Para ser faixa-preta nos investimentos é preciso ter a paciência japonesa
Na literatura de alocação de ativos, “momentum” é a tendência que um ativo tem de continuar subindo apenas porque... já vem subindo.
Nos últimos 30 anos, dezenas de estudos acadêmicos e gestores sistemáticos praticantes têm validado a existência de um prêmio por momentum no mercado de ações.
Contrariando o senso comum, seria possível ganhar dinheiro comprando ações que tiveram o melhor desempenho recente e vendendo as que tiveram o pior, assim como são documentados ganhos com os fatores “tamanho” (empresas de menor valor de mercado) e “valor” (empresas baratas por métricas tradicionais de valuation).
Esse resultado tem se mostrado robusto para mais de 200 anos de dados da Bolsa americana e em mais de 40 países. Menos em um.
O Japão — que neste exato momento abre os Jogos Olímpicos de Tóquio em momento cauteloso de avanço da variante Delta da Covid-19 — é a misteriosa exceção à regra.
Por lá, a estratégia de comprar o que está na moda nunca vingou.
Leia Também
As lições do Chile para o Brasil, ata do Copom, dados dos EUA e o que mais movimenta a bolsa hoje
Chile vira a página — o Brasil vai ler ou rasgar o livro?
É o contrário, aliás: estudos sobre a explicação do retorno de ações japonesas indicam uma tendência maior de reversão à média, com investidores preferindo empresas de valor, baratas demais para o potencial que têm de convergirem para seu “valor justo”.
Há duas hipóteses principais. Cliff Asness, sócio-fundador da gestora AQR, argumenta que o resultado pode ser apenas fruto do acaso e que, dentre décadas de dados e dezenas de países, é provável que o prêmio de momentum não seja significativo em algum país relevante, por acaso o Japão.
Outra explicação segue a linha sociocultural, defendendo uma forte correlação positiva entre o nível de individualismo de uma sociedade e o prêmio de momentum em seu mercado acionário.
O individualismo (que se opõe ao coletivismo) é uma das dimensões culturais definidas pelo psicólogo holandês Geert Hofstede em seus estudos sobre o que diferencia sociedades.
Na prática, em uma sociedade considerada mais coletivista como a japonesa, investidores tenderiam a valorizar mais as informações e opiniões dos outros do que seus próprios julgamentos, demonstrando menores excesso de confiança e viés de atribuição e, por consequência, seriam menos impulsivos ao negociar ações.
E em fundos de investimento?
Com frequência, tenho visto investidores espelharem o mesmo comportamento que têm com ações no mercado de fundos, garimpando bancos e corretoras à procura do vencedor em desempenho dos últimos 12 meses, na esperança de que o gestor esteja em uma “boa fase” e de que esse resultado passado seja garantia de algum retorno futuro — não é.
Há uma diferença crucial aqui. Enquanto o aumento da demanda e do volume de investidores de uma ação — especialmente se de baixa liquidez — pode criar um aumento artificial de preço, justificando a estratégia de momentum, isso não faz sentido para fundos.
Comprar a cota de um fundo de ações hoje não tem qualquer impacto em sua valorização amanhã. Logo, não existe o conceito de momentum em fundos.
O corolário disso é que dúvidas como comprar, manter ou vender um fundo “por causa” de seu desempenho no semestre ou nos últimos 12 meses não deveriam existir. O investidor em fundos deve lutar para não trair sua alma: se a decisão que o levou a investir continua, o dinheiro continua lá.
Para trazer um exemplo, separei todos os fundos de ações do Brasil que existiram nos últimos dez anos e os classifiquei anualmente por desempenho.
A pergunta é: com qual probabilidade um fundo posicionado entre os 20% melhores de um ano também se manteve assim no ano seguinte?
Isso foi verdade em 29% dos casos. Talvez o leitor possa achar o número alto, mas seu complemento é que, em 71% das vezes em que você cogitou selecionar um fundo de ações para os próximos 12 meses com base nos 12 meses anteriores, o resultado teria sido pior.
Na série Os Melhores Fundos de Investimento, o desempenho de curto prazo, aquele que está na moda e que muitos estão usando por aí, não tem espaço.
Se você quer ser faixa-preta em montar uma carteira diversificada para o longo prazo, acredite: vale muito mais a pena vestir o tradicional quimono e cultivar a paciência dos japoneses.

Baixe já o seu!
Conquiste a sua medalha de investidor com as nossas dicas de onde investir no segundo semestre de 2021 neste ebook gratuito.
Flávio Day: veja dicas para proteger seu patrimônio com contratos de opções e escolhas de boas ações
Veja como proteger seu patrimônio com contratos de opções e com escolhas de boas empresas
Flávio Day nos lembra a importância de ter proteção e investir em boas empresas
O evento mostra que ainda não chegou a hora de colocar qualquer ação na carteira. Por enquanto, vamos apenas com aquelas empresas boas, segundo a definição de André Esteves: que vão bem em qualquer cenário
A busca pelo rendimento alto sem risco, os juros no Brasil, e o que mais move os mercados hoje
A janela para buscar retornos de 1% ao mês na renda fixa está acabando; mercado vai reagir à manutenção da Selic e à falta de indicações do Copom sobre cortes futuros de juros
Rodolfo Amstalden: E olha que ele nem estava lá, imagina se estivesse…
Entre choques externos e incertezas eleitorais, o pregão de 5 de dezembro revelou que os preços já carregavam mais política do que os investidores admitiam — e que a Bolsa pode reagir tanto a fatores invisíveis quanto a surpresas ainda por vir
A mensagem do Copom para a Selic, juros nos EUA, eleições no Brasil e o que mexe com seu bolso hoje
Investidores e analistas vão avaliar cada vírgula do comunicado do Banco Central para buscar pistas sobre o caminho da taxa básica de juros no ano que vem
Os testes da família Bolsonaro, o sonho de consumo do Magalu (MGLU3), e o que move a bolsa hoje
Veja por que a pré-candidatura de Flávio Bolsonaro à presidência derrubou os mercados; Magazine Luiza inaugura megaloja para turbinar suas receitas
O suposto balão de ensaio do clã Bolsonaro que furou o mercado: como fica o cenário eleitoral agora?
Ainda que o processo eleitoral esteja longe de qualquer definição, a reação ao anúncio da candidatura de Flávio Bolsonaro deixou claro que o caminho até 2026 tende a ser marcado por tensão e volatilidade
Felipe Miranda: Os últimos passos de um homem — ou, compre na fraqueza
A reação do mercado à possível candidatura de Flávio Bolsonaro reacende memórias do Joesley Day, mas há oportunidade
Bolha nas ações de IA, app da B3, e definições de juros: veja o que você precisa saber para investir hoje
Veja o que especialista de gestora com mais de US$ 1,5 trilhão em ativos diz sobre a alta das ações de tecnologia e qual é o impacto para o mercado brasileiro. Acompanhe também a agenda da semana
É o fim da pirâmide corporativa? Como a IA muda a base do trabalho, ameaça os cargos de entrada e reescreve a carreira
As ofertas de emprego para posições de entrada tiveram fortes quedas desde 2024 em razão da adoção da IA. Como os novos trabalhadores vão aprender?
As dicas para quem quer receber dividendos de Natal, e por que Gerdau (GGBR4) e Direcional (DIRR3) são boas apostas
O que o investidor deve olhar antes de investir em uma empresa de olho dos proventos, segundo o colunista do Seu Dinheiro
Tsunami de dividendos extraordinários: como a taxação abre uma janela rara para os amantes de proventos
Ainda que a antecipação seja muito vantajosa em algumas circunstâncias, é preciso analisar caso a caso e não se animar com qualquer anúncio de dividendo extraordinário
Quais são os FIIs campeões de dezembro, divulgação do PIB e da balança comercial e o que mais o mercado espera para hoje
Sete FIIs disputam a liderança no mês de dezembro; veja o que mais você precisa saber hoje antes de investir
Copel (CPLE3) é a ação do mês, Ibovespa bate novo recorde, e o que mais movimenta os mercados hoje
Empresa de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica, a Copel é a favorita para investir em dezembro. Veja o que mais você precisa saber sobre os mercados hoje
Mais empresas no nó do Master e Vorcaro, a escolha do Fed e o que move as bolsas hoje
Titan Capital surge como peça-chave no emaranhado de negócios de Daniel Vorcaro, envolvendo mais de 30 empresas; qual o risco da perda da independência do Fed, e o que mais o investidor precisa saber hoje
A sucessão no Fed: o risco silencioso por trás da queda dos juros
A simples possibilidade de mudança no comando do BC dos EUA já começou a mexer na curva de juros, refletindo a percepção de que o “jogo” da política monetária em 2026 será bem diferente do atual
Tony Volpon: Bolhas não acabam assim
Wall Street vivencia hoje uma bolha especulativa no mercado de ações? Entenda o que está acontecendo nas bolsas norte-americanas, e o que a inteligência artificial tem a ver com isso
As lições da Black Friday para o universo dos fundos imobiliários e uma indicação de FII que realmente vale a pena agora
Descontos na bolsa, retorno com dividendos elevados, movimentos de consolidação: que tipo de investimento realmente compensa na Black Friday dos FIIs?
Os futuros dividendos da Estapar (ALPK3), o plano da Petrobras (PETR3), as falas de Galípolo e o que mais move o mercado
Com mudanças contábeis, Estapar antecipa pagamentos de dividendos. Petrobras divulga seu plano estratégico, e presidente do BC se mantém duro em sua política de juros
Jogada de mestre: proposta da Estapar (ALPK3) reduz a espera por dividendos em até 8 anos, ações disparam e esse pode ser só o começo
A companhia possui um prejuízo acumulado bilionário e precisaria de mais 8 anos para conseguir zerar esse saldo para distribuir dividendos. Essa espera, porém, pode cair drasticamente se duas propostas forem aprovadas na AGE de dezembro.
