No início de março, a operadora de saúde Hapvida (HAPV3) entrou de cabeça no fundo do poço. Os últimos meses já não foram fáceis para a empresa, com forte queda dos papéis, mas a divulgação do balanço do quarto trimestre de 2022 levou a um tombo de mais de 50% em poucos dias.
O balanço em si não trouxe nenhum número catastrófico, mas os investidores e analistas reagiram ao conjunto da obra. Ou seja: a empresa não estava entregando as sinergias e melhorias prometidas no plano de aquisição da NotreDame Intermédica e estava tendo sérios problemas para reduzir os seus custos operacionais e sua sinistralidade.
O balanço fraco levantou dúvidas não só sobre a capacidade da gestão da Hapvida, mas também do verdadeiro estado de saúde das finanças da empresa, elevando as preocupações sobre liquidez e capacidade de honrar requisitos regulatórios de caixa.
A empresa foi rápida em buscar uma solução para parte dos problemas — com aumento de capital e venda de ativos para reduzir a alavancagem e apoiar o caixa da companhia —, mas apesar das operações terem sido bem recebidas, foi o balanço do primeiro trimestre de 2023 que veio para cimentar a retomada da confiança do mercado na companhia.
Após a divulgação dos números, as ações da Hapvida (HAPV3) lideram os ganhos do Ibovespa nesta tarde — mesmo após a empresa ter mostrado a perda de mais de 100 mil vidas no período e um prejuízo líquido de mais de R$ 300 milhões. Por volta das 14h30, os papéis de HAPV3 subiam 9,52%, a R$ 3,45.
Ainda que as movimentações recentes ainda não estejam incorporadas no balanço divulgado, os analistas — e investidores — parecem contentes com o progresso da companhia, uma vez que as principais preocupações mostraram progresso: o nível da sinistralidade caiu, as despesas extraordinárias deixaram de existir e há uma perspectiva positiva para o reajuste dos preços dos planos de saúde.
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Hapvida (HAPV3): os números
- Prejuízo líquido: R$ 341,6 milhões no primeiro trimestre de 2023, alta de 25,4% na comparação anual.
- Lucro líquido ajustado: R$ 33,1 milhões, queda de 6,3%
- Ebitda ajustado: R$ 634,5 milhões, alta de 63,5% na comparação anual
- Receita líquida: R$ 6,726 bilhões, alta de 12,8%
- Despesa líquida: R$ 430 milhões, alta de 150,8%
- Dívida bruta: R$ 13,045 bilhões
- Alavancagem: 2,32 vezes
O que o mercado pensa?
Os números do balanço não são exatamente o mundo perfeito que os analistas gostariam de ver, mas foram uma surpresa bem positiva — principalmente após a maior parte das projeções terem sido revisadas para baixo após os resultados de 2022. O que agradou mesmo foram os sinais de que operacionalmente a empresa está em busca de melhorias.
O Bank of America aponta que esse trimestre foi um grande passo para a empresa recuperar a confiança dos investidores, com o pior ficando para trás. Para o BofA, a principal razão para o resultado animador está na reestruturação da gestão e na retomada da cultura empresarial da Hapvida, tendo oferecido uma rápida resposta às dúvidas do mercado.
Um dos destaques está na consolidação do movimento de verticalização — o que, no futuro, aponta para uma redução dos custos da companhia e em uma menor taxa de sinistralidade. Ao longo do trimestre, foram inaugurados, 1 hospital e 17 unidades integradas da HB Saúde. Além disso, a Hapvida também abriu 2 novos centros clínicos, 1 pronto socorro autônomo e 1 centro de diagnósticos.
Mas a cereja do bolo mesmo está no crescimento do tíquete médio — para os analistas, isso indica que, enfim, a empresa está conseguindo compensar os efeitos da inflação, indo no caminho certo para reduzir a sua taxa de sinistralidade. No último trimestre, a alta foi de 8,3%, indo a R$ R$ 236,1.
A queda da sinistralidade, para 72,3%, foi descrita como uma surpresa positiva pelo mercado. Para o Santander, o número aumenta a confiança de que a companhia está no caminho certo para diluir suas despesas ao longo de 2023.
Os analistas do Itaú BBA, os números do primeiro trimestre da Hapvida foram beneficiados pela ausência de receitas e despesas não-recorrentes pela primeira vez em vários trimestres, com melhorias expressivas no fluxo de caixa e organização do endividamento.
Segundo cálculos dos analistas do Santander, se computados o recente aumento de capital, o débito da empresa cairia para R$ 5,2 bilhões.