🔴 [NO AR] TOUROS E URSOS: COMO FLÁVIO BOLSONARO MEXE COM A BOLSA E AS ELEIÇÕES – ASSISTA AGORA

O Brasil é um meme macunaímico, mas antifrágil

Há muito tempo, tenho comigo que o Brasil — não sei se por razões sociológicas, antropológicas ou econômicas — carrega uma tendência à mediocridade, à complacência, à procrastinação, à reversão à média

19 de agosto de 2020
11:24 - atualizado às 13:24
crise coronavírus brasil
Imagem: Shutterstock

“Muitas vezes, parece que o Brasil vai cair no buraco. Mas, no final, o Brasil não cai, nem consegue cair, porque ele é maior do que o buraco.”

Ouvi essa frase do Eike Batista, cuja autoria é de seu pai, Eliezer, segundo ele mesmo contou. Não que o Eike seja assim propriamente um exemplo na atividade de escolher bons buracos e furos a se fazer, mas a metáfora me pareceu bastante pertinente. Cada país tem o Howard Hughes que merece.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

É uma forma bastante imagética de descrever uma ideia antiga que carrego comigo. No fim, o cérebro guarda mesmo as histórias, as imagens, as metáforas, os mitos — a evolução não nos moldou para valorizarmos cálculos e equações. As emoções e sentimentos são heurísticas para nossa racionalidade; e as emoções são muito mais facilmente despertadas por símbolos e imagens. Para fugir de um leão na savana africana, você não vai recorrer a cálculos de mecânica; você vai apenas correr.

Há muito tempo, tenho comigo que o Brasil — não sei se por razões sociológicas, antropológicas ou econômicas — carrega uma tendência à mediocridade, à complacência, à procrastinação, à reversão à média.

Esclarecimento importante: ao me referir a Brasil, trato de questões de Estado, não de governo. O que é a nossa essência, nossa natureza, nossa constituição, com “c” minúsculo, englobando instituições formais e informais.

Até entendo que essa característica esteja na essência das economias capitalistas em geral, com seus ciclos econômicos, sístole e diástole, superaquecimento e recessão. Faz parte do “business cycle” caminhar em torno de uma linha de tendência. Mas aqui sinto contornos mais marcantes do atributo. A independência da matriz para, de certo modo, continuar sob domínio português — acabou tudo em casa, sejamos sinceros. O manifesto antropofágico, nosso herói Macunaíma, a bossa nova, o tropicalismo (que resgata o manifesto antropofágico!), a ode ao jeitinho brasileiro. Ai, que preguiça.

Mas não olhemos para a coisa com viés pessimista. Tem um lado bom dessa história. Se, de um lado, vivemos uma eterna armadilha do país de renda média, sem conseguir “chegar lá” e estragando a caminhada sempre que parece que vai dar certo, por outro, não temos vocação para explosão. Em todas as vezes que flertamos com o precipício, voltamos na direção contrária, evitando nos jogar lá embaixo.

Fui saber depois, em conversa com um brilhante gestor carioca, que Paulo Guedes também tem sua própria metáfora para descrever o fenômeno, algo mais ou menos assim: “o Brasil é um cercadinho. Bate no limite de baixo e volta pra média. Vai subindo até tocar na banda superior; daí encontra um teto e retorna pra baixo de novo. E assim vamos indo”.

Talvez a melhor descrição seja de um brasileiro típico, descrita naquele famoso meme: “Já tava bão. Diz que ia mudar ainda pra melhor. Já não tava muito bão. Tava meio ruim tamém. Tava ruim. Agora parece que piorou”.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Brincadeiras à parte, decorre um corolário prático dessa história: compre Bolsa e juro longo sempre que ouvir que o país está prestes a explodir; venda quando as manchetes sugerirem que viramos a Dinamarca.

Volto a essa questão hoje porque ela é fundamental no momento. Sem entender as idiossincrasias brasileiras, dificilmente conseguiremos avançar em termos de alocação entre classes de ativos.

O risco à situação fiscal brasileira ficou tão grande nos últimos dias que agora ele é o menor em bastante tempo. Tivemos de arriscar romper a corda, com discussão (reconhecida pelo presidente em live) sobre furar o teto de gastos e especulações (devidamente negadas pelo presidente e pelo próprio ministro) de saída de Paulo Guedes do governo, para agora retomar o caminho das reformas fiscais, liberais e estruturantes.

Mais uma vez, precisamos nos assustar com a disparada do dólar e dos juros futuros e com o risco de saída do ministro para voltarmos a debater questões essenciais, que haviam sido deixadas em segundo plano. Obviamente, em um contexto de pandemia, todos viramos keynesianos — se até Kenneth Rogoff foi convertido, o que seria de nós? Mas então veio a ideia de que um pouco mais de gasto eleva a popularidade do presidente, uma ala do governo cobrava por mais dispêndios, ficou difícil manter o teto de gastos em 2021 diante de tantas despesas obrigatórias e do pouco espaço fiscal, perdemos dois secretários importantes… opa, para imediatamente! Caso contrário, vamos furar o teto e voltamos às mesmas condições de 2016 — as consequências são conhecidas.

Leia Também

Então, o que acontece agora provavelmente?

De forma curiosa, ao flertarmos com o abismo, com a chance de perdermos o apoio do empresariado e da Faria Lima/Leblon, com a probabilidade de chegarmos em 2022 tendo que subir juros e jogar a economia na recessão (o que impactaria negativamente a campanha eleitoral, claro), com o risco de ser associado a uma política econômica semelhante àquela de Dilma, Mantega e Arno, voltamos mais fortes em prol do fiscalismo.

Arrumamos, sim, algum dinheiro para obras, sobretudo no Nordeste, e também para o Renda Brasil. Mas isso vem acompanhado de gatilhos para conter despesas obrigatórias e garantir o cumprimento de gastos.

De forma pragmática, aumentamos dramaticamente a popularidade do presidente, com Renda Brasil e mais obras; melhoramos a relação com o Congresso e com a ala perdulária do governo (percamos a ingenuidade e entendamos que um governo nunca é uma unidade fechada sem visões antagônicas em si); incrementamos as chances de reeleição, afastando o risco sempre importante de retorno da esquerda realmente intervencionista ao poder. Tudo isso sob um custo fiscal razoavelmente baixo; inclusive, se conseguirmos fazer algo institucional e estrutural sobre gatilhos para contenção de despesas obrigatórias, podemos até ter um impacto negativo no Orçamento de 2021 do Renda Brasil e das obras requeridas, mas, em termos líquidos, ganhamos em termos de ajuste fiscal estrutural de longo prazo. Perdemos um pouco agora, para dar um passo na direção de um plano de voo crível.

Talvez de maneira contraintuitiva, parte do mercado parece não ter compreendido que podemos estar melhores agora em termos de riscos estruturais. O Renda Brasil é algo barato para garantir popularidade. Mais do que isso, com popularidade e sem risco de impeachment, o presidente pode se focar em outras medidas menos populares e de rigidez fiscal. Em termos objetivos, lembremos que o Lula 1 avançou em matéria fiscal com ortodoxia na política econômica, enquanto mantinha-se popular nas camadas mais baixas a partir do Bolsa Família, que era um programa bom e barato.

Lembremos ainda de duas questões importantes. Um programa de renda mínima aparece em várias cartilhas liberais — Hayek, por exemplo, defendeu em diversas situações algo nessa linha. Ao mesmo tempo, em um país tão desigual, um programa como o Renda Brasil é bastante defensável — o impacto social é brutal e essa inclusive é uma demanda global crescente, não sendo sobremaneira uma particularidade brasileira. Yuval Harari é um dos que chama atenção para o problema. Se, no século 20, a discussão era de uma classe capitalista que explorava uma classe operária sem alternativas com a mais-valia, o que será agora, visto que a classe operária sequer tem utilidade, pois suas funções são mais bem executadas por robôs? Aqueles antes explorados agora enfrentam uma situação ainda pior, a do completo desprezo. Se tinham uma função clara, agora nem isso resta. Num cenário assim, será crescente a demanda por um maior cuidado do Estado às classes menos favorecidas, e programas de renda mínima tendem a aparecer com mais frequência no mundo todo.

Eduardo Giannetti aponta uma contradição pertinente e curiosa sobre o Brasil: apesar de nosso subdesenvolvimento, carregamos conosco algum tipo de felicidade acima da média, o que ele chama de “vitalidade iorubá” — inclusive, questiona se isso poderia se manter conforme avançamos no processo civilizatório. Talvez pudéssemos adicionar uma outra: Macunaíma é o herói duplamente preguiçoso, mas, mesmo sem nenhum caráter, tem uma característica antifrágil. Ele volta mais forte a cada choque. O risco fiscal brasileiro ficou tão grande que agora ele diminuiu. Câmbio e juros parecem fora do lugar.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

COMPARTILHAR

Whatsapp Linkedin Telegram
INSIGHTS ASSIMÉTRICOS

Chile vira a página — o Brasil vai ler ou rasgar o livro?

16 de dezembro de 2025 - 7:13

Não por acaso, ganha força a leitura de que o Chile de 2025 antecipa, em diversos aspectos, o Brasil de 2026

EXILE ON WALL STREET

Felipe Miranda: Uma visão de Brasil, por Daniel Goldberg

15 de dezembro de 2025 - 19:55

O fundador da Lumina Capital participou de um dos episódios de ‘Hello, Brasil!’ e faz um diagnóstico da realidade brasileira

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Dividendos em 2026, empresas encrencadas e agenda da semana: veja tudo que mexe com seu bolso hoje

15 de dezembro de 2025 - 7:47

O Seu Dinheiro traz um levantamento do enorme volume de dividendos pagos pelas empresas neste ano e diz o que esperar para os proventos em 2026

VISÃO 360

Como enterrar um projeto: você já fez a lista do que vai abandonar em 2025?

14 de dezembro de 2025 - 8:00

Talvez você ou sua empresa já tenham sua lista de metas para 2026. Mas você já fez a lista do que vai abandonar em 2025?

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Flávio Day: veja dicas para proteger seu patrimônio com contratos de opções e escolhas de boas ações

12 de dezembro de 2025 - 8:26

Veja como proteger seu patrimônio com contratos de opções e com escolhas de boas empresas

SEXTOU COM O RUY

Flávio Day nos lembra a importância de ter proteção e investir em boas empresas

12 de dezembro de 2025 - 6:07

O evento mostra que ainda não chegou a hora de colocar qualquer ação na carteira. Por enquanto, vamos apenas com aquelas empresas boas, segundo a definição de André Esteves: que vão bem em qualquer cenário

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

A busca pelo rendimento alto sem risco, os juros no Brasil, e o que mais move os mercados hoje

11 de dezembro de 2025 - 8:23

A janela para buscar retornos de 1% ao mês na renda fixa está acabando; mercado vai reagir à manutenção da Selic e à falta de indicações do Copom sobre cortes futuros de juros

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: E olha que ele nem estava lá, imagina se estivesse…

10 de dezembro de 2025 - 19:46

Entre choques externos e incertezas eleitorais, o pregão de 5 de dezembro revelou que os preços já carregavam mais política do que os investidores admitiam — e que a Bolsa pode reagir tanto a fatores invisíveis quanto a surpresas ainda por vir

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

A mensagem do Copom para a Selic, juros nos EUA, eleições no Brasil e o que mexe com seu bolso hoje

10 de dezembro de 2025 - 8:10

Investidores e analistas vão avaliar cada vírgula do comunicado do Banco Central para buscar pistas sobre o caminho da taxa básica de juros no ano que vem

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Os testes da família Bolsonaro, o sonho de consumo do Magalu (MGLU3), e o que move a bolsa hoje

9 de dezembro de 2025 - 8:17

Veja por que a pré-candidatura de Flávio Bolsonaro à presidência derrubou os mercados; Magazine Luiza inaugura megaloja para turbinar suas receitas

INSIGHTS ASSIMÉTRICOS

O suposto balão de ensaio do clã Bolsonaro que furou o mercado: como fica o cenário eleitoral agora?

9 de dezembro de 2025 - 7:25

Ainda que o processo eleitoral esteja longe de qualquer definição, a reação ao anúncio da candidatura de Flávio Bolsonaro deixou claro que o caminho até 2026 tende a ser marcado por tensão e volatilidade

RALI, RUÍDO E POLÍTICA

Felipe Miranda: Os últimos passos de um homem — ou, compre na fraqueza

8 de dezembro de 2025 - 19:58

A reação do mercado à possível candidatura de Flávio Bolsonaro reacende memórias do Joesley Day, mas há oportunidade

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Bolha nas ações de IA, app da B3, e definições de juros: veja o que você precisa saber para investir hoje

8 de dezembro de 2025 - 8:14

Veja o que especialista de gestora com mais de US$ 1,5 trilhão em ativos diz sobre a alta das ações de tecnologia e qual é o impacto para o mercado brasileiro. Acompanhe também a agenda da semana

TRILHAS DE CARREIRA

É o fim da pirâmide corporativa? Como a IA muda a base do trabalho, ameaça os cargos de entrada e reescreve a carreira

7 de dezembro de 2025 - 8:00

As ofertas de emprego para posições de entrada tiveram fortes quedas desde 2024 em razão da adoção da IA. Como os novos trabalhadores vão aprender?

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

As dicas para quem quer receber dividendos de Natal, e por que Gerdau (GGBR4) e Direcional (DIRR3) são boas apostas

5 de dezembro de 2025 - 8:05

O que o investidor deve olhar antes de investir em uma empresa de olho dos proventos, segundo o colunista do Seu Dinheiro

SEXTOU COM O RUY

Tsunami de dividendos extraordinários: como a taxação abre uma janela rara para os amantes de proventos

5 de dezembro de 2025 - 6:02

Ainda que a antecipação seja muito vantajosa em algumas circunstâncias, é preciso analisar caso a caso e não se animar com qualquer anúncio de dividendo extraordinário

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Quais são os FIIs campeões de dezembro, divulgação do PIB e da balança comercial e o que mais o mercado espera para hoje

4 de dezembro de 2025 - 8:29

Sete FIIs disputam a liderança no mês de dezembro; veja o que mais você precisa saber hoje antes de investir

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Copel (CPLE3) é a ação do mês, Ibovespa bate novo recorde, e o que mais movimenta os mercados hoje

3 de dezembro de 2025 - 8:24

Empresa de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica, a Copel é a favorita para investir em dezembro. Veja o que mais você precisa saber sobre os mercados hoje

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Mais empresas no nó do Master e Vorcaro, a escolha do Fed e o que move as bolsas hoje

2 de dezembro de 2025 - 8:16

Titan Capital surge como peça-chave no emaranhado de negócios de Daniel Vorcaro, envolvendo mais de 30 empresas; qual o risco da perda da independência do Fed, e o que mais o investidor precisa saber hoje

INSIGHTS ASSIMÉTRICOS

A sucessão no Fed: o risco silencioso por trás da queda dos juros

2 de dezembro de 2025 - 7:08

A simples possibilidade de mudança no comando do BC dos EUA já começou a mexer na curva de juros, refletindo a percepção de que o “jogo” da política monetária em 2026 será bem diferente do atual

Menu

Usamos cookies para guardar estatísticas de visitas, personalizar anúncios e melhorar sua experiência de navegação. Ao continuar, você concorda com nossas políticas de cookies

Fechar