Real está no topo da lista das moedas de emergentes com maior queda desde janeiro
Segundo o levantamento, o real está atrás até mesmo de moedas como o Rand Sul-africano (ZAR) e o peso colombiano (COP). Mas o movimento de depreciação de moedas emergentes em relação ao dólar não é único no Brasil
A valorização do dólar frente ao real nos últimos dias vem assustando bastante os investidores brasileiros e quem estava com as passagens marcadas para destinos internacionais. Mas a preocupação não é à toa.
Em evento voltado para jornalistas na manhã desta sexta-feira (28), os analistas da XP mostraram que a moeda brasileira está no topo das maiores desvalorizações de moeda entre os emergentes, com queda de 9,53%, desde o começo do ano até ontem (27).
Segundo o levantamento, o real está atrás até mesmo de moedas como o Rand Sul-africano (ZAR) e o peso colombiano (COP). Mas o movimento não é único por aqui.
"Todas as moedas de emergentes estão enfraquecendo bastante na comparação com o dólar. Mas o real é a moeda com maior desvalorização durante o período", destacou Marcos Ross, economista sênior da plataforma de investimentos.
Para Ross, um dos grandes motivos para o descompasso é o diferencial de crescimento do Brasil ante as demais nações nos últimos três anos que se deteriorou (ficou abaixo de 3% ao ano) e que ainda está muito baixo.
Isso sem contar outros três fatores, como a desaceleração da agenda reformista, diminuição do diferencial de juros e a possibilidade de mais um corte da Selic, o que tenderia a prejudicar ainda mais o real frente ao dólar, segundo o especialista.
"Se tudo tivesse se mantido constante, o real deveria estar rodando em torno de R$ 4,15. Essa diferença a mais de centavos está ligada ao aspecto externo. No longo prazo, os fatores estruturais deveriam fazer com que ", destaca o analista.
PIB deve ser revisado
Além de tocar no tema do câmbio, os especialistas da corretora comentaram os impactos que o agravamento do cenário externo com o coronavírus podem ter no crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro.
Segundo Ross, a desaceleração não é intensa em todo o mundo e sim mais focada no país chinês. O problema é que a China é o nosso maior parceiro comercial e isso pode impactar bastante o Brasil.
"Há um dente na taxa de crescimento do PIB chinês. Antes, tínhamos uma taxa linear em torno de 6%. Agora, ela deve ficar próxima de 4,5% [...] E essa desaceleração virá mais pelo lado do consumo e do impacto nas cadeias globais", aponta o analista.
E a situação mais difícil na China e no exterior deve gerar revisões nas projeções do PIB do Brasil. Apesar de ainda não ter refeito as contas, o estrategista-chefe da XP, Fernando Ferreira, falou que ele deve sofrer alterações por conta do risco existente.
"Hoje, por exemplo, 74% das compras de intermediários da China vêm de dois setores: soja e mineração. Somados, os dois equivalem a cerca de 7% do PIB. É uma parte pequena do indicador, mas é preciso ter isso em consideração", destacou o estrategista-chefe.
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