Tony Volpon: O Fed estraga o Natal — e três previsões para 2025
O balanço de risco claramente pende mais para más notícias na inflação ao longo de 2025, com o banco central norte-americano jogando a toalha no ciclo de queda de juros

Não deveria ser novidade para ninguém que o conjunto de propostas do novo governo Trump representa, ao mesmo tempo, um choque negativo de oferta – pela imposição de tarifas e restrições à imigração – e também um choque positivo de demanda – renovando e ampliando cortes de impostos e, via uma ampla agenda “pro-business” de desregulação, aumentando o ânimo do empresariado. Não acho que você tem que ter um PhD em economia monetária para concluir que tal combinação restringe à capacidade do Fed em cortar a taxa de juros…
Mas parece que talvez não, porque na sua última reunião do ano, o Fed simplesmente reconheceu essa realidade, mas desapontou os mercados, levando a uma forte correção nos preços – se não exatamente “estragando” o Natal, pelo menos jogando água na fervura.
O ano de 2024 não foi um ano fácil para quem acompanha o Fed. Começamos em janeiro com expectativas de fecharmos o ano com os juros abaixo de 4%, mas devido à uma sequência de dados de inflação superando as expectativas, em abril o mercado projetava a taxa em 5%.
Uma sequência de dados mais fracos do mercado de trabalho levou os juros esperados a caírem de volta para 4,00% em setembro (com a Treasury de 10 anos batendo 3,75%). Finalmente, com a eleição de Trump houve um rápido ajuste das expectativas para o atual 4,25-4,50%.
Essa confusão e volatilidade se dá pelas incertezas que o próprio Fed sinaliza ao mercado, gerando uma alta sensibilidade – “data dependence” – a realizações inesperadas nos dados de atividade e inflação.
Powell & Co. ainda parecem um pouco tontos com toda a volatilidade que sofreram com a pandemia, e ainda não demonstram ter feito uma avaliação dessa experiência de tal forma a desenvolver uma nova estratégia monetária.
Leia Também
17 X 0 na bolsa brasileira e o que esperar dos mercados hoje, com disputa entre Israel e Irã no radar
Sexta-feira, 13: Israel ataca Irã e, no Brasil, mercado digere o pacote do governo federal
Ou seja, o Fed não realmente mais confia no framework utilizado antes da pandemia, mas não ainda teve o tempo/capacidade para formular algo novo que engloba o que aconteceu depois. Assim, a instituição fica à deriva, boiando no mar tumultuoso de dados, junto com o mercado. O Fed virou passageiro…
O Fed vai jogar a toalha?
Acho importante manter isso em mente para o ano novo. O “ajuste” a Trump na última reunião foi maior do que esperava o mercado, mas nada garante que foi o suficiente. É emblemático o fato que Powell não negou a possibilidade que o Fed talvez tenha que subir a taxa de juros no ano que vem.
Se o Fed não estivesse trabalhando no que me parece uma estimativa da taxa neutra – ao redor de 3% – que é muito baixa para uma economia superaquecida e que vai levar mais uma rodada adicional de estímulos, a decisão deveria ter sido uma pausa já nesta reunião.
Assim, o balanço de risco claramente pende mais para más notícias na inflação ao longo do ano, com o Fed jogando a toalha no ciclo de queda de juros (se eles cometerem o erro de cortar mais uma vez antes disso, é difícil de dizer hoje).
- Leia também: Tony Volpon: 2025, o ano Trump
Com esse importante background monetário em mente, arrisco aqui três previsões.
- S&P 500 atinge pelo menos 6.500 até maio, e depois cai: A despeito do Fed, a vibe positiva com um novo governo pró-mercado impulsiona o sazonal rally de começo de ano. Mas, com a materialização dos efeitos negativos das medidas de Trump e o Fed jogando a toalha, as chances de uma relevante correção ao redor do meio do ano/chegando no outono são altas, como são as chances de um fechamento do ano abaixo desse patamar (minha incerteza aqui tem mais a ver com como a temática AI vai se desenvolver durante o ano, o que, pela concentração do mercado, obviamente vai impactar o fechamento dos índices. Acredito que há um risco não bem precificado de o mercado se desapontar, como já discutimos nesta coluna recentemente).
- UST 10 anos vai para 5%, e não volta: Nesta previsão eu tenho bem mais confiança. O quadro inflacionário/monetário deve piorar ao longo do ano. A curva também sofre um “bear steepening”.
- Índice DXY supera 120, mas enfraquece no final do ano: O “giant sucking sound” de um S&P 500 indo para 6.500 e juros de dez anos em 5% puxa o fluxo de capital a nível global para os EUA, fortalecendo o dólar e enfraquecendo o resto. Mas depois do período “lua de mel” com o governo Trump, as dúvidas ressurgem e, junto com a correção nas bolsas, o dólar perde fôlego.
Acho que a estratégia ideal de alocação de risco nesse cenário é relativamente óbvia e simples: comprem esse “Santa Claus dip” em ativos de risco, esperem o "melt up" e aloquem de maneira dinâmica na renda fixa, na medida que UST chega perto de 5%.
Bom, com isso, encerramos o ano.
Espero que minhas observações tenham algum valor para vocês, e boa sorte a todos em 2025!
*Tony Volpon é economista e ex-diretor do Banco Central
Rodolfo Amstalden: Mais uma anomalia para chamar de sua
Eu sou um stock picker por natureza, mas nem precisaremos mergulhar tanto assim no intrínseco da Bolsa para encontrar oportunidade; basta apenas escapar de tudo o que é irritantemente óbvio
Construtoras avançam com nova faixa do Minha Casa, e guerra comercial entre China e EUA esfria
Seu Dinheiro entrevistou o CEO da Direcional (DIRR3), que falou sobre os planos da empresa; e mercados globais aguardam detalhes do acordo entre as duas maiores potências
Pesou o clima: medidas que substituem alta do IOF serão apresentadas a Lula nesta terça (10); mercados repercutem IPCA e negociação EUA-China
Entre as propostas do governo figuram o fim da isenção de IR dos investimentos incentivados, a unificação das alíquotas de tributação de aplicações financeiras e a elevação do imposto sobre JCP
Felipe Miranda: Para quem não sabe para onde ir, qualquer caminho serve
O anúncio do pacote alternativo ao IOF é mais um reforço à máxima de que somos o país que não perde uma oportunidade de perder uma oportunidade. Insistimos num ajuste fiscal centrado na receita, sem anúncios de corte de gastos.
Celebrando a colheita do milho nas festas juninas e na SLC Agrícola, e o que esperar dos mercados hoje
No cenário global, investidores aguardam as negociações entre EUA e China; por aqui, estão de olho no pacote alternativo ao aumento do IOF
Azul (AZUL4) no vermelho: por que o negócio da aérea não deu samba?
A Azul executou seu plano com excelência. Alcançou 150 destinos no Brasil e opera sozinha em 80% das rotas. Conseguiu entrar em Congonhas. Chegou até a cair nas graças da Faria Lima por um tempo. Mesmo assim, não escapou da crise financeira.
A seleção com Ancelotti, e uma empresa em baixa para ficar de olho na bolsa; veja também o que esperar para os mercados hoje
Assim como a seleção brasileira, a Gerdau não passa pela sua melhor fase, mas sua ação pode trazer um bom retorno, destaca o colunista Ruy Hungria
A ação que disparou e deixa claro que mesmo empresas em mau momento podem ser ótimos investimentos
Às vezes o valuation fica tão barato que vale a pena comprar a ação mesmo que a empresa não esteja em seus melhores dias — mas é preciso critério
Apesar da Selic, Tenda celebra MCMV, e FII do mês é de tijolo. E mais: mercado aguarda juros na Europa e comentários do Fed nos EUA
Nas reportagens desta quinta, mostramos que, apesar dos juros nas alturas, construtoras disparam na bolsa, e tem fundo imobiliário de galpões como sugestão para junho
Rodolfo Amstalden: Aprofundando os casos de anomalia polimórfica
Na janela de cinco anos podemos dizer que existe uma proporcionalidade razoável entre o IFIX e o Ibovespa. Para todas as outras, o retorno ajustado ao risco oferecido pelo IFIX se mostra vantajoso
Vanessa Rangel e Frank Sinatra embalam a ação do mês; veja também o que embala os mercados hoje
Guerra comercial de Trump, dados dos EUA e expectativa em relação ao IOF no Brasil estão na mira dos investidores nesta quarta-feira
O Brasil precisa seguir as ‘recomendações médicas’: o diagnóstico da Moody’s e o que esperar dos mercados hoje
Tarifas de Trump seguem no radar internacional; no cenário local, mercado aguarda negociações de Haddad com líderes do Congresso sobre alternativas ao IOF
Crônica de uma ruína anunciada: a Moody’s apenas confirmou o que já era evidente
Três reformas estruturais se impõem como inevitáveis — e cada dia de atraso só agrava o diagnóstico
Tony Volpon: O “Taco Trade” salva o mercado
A percepção, de que a reação de Trump a qualquer mexida no mercado o leva a recuar, é uma das principais razões pelas quais estamos basicamente no zero a zero no S&P 500 neste ano, com uma pequena alta no Nasdaq
O copo meio… cheio: a visão da Bradesco Asset para a bolsa brasileira e o que esperar dos mercados hoje
Com feriado na China e fala de Powell nos EUA, mercados reagem a tarifas de Trump (de novo!) e ofensiva russa contra Ucrânia
Você já ouviu falar em boreout? Quando o trabalho é pouco demais: o outro lado do burnout
O boreout pode ser traiçoeiro justamente por não parecer um problema “grave”, mas há uma armadilha emocional em estar confortável demais
De hoje não passa: Ibovespa tenta recuperação em dia de PIB no Brasil e índice favorito do Fed nos EUA
Resultado do PIB brasileiro no primeiro trimestre será conhecido hoje; Wall Street reage ao PCE (inflação de gastos com consumo)
A Petrobras (PETR4) está bem mais próxima de perfurar a Margem Equatorial. Mas o que isso significa?
Estimativas apontam para uma reserva de 30 bilhões de barris, o que é comparável ao campo de Búzios, o maior do mundo em águas ultraprofundas — não à toa a região é chamada de o “novo pré-sal”
Prevenir é melhor que remediar: Ibovespa repercute decisão judicial contra tarifaço, PIB dos EUA e desemprego no Brasil
Um tribunal norte-americano suspendeu o tarifaço de Donald Trump contra o resto do mundo; decisão anima as bolsas
Rodolfo Amstalden: A parábola dos talentos financeiros é uma anomalia de volatilidade
As anomalias de volatilidade não são necessariamente comuns e nem eternas, pois o mercado é (quase) eficiente; mas existem em janelas temporais relevantes, e podem fazer você ganhar uma boa grana