O que comprar depois do banho de sangue? Cinco ações em ponto de bala
“Os ADRs da Petrobras estão subindo 4% no pré-market. Já devo voltar a comprar estatais, agora mais baratas?”
Resposta direta para a pergunta do momento: na minha opinião, não.
Se você, como eu, é um investidor (não um trader), treinado na escola fundamentalista, se depara com algo importante, muitas vezes contraintuitivo num primeiro momento. Não é porque algo caiu que se tornou mais barato. Ao mesmo tempo, não ficou mais caro necessariamente só porque subiu.
Os conceitos de caro ou barato derivam sempre da comparação entre preço e valor intrínseco. Preço é o que você olha na tela, a cotação que pisca no seu home broker. Valor intrínseco não é observável, mas, segundo acredita-se pela escola fundamentalista, pode ser estimado. Você recorre aos fundamentos estruturais da companhia para determinar qual deveria ser seu valor justo, chamado valor intrínseco. Tipicamente, ele é definido por um modelo de fluxo de caixa descontado, em que você estima os fluxos de caixa de uma empresa de hoje até o infinito e os traz a valor presente por uma taxa de desconto apropriada.
Então, se o preço está muito abaixo do valor intrínseco, estimado com a devida margem de segurança, diz-se que está barato. Se está acima, é caro. Não se trata de um valor nominal, mas da comparação entre as coisas. É ela quem define barganhas ou sobreapreçamentos.
Portanto, se o preço de uma ação caiu e seus fundamentos pioraram ainda mais, então, mesmo com a queda da cotação nominal do ativo, a ação pode ter ficado mais cara, dentro da escola fundamentalista clássica.
Leia Também
As estatais, desde sexta-feira, tiveram seus fundamentos deteriorados. Não somente seus preços. Para que sejamos justos, ainda não há clareza sobre em qual magnitude houve essa deterioração dos fundamentos, mas já está um tanto claro que ela aconteceu.
“Ah, mas não temos ainda qualquer controle de preços na Petrobras. Deixem o novo presidente trabalhar. Ele fez um ótimo trabalho em Itaipu.”
Se entendemos por “fundamentos” tudo aquilo que impacta o valor intrínseco de uma companhia, então já tivemos, sim, uma mudança dos fundamentos de Petrobras e de estatais em geral. Aconteceu uma movimentação para alteração súbita e intempestiva do presidente da empresa, desalinhada aos bons preceitos de governança corporativa.
Agora, criou-se uma incerteza enorme sobre a manutenção ou não da atual política de preços da estatal. Ou seja, o risco aumentou. Isso se traduz, do ponto de vista de fundamentos, numa elevação das taxas de desconto do modelo de apreçamento das ações da Petrobras, cuja consequência é a diminuição do valor intrínseco. As coisas já pioraram, entende?
Talvez o tempo até possa mostrar que não pioraram tanto assim, que 20% foi um exagero. O novo presidente assume e segue obedecendo à paridade dos preços internacionais. Então, à medida que isso vai sendo mostrado na prática, o risco e a incerteza vão diminuindo e poderemos novamente, lá na frente, trabalhar com taxas de desconto mais baixas.
Dadas as movimentações recentes, não me parece razoável supor que o mercado esteja disposto a pagar na frente. Primeiro, teremos de demonstrar a real autonomia e independência da gestão, sem qualquer tipo de interferência. Depois, poderemos reduzir as taxas de desconto e valorizar as ações da Petrobras. Não há propriedade comutativa do valuation. A ordem dos fatores e dos acontecimentos importa.
Além disso, se, conforme falado ontem pelo brilhante Lucas de Aragão, o presidente morre de medo de uma greve dos caminhoneiros e faria de tudo para evitá-la, fica a dúvida: qual é a intenção dos caminhoneiros? Eles querem trocar o presidente da Petrobras ou querem menor preço do diesel? Há algum tipo de disputa pessoal entre Chorão e Castello Branco? Não me parece o caso. A troca de comando na Petrobras foi, em grande medida, segundo sinalizado pelo próprio presidente Bolsonaro, resultado do descontentamento com os aumentos sucessivos de preço do combustível. Ora, se o motivo da troca foi a política de preços, por que havemos de acreditar, ex-ante, que não haverá mudança na política de preços? Mudamos para continuar iguais? Até pode ser, mas o mercado não vai pagar na frente. Palavras não pagam dívidas. E todos sabemos o que acontece com a dívida da Petrobras quando ela represa preços.
Se não compramos Petrobras a partir do sell-off de ontem, o que poderíamos achar de barganhas injustificadas? Quais preços caíram sem deterioração dos fundamentos?
Para nos ater a questões aparentemente contraintuitivas, entendo que as ações da Cielo, mesmo tendo subido forte ontem, ficaram ainda mais baratas, porque seus fundamentos melhoraram ainda mais. Lauro Jardim notificou no final de semana a iminência do fechamento de capital da companhia. O Bradesco negou, com a importante ressalva temporal de “neste momento”. O Banco do Brasil veio com aquela história clássica de que “avalia todas as possibilidades de geração de valor”, tradicionalmente associado a uma maneira elegante de confirmar negando (ou seria negar confirmando? Sei lá…) Uma interpretação possível: o Bradesco desdenha porque quer tomar o lote do Banco do Brasil e, depois, vir com uma “tender offer” para fechar o capital. Faz todo sentido Cielo ser de capital fechado, a exemplo do que o Itaú fez com a Rede, e passou a poder se preocupar mais com combos e geração de valor integrada dentro do banco, do que ter que necessariamente gerar valor na adquirência. Isso vai funcionar muito mais para rentabilizar outros negócios dentro de uma grande instituição financeira. O fundamento melhora muito e os ganhos aqui podem ser de 30-40% em um espaço de tempo relativamente curto.
O que mais teve a comparação entre preço e valor intrínseco mais atraente a partir de ontem?
Vale caiu 2,48%. Minério de ferro voou, dólar subiu (receita da empresa é toda em moeda forte) e o BNDES terminou de vender sua posição na companhia — acabou o overhang e agora o caminho está livre para voltar a subir. O cenário (valor intrínseco) só melhorou para Vale, e suas ações caíram. Screaming buy!
Bancos derreteram ontem. Além da elevação da aversão ao risco, o setor sofreu com o temor de que, diante das dificuldades fiscais e do maior intervencionismo, possa ser o próximo alvo do canhão bolsonarista. Conforme conversei com o Lucas de Aragão ontem, não parece haver nenhuma concreta sinalização de que venha aumento de imposto para bancos ou alguma outra interferência no horizonte temporal previsível. Além disso, as taxas de juros de mercado lá fora têm subido bastante nos últimos dias, com o yield do Treasury de dez anos em 1,36%. Isso devolve atratividade ao setor. Banco Pan caiu 7%. Para mim, sem motivo para tanto.
Aura Minerals fechou quase no zero a zero. Dólar voou, ouro explodiu. Impacto disso no fluxo de caixa é grande e na veia. ETF de junior e small mining companies de ouro ontem subiu firme no Canadá e nos EUA. Diversificação bem interessante para a carteira, num valuation bem atraente, abaixo de 3,5 vezes EV/Ebitda.
Por fim, Gerdau. Pensa na sequência: pegamos a reestruturação de Cosan; depois, de Lojas Americanas… quem é a próxima? Não faz mais sentido ter essas estruturas societárias esquizofrênicas em Bolsa, com problemas de governança, vários veículos listados, desconcentração de liquidez e menores pesos nos índices. Gerdau vai pelo mesmo caminho. É a ordem natural das coisas, sinal dos tempos. Difícil lutar contra. Momento muito especial do aço e do minério de ferro. Resultado é amanhã e acho que vem gigante. Tem coisa aí.
No final do dia, o mercado funciona, sem interferência. O stock picking vai fazer cada vez mais diferença.
Veja quanto o seu banco paga de imposto, que indicadores vão mexer com a bolsa e o que mais você precisa saber hoje
Assim como as pessoas físicas, os grandes bancos também têm mecanismos para diminuir a mordida do Leão. Confira na matéria
As lições do Chile para o Brasil, ata do Copom, dados dos EUA e o que mais movimenta a bolsa hoje
Chile, assim como a Argentina, vive mudanças políticas que podem servir de sinal para o que está por vir no Brasil. Mercado aguarda ata do Banco Central e dados de emprego nos EUA
Chile vira a página — o Brasil vai ler ou rasgar o livro?
Não por acaso, ganha força a leitura de que o Chile de 2025 antecipa, em diversos aspectos, o Brasil de 2026
Felipe Miranda: Uma visão de Brasil, por Daniel Goldberg
O fundador da Lumina Capital participou de um dos episódios de ‘Hello, Brasil!’ e faz um diagnóstico da realidade brasileira
Dividendos em 2026, empresas encrencadas e agenda da semana: veja tudo que mexe com seu bolso hoje
O Seu Dinheiro traz um levantamento do enorme volume de dividendos pagos pelas empresas neste ano e diz o que esperar para os proventos em 2026
Como enterrar um projeto: você já fez a lista do que vai abandonar em 2025?
Talvez você ou sua empresa já tenham sua lista de metas para 2026. Mas você já fez a lista do que vai abandonar em 2025?
Flávio Day: veja dicas para proteger seu patrimônio com contratos de opções e escolhas de boas ações
Veja como proteger seu patrimônio com contratos de opções e com escolhas de boas empresas
Flávio Day nos lembra a importância de ter proteção e investir em boas empresas
O evento mostra que ainda não chegou a hora de colocar qualquer ação na carteira. Por enquanto, vamos apenas com aquelas empresas boas, segundo a definição de André Esteves: que vão bem em qualquer cenário
A busca pelo rendimento alto sem risco, os juros no Brasil, e o que mais move os mercados hoje
A janela para buscar retornos de 1% ao mês na renda fixa está acabando; mercado vai reagir à manutenção da Selic e à falta de indicações do Copom sobre cortes futuros de juros
Rodolfo Amstalden: E olha que ele nem estava lá, imagina se estivesse…
Entre choques externos e incertezas eleitorais, o pregão de 5 de dezembro revelou que os preços já carregavam mais política do que os investidores admitiam — e que a Bolsa pode reagir tanto a fatores invisíveis quanto a surpresas ainda por vir
A mensagem do Copom para a Selic, juros nos EUA, eleições no Brasil e o que mexe com seu bolso hoje
Investidores e analistas vão avaliar cada vírgula do comunicado do Banco Central para buscar pistas sobre o caminho da taxa básica de juros no ano que vem
Os testes da família Bolsonaro, o sonho de consumo do Magalu (MGLU3), e o que move a bolsa hoje
Veja por que a pré-candidatura de Flávio Bolsonaro à presidência derrubou os mercados; Magazine Luiza inaugura megaloja para turbinar suas receitas
O suposto balão de ensaio do clã Bolsonaro que furou o mercado: como fica o cenário eleitoral agora?
Ainda que o processo eleitoral esteja longe de qualquer definição, a reação ao anúncio da candidatura de Flávio Bolsonaro deixou claro que o caminho até 2026 tende a ser marcado por tensão e volatilidade
Felipe Miranda: Os últimos passos de um homem — ou, compre na fraqueza
A reação do mercado à possível candidatura de Flávio Bolsonaro reacende memórias do Joesley Day, mas há oportunidade
Bolha nas ações de IA, app da B3, e definições de juros: veja o que você precisa saber para investir hoje
Veja o que especialista de gestora com mais de US$ 1,5 trilhão em ativos diz sobre a alta das ações de tecnologia e qual é o impacto para o mercado brasileiro. Acompanhe também a agenda da semana
É o fim da pirâmide corporativa? Como a IA muda a base do trabalho, ameaça os cargos de entrada e reescreve a carreira
As ofertas de emprego para posições de entrada tiveram fortes quedas desde 2024 em razão da adoção da IA. Como os novos trabalhadores vão aprender?
As dicas para quem quer receber dividendos de Natal, e por que Gerdau (GGBR4) e Direcional (DIRR3) são boas apostas
O que o investidor deve olhar antes de investir em uma empresa de olho dos proventos, segundo o colunista do Seu Dinheiro
Tsunami de dividendos extraordinários: como a taxação abre uma janela rara para os amantes de proventos
Ainda que a antecipação seja muito vantajosa em algumas circunstâncias, é preciso analisar caso a caso e não se animar com qualquer anúncio de dividendo extraordinário
Quais são os FIIs campeões de dezembro, divulgação do PIB e da balança comercial e o que mais o mercado espera para hoje
Sete FIIs disputam a liderança no mês de dezembro; veja o que mais você precisa saber hoje antes de investir
Copel (CPLE3) é a ação do mês, Ibovespa bate novo recorde, e o que mais movimenta os mercados hoje
Empresa de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica, a Copel é a favorita para investir em dezembro. Veja o que mais você precisa saber sobre os mercados hoje