Entre a cruz e a espada, Fed sobe juros apesar da crise bancária — entenda uma das decisões mais importantes do BC dos EUA
O dot plot, como é conhecido o famoso gráfico de pontos com as projeções do Fomc sobre os juros, mostra mais uma elevação ainda este ano
A recente turbulência no sistema bancário desencadeada pelo colapso do Silicon Valley Bank (SVB) colocou o Federal Reserve (Fed) entre a cruz e a espada: combater a inflação ou prevenir mais falências de bancos? Nesta quarta-feira (22), o banco central norte-americano deu uma resposta e elevou a taxa de juros em 0,25 ponto percentual (pp), colocando-a na faixa entre 4,75% e 5,00% ao ano.
A decisão veio em linha com as expectativas do mercado. Os traders esperavam que o Fed mantivesse o foco na inflação, com 86% das apostas na elevação que o BC dos EUA entregou hoje, de acordo com dados compilados pelo CME Group.
Agora, 56,5% dos traders enxergam a chance de mais uma elevação de 0,25 pp na reunião de maio, enquanto 43,4% acreditam em uma alta de 0,50 pp no próximo encontro.
Talvez por isso a reação inicial do mercado tenha sido positiva. Em Wall Street, o Dow Jones, o S&P 500 e o Nasdaq, que operavam de lado, passaram a subir. Por aqui, o Ibovespa operou em baixa logo depois da decisão.
Na visão dos especialistas, uma pausa na escalada dos juros poderia não apenas fazer os preços dispararem novamente, mas também enviar sinais errados ao mercado sobre a fraqueza do Fed no combate à inflação — mas nem por isso a decisão de hoje está livre de riscos, já que a taxa mais alta foi um dos gatilhos para o colapso do SVB.
O que diz o comunicado
Os investidores em todo o mundo estavam em busca do posicionamento do Fed sobre a situação dos bancos do país.
Leia Também
Final da Copa Sul-Americana 2025: veja horário e onde assistir a Atlético-MG x Lanús
No comunicado com a decisão, a autoridade monetária reafirma que o sistema bancário dos EUA é sólido e resiliente, mas alerta sobre os problemas que derivam do colapso recente dos bancos regionais.
"Acontecimentos recentes devem resultar em condições de crédito mais restritivas para famílias e empresas e pesar na atividade econômica, nas contratações e na inflação. A extensão desses efeitos é incerta. O Comitê permanece altamente atento aos riscos de inflação", diz a comunicado.
Sobre a decisão em si, o Fed reconhece que a inflação continua elevada e que o mercado de trabalho segue aquecido, com baixa taxa de desemprego — deixando a porta aberta para o ciclo de aperto monetário continuar.
"O Comitê antecipa que algum endurecimento adicional da política pode ser apropriado para atingir uma postura de política monetária que seja suficientemente restritiva para retornar a inflação para 2% ao longo do tempo", diz o comunicado.
Ainda assim, o BC dos EUA reforça que os futuros aumentos de juros levarão em conta o aperto cumulativo da política monetária, as defasagens com que a política monetária afeta a atividade econômica e a inflação e os desenvolvimentos econômico-financeiros.
Powell entra em cena
Meia hora após a decisão ser anunciada, o presidente do Fed, Jerome Powell, entrou em cena na também aguardada coletiva para explicar melhor o aumento dos juros.
Como é tradição, ele iniciou a coletiva lendo um comunicado que reforçou que o sistema bancário norte-americano segue resiliente e que o Fed está pronto para agir para apoiar o sistema financeiro caso seja necessário.
"O sistema bancário está seguro, os depósitos foram estabilizados na última semana", disse ele, reconhecendo, no entanto, que os recentes casos de falência devem ter algum efeito — ainda que limitado — sobre a economia norte-americana e também na restrição do crédito.
Powell reconheceu ainda que dias antes desta reunião acontecer, os membros do comitê de política monetária cogitaram uma pausa no aumento dos juros para avaliar os efeitos dos problemas nos bancos regionais dos EUA. Ele, no entanto, disse que a decisão unânime de hoje teve como foco a inflação.
"A política monetária está focada nas questões macroeconômicas. O Fed tem instrumentos para ajudar os bancos e manter a liquidez no sistema", afirmou. "A inflação ainda tem um longo caminho a percorrer para que se alinhe com a meta de longo prazo de 2%", acrescentou.
Questionado sobre a possibilidade de corte de juros, já que as projeções de hoje indicaram uma taxa terminal em 5,1%, Powell foi enfático: "O corte de juros não é nosso cenário-base".
Uma reunião incomum
A reunião de dois dias do comitê de política monetária (Fomc, na sigla em inglês) aconteceu em um ambiente tomado pela incerteza — algo incomum tão perto de uma decisão, já que os membros do Fomc normalmente telegrafam suas intenções com antecedência.
Para se ter uma ideia, na semana anterior ao colapso do SVB, Powell chegou a dizer aos congressistas que esperassem que o aumento dos juros fosse rápido e furioso por causa da inflação e dos dados econômicos mais quentes do que o esperado.
Naquele momento, as declarações de Powell consolidaram as expectativas dos traders de que um aperto monetário de 0,50 pp era inevitável na reunião de hoje. A falência do Silicon Valley Bank — que ocorreu, em parte, por causa da elevação dos juros do Fed — mudou essas expectativas.
- Já sabe como declarar seus investimentos no Imposto de Renda 2023? O Seu Dinheiro elaborou um guia exclusivo onde você confere as particularidades de cada ativo para não errar em nada na hora de se acertar com a Receita. Clique aqui para baixar o material gratuito.
A falência no caminho do Fed
O Fed poderia decidir interromper o ciclo de aperto monetário em nome de evitar mais estresse no sistema bancário — imediatamente após a implosão do Silicon Valley Bank, o governo agiu para socorrer os clientes do banco e assegurar aos norte-americanos que o dinheiro estava seguro nos bancos do país.
Depois do colapso do SVB e do Signature Bank, outras corridas e falências bancárias ainda não se concretizaram. O First Republic Bank precisou de ajuda, mas segue com as portas abertas.
Ainda assim, alguns economistas apontam para consequências contínuas — como a venda do Credit Suisse para o UBS — como um sinal de quanto estresse a alta de juros do Fed já causou ao sistema financeiro.
Juros: o que vem por aí
O Fed vem subindo o juro desde março do ano passado. Tudo começou com um aperto de 0,25 pp, tirando a taxa de praticamente zero para o intervalo de 0,25% a 0,50% ao ano.
Depois, o banco central norte-americano subiu em 0,50 pp e, a partir de junho de 2022, resolveu fazer uma marcação mais agressiva à inflação: subiu a taxa básica em 0,75 pp por quatro vezes seguidas.
O BC dos EUA colocou o pé no freio das elevações mais bruscas em dezembro do ano passado, mas se manteve acelerando e entrou em 2023 com um aumento de 0,25 pp e se manteve assim agora.
A cada três meses o Fed divulga, junto com a decisão de política monetária, projeções para os juros e para a economia. A última vez que essas previsões foram apresentadas foi em dezembro.
De acordo com o dot plot — o gráfico de pontos que traz as expectativas individuais dos membros do comitê —, a taxa terminará 2023 em 5,1% — a mesma previsão feita em dezembro. Isso significa que os juros estarão na faixa entre 5,00% e 5,25%, o que implica em mais um aumento neste ano.
Confira abaixo o gráfico de pontos do Fed de março:

O Fed entre a cruz e a espada
Ao escolher o combate à inflação com uma alta de 0,25 pp do juros, o Fed não só colocou o estresse sobre o sistema bancário em segundo plano como potencializou as chances de colocar a economia dos EUA em recessão.
Alguns especialistas acham que ainda há uma chance de os EUA conseguirem estabilizar sua economia sem entrar em recessão, enquanto outros argumentam que uma recessão é inevitável se o Fed quiser atingir sua meta de inflação de 2% no longo prazo.
Diante de tantos impasses, a reunião de hoje ganhou importância ainda maior, já que veio acompanhada das projeções econômicas.
Confira abaixo a atualização da mediana das previsões feitas pelo Federal Reserve:
PIB dos EUA
- 2023: 0,4% de 0,5% previstos em dezembro
- 2024: 1,2% de 1,6% previstos em dezembro
- 2025: 1,9% de 1,8% previstos em dezembro
- Longo prazo: mantido em 1,8%
Inflação medida pelo PCE
- 2023: 3,3% de 3,1% previstos em dezembro
- 2024: mantido em 2,5%
- 2025: mantido em 2,1%
- Longo prazo: mantido em 2,0%
Taxa de desemprego
- 2023: 4,5% de 4,6% previstos em dezembro
- 2024: mantido em 4,6%
- 2025: 4,6% de 4,5% previstos em dezembro
- Longo prazo: mantido em 4,0%
O que os especialistas acharam da decisão
Para James Orlando, diretor e economista sênior da TD Economics, a decisão de hoje foi uma das mais controversas que o Fed teve que tomar, já que quando a inflação era o único foco no ano passado, aumentar os juros era a única opção. Agora que a estabilidade do sistema financeiro foi trazida à tona, o BC dos EUA teve que seguir uma linha tênue.
"Ao aumentar os juros ao mesmo tempo em que concentra a declaração nos riscos que isso pode trazer é uma forma de reconhecer o fluxo do estresse do mercado financeiro na economia em geral", disse Orlando.
André Fernandes, head de renda variável e sócio da A7 Capital, ressalta o tom mais favorável ao afrouxamento monetário (dovish) do comunicado do Fed e aposta em uma alta de 0,25 pp na reunião de maio.
"O Fomc deve vir com mais uma alta de 0,25 pp na reunião de maio, já que revisou suas projeções em relação ao PCE de 2023 para 3,3%. Com isso, deve continuar combatendo a inflação, deixando claro que esse trabalho ainda não acabou, mesmo com os possíveis impactos no custo de crédito para as famílias e empresas norte-americanas — o que pode começar a enfraquecer a atividade econômica nos EUA", afirmou Fernandes.
Brasil x Tunísia: veja onde assistir ao amistoso e saiba o horário da partida
Confira onde e quando assistir ao amistoso entre Brasil x Tunísia, que faz parte da preparação da Seleção Brasileira para a Copa do Mundo de 2026
Antes de Atlético-MG x Lanús, estádio da final da Copa Sul-Americana 2025 virou palco de uma guerra por um território que também é do Brasil
Antes de receber Atlético-MG x Lanús na final da Copa Sul-Americana 2025, o Defensores del Chaco foi cenário de guerra, confronto territorial e reconstrução histórica
Casa Branca vê baixo risco de derrota sobre tarifas na Suprema Corte, diz Bessent
A decisão, aguardada para as próximas semanas, pode afetar cerca de US$ 200 bilhões em receitas alfandegárias já cobradas
EUA quer concluir acordo sobre terras raras com a China até o Dia de Ação de Graças, diz secretário do Tesouro
No mês passado, os EUA concordaram em não impor tarifas de 100% sobre as importações chinesas até fechar um novo acordo
Menos Apple (AAPL34), mais Google (GOGL34): Berkshire Hathaway vira a mão em sua aposta nas big techs
Essa foi a última apresentação do portfólio antes do fim da gestão de 60 anos de Warren Buffett como diretor executivo
EUA recuam em tarifas: Trump assina isenção para café, carne e frutas tropicais
A medida visa conter a pressão dos preços dos alimentos nos EUA e deve ser positiva para as exportações brasileiras
Ao som de música tema de Rocky, badalado robô humanoide russo vai a ‘nocaute’ logo na estreia; assista ao tombo
A queda do robô AIDOL, da Rússia, durante uma apresentação em uma feira de tecnologia gerou repercussão. A empresa responsável explicou o incidente e compartilhou a recuperação do humanoide
Sinais? Nave? Mistério? O que realmente sabemos sobre o cometa 3I/Atlas
Enquanto estudos confirmam que o 3i/Atlas apresenta processos naturais, rumores sobre “sinais” e origem alienígena proliferam nas redes sociais
A maior paralisação da história dos EUA acabou, mas quem vai pagar essa conta bilionária?
O PIB norte-americano deve sofrer uma perda de pelo menos um ponto percentual no quarto trimestre de 2025, mas os efeitos do shutdown também batem nos juros e nos mercados
Revolução ou bolha? A verdade sobre a febre da inteligência artificial
Paula Zogbi, estrategista-chefe da Nomad, e Enzo Pacheco, analista da Empiricus, falam no podcast Touros e Ursos sobre o risco de bolha e a avaliação das empresas ligadas à IA
SoftBank embolsa US$ 5,8 bilhões com venda das ações da Nvidia — bolha nas ações de IA ou realização de lucros?
O conglomerado japonês aposta forte na tecnologia e já tem plano para o dinheiro que entrou em caixa
‘Fim do mundo’ por IA já assusta os donos de big techs? Mark Zuckerberg, Elon Musk e Jeff Bezos se dividem entre bunkers e planos interplanetários
Preparação para o “apocalipse” inclui bunkers luxuosos, ilhas privadas e mudança para Marte – e a “vilã” pode ser a própria criação dos donos das big techs
O adeus do oráculo: Warren Buffett revela em carta de despedida o destino final de sua fortuna bilionária
Essa, no entanto, não é a última carta do megainvestidor de 95 anos — ele continuará se comunicando com o mercado por meio de uma mensagem anual de Ação de Graças
Trump diz que irá investigar se empresas elevaram preço da carne bovina no país – JBS (JBSS32) e MBRF (MBRF3) estão entre os alvos
Casa Branca diz que JBS, Cargill, Tyson Foods e National Beef, controlada pela MBRF, são alvos da investigação. São as quatro maiores empresas frigoríficas do país
Este bilionário largou a escola com 15 anos, começou a empreender aos 16 e está prestes a liderar a Nasa
Aliado de Elon Musk e no radar de Donald Trump, Jared Isaacman é empresário e foi o primeiro civil a realizar uma caminhada espacial
Trump quer dar um presentinho de R$ 10,6 mil aos norte-americanos — e isso tem tudo a ver com o tarifaço
O presidente norte-americano também aproveitou para criticar as pessoas que se opõem ao tarifação, chamando-as de “tolas”
Ele foi cavar uma piscina e encontrou um tesouro no próprio jardim — e vai poder ficar com tudo
Morador encontrou barras e moedas de ouro avaliadas em R$ 4,3 milhões enquanto construía uma piscina
O que o assalto ao Museu do Louvre pode te ensinar sobre como (não) criar uma senha — e 5 dicas para proteger sua vida digital
Auditorias revelaram o uso de senhas “fáceis” nos sistemas de segurança de um dos museus mais importantes do mundo
Outra façanha de Trump: a maior paralisação da história dos EUA. Quais ações perdem e quais ganham com o shutdown?
Além da bolsa, analistas ouvidos pelo Seu Dinheiro explicam os efeitos da paralisação do governo norte-americano no câmbio
Como uma vila de pescadores chegou a 18 milhões de habitantes em menos de 50 anos
A sexta maior cidade da China é usada pelo país como exemplo de sua política de desenvolvimento econômico adotada no final da década de 1970