando 100% da extração ao mercado internacional e países em que o uso do amianto é permitido.
"Temos essa mina, é um ativo, eu não posso ser irresponsável. É permitido explorar e exportar", diz o executivo, afirmando que o amianto é usado de maneira segura pela indústria de carbocloro no mundo todo. "Hoje, estamos em compasso de espera. Exportamos, dentro da legislação, até que o STF decida [se é permitido ou não explorar o amianto]".
E, de fato, as exportações de amianto da Eternit têm crescido trimestre a trimestre, ajudando a dar força ao processo de recuperação financeira da companhia:

"Enquanto o dilema oficial não se resolve, eu tenho um problema. Se decidir vender, como eu quantifico quanto o ativo vale? Como alguém vai comprar se não se sabe por quanto tempo poderá operar?" diz Barbosa.
Apesar disso, o executivo ressalta que o amianto não faz parte dos planos estratégicos da companhia no futuro — mesmo com a exploração da mina, ele diz que a Eternit caminha para ser mais sustentável e focada para energias limpas.
Barsi e uma base acionária difusa
Quanto à adesão da Eternit na bolsa, um detalhe chama a atenção: estamos falando de uma corporation — definição dada às empresas cujo capital é difuso, sem a existência de um acionista ou grupo controlador.
Entre os principais acionistas, um nome chama a atenção: Luiz Barsi, um dos mais famosos investidores brasileiros, é dono de 9,34% do capital da Eternit — sua filha, Louise Barsi, é membro do conselho de administração da companhia.
A estrutura acionária é curiosa: 41,5% do capital social está nas mãos de pessoas físicas — para ser mais exato, 19.132 investidores com esse perfil.

"Fizemos uma diminuição de eventos não recorrentes no balanço, [...] mostra uma coisa mais transparente, mais limpa, sem necessidade de fazer ajustes. Isso foi se refletindo no valor do papel: estivemos entre uma das maiores altas em 2020 e seguimos fortes em 2021", encerra Barbosa.
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