Adeus, 100 mil pontos: Ibovespa desaba 5,93% na semana e perde os três dígitos com ‘risco coronavírus’ no radar
Numa semana marcada pela explosão de casos de coronavírus no mundo, a aversão ao risco tomou conta do mercado e fez o Ibovespa amargar perdas expressivas, recuando para abaixo dos 100 mil pontos pela primeira vez desde 8 de outubro
O Ibovespa chegou aos 100 mil pontos pela primeira vez em 18 de março de 2019 — na ocasião, não conseguiu se manter acima dos três dígitos no fechamento. Ainda levaria mais três meses para que o índice terminasse um pregão acima deste nível, no dia 19 de junho.
Desde então, o mercado se acostumou a pensar no Ibovespa na casa da centena. Ok, houve alguns períodos de turbulência em que o índice ficou abaixo dessa linha de corte em 2019, mas, de modo geral, a ideia dos 100 mil pontos parecia ter vindo para ficar.
Afinal, não foram poucas as intempéries enfrentadas pelo mercado acionário brasileiro nos últimos meses. Incertezas em relação à reforma da Previdência, tensões no cenário político doméstico, Brexit, guerra comercial, conflitos no Oriente Médio — a bolsa resistiu a todos esses riscos.
Mas um novo oponente mostrou-se forte demais para o Ibovespa: o surto global de coronavírus. Com a disseminação da doença ao redor do mundo, a sombra da desaceleração mundial começou a ganhar contornos cada vez mais palpáveis — e, ao ver o fantasma ganhando corpo, os mercados entraram em pânico.
E, no mercado financeiro, pânico é um gatilho clássico para a redução de riscos — e o investimento na bolsa sempre é visto como uma opção mais arriscada. Assim, sem ter certeza do que pode acontecer no futuro, houve uma venda generalizada de ações nessa semana.
- Eu gravei um vídeo comentando o derretimento dos mercados na semana. Veja abaixo:
Apenas nesta sexta-feira (6), o Ibovespa caiu 4,14%, aos 97.996,77 pontos, fechando abaixo dos 100 mil pontos pela primeira vez desde 8 de outubro de 2019 — é, também, o menor nível de encerramento desde 27 de agosto, quando o índice marcava 97.276,19 pontos.
Leia Também
Com o desempenho de hoje, o Ibovespa amargou uma perda de 5,93% apenas nesta semana — desde o começo de 2020, a baixa acumulada já chega a 15,26%.
A semana também foi ruim nos Estados Unidos, com o Dow Jones, o S&P 500 e o Nasdaq terminando a semana com perdas acumuladas — e olha que, por lá, os desdobramentos das prévias do partido Democrata serviram para dar uma injeção de ânimo e neutralizar parte do pessimismo com o coronavírus.
Medidas extremas
O coronavírus deixou de ser um problema restrito à China e ganhou força mundial nos últimos dias — países como Itália, Coreia do Sul e Estados Unidos tiveram um salto no número de contaminados e de casos fatais. Com isso, um cenário de perda de força da economia global parece cada vez mais plausível.
E, em meio à essa percepção, os bancos centrais do mundo começaram a agir. A autoridade monetária da Austrália, por exemplo, cortou os juros do país, de modo a tentar blindar a economia local dos impactos da doença.
Na terça-feira, contudo, o Federal Reserve (Fed, o banco central americano), tomou uma medida extrema: cortou os juros em 0,5 ponto, de maneira extraordinária — a reunião que decidiria o futuro das taxas ocorrerá apenas no próximo dia 18.
A medida gerou polêmica, uma vez que muitos agentes financeiros interpretaram o passo do Fed como uma prova de que o surto do coronavírus é muito mais grave do que se imagina. E mesmo do lado econômico, há quem defenda que mais estímulos monetários não surtirão efeito, já que a economia dos EUA continua relativamente forte.
Concorde-se ou não com a decisão, fato é que ela foi tomada — e, com isso, uma nova onda de alívio monetário foi desencadeada no mundo. Afinal, se os EUA baixam juros, outras economias automaticamente se veem pressionadas a fazer o mesmo, de modo a manterem a competitividade.
Isso inclui o Brasil. Por aqui, o Copom agora encontra-se numa situação complexa: por um lado, a Selic já está em níveis bastante baixos — e novos cortes podem ter alcance limitado para estimular a atividade. Por outro, com o Fed cortando juros, há uma pressão para que caminho semelhante seja adotado por aqui.
No entanto, um efeito secundário de mais cortes de juros é a desvalorização do dólar — e a moeda americana já está em níveis bastante elevados.
Dólar nas alturas
No mercado de câmbio, o surto de coronavírus provocou uma corrida dos investidores em busca de ativos mais seguros. Ou seja: houve um movimento coordenado de saída de moedas emergentes e um forte aumento na demanda por dólares.
Com isso, o dólar à vista teve mais uma semana de forte valorização ante o real: hoje, a divisa americana até fechou em baixa de 0,38%, a R$ 4,6338, mas, na semana, saltou 3,10%; antes da queda desta sexta-feira, o dólar vinha de uma sequência de 12 sessões consecutivas em alta.
Desde o início do ano, o dólar à vista já acumula ganhos de 15,50%.
A situação piorou muito por aqui a partir do dilema da Selic. Com o mercado não vendo outra alternativa para o Copom senão o prolongamento do ciclo de baixa nos juros, o dólar continuou estressado — afinal, o diferencial em relação aos EUA seguiria estreito.
Assim, o dólar saltou mais de 1% tanto na quarta quanto na quinta-feira, chegando ao patamar inédito de R$ 4,65 — o que, paradoxalmente, fez o mercado tirar um pouco do pé nas apostas de corte de juros. Mas, aparentemente, o cenário está dado: ainda não há consenso quanto à magnitude, mas as apostas são majoritárias em mais quedas na Selic.
Em meio ao caos no câmbio, o Banco Central usou algumas de suas armas para conter o avanço da moeda: fez leilões extraordinários de swap cambial, previamente anunciados — por meio dessa ferramenta, o BC injetou US$ 5 bilhões no sistema.
A postura do BC, no entanto, foi incapaz de reverter a tendência de valorização do dólar. Para analistas e operadores, a autoridade monetária deveria assumir uma postura mais enfática, anunciando programas mais estruturados de alívio ou até mesmo atuando no mercado à vista, como já foi feito no passado.
Petróleo despenca
Em meio às incertezas, o mercado de commodities também foi fortemente atingido, especialmente o petróleo: sem saber se a demanda global será afetada pela doença, o mercado assumiu uma postura defensiva e apostou na queda do produto.
E mesmo a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) não tem um consenso quanto ao futuro. Os membros do grupo não chegaram a um acordo em relação à possibilidade de cortes na produção da commodity — e, como resultado, tanto o WTI quanto o Brent caíram mais de 10% hoje.
Nesse cenário, ações como as da Petrobras tiveram uma semana bastante ruim — outras companhias exportadoras de commodities, como Vale, Usiminas, CSN e Gerdau também sofreram.
Top 5 na semana
Mesmo com tanto pessimismo no horizonte, há ações do Ibovespa que conseguiram fechar a semana no azul. Veja abaixo os cinco papéis de melhor desempenho do índice desde segunda-feira:
- Hypera ON (HYPE3): +15,51%
- Klabin units (KLBN11): +8,99%
- Telefônica Brasil PN (VIVT4): +6,01%
- Ambev ON (ABEV3): +5,36%
- Suzano ON (SUZB3): +4,96%
Na ponta negativa, destaque para IRB ON (IRBR3), que despencou mais de 50% apenas nesta semana em meio ao vexame envolvendo um suposto investimento feito pelo bilionário Warren Buffett na empresa — e que foi desmentido pelo próprio no início da semana.
Veja abaixo as maiores perdedoras do índice desde segunda:
- IRB ON (IRBR3): -50,77%
- Gol PN (GOLL4): -17,77%
- Via Varejo ON (VVAR3): -16,29%
- BTG Pactual units (BPAC11): -14,71%
- BRF ON (BRFS3): -14,53%
JBS (JBSS3), Carrefour (CRFB3), dona do BK (ZAMP3): As empresas que já deixaram a bolsa de valores brasileira neste ano, e quais podem seguir o mesmo caminho
Além das compras feitas por empresas fechadas, recompras de ações e idas para o exterior também tiraram papéis da B3 nos últimos anos
A nova empresa de US$ 1 trilhão não tem nada a ver com IA: o segredo é um “Ozempic turbinado”
Com vendas explosivas de Mounjaro e Zepbound, Eli Lilly se torna a primeira empresa de saúde a valer US$ 1 trilhão
Maior queda do Ibovespa: por que as ações da CVC (CVCB3) caem mais de 7% na B3 — e como um dado dos EUA desencadeou isso
A combinação de dólar forte, dúvida sobre o corte de juros nos EUA e avanço dos juros futuros intensifica a pressão sobre companhia no pregão
Nem retirada das tarifas salva: Ibovespa recua e volta aos 154 mil pontos nesta sexta (21), com temor sobre juros nos EUA
Índice se ajusta à baixa dos índices de ações dos EUA durante o feriado e responde também à queda do petróleo no mercado internacional; entenda o que afeta a bolsa brasileira hoje
O erro de R$ 1,1 bilhão do Grupo Mateus (GMAT3) que custou o dobro para a varejista na bolsa de valores
A correção de mais de R$ 1,1 bilhão nos estoques expôs fragilidades antigas nos controles do Grupo Mateus, derrubou o valor de mercado da companhia e reacendeu dúvidas sobre a qualidade das informações contábeis da varejista
Debandada da B3: quando a onda de saída de empresas da bolsa de valores brasileira vai acabar?
Com OPAs e programas de recompras de ações, o número de empresas e papéis disponíveis na B3 diminuiu muito no último ano. Veja o que leva as empresas a saírem da bolsa, quando esse movimento deve acabar e quais os riscos para o investidor
Medo se espalha por Wall Street depois do relatório de emprego dos EUA e nem a “toda-poderosa” Nvidia conseguiu impedir
A criação de postos de trabalho nos EUA veio bem acima do esperado pelo mercado, o que reduz chances de corte de juros pelo Federal Reserve (Fed) em dezembro; bolsas saem de alta generalizada para queda em uníssono
Depois do hiato causado pelo shutdown, Payroll de setembro vem acima das expectativas e reduz chances de corte de juros em dezembro
Os Estados Unidos (EUA) criaram 119 mil vagas de emprego em setembro, segundo o relatório de payroll divulgado nesta quinta-feira (20) pelo Departamento do Trabalho
Sem medo de bolha? Nvidia (NVDC34) avança 5% e puxa Wall Street junto após resultados fortes — mas ainda há o que temer
Em pleno feriado da Consciência Negra, as bolsas lá fora vão de vento em poupa após a divulgação dos resultados da Nvidia no terceiro trimestre de 2025
Com R$ 480 milhões em CDBs do Master, Oncoclínicas (ONCO3) cai 24% na semana, apesar do aumento de capital bilionário
A companhia vive dias agitados na bolsa de valores, com reação ao balanço do terceiro trimestre, liquidação do Banco Master e aprovação da homologação do aumento de capital
Braskem (BRKM5) salta quase 10%, mas fecha com ganho de apenas 0,6%: o que explica o vai e vem das ações hoje?
Mercado reagiu a duas notícias importantes ao longo do dia, mas perdeu força no final do pregão
SPX reduz fatia na Hapvida (HAPV3) em meio a tombo de quase 50% das ações no ano
Gestora informa venda parcial da posição nas ações e mantém derivativos e operações de aluguel
Dividendos: Banco do Brasil (BBAS3) antecipa pagamento de R$ 261,6 milhões em JCP; descubra quem entra no bolo
Apesar de o BB ter terminado o terceiro trimestre com queda de 60% no lucro líquido ajustado, o banco não está deixando os acionistas passarem fome de proventos
Liquidação do Banco Master respinga no BGR B32 (BGRB11); entenda os impactos da crise no FII dono do “prédio da baleia” na Av. Faria Lima
O Banco Master, inquilino do único ativo presente no portfólio do FII, foi liquidado pelo Banco Central por conta de uma grave crise de liquidez
Janela de emissões de cotas pelos FIIs foi reaberta? O que representa o atual boom de ofertas e como escapar das ciladas
Especialistas da EQI Research, Suno Research e Nord Investimentos explicam como os cotistas podem fugir das armadilhas e aproveitar as oportunidades em meio ao boom das emissões de cotas dos fundos imobiliários
Mesmo com Ibovespa em níveis recordes, gestores ficam mais cautelosos, mostra BTG Pactual
Pesquisa com gestores aponta queda no otimismo, desconforto com valuations e realização de lucros após sequência histórica de altas do mercado brasileiro
Com quase R$ 480 milhões em CDBs do Banco Master, Oncoclínicas (ONCO3) cai mais de 10% na bolsa
As ações da companhia recuaram na bolsa depois de o BC determinar a liquidação extrajudicial do Master e a PF prender Daniel Vorcaro
Hapvida (HAPV3) lidera altas do Ibovespa após tombo da semana passada, mesmo após Safra rebaixar recomendação
Papéis mostram recuperação após desabarem mais de 40% com balanço desastroso no terceiro trimestre, mas onda de revisões de recomendações por analistas continua
Maiores quedas do Ibovespa: Rumo (RAIL3), Raízen (RAIZ4) e Cosan (CSAN3) sofrem na bolsa. O que acontece às empresas de Rubens Ometto?
Trio do grupo Cosan despenca no Ibovespa após balanços fracos e maior pressão sobre a estrutura financeira da Raízen
Os FIIs mais lucrativos do ano: shoppings e agro lideram altas que chegam a 144%
Levantamento mostra que fundos de shoppings e do agronegócio dominaram as maiores valorizações, superando com sobra o desempenho do IFIX
