Como a chinesa DeepSeek abalou o mercado de inteligência artificial e ameaça implodir o Stargate de Donald Trump antes mesmo de ele sair do papel
Ações das big techs afundam e podem perder até US$ 1 trilhão graças ao DeepSeek, modelo de inteligência artificial com custo muito mais baixo que o de rivais

Quando Donald Trump anunciou o Stargate, um projeto com a ambição de colocar os Estados Unidos na dianteira das pesquisas sobre inteligência artificial no mundo, imaginava-se que a China não deixaria barato. O que pouca gente esperava era uma resposta tão rápida.
Coincidência ou não, a reação chinesa foi tão imediata que até mesmo os especialistas mais atentos demoraram a perceber a dimensão do anúncio feito ainda na semana passada pela DeepSeek.
A startup chinesa lançou um novo modelo de inteligência artificial que não deixa nada a dever às versões mais avançadas de rivais como o ChatGPT, a Meta e o Claude — e em certos aspectos é até superior a elas, principalmente no que se refere à "capacidade de raciocínio".
À primeira vista não parecia nada demais. Afinal, empresas norte-americanas e chinesas disputam bit a bit a hegemonia no setor.
A façanha da DeepSeek
O anúncio da DeepSeek ganhou ares de façanha quando os especialistas se deram conta de como ela chegou ao novo modelo.
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A DeepSeek afirma ter desenvolvido e treinado seu novo modelo de inteligência artificial sem acesso a semicondutores de alto desempenho e com um investimento de algo entre US$ 5 milhões e US$ 6 milhões (entre R$ 30 milhões e R$ 35 milhões), um valor baixíssimo para o setor.
“A empresa precifica seus modelos a valores entre 20 e 40 vezes mais baratos que os equivalentes da OpenAI”, informa a gestora Bernstein em nota divulgada a seus clientes no domingo (26).
Não à toa, as ações do setor de tecnologia iniciam a semana com um tombo em Nova York.
Pouco depois da abertura, o índice Nasdaq, no qual estão listadas as big techs, caía mais de 3% em Nova York.
EUA x China: a ‘guerra dos chips’
Já faz alguns meses que empresas chinesas têm lançado novos modelos de inteligência artificial de baixo custo.
A própria DeepSeek protagonizou outros lançamentos menos rumorosos no fim de 2024.
Isso ocorre no contexto de uma “guerra de chips” entre os Estados Unidos e a China.
Na tentativa de dificultar o salto tecnológico chinês, o governo norte-americano vem impondo uma série de restrições à exportação de semicondutores por fabricantes estabelecidos em seu território.
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DeepSeek tirou leite de pedra
Sem acesso aos equipamentos mais avançados, os chineses começaram a improvisar.
O que a DeepSeek conseguiu foi demonstrar que é possível concorrer com o ChatGPT mesmo sem dispor da mesma capacidade de processamento — e por custos consideravelmente menores.
De acordo com um relatório de pesquisa publicado pela provedora de serviços em IA, o custo de treinamento de um de seus modelos não chegou a US$ 6 milhões.
Já o resultado prático foi um modelo tão ou mais eficaz que o ChatGPT, segundo especialistas do setor.
A expectativa agora é de uma redução radical dos custos de desenvolvimento da IA, o que coloca em xeque projetos grandiosos como o Stargate, bem como os vultosos investimentos das big techs em inteligência artificial.
DeepSeek vs.ChatGPT
A título de comparação, o custo de treinamento do GPT-4 foi estimado em US$ 80 milhões a US$ 100 milhões (de R$ 473 milhões a R$ 591 milhões) apenas em programação.
Em relação ao GPT-5, nova versão da IA em desenvolvimento, há rumores de que o investimento teria ultrapassado a marca de US$ 1 bilhão.
Os cálculos não levam em conta o altíssimo custo operacional dos data centers de empresas como a OpenAI, que abrigam milhares de caríssimas GPUs e muitas vezes precisam de uma usina de energia elétrica exclusiva para manter o serviço no ar.
Estimativa do início do ano passado indicava que a OpenAI gastava em torno de US$ 700 mil por dia para manter o ChatGPT disponível.
Além disso, enquanto o ChatGPT recorre a 100 mil GPUs de primeira linha, a DeepSeek precisa de apenas 2 mil não tão avançados quanto os da concorrência.
É essa discrepância que faz com que as ações das big techs anotem uma queda acentuada nesta segunda-feira (27).
A ação da Nvidia, por exemplo, chegou a cair 14% no pré-mercado em Nova York.
Antes da abertura, analistas consultados pela Bloomberg estimavam que as grandes empresas do setor perderiam até US$ 1 trilhão em valor de mercado somente hoje por causa do anúncio da DeepSeek.
O pulo do gato da DeepSeek
Quem lê sobre a história recente da China volta e meia se depara com uma frase atribuída ao ex-presidente Deng Xiaoping: “não importa a cor do gato desde que ele cace o rato”.
O comentário de Deng opõe o pragmatismo chinês ao objetivo das restrições impostas pelos EUA à exportação de semicondutores, que é concentrar o desenvolvimento de IA em países aliados e fazer com que empresas ao redor do mundo se alinhem aos padrões norte-americanos.
Para além dos custos mais baixos e da necessidade de uma capacidade menor de processamento, o vice-presidente de desenvolvimento e produção da Dropbox, Morgan Brown, enxerga ainda um “pulo do gato” por parte da DeepSeek.
A startup chinesa desenvolveu o que Brown chamou de “sistema de especialistas”, em contraposição ao modelo “sabe-tudo” do ChatGPT.
“Em vez de uma gigantesca IA tentando saber de tudo (como alguém se passando por médico, advogado e engenheiro simultaneamente), ela desenvolveu um sistema de especialistas que permanecem dormentes e são acionados somente quando necessário”, escreveu Brown em um fio no X, antigo Twitter.
A bolha da IA estourou?
No início de janeiro, o confundador da Oaktree Capital, Howard Marks, lançou um alerta de bolha no setor de inteligência artificial.
Marks é conhecido por ter antecipado o estouro da bolha pontocom, na virada do milênio.
Ainda é cedo para afirmar que a DeepSeek fez a bolha estourar.
Em nota a clientes, a gestora Bernstein desencoraja os investidores a se pautarem por “projeções apocalípticas” lidas nas redes sociais e mantém sua recomendação para empresas como Nvidia e Broadcom.
De qualquer modo, muitos investidores estão aproveitando o alvoroço para redimensionar suas posições no setor de tecnologia às vésperas da divulgação dos balanços trimestrais das big techs.
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