Felipe Miranda: Quer viver de rendimentos pingando na conta? Confira cinco questões importantes sobre dividendos
Hoje, muito se fala sobre dividendos. Há muita coisa boa por aí. E há também uma infinidade de bobagens. Precisamos separar o joio do trigo
Lançamos nesta segunda-feira o Projeto Renda. É a maior novidade da Empiricus em bastante tempo. Se você se interessa por estratégias de rendimentos passivos pingando na sua conta, esse é um programa para você.
Algumas razões bastante objetivas nos levaram a produzir esse conteúdo extraordinário, envolvendo toda nossa equipe de análise. Parte delas é de cunho pessoal.
Com a reorganização interna e a esperada captura de sinergias dentro do Grupo BTG Pactual, agora posso me dedicar inteiramente à análise de investimentos.
Além disso, meu próprio momento de vida e minha situação patrimonial permitem e, ao mesmo tempo, requerem a adoção de estratégias de renda para o devido gerenciamento financeiro familiar — coleciono ações, camisetas de futebol para meu filho, fios de barba branca, vinhos e boletos; e, se somar as quatro primeiras coleções, suspeito empatar em número com a última.
Como diria Nassim Taleb, não me diga o que fazer com meu portfólio; me diga o que você está fazendo com o seu. É por isso que estamos aqui.
Grande parte do meu patrimônio familiar está alocada nas estratégias do Carteira Empiricus e do Palavra do Estrategista; outra parte fica dedicada aos dividendos.
Leia Também
A decisão de Natal do Fed, os títulos incentivados e o que mais move o mercado hoje
Corte de juros em dezembro? O Fed diz talvez, o mercado jura que sim
Outra parte da motivação transborda elementos particulares e tem maior relação com a própria indústria.
Antes, lá nos primórdios da Empiricus, a informação financeira (ou a falta dela) era propagada (ou semi-propagada, sei lá) pelo gerente do banco e pelos jornais especializados.
O gerente estava inundado por conflitos de interesse. Nada pessoal, fique claro. Ele tinha contas a pagar e boletos a pagar. Não julgo. Sentado naquela mesma cadeira, possivelmente também obedeceríamos ao nosso senhor.
A responsabilidade será sempre da estrutura de incentivos. Como insiste Charlie Munger, “me mostre os incentivos e eu digo os resultados”. O interesse do banco nem sempre coincide com o interesse do cliente investidor.
E a imprensa especializada, infelizmente, não era muito lida pelo investidor pessoa física. O Valor Econômico sempre foi ótimo, mas, sejamos sinceros, embora nós sempre assinássemos lá em casa, a minha mãe não lia. Acho que você entende o que quero dizer.
Mas, então, as coisas mudaram. Vieram as redes sociais (ou insociáveis) e, com elas, para usar a expressão do Tom Nichols, encontramos a morte da expertise.
A informação passou a fluir com muito mais rapidez e naturalidade. Houve uma democratização grande no acesso à informação, inclusive sobre investimentos. Isso é ótimo.
Mas as inovações costumam também carregar um lado sombrio. O médico e o monstro vivem em cada um de nós, e também nas destruições criativas schumpeterianas, embora se fale pouco disso.
Como resumiu Umberto Eco, “as redes sociais deram o direito à palavra a legiões de imbecis que, antes, só falavam nos bares, após um copo de vinho e não causavam nenhum mal para a coletividade”.
Qualquer um tem o mesmo direito de palavra do que um prêmio Nobel. Há um lado democrático lindo nessa história, mas carrega também uma perversidade grande, pois visões erradas, enviesadas ou pouco profundas sobre todos os assuntos, incluindo temas altamente técnicos, sobre os quais, muitas vezes, o ouvinte (ou seguidor) não tem a capacidade de discernir.
Hoje, muito se fala sobre dividendos. Há muita coisa boa por aí. E há também uma infinidade de bobagens. Precisamos separar o joio do trigo.
Falamos aqui de cinco fatos estilizados sobre estratégias de renda.
1. Só os dividendos importam
Existe uma corrente meio heterodoxa tentando desqualificar estratégias focadas em ganho de capital, favorecendo exclusivamente abordagens de dividendos.
Tenho dois problemas com essa perspectiva. A primeira porque ela pressupõe uma superioridade moral e intelectual de uma coisa sobre a outra. Presume algo como: “não somente a minha estratégia funciona, como ela é a única que funciona.”
O mercado é tipo “O Bar”, do Roger Waters, admite várias matizes diferentes. Não é porque você tem um método para ganhar dinheiro que ele seja o único método disponível e eficiente.
O segundo ponto é que o argumento fere princípios aritméticos claros. O seu dividendo é função do seu patrimônio. Há uma relação monotônica entre as coisas.
As empresas anunciam x reais por ação em forma de provento. Os fundos imobiliários distribuem y reais por cota. Os títulos de renda fixa pagam z% de cupom de acordo com o montante investido.
A estratégia voltada a dividendos pode funcionar (e de fato funciona quando bem feita), mas ela não é indissociável do patrimônio. Aliás, dinheiro não tem carimbo.
2. Os dividendos não importam
No outro extremo, há aqueles que tentam desqualificar por completo os proventos. “Como o dividendo sai do preço da ação, não faz diferença”, argumentam.
Isso também não é verdade. Distribuição de dividendos e juros sob capital próprio permite otimização da estrutura de capital e tributária das companhias, levando a um maior valor justo para as respectivas ações ou cotas de fundos imobiliários.
Ela também confere liquidez e flexibilidade ao investidor, que pode fazer o que quiser com aquela renda, incluindo reinvestir no mesmo ativo.
Também reduz o risco do investimento, porque altera o duration (prazo médio dos fluxos de caixa). Parte do dinheiro que você teria lá na frente acaba sendo embolsado antes.
Lembre ainda que, ao menos por enquanto, os dividendos não são tributados, o que lhe confere quase uma arbitragem fiscal frente ao ganho de capital.
3. Foque no yield
Esse é um dos erros mais clássicos do investidor. O sujeito entra num site de finanças qualquer e ordena as ações pelas maiores pagadoras de dividendos do(s) último(s) exercício(s).
O problema é que não há qualquer garantia que uma boa pagadora de dividendos ontem o continuará sendo amanhã.
Aqui, existe um risco tremendo de incorrermos num value trap, ou seja, comprarmos uma armadilha de valor enquanto achamos estar comprando um ativo de valor propriamente dito.
Em muitas situações, um dividendo muito alto pode esconder um fim de ciclo ou de uma concessão, por exemplo.
O dividendo é parte do lucro da companhia e, acima do prescrito em estatuto ou na lei das SAs, deriva da decisão da empresa de não manter aquela grana em caixa para fazer um investimento.
Se ela está pagando dividendos muito gordos ao acionista, é porque está dizendo tacitamente não dispor de nenhum outro projeto com retorno projetado superior ao que o investidor pode ter em outras alternativas a partir da sua liquidez.
O sujeito compra determinados dividendos e entrega tudo numa eventual perda patrimonial, porque, sei lá, uma transmissora de energia está agora encerrando o período da sua concessão.
Muita gente interpretou a última carta da gestora Squadra como um veredicto negativo sobre a indústria de fundos imobiliários. Não foi a minha visão.
Li o documento como uma crítica muito pertinente aqueles fundos que utilizam artimanhas contábeis para distribuir dividendos superiores à sua capacidade estrutural.
O yield muito alto de curto prazo atrai o investidor pessoa física num primeiro momento. E a coisa fica feia quando chegamos no segundo capítulo da história.
Você precisa conhecer a fundo aquilo que está comprando, muito além do yield.
Você pode até olhar o yield, mas esse é o começo da análise; nunca o fim.
4. Dividendos são sempre a melhor estratégia
Se você entendeu bem o ponto anterior, esse aqui sai como corolário.
Se a empresa dispõe de projetos muito rentáveis a fazer, o ideal é o investidor não receber dividendo nenhum e continuar aplicado a uma taxa interna de retorno muito maior nos ativos reais daquela companhia.
Toda vez que uma empresa de altíssimo retorno sobre o capital investido paga dividendos, ela retira do investidor a capacidade de, com aquele dinheiro, continuar exposto àqueles projetos de altíssima rentabilidade.
Não conseguir reaplicar a grana na mesma taxa interna de retorno original faz cair seu retorno consolidado.
5. Dividendo serve igual para todo mundo
De fato, os dividendos servem a todo e qualquer investidor.
Construir outras fontes de renda passiva ajuda muito na construção patrimonial a longo prazo, além de suavizar os ciclos ruins (porque pinga um dinheiro extra, que inclusive pode ser usada para comprar coisas que ficaram muito baratas na hora do pânico) e representa uma estratégia mais conservadora e de menos risco.
No entanto, a escolha entre ganho patrimonial ou recebimento de dividendos é algo de foro íntimo, que deve obedecer ao horizonte temporal do investimento, às preferências de ponderação entre risco e retorno e ao tamanho do patrimônio.
Ao investidor iniciante, não será necessariamente eficiente replicar estratégias adotadas por alguém com alguns bilhões de reais, cujos dividendos mensais ultrapassam dezena de milhão de reais.
Preferências pessoais e situações patrimoniais diferentes requerem estratégias diferentes.
No final, entre uma coisa ou outra, não há certo ou errado, existem escolhas, com benefícios e renúncias de cada uma delas.
Com a Selic caindo, estratégias de renda costumam ganhar apelo. Ao mesmo tempo, a inflação global (e local) tende a ser superior nos próximos anos, de forma mais estrutural.
Ter uma fonte de renda passiva ajudando na preservação ou na melhora do seu poder de compra pode ser simplesmente decisivo.
Estamos aqui para ajudar. Seja bem-vindo ao Projeto Renda.
Felipe Miranda: O paradoxo do banqueiro central
Se você é explicitamente “o menino de ouro” do presidente da República e próximo ao ministério da Fazenda, é natural desconfiar de sua eventual subserviência ao poder Executivo
Hapvida decepciona mais uma vez, dados da Europa e dos EUA e o que mais move a bolsa hoje
Operadora de saúde enfrenta mais uma vez os mesmos problemas que a fizeram despencar na bolsa há mais dois anos; investidores aguardam discurso da presidente do Banco Central Europeu (BCE) e dados da economia dos EUA
CDBs do Master, Oncoclínicas (ONCO3), o ‘terror dos vendidos’ e mais: as matérias mais lidas do Seu Dinheiro na semana
Matéria sobre a exposição da Oncoclínicas aos CDBs do Banco Master foi a mais lida da semana; veja os destaques do SD
A debandada da bolsa, pessimismo global e tarifas de Trump: veja o que move os mercados hoje
Nos últimos anos, diversas empresas deixaram a B3; veja o que está por trás desse movimento e o que mais pode afetar o seu bolso
Planejamento, pé no chão e consciência de que a realidade pode ser dura são alguns dos requisitos mais importantes de quem quer ser dono da própria empresa
Milhões de brasileiros sonham em abrir um negócio, mas especialistas alertam que a realidade envolve insegurança financeira, mais trabalho e falta de planejamento
Rodolfo Amstalden: Será que o Fed já pode usar AI para cortar juros?
Chegamos à situação contemporânea nos EUA em que o mercado de trabalho começa a dar sinais em prol de cortes nos juros, enquanto a inflação (acima da meta) sugere insistência no aperto
A nova estratégia dos FIIs para crescer, a espera pelo balanço da Nvidia e o que mais mexe com seu bolso hoje
Para continuarem entregando bons retornos, os Fundos de Investimento Imobiliários adaptaram sua estratégia; veja se há riscos para o investidor comum. Balanço da Nvidia e dados de emprego dos EUA também movem os mercados hoje
O recado das eleições chilenas para o Brasil, prisão de dono e liquidação do Banco Master e o que mais move os mercados hoje
Resultado do primeiro turno mostra que o Chile segue tendência de virada à direita já vista em outros países da América do Sul; BC decide liquidar o Banco Master, poucas horas depois que o banco recebeu uma proposta de compra da holding Fictor
Eleição no Chile confirma a guinada política da América do Sul para a direita; o Brasil será o próximo?
Após a vitória de Javier Milei na Argentina em 2023 e o avanço da direita na Bolívia em 2025, o Chile agora caminha para um segundo turno amplamente favorável ao campo conservador
Os CDBs que pagam acima da média, dados dos EUA e o que mais movimenta a bolsa hoje
Quando o retorno é maior que a média, é hora de desconfiar dos riscos; investidores aguardam dados dos EUA para tentar entender qual será o caminho dos juros norte-americanos
Direita ou esquerda? No mundo dos negócios, escolha quem faz ‘jogo duplo’
Apostar no negócio maduro ou investir em inovação? Entenda como resolver esse dilema dos negócios
Esse número pode indicar se é hora de investir na bolsa; Log corta dividendos e o que mais afeta seu bolso hoje
Relação entre preço das ações e lucro está longe do histórico e indica que ainda há espaço para subir mais; veja o que analistas dizem sobre o momento atual da bolsa de valores brasileira
Investir com emoção pode custar caro: o que os recordes do Ibovespa ensinam
Se você quer saber se o Ibovespa tem espaço para continuar subindo mesmo perto das máximas, eu não apenas acredito nisso como entendo que podemos estar diante de uma grande janela de valorização da bolsa brasileira — mas isso não livra o investidor de armadilhas
Seca dos IPOs ainda vai continuar, fim do shutdown e o que mais movimenta a bolsa hoje
Mesmo com Regime Fácil, empresas ainda podem demorar a listar ações na bolsa e devem optar por lançar dívidas corporativas; mercado deve reagir ao fim do maior shutdown da história dos EUA, à espera da divulgação de novos dados
Rodolfo Amstalden: Podemos resumir uma vida em uma imagem?
Poucos dias atrás me deparei com um gráfico absolutamente pavoroso, e quase imediatamente meu cérebro fez a estranha conexão: “ora, mas essa imagem que você julga horripilante à primeira vista nada mais é do que a história da vida da Empiricus”
Shutdown nos EUA e bolsa brasileira estão quebrando recordes diariamente, mas só um pode estar prestes a acabar; veja o que mais mexe com o seu bolso hoje
Temporada de balanços, movimentos internacionais e eleições do ano que vem podem impulsionar ainda mais a bolsa brasileira, que está em rali histórico de valorizações; Isa Energia (ISAE4) quer melhorar eficiência antes de aumentar dividendos
Ibovespa imparável: até onde vai o rali da bolsa brasileira?
No acumulado de 2025, o índice avança quase 30% em moeda local — e cerca de 50% em dólar. Esse desempenho é sustentado por três pilares centrais
Felipe Miranda: Como era verde meu vale do silício
Na semana passada, o mitológico investidor Howard Marks escreveu um de seus icônicos memorandos com o título “Baratas na mina de carvão” — uma referência ao alerta recente de Jamie Dimon, CEO do JP Morgan, sobre o mercado de crédito
Banco do Brasil (BBAS3) precisará provar que superou crise do agro, mercado está otimista com fim do shutdown nos EUA no horizonte, e o que mais você precisa saber sobre a bolsa hoje
Analistas acreditam que o BB não conseguirá retomar a rentabilidade do passado, e que ROE de 20% ficou para trás; ata do Copom e dados de inflação também mexem com os mercados
Promovido, e agora? Por que ser bom no que faz não te prepara para liderar pessoas
Por que seguimos promovendo técnicos brilhantes e esperando que, por mágica, eles virem líderes preparados? Liderar é um ofício — e como todo ofício, exige aprendizado, preparo e prática