🔴 A TEMPORADA DE BALANÇOS DO 2T25 VAI COMEÇAR: ACOMPANHE A COBERTURA COMPLETA

Maria Carolina Abe

Maria Carolina Abe

É jornalista formada pela ECA-USP, com MBA em Informações Econômico-Financeiras e Mercado de Capitais para Jornalistas pela B3. Tem mais de 25 anos de experiência e passagem pelas principais redações do país - entre elas, Estadão, Folha, UOL e CNN Brasil. Atualmente, é editora de Empresas no Seu Dinheiro.

ENTREVISTA EXCLUSIVA

Auren Energia (AURE3): CFO detalha como domou dívida de R$ 20 bi e dobrou sinergias com a AES Brasil

Mateus Ferreira, que assumiu o comando financeiro na época da aquisição bilionária, falou com o Seu Dinheiro sobre as perspectivas para dividendos, a estratégia para cuidar da alavancagem e a MP do setor elétrico

Maria Carolina Abe
Maria Carolina Abe
23 de julho de 2025
6:03 - atualizado às 16:49
Imagem: Divulgação

Tem gente que gosta de emoção. Mateus Ferreira, aparentemente, prefere adrenalina financeira de altíssima voltagem.

Afinal, não é todo dia que alguém assume o comando do caixa de uma empresa com R$ 20 bilhões em dívida, alavancagem de 5,7x e uma fusão bilionária recém-anunciada — tudo isso num setor altamente regulado. E com Selic nas nuvens.

Pois foi nesse cenário “paradisíaco” que Ferreira virou CFO da Auren Energia (AURE3), há exatamente um ano, logo após a empresa ter anunciado a aquisição da AES Brasil, por R$ 7 bilhões.

E, contra todas as apostas mais céticas, ele garante: a integração está na reta final, as sinergias vieram dobradas e o passivo financeiro foi domado com estilo.

Nesta entrevista exclusiva ao Seu Dinheiro, o executivo fala sobre o que deu certo, o que ainda tira o sono e o que os investidores podem esperar da companhia nos próximos anos.

Deixando o conselho e entrando na operação

Mateus Ferreira atuou por bastante tempo no mercado financeiro e, mais recentemente, como diretor-executivo da Votorantim e membro do conselho de grandes empresas ligadas a ela, como Motiva (MOTV3), ex-CCR, e a própria Auren.

Leia Também

Até que, há um ano, o executivo foi convocado para uma nova missão: entrar na operação e cuidar da parte financeira e de relações com investidores da empresa de energia. E isso bem no momento em que ela dava um grande passo: a aquisição da AES Brasil.

  • VEJA TAMBÉM: O que você precisa saber para investir agora? O Touros e Ursos, podcast do Seu Dinheiro, convida os principais especialistas do mercado para dar o veredito; assista aqui

Com esse negócio bilionário, a Auren — controlada pela Votorantim e o fundo canadense CPP — passou a ser a terceira maior geradora de energia do Brasil, atrás apenas de Eletrobras (ELET3, ELET6) e Engie (EGIE3)

Porém, a conta foi alta: a dívida da empresa saltou de R$ 3 bilhões para R$ 20 bilhões e seu nível de alavancagem chegou a atingir 5,7x dívida líquida/Ebitda ao fim do ano passado. E num momento de Selic na casa dos dois dígitos. Ou seja: um trabalho árduo pela frente para o novo CFO.

Integração na reta final e acima das expectativas

Ferreira conta que, em apenas nove meses, a integração da AES Brasil está entrando na reta final e deve terminar no fim deste ano. “A partir de dezembro, você não vai ver mais a gente falar da AES. A gente vai ter virado essa página”, diz o executivo. 

E mais: ele também afirma que os resultados da integração estão melhores que o divulgado anteriormente.

Um exemplo é a sinergia de custos e despesas (chamada de PMSO), que havia sido estimada em R$ 120 milhões e, agora, foi atualizada para R$ 250 milhões. Além disso, a empresa projetava que a disponibilidade dos ativos iria chegar a 95% num prazo de dois anos; agora, espera que isto aconteça já ao final deste ano.

“Fazendo uma avaliação da transação passados nove meses, hoje temos uma visão mais positiva do ponto de vista de agregação de valor para a companhia do que tínhamos em maio do ano passado”, afirma o executivo. “Estamos super contentes, apesar de todas as turbulências que vivemos hoje.”

Sobre as turbulências em questão, Ferreira destaca tanto a situação macroeconômica “mais desafiadora”, quanto os desafios setoriais — “principalmente o tema de curtailment, que tem vindo em níveis mais altos do que a gente imaginava”.

O curtailment, no caso, refere-se à redução ou corte forçado da geração de energia elétrica, no caso brasileiro decidido pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), que afeta especialmente usinas de fontes renováveis, como eólicas e solares. Ele acontece, por exemplo, quando a produção supera a capacidade de consumo ou de transmissão do sistema elétrico.

Dívida de R$ 20 bilhões

A companhia emitiu R$ 13 bilhões em dívida, nos últimos nove meses, a “um custo super competitivo”, na avaliação de Ferreira. 

Por exemplo, a mais nova emissão da companhia é de R$ 500 milhões em debêntures incentivadas, que serão precificadas em agosto. “A gente está captando a NTNB, que é o título do governo equivalente do mesmo período, menos 41 bps”, explica. 

A situação é semelhante à que aconteceu recentemente com a oferta de debêntures incentivadas da Petrobras, precificadas com rendimento abaixo dos títulos públicos. Saiba mais aqui nesta reportagem.

“Óbvio que é uma dívida incentivada, por isso eu consigo captar abaixo da curva, mas se você comparar com outros emissores no Brasil, poucas empresas conseguem captar tão barato quanto a gente”, diz o executivo.

E, com essa emissão de agosto, o CFO celebra o fim de todas a gestão de passivo da companhia. 

“Todo o alongamento que a gente tinha que fazer, dos vencimentos que estavam mais comprimidos no curto prazo, a gente já fez. E agora é vida normal. A gente vai ter entre R$ 1,5 bilhão e R$ 2,5 bilhões por ano de vencimento, que é um número super razoável”, afirma. “Agora eu entro em uma velocidade de cruzeiro, sem nenhum tipo de pressão por qualquer tipo de rolagem de giro.”

Alavancagem também nas alturas

Já do lado da desalavancagem, a história é um pouco mais complexa, e Ferreira divide a situação em três períodos. O primeiro período foi quando a Auren conseguiu baixar a alavancagem de 5,7x para 5x, do 4T24 para o 1T25, graças às sinergias e também ao aumento de capacidade de produção. 

Agora, porém, a empresa adentra uma segunda fase, de desalavancagem em velocidade mais baixa, devido a dois fatores: 

1) a construção de um novo parque eólico no Rio Grande do Norte, o complexo Cajuína 3, com um investimento orçado em R$ 750 milhões;

2) o pagamento de R$ 1,4 bilhão, nos próximos oito meses, em frustrações de geração de energia em parques onde há o mercado regulado. 

Finalmente, passada esta segunda fase, a Auren espera retomar a velocidade e chegar à alavancagem de 3,5x a 3x entre 2027 e 2028.

Polêmica: a MP do setor elétrico

Ferreira fala tranquilamente sobre a alavancagem da companhia, mas o humor muda quando perguntado sobre a MP do setor elétrico — a Medida Provisória n° 1300/2025, que foi editada pelo governo brasileiro há dois meses, em tese para modernizar o setor, promover mais eficiência, competitividade e transparência.

O executivo recolhe o sorriso e diz que não se sente confortável para falar. “É um tema mais delicado, é um tema super politizado, e que tem mudado semanalmente. A verdade de hoje não é necessariamente a verdade de amanhã”, afirma ele. 

A MP 1.300/2025, publicada em 21 de maio de 2025, foi complementada pela MP 1.304/2025, publicada em 11 de julho de 2025, e ambas têm um prazo máximo de quatro meses para serem votadas, ou perdem a validade. Há preocupações do setor produtivo sobre o impacto das medidas na conta de luz e na segurança jurídica do setor. 

Há, ainda, um temor de que emendas e propostas apresentadas no Congresso durante a tramitação da MP possam desfigurar o texto original, introduzindo "jabutis" que não estejam diretamente relacionados ao tema, ou que elevem ainda mais os custos da energia para o consumidor.

O executivo sugere, então, deixar o assunto para depois da aprovação das medidas. “Tem que deixar rolar um pouquinho para a gente observar o que vai acontecer. Quem sabe em setembro a gente pode voltar a falar disso, e aí falar do que efetivamente aconteceu, não ficar especulando sobre o que vai acontecer.”

Dividendos: o que esperar?

As empresas do setor elétrico são historicamente consideradas boas pagadoras de dividendos, sendo frequentemente apontadas como uma classe de ativos defensiva e com previsibilidade de receita e fluxo de caixa estável. No caso da Auren Energia, a situação é um pouco mais complexa.

“A Auren sempre foi muito clara ao dizer que deveria ter a capacidade de crescer e, ao mesmo tempo, pagar dividendos, e que obviamente isso dependeria do ciclo que ela está vivendo”, afirma o executivo.

Segundo ele, de 2022 até 2024, a companhia pagou mais de R$ 3 bilhões em dividendos, quando estava em um momento de alavancagem mais baixa e sem nenhuma grande oportunidade no horizonte. Mas aí veio a aquisição da AES, no ano passado, e o ciclo mudou.

  • SAIBA MAIS: Saiba como buscar receber renda extra mensal com a carteira Double Income, da Empiricus Research; libere gratuitamente

“É razoável imaginar que vamos pagar menos dividendo dentro desse período agora, até que a alavancagem volte, e a gente tenha uma nova discussão com os nossos acionistas sobre como vai ser o próximo ciclo.

Questionado se tem uma data em vista, o executivo desconversa. “O que a gente tem como política é o que fala a lei, que é 25% do lucro líquido. Foi o que a gente pagou no último ano, e é o que a gente vai olhar daqui para frente. Até voltar a alavancagem para níveis mais razoáveis. Aí a gente vai ter uma nova discussão para definir como vai ser o próximo ciclo.”

Como anda a ação AURE3 

A ação AURE3 acumula valorização de cerca de 5% neste ano, revertendo parte das perdas de mais de 27% em 12 meses. O papel opera atualmente na casa dos R$ 9.

Ferreira diz que se preocupa com o valor das ações, mas com moderação. “Preço de ação é consequência de alguma coisa. Então, se fizermos bem feito o nosso trabalho, e entregarmos aquilo que estamos propondo, a ação volta”, pondera.

De nove recomendações de bancos e casas de análises, seis são de manutenção e três de compra. Uma das indicações de compra é da equipe do BTG Pactual, que vê a ação chegando a R$ 13,50 em 12 meses.

COMPARTILHAR

Whatsapp Linkedin Telegram
QUAL O IMPACTO

A “taxa das blusinhas” vai acabar? Isenção para compras abaixo de US$ 50 na Shein e na Shopee volta a rondar o mercado

24 de julho de 2025 - 15:30

BTG Pactual e Itaú BBA analisam o impacto de uma possível revogação da tarifa de 20% sobre compras abaixo de US$ 50 no exterior — a possibilidade está sendo aventada pelo governo como um aceno à China e em resposta a Trump

RESOLVENDO AS CONTAS

Após fechar capital na B3, controlador francês do Carrefour Brasil avalia refinanciar dívida bilionária

24 de julho de 2025 - 15:11

A CSA estuda possíveis alternativas para a negociação de R$ 9,7 bilhões em débitos no país

REDUZINDO O PORTFÓLIO

Raízen (RAIZ4) vende 55 usinas de geração de energia por R$ 600 milhões e encerra joint venture; entenda a operação

24 de julho de 2025 - 10:23

A companhia receberá os valores da venda à medida que as usinas forem transferidas para os compradores

SERÁ QUE VAI?

Chegou aí? Banco do Brasil (BBAS3) e Bradesco (BBDC4) afirmam não ter recebido proposta do iFood pela Alelo

24 de julho de 2025 - 10:11

Segundo informações da imprensa, o iFood estaria em vias de fechar negócio de R$ 5 bilhões pela Alelo, mas bancões negam

FICOU NO ESCURO?

Petrobras (PETR4) não aceita ficar de fora das negociações de Nelson Tanure sobre o controle da Braskem (BRKM5) — e vai ao Cade questionar

24 de julho de 2025 - 9:18

Uma das maiores acionistas da petroquímica, a Petrobras recorreu ao Cade para garantir sua participação ativa nas negociações, segundo informações do InvestNews

CHAPTER 11

Em recuperação judicial, Azul (AZUL4) informa resultados financeiros de junho, com receita de R$ 1,64 bilhão

23 de julho de 2025 - 20:40

Os dados fazem parte do relatório mensal para a Justiça dos EUA, uma das condições exigidas para o processo de reestruturação

COMPRAR OU VENDER?

Allos (ALOS3), Multiplan (MULT3) ou Iguatemi (IGTI11): shoppings devem crescer no segundo trimestre, mas só uma empresa se destaca no lucro, diz XP

23 de julho de 2025 - 19:06

Operadoras devem registrar bom desempenho operacional, mas apenas uma dribla os juros altos e entrega avanço no lucro por ação

2 DE 7

Ações da Tesla e da Alphabet caem 1% após balanço; entenda por que os investidores torceram o nariz para as duas magníficas

23 de julho de 2025 - 18:49

Os motivos para a queda dos papéis no after hours em Nova York não foi o mesmo — uma não atingiu expectativas e outras gerou preocupação com uma nova orientação

DO CHURRASCO AOS TRIBUNAIS

Marfrig (MRFG3) denuncia Minerva (BEEF3) no Cade em meio à corrida pela BRF (BRFS3); saiba o que motiva o embate

23 de julho de 2025 - 17:22

A ofensiva é uma resposta ao recurso da Minerva, que tenta barrar a criação da MBRF Global Foods por suposto risco à concorrência

UMA LUPA SOBRE O NEGÓCIO

Qual o verdadeiro potencial da união entre Rede D’Or (RDOR3) e Fleury (FLRY3) — e o que pode dar errado? UBS BB traça as previsões

23 de julho de 2025 - 16:05

Para os analistas, a união dos dois players de saúde poderia desbloquear sinergias significativas, mas ainda há pontas soltas a serem resolvidas

A TODO VAPOR

Sabesp (SBSP3) faz balanço de um ano de privatização e destaca investimento de R$ 10,6 bilhões

23 de julho de 2025 - 14:38

Companhia também afirma que universalização do saneamento está em ritmo acelerado; dados preliminares serão confirmados em agosto

WITH A LITTLE HELP

MRV (MRVE3) figura entre as maiores altas do Ibovespa após relatório do Santander; o que animou os investidores?

23 de julho de 2025 - 14:35

A recomendação foi mantida como “outperform” para a companhia e os analistas destacaram dois pilares principais para sustentar o otimismo

DESTAQUES DA BOLSA

Petrobras (PETR4) sobe mais de 2% e é o carro-chefe dos ganhos do Ibovespa; entenda o que está por trás da alta (e não é o preço do petróleo)

23 de julho de 2025 - 13:43

O avanço dos papéis da estatal ajudou o principal índice da bolsa brasileira a acelerar os ganhos e romper a barreira dos 135 mil pontos

DE PROBLEMA A SOLUÇÃO

Banco do Brasil (BBAS3) quer aproveitar sua relação com o agronegócio para se tornar líder no mercado de carbono

23 de julho de 2025 - 12:56

O banco estatal busca ser o principal intermediário do mercado de carbono no Brasil e quer usar a sua penetração no agronegócio para alcançar mais projetos

O QUE VEM POR AÍ

Por que o desempenho operacional sólido da Vale (VALE3) não faz as ações dispararem — e o que esperar do balanço do 2T25

23 de julho de 2025 - 12:33

Na noite anterior, a companhia informou que a produção de minério de ferro no segundo trimestre deste ano aumentou 3,7% em termos anuais e 23,6% na comparação trimestral

SEM BRILHO

WEG (WEGE3) lidera quedas do Ibovespa após divulgar balanço; o que desagradou os investidores?

23 de julho de 2025 - 10:43

A companhia vinha chamando a atenção dos mercados, mas resultados do segundo trimestre fazem a “fábrica de bilionários” perder o brilho

ATENÇÃO, ACIONISTAS

Dividendos e JCP: WEG (WEGE3) e TIM (TIMS3) vão distribuir mais de R$ 1 bilhão em proventos; confira os prazos

22 de julho de 2025 - 19:47

A queridinha dos investidores é responsável pelo anúncio dos dividendos desta terça-feira (22), enquanto a operadora de telefonia móvel fica com os juros sobre capital próprio

RELATÓRIO OPERACIONAL

Produção de minério da Vale (VALE3) sobe no segundo trimestre, mas preço não acompanha

22 de julho de 2025 - 19:11

Segundo a mineradora, o período de abril a junho foi marcado por um sólido desempenho em todos os segmentos de negócio; confira os números do período

DEMANDA AQUECIDA

MRV (MRVE3) pode subir 60% na bolsa e voltar ao radar dos investidores, diz Santander; veja o novo preço-alvo

22 de julho de 2025 - 17:00

Santander eleva perspectivas para a MRV e destaca recuperação das operações no Brasil, mesmo com “limpeza” na subsidiária dos EUA

CORRIDA DO MINÉRIO

O potencial escondido da Vale (VALE3) que pode fazer a mineradora superar as australianas Rio Tinto e BHP

22 de julho de 2025 - 16:30

A brasileira está atrás das rivais em vários quesitos, mas o Itaú BBA enxerga potencial competitivo muito maior daqui para frente

Menu

Usamos cookies para guardar estatísticas de visitas, personalizar anúncios e melhorar sua experiência de navegação. Ao continuar, você concorda com nossas políticas de cookies

Fechar