Se a Selic não cai, pelo menos não sobe
Consenso é de manutenção do juro básico em 6,5% ao ano e isso é boa notícia para os seus investimentos

O Comitê de Política Monetária (Copom) apresenta, ainda hoje, sua decisão sobre a taxa básica de juros, a Selic, que está em 6,5% ao ano desde março do ano passado. O consenso de mercado sugere estabilidade. O que não deixa de ser boa notícia para os investimentos, notadamente, bolsa de valores, fundos imobiliários e títulos longos do Tesouro Direto.
Parte do mercado, no entanto, tem migrado para uma retomada do ciclo de corte, se baseando na argumentação do fraco desempenho da economia e em um ambiente externo, que apesar de instável, se mostra favorável a políticas monetárias mais expansionistas.
O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, tem deixado claro, no entanto, que a missão do BC é combater a inflação e não promover o crescimento econômico.
Postura reforçada por Campos Neto em sua última fala antes de entrar no período de silêncio que antecede as reuniões do Copom.
Campos Neto e o Copom também têm dito que o crescimento econômico é um trabalho do governo e da sociedade e que a redução de incertezas e aumento da confiança “são condições necessárias” à recuperação sustentável da economia.
O BC mantém projeção de crescimento de 2% para o Produto Interno Bruto (PIB), enquanto o mercado já trabalha com 1,49%, depois de dados decepcionantes neste começo de ano. Não está descartada uma variação negativa do PIB no primeiro trimestre.
Leia Também
Outro recado forte do presidente foi dizer que não é possível ter juro baixo e inflação baixa, com o lado fiscal desarrumado por muito tempo.
É aqui que entra a importância da agenda de reformas, notadamente a da Previdência, para dar garantia de que não voltaremos ao tempo de juros altos, com reflexo no endividamento do governo.
A reforma da Previdência é o primeiro passo no lado fiscal, que também passa por redução do tamanho do Estado, via privatizações, gastos com funcionalismo e outras políticas, como subsídios e renúncias tributárias.
É como se o BC dissesse que já fez sua parte, levando o juro ao mínimo condizente com inflação nas metas. Agora, a bola está com o Ministério da Economia e Congresso Nacional e outros entes com gerência sobre a política fiscal.
Inflação
As últimas leituras inflacionárias têm surpreendido para cima, captando preço de alimentos e combustíveis. O Copom já antevia esse aumento da inflação, mas acredita que esse será um fenômeno transitório, com pico entre abril e maio.
No entanto, um novo evento surgiu no cenário, a febre suína na China, que pode ter impacto sobre o preço do complexo carne, relegando inflação maior em 2019 e 2020, como discutimos com mais detalhes aqui.
Por se tratar de choque de oferta, o BC não reagiria de imediato, usando as bandas do regime de metas para acomodar a inflação maior. Alta de juros seria considerada, apenas, no caso dessa inflação de alimentos passar a se espraiar para outros preços da economia, os chamados efeitos de segunda ordem.
No seu cenário de referência, com Selic a 6,5% e dólar a R$ 3,85, o IPCA projetado, em março, estava ao redor de 4,1% para 2019 e 4% em 2020.
Resultado condizente com as metas de 4,25% e 4%, respectivamente. Aguardemos, agora, a atualização dessa projeção, que certamente será feita com dólar mais alto.
No lado das expectativas, o Focus mostra IPCA de 4,04% no fim deste ano e de 4% em 2020. Para os próximos 12 meses, a inflação projetada é de 3,59%.
Considerando esse prognóstico de inflação em 12 meses e tirando o juro de mercado para o mesmo período, o swap de 360 dias, que está na casa dos 6,5%, temos um juro real de 2,8%, pouco acima dos 2,6% da reunião anterior.
É o juro real que importa em termos de política monetária e o BC tem reafirmado que a política está estimulativa, ou seja, juro real abaixo do considerado neutro ou estrutural.
Já tratamos, em outras ocasiões, sobre as discussões de que essa taxa neutra ou estrutural está em queda no Brasil, o que justificaria maior grau de estímulo por parte do BC. Mas esse tipo de discussão não apareceu, ainda, nos documentos oficiais da autoridade monetária.
Cenário externo
Segundo o BC, o cenário externo permanece desafiador com riscos distintos para as economias emergentes. De um lado, o BC pondera uma intensificação nos riscos relacionados à possível desaceleração da economia global.
Por outro, reduziram os riscos associados ao aperto das condições financeiras. Aqui, é possível fazer referência direta ao Federal Reserve (Fed), banco central americano, que vem reafirmando paciência na condução de sua política monetária e manutenção do juro no patamar atual. Postura que desagradou parte do mercado, que esperava retomada dos cortes, já que a inflação surpreendeu para baixo, mesmo com o crescimento nos EUA surpreendendo para cima.
Também em sua última fala, no fim de abril, Campos Neto colocou um “novo fator”: o risco de endividamento excessivo no setor não financeiro corporativo nos EUA e Europa.
Depois de anos de políticas de juros baixos e negativos, alguns BCs mostram preocupação com a capacidade de pagamento das empresas e famílias, ainda mais se confirmado um cenário de menor crescimento e aumento dos juros básicos.
Outro fator que voltou ao radar com maior intensidade é a guerra comercial entre China e Estados Unidos, já que o presidente Donald Trump e outros membros do governo afirmam que ainda nesta semana vão elevar as tarifas cobradas de produtos chineses.
Balanço de riscos
O Copom observa diversos fatores que podem influenciar o comportamento futuro da inflação, mas escolhe apresentar mais detidamente alguns deles no seu balanço de riscos, que traz os principais vetores que podem deixar a inflação acima ou abaixo da meta.
Por ora, o balanço de riscos é considerado simétrico, ou seja, os riscos de alta e baixa estão equilibrados.
De um lado: o nível de ociosidade elevado pode produzir trajetória prospectiva abaixo do esperado.
Do outro lado: uma frustração das expectativas sobre a continuidade das reformas e ajustes necessários na economia brasileira pode afetar prêmios de risco e elevar a trajetória da inflação no horizonte relevante para a política monetária. Risco que se intensifica no caso de deterioração do cenário externo para economias emergentes.
Uma breve discussão sobre todos os pontos que listamos acima deve estar no comunicado apresentado após a decisão, onde o BC vem reafirmando que “julga importante observar o comportamento da economia brasileira ao longo do tempo, com menor grau de incerteza e livre dos efeitos dos diversos choques a que foi submetida no ano passado. O Copom considera que esta avaliação demanda tempo e não deverá ser concluída a curto prazo”.
Com real digital do Banco Central, bancos poderão emitir criptomoeda para evitar “corrosão” de balanços, diz Campos Neto
O presidente da CVM, João Pedro Nascimento, ainda afirmou que a comissão será rigorosa com crimes no setor: “ fraude não se regula, se pune”
O real digital vem aí: saiba quando os testes vão começar e quanto tempo vai durar
Originalmente, o laboratório do real digital estava previsto para começar no fim de março e acabar no final de julho, mas o BC decidiu suspender o cronograma devido à greve dos servidores
O ciclo de alta da Selic está perto do fim – e existe um título com o qual é difícil perder dinheiro mesmo se o juro começar a cair
Quando o juro cair, o investidor ganha porque a curva arrefeceu; se não, a inflação vai ser alta o bastante para mais do que compensar novas altas
Banco Central lança moedas em comemoração ao do bicentenário da independência; valores podem chegar a R$ 420
As moedas possuem valor de face de 2 e 5 reais, mas como são itens colecionáveis não têm equivalência com o dinheiro do dia a dia
Nubank (NUBR33) supera ‘bancões’ e tem um dos menores números de reclamações do ranking do Banco Central; C6 Bank lidera índice de queixas
O banco digital só perde para a Midway, conta digital da Riachuelo, no índice calculado pelo BC
Economia verde: União Europeia quer atingir neutralidade climática até 2050; saiba como
O BCE vai investir cerca de 30 bilhões de euros por ano; União Europeia está implementado políticas para reduzir a emissão de carbono
A escalada continua: Inflação acelera, composição da alta dos preços piora e pressiona o Banco Central a subir ainda mais os juros
O IPCA subiu 0,67% em junho na comparação com maio e 11,89% no acumulado em 12 meses, ligeiramente abaixo da mediana das projeções
Focus está de volta! Com o fim da greve dos servidores, Banco Central retoma publicações — que estavam suspensas desde abril
O Boletim Focus volta a ser publicado na próxima segunda-feira (11); as atividades do Banco Central serão retomadas a partir de amanhã
Greve do BC termina na data marcada; paralisação durou 95 dias
Os servidores do Banco Central cruzaram os braços em abril e reivindicavam reajuste salarial e reestruturação da carreira — demandas que não foram atendidas a tempo
Vai ter cartinha: Banco Central admite o óbvio e avisa que a meta de inflação para 2022 está perdida
Com uma semana de atraso, Banco Central divulgou hoje uma versão ‘enxuta’ do Relatório Trimestral da Inflação
Greve do BC já tem data pra acabar: saiba quando a segunda mais longa greve de servidores da história do Brasil chegará ao fim — e por quê
A data final da greve dos servidores do BC leva em consideração a Lei de Responsabilidade Fiscal, sem previsão de acordo para a categoria
O fim da inflação está próximo? Ainda não, mas para Campos Neto o “pior momento já passou”
O presidente do BC afirmou que a política monetária do país é capaz de frear a inflação; para ele a maior parte do processo já foi feito
O Seu Dinheiro pergunta, Roberto Campos Neto responde: Banco Central está pronto para organizar o mercado de criptomoedas no Brasil
Roberto Campos Neto também falou sobre real digital, greve dos servidores do Banco Central e, claro, política monetária
O Banco Central adverte: a escalada da taxa Selic continua; confira os recados da última ata do Copom
Selic ainda vai subir mais antes de começar a cair, mas a alta do juro pelo Banco Central está próxima do pico
A renda fixa virou ‘máquina de fazer dinheiro fácil’? Enquanto Bitcoin (BTC) sangra e bolsa apanha, descubra 12 títulos para embolsar 1% ao mês sem estresse
O cenário de juros altos aumenta a tensão nos mercados de ativos de risco, mas faz a renda fixa brilhar e trazer bons retornos ao investidor
Sem avanços e no primeiro dia de Copom, servidores do BC mantêm greve
A greve já dura 74 dias, sem previsão de volta às atividades; o presidente do BC, Roberto Campos Neto, deve comparecer à Câmara para esclarecer o impasse nas negociações com os servidores
Precisamos sobreviver a mais uma Super Quarta: entenda por que a recessão é quase uma certeza
Não espere moleza na Super Quarta pré-feriado; o mundo deve continuar a viver a tensão de uma realidade de mais inflação e juros mais altos
Greve do BC: Vai ter reunião do Copom? A resposta é sim — mesmo com as publicações atrasadas
A reunião do Copom acontece nos dias 14 e 15 de junho e os servidores apresentaram uma contraproposta de reajuste de 13,5% nos salários
Nada feito: sem proposta de reajuste em reunião com Campos Neto, servidores do BC seguem em greve
Mais uma vez, a reunião do Copom de junho se aproxima: o encontro está marcado para os dias 14 e 15 e ainda não se sabe em que grau a paralisação pode afetar a divulgação da decisão
Inflação no Brasil e nos EUA, atividade e juros na Europa; confira a agenda completa de indicadores econômicos da semana que vem
Nesta semana, o grande destaque no Brasil fica por conta do IPCA, o índice de inflação que serve de referência para a política monetária do BC