Calcanhar de Aquiles da bolsa, clima político-fiscal tenso faz Ibovespa começar a semana no vermelho; juros voltam a subir
Os recordes americanos até amenizaram a queda por aqui, mas o clima tenso em Brasília segue sendo a maior pedra no sapato do Ibovespa
O Ibovespa começou a semana com o pé esquerdo e mais uma vez ficou de fora da festa das bolsas em Wall Street — que voltaram a registrar recordes nesta segunda-feira (23).
O problema não está nas empresas da nossa bolsa - elas apresentaram bons resultados referentes ao segundo trimestre, com mais da metade delas entregando números acima do esperado.
Mas Brasília é o calcanhar de Aquiles dos negócios. É de lá que surgem os ruídos políticos e fiscais que limitam o impacto positivo do bom humor internacional. Nem mesmo um avanço de 5% do petróleo, após uma semana complicada, foi suficiente para impedir a queda por aqui.
A semana começou com o Ibovespa cedendo 0,49%, aos 117.471 pontos. O dólar à vista teve um dia de forte recuo no exterior, mas por aqui o movimento foi segurado pela cautela interna, e a moeda americana recuou apenas 0,05%, a R$ 5,3820.
Os analistas acham improvável que o pedido de impeachment do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes seja aceito, mas a leitura é de que essa movimentação dificulta o ambiente político.
Para Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos, a falta de perspectiva sobre qual será a resolução para o Orçamento para 2022 é uma das principais razões que pressionam o mercado local, principalmente a curva de juros, que embute mais prêmios de risco. Para a economista, esse clima de cautela deve permanecer pelo menos até o dia 31, quando termina o prazo para a apresentação do plano de lei orçamentária anual pelo Executivo.
Enquanto isso, o que temos é a PEC dos Precatórios rachando o teto de gastos, reformulação do Bolsa Família (agora chamado de Auxílio Brasil), reforma do Imposto de Renda constantemente adiada e sem apoio para a aprovação e o provável fim do programa de redução de salários e jornada, o BEm, que vigorou durante os piores momentos da pandemia.
As palavras do vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos, foram apenas a cereja do bolo da aversão ao risco. Segundo o deputado, o governo já decidiu estourar o teto de gastos e só busca uma forma de viabilizar a manobra. A curva de juros não deixou de indicar o desconforto do mercado, operando em forte alta, principalmente nos vencimentos mais longos.
- Janeiro/22: de 6,69% para 6,73%
- Janeiro/23: de 8,40% para 8,55%
- Janeiro/25: de 9,56% para 9,80%
- Janeiro/27: de 10,01% para 10,23%
O noticiário corporativo também reserva alguns destaques:
- Bancos iniciam cobertura de CBA (CBAV3) projetando forte valorização da ação;
- A Embraer liderou as altas do Ibovespa após sua subsidiária Eve reforçar a presença em Cingapura;
- Banco Pan (BPAN4) tem espaço para subir 35%, diz Bradesco BBI
Ibovespa | -0,49% | 117.471 pontos |
Dólar à vista | -0,05% | R$ 5,38 |
Bitcoin | 0,72% | R$ 268.000 |
S&P 500 | 0,85% | 4.479 pontos |
Nasdaq | 1,55% | 14.942 pontos |
Dow Jones | 0,61% | 35.335 pontos |
Mercado em recuperação
Em Wall Street, o dia foi de recuperação e novos recordes. As bolsas americanas renovaram suas máximas após dados divulgados pela manhã mais uma vez descartarem a possibilidade de um superaquecimento da economia.
Englobando os setores industrial e de serviços, o índice de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) composto caiu de 59,9 em julho para 55,4 em agosto. Esse é o menor nível do indicador em oito meses, bem abaixo do esperado pelos analistas.
O PMI Industrial recuou de 63,4 para 61,2. Já o do setor de serviços caiu de 59,4 para 55,2, bem abaixo dos 59,4 projetados.
Depois da surpresa com a ata da última reunião de política monetária do Federal Reserve, que indicou que a redução das compras de ativos pelo BC americano deve começar ainda este ano, os olhos dos investidores estão voltados para o simpósio de Jackson Hole. A expectativa é que o evento, que reúne as principais autoridades monetárias do mundo, traga novos sinais sobre o futuro da ferramenta que injeta liquidez no sistema financeiro.
Confira o fechamento dos principais índices:
- Nasdaq: 1,55% - 14.942 pontos
- S&P 500: 0,85% - 4.479 pontos
- Dow Jones: 0,61% - 35.335 pontos
Sobe e desce do Ibovespa
O grande destaque positivo do dia ficou com a Embraer. Mais uma vez embalada pelo sucesso da Eve, o seu braço de mobilidade urbana que deve reforçar a presença em Cingapura.
A alta de 5% do petróleo no mercado internacional também puxou os papéis das petroleiras, como a PetroRio e Petrobras, que terminaram o dia com altas superiores a 3%. Confira os principais destaques positivos do dia:
CÓDIGO | NOME | VALOR | VAR |
EMBR3 | Embraer ON | R$ 20,90 | 5,18% |
CVCB3 | CVC ON | R$ 20,69 | 4,34% |
JBSS3 | JBS ON | R$ 32,88 | 3,69% |
PRIO3 | PetroRio ON | R$ 18,65 | 3,44% |
MRFG3 | Marfrig ON | R$ 20,84 | 3,37% |
Na ponta contrária, as varejistas puxaram os piores desempenhos da sessão. Confira também as maiores quedas:
CÓDIGO | NOME | VALOR | VAR |
LAME4 | Lojas Americanas PN | R$ 5,24 | -6,26% |
ENEV3 | Eneva ON | R$ 15,50 | -5,37% |
AMER3 | Americanas S.A | R$ 38,97 | -4,81% |
RENT3 | Localiza ON | R$ 56,14 | -4,41% |
VIIA3 | Via ON | R$ 10,78 | -4,35% |
*Colaboraram Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos, e Leonardo Milane, sócio e economista da VLG Investimentos
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