Copom acena um ajuste na Selic, não um prolongado ciclo de cortes
Banco Central faz uma longa discussão sobre juro estrutural, indica que há espaço para novos cortes, mas ele seria menor do que o mercado estima

A ata do Comitê de Política Monetária (Copom) indica que haveria espaço para corte adicionais da Selic, que foi reduzida de 6,5% para 6% ao ano na semana passada. Mas reforça que essa avaliação “não restringe sua próxima decisão”.
Apesar desse espaço para juro menos, uma primeira leitura do documento sugere que ele não seria tão grande quanto o mercado espera, onde as projeções estão entre 5,25%, na mediana do Focus, ou até abaixo disso, como o 4,75% do Bank of America Merrill Lynch.
Antes de seguir adiante nessa complexa discussão, se o BC cortar até 5,5% ou 5%, pouco muda o cenário de investimentos. Como já escrevemos, acabou a mamata do juro, o tal 1% ao mês vai exigir tomada de risco e sofisticação dos investimentos. Fica a aqui a dica de leitura da matéria da Julia Wiltgen sobre o que fazer com a Selic voltando a cair. Também deixo como sugestão o nosso e-book gratuito sobre perspectivas de investimento no segundo semestre.
Resumindo em poucas palavras, o BC acena um ajuste na Selic e não um ciclo prolongado de cortes. Essa impressão surge quanto consideramos a discussão feita sobre a relação da reforma da Previdência com a taxa neutra de juros (aquela que promove o máximo crescimento com inflação nas metas).
Basicamente, o Copom diz que está lidando com um problema de timing. Em um primeiro momento, a reforma tenderia a elevar a taxa neutra, pois promove um aumento da demanda agregada via investimentos. No entanto, em um segundo momento, esse aumento nos investimentos tenderia a elevar a capacidade de crescimento. No fim, “o Copom entende que a reforma contribui para redução gradual da taxa de juros estrutural da economia”.
Além dessa complexa discussão, o documento divulgado nesta manhã está “vencido” em termos de sinalizações sobre o cenário externo, tendo em vista a acentuada piora que tivemos desde o fim da semana passada, com Estados Unidos e China embarcando em uma guerra cambial.
Leia Também
Na ata, o BC fala que o “cenário evoluiu de maneira benigna”, considerando os afrouxamentos monetários feitos por outros BCs de economias desenvolvidas. A única ressalva é que: “não obstante essa melhora, os membros do Copom avaliam que os riscos associados a uma desaceleração da economia global permanecem e que incertezas sobre políticas econômicas e de natureza geopolítica – notadamente as disputas comerciais e tensões geopolíticas – podem contribuir para um crescimento global ainda menor”.
Fica a expectativa, agora, com uma atualização dessa percepção do Copom sobre o quadro externo e como isso pode vir a afetar o balanço de riscos e as projeções e expectativas de inflação. Lembrando que o dólar está flertando com os R$ 4 contra os R$ 3,75 utilizados para fazer as projeções de inflação.
Reformas x juro neutro
O Copom volta a afirmar que a conjuntura prescreve política monetária estimulativa, ou seja, com taxas de juros abaixo da taxa estrutural. Para o BC, as atuais taxas de juros reais ex-ante, que oscilam entre 1,6% a 1,7% ao ano, têm efeito estimulativo sobre a economia. Esse juro real é calculado levando em conta o swap de juro de 360 dias descontado da inflação projetada para 12 meses.
O BC explica que a taxa de juros estrutural é um ponto de referência para a condução da política monetária. Quando essa política produz uma taxa de juros real abaixo da taxa estrutural, ela provê estímulos para a atividade econômica e contribui para um aumento da inflação. (Estamos em algum ponto desse quadro).
A taxa estrutural é uma variável não observável e a atividade econômica e a inflação dependem de diversos outros fatores. Assim, diz o BC, estimativas dessa taxa envolvem elevado grau de incerteza e são continuamente reavaliadas. Há uma intensa discussão no mercado e na academia desde meados do ano passado sobre qual seria essa taxa, algo próximo a 4% ou mais para 2,5% ou 2%? Quanto menor o juro real em comparação com essa taxa, mais estimulativa está a política monetária.
A cada reunião, o Copom avalia se a taxa Selic está em nível adequado, tendo em vista todos os fatores que influenciam a evolução das projeções e expectativas de inflação, do balanço de riscos e da atividade econômica. Isso envolve avaliar se o grau de estímulo monetário está adequado.
Feita essa introdução (sim, o tema é complexo), o BC abre um pouco a discussão sobre a taxa neutra ou estrutural que acontece dentro do colegiado. Algo que não tinha sido feito até então.
Na visão do Copom, a taxa de juros estrutural embute dois componentes: taxa estrutural livre de risco e prêmio de risco.
Reformas e outras mudanças no ambiente econômico podem afetar a taxa estrutural de maneiras distintas, dependendo de seus efeitos sobre esses dois componentes.
O componente livre de risco depende dos determinantes estruturais do consumo e poupança, de um lado, e do investimento, de outro. Por meio desse componente, fatores que aumentam de maneira persistente a disposição de investir pressionam a taxa de juros estrutural da economia para cima.
Entretanto, esses mesmos fatores podem contribuir para redução da taxa estrutural por meio da queda do prêmio de risco se implicarem aumento do potencial de crescimento da economia e, portanto, maior sustentabilidade da política fiscal. (Aqui está formalizado o problema de timing que falamos acima).
Para o BC, a reforma da Previdência reduz o ritmo de crescimento dos gastos do governo, aumentando a poupança pública ao adequar as regras para aposentadoria à estrutura e dinâmica demográficas do país.
Além disso, a reforma também gera incentivos para um aumento da taxa de poupança por parte da população, visando sustentar um certo padrão de consumo após a aposentadoria.
“Por esses canais, a reforma contribui para redução do componente livre de risco da taxa de juros estrutural da economia brasileira”, diz o Copom.
A reforma da Previdência também reduz o componente de prêmio de risco da taxa de juros estrutural, pois melhoram as perspectivas de sustentabilidade fiscal.
Por outro lado, a reforma induz aumento da oferta de trabalho e tende a estimular investimentos privados ao reduzir incertezas sobre aspectos fundamentais da economia brasileira.
Depois dessa longa explicação, o Copom apresenta sua conclusão: “Considerando apenas esses dois últimos canais, a reforma tenderia a elevar a taxa de juros estrutural. Não obstante a complexidade dos canais pelos quais a reforma da Previdência pode influenciar a taxa de juros estrutural da economia brasileira, quando se considera o seu efeito líquido, o Copom entende que a reforma contribui para redução gradual da taxa de juros estrutural da economia.”
Mais reformas
Na ata o BC reconhece o avanço concreto da reforma da Previdência, que foi aprovada em primeiro turno na Câmara dos Deputados. Mas volta a enfatizar que eventual frustração com a agenda de reformas é um risco preponderando no seu balanço.
Também há renovado destaque à importância de outras reformas, além da Previdência, e ajustes na economia para a consolidação de um cenário benigno para a inflação prospectiva.
Atividade e FGTS
Para o BC, os dados recentes de atividade econômica sugerem possibilidade de retomada do processo de recuperação, que tinha sido interrompido nos últimos trimestres.
Para o Copom, o Produto Interno Bruto (PIB) deve ficar estável ou apresentar ligeiro crescimento no segundo trimestre, com alguma aceleração nos trimestres seguintes.
Aceleração que deve ser reforçada pelos estímulos decorrentes da liberação de recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e PIS-Pasep.
Entre agosto e março de 2020, a liberação de recursos de contas ativas e inativas do FGTS e do PIS/Pasep deve jogar R$ 42 bilhões na economia, gerando um crescimento adicional de 0,35 ponto percentual do PIB em 12 meses (contas do governo).
Mesmo com essa ajuda do FGTS, o Copom pondera que seu cenário básico, excluindo estímulos temporários, supõe ritmo de crescimento gradual da economia.
Para o BC, a economia segue operando com alto nível de ociosidade dos fatores de produção, refletido nos baixos índices de utilização da capacidade da indústria e, principalmente, na taxa de desemprego.
Condições financeiras
O Copom também apresenta uma interessante discussão sobre as condições financeiras, que tiveram “distensão relevante” nos meses recentes. Essa distensão se verifica tanto no preços dos ativos quanto na dinâmica dos mercados de crédito e de capitais
“O Comitê atribui esse movimento basicamente às expectativas de ajuste no grau de estímulo da política monetária, à evolução benigna das condições financeiras nos mercados globais e às perspectivas de melhoria dos fundamentos da economia brasileira decorrentes do progresso na agenda de reformas e ajustes necessários na economia”
Em suma, o mercado se antecipou ao Copom e reduziu o custo do dinheiro ao longo do tempo.
Ibovespa rompe máxima e garante ganhos no mês: o que o investidor pode esperar para a semana na bolsa
Confira também quais foram os vencedores e perdedores dos últimos cinco dias e como foi o comportamento do dólar no período
Todo cuidado é pouco: bolsa pode não estar tão barata como parece — saiba por que gestor faz esse alerta agora
Para André Lion, sócio da Ibiuna Investimentos, é difícil dizer se a valorização do Ibovespa, observada até agora, continuará
FIIs: confira os melhores fundos imobiliários para investir em maio, segundo o BTG
Segundo o banco, carteira do mês é voltada para investidores que buscam renda mensal isenta de IR, com diversificação entre as classes de ativos
O detalhe da inflação de abril que pode tirar o sono de Galípolo e levar o Copom a esticar ainda mais a corda dos juros
Inflação medida pelo IPCA desacelerou de 0,56% para 0,43% na passagem de março para abril de 2025, praticamente em linha com a mediana das estimativas dos analistas
Ações da Gol (GOLL4) derretem mais de 30% na B3 após aérea propor aumento de capital bilionário
A aérea anunciou nesta manhã que um novo aumento de capital entre R$ 5,32 bilhões e R$ 19,25 bilhões foi aprovado pelo conselho de administração.
“O Itaú nunca esteve tão preparado para enfrentar desafios”, diz CEO do bancão. É hora de comprar as ações ITUB4 após o balanço forte do 1T25?
Para Milton Maluhy Filho,após o resultado trimestral forte, a expressão da vez é um otimismo cauteloso, especialmente diante de um cenário macroeconômico mais apertado, com juros nas alturas e desaceleração da economia em vista
Banco Central autoriza financeiras a emitir LCI
O Banco Central também informou que a decisão foi sugerida por consulta pública em 2024, quando a autarquia pôs em consulta a consolidação das normas das financeiras.
Uma janela para a bolsa: Ibovespa busca novos recordes em dia de IPCA e sinais de novo estágio da guerra comercial de Trump
Investidores também repercutem a temporada de balanços do primeiro trimestre, com destaque para os números do Itaú e do Magazine Luiza
Multiplicação histórica: pequenas empresas da bolsa estão prestes a abrir janela de oportunidade
Os ativos brasileiros já têm se valorizado nas últimas semanas, ajudados pelo tarifaço de Trump e pelas perspectivas mais positivas envolvendo o ciclo eleitoral local — e a chance de queda da Selic aumenta ainda mais esse potencial de valorização
Itaú (ITUB4) tem lucro quase 14% maior, a R$ 11,1 bilhões, e mantém rentabilidade em alta no 1T25
Do lado da rentabilidade, o retorno sobre o patrimônio líquido médio atingiu a marca de 22,5% no primeiro trimestre; veja os destaques
Ibovespa bate máxima histórica nesta quinta-feira (8), apoiado pelos resultados do Bradesco (BBDC4) e decisões da Super Quarta
Antes, o recorde intradiário do índice era de 137.469,27 pontos, alcançado em 28 de agosto do ano passado
Bradesco (BBDC4) salta 15% na B3 com balanço mais forte que o esperado, mas CEO não vê “surpresas arrebatadoras” daqui para frente. Vale a pena comprar as ações do banco?
Além da surpresa com rentabilidade e lucro, o principal destaque positivo do balanço veio da margem líquida — em especial, o resultado com clientes. É hora de colocar BBDC4 na carteira?
Muito acima da Selic: 6 empresas pagam dividendos maiores do que os juros de 14,75% — e uma delas bateu um rendimento de 76% no último ano
É difícil competir com a renda fixa quando a Selic está pagando 14,75% ao ano, mas algumas empresas conseguem se diferenciar com suas distribuições de lucros
Trump anuncia primeiro acordo tarifário no âmbito da guerra comercial; veja o que se sabe até agora
Trump utilizou a rede social Truth Social para anunciar o primeiro acordo tarifário e aproveitou para comentar sobre a atuação de Powell, presidente do Fed
Não há escapatória: Ibovespa reage a balanços e Super Quarta enquanto espera detalhes de acordo propalado por Trump
Investidores reagem positivamente a anúncio feito por Trump de que vai anunciar hoje o primeiro acordo no âmbito de sua guerra comercial
Itaú Unibanco (ITUB4) será capaz de manter o fôlego no 1T25 ou os resultados fortes começarão a fraquejar? O que esperar do balanço do bancão
O resultado do maior banco privado do país está marcado para sair nesta quinta-feira (8), após o fechamento dos mercados; confira as expectativas dos analistas
Retorno da renda fixa chegou ao topo? Quanto rendem R$ 100 mil na poupança, em Tesouro Selic, CDB e LCI com a Selic em 14,75%
Copom aumentou a taxa básica em mais 0,50 ponto percentual nesta quarta (7), elevando ainda mais o retorno das aplicações pós-fixadas; mas ajuste pode ser o último do ciclo de alta
Mesmo com apetite ao risco menor, Bradesco (BBDC4) supera expectativas e vê lucro crescer quase 40% no 1T25, a R$ 5,9 bilhões
Além do aumento na lucratividade, o banco também apresentou avanços na rentabilidade, com inadimplência e provisões contidas; veja os destaques
Selic chega a 14,75% após Copom elevar os juros em 0,5 ponto percentual — mas comitê não crava continuidade do ciclo de alta
Magnitude do aumento já era esperada pelo mercado e coloca a taxa básica no seu maior nível em quase duas décadas
Bitcoin (BTC) sobrevive ao Fed e se mantém em US$ 96 mil mesmo sem sinal de corte de juros no horizonte
Outra notícia, que também veio lá de fora, ajudou os ativos digitais nas últimas 24 horas: a chance de entendimento entre EUA e China sobre as tarifas