A decisão da Arábia Saudita de suspender a compra de carne de frango do Brasil seria uma retaliação à ideia estudada pelo governo Bolsonaro de mudar a embaixada brasileira em Israel de Tel-Aviv para Jerusalém. A informação foi divulgada pelo secretário-geral da Liga Árabe, Amr Moussa, durante as reuniões do Fórum Econômico Mundial em Davos.
Segundo Moussa, "o mundo árabe está enfurecido (com o Brasil), e essa é uma expressão de protesto contra uma decisão errada por parte do país". O secretário árabe também disse que "os países árabes seguem sem entender o motivo pelo qual o novo presidente do Brasil trata o mundo árabe desta forma". Para ele, a única forma de evitar pautas hostis como a decisão saudita é o governo brasileiro desistir da ideia.
Barrados na fronteira
O governo saudita anunciou nesta terça-feira, 22, ter descredenciado 33 unidades habilitadas a exportar carne de frango para o país, de um total de 58. No Brasil, a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) esclareceu que das 58 plantas 30 estavam de fato exportando o produto para os sauditas. E destas 30, 25 continuam habilitadas.
O movimento teve forte impacto na bolsa, sobretudo sobre a BRF e a Marfrig. Ações ordinárias da Marfrig lideravam as perdas do Ibovespa nesta tarde e caíam 4,31% às 16h30. No mesmo momento, papéis da BRF perdiam 4,16%.
Vale lembrar que, há poucas semanas, a Liga Árabe decidiu aumentar a pressão sobre o governo de Bolsonaro e aprovou, no Cairo, uma resolução pedindo que o Brasil "respeite o direito internacional" e que abandone a ideia de mudar a embaixada do País de Tel-Aviv para Jerusalém.
Outra decisão anunciada por Cairo foi o envio de uma "delegação de alto escalão" ao Brasil para lidar com a crise e para informar ao novo governo de Bolsonaro da necessidade de "cumprir o direito internacional" no que se refere à situação de Jerusalém.
Governo reage
Membros do governo Bolsonaro também reagiram à fala do secretário-geral da Liga Árabe. O ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, afirmou que "não dá para saber se decisão dos sauditas teve viés ideológico".
Já o presidente em exercício, Hamilton Mourão, disse que a intenção do presidente Jair Bolsonaro de mudar a embaixada em Israel não deveria ser motivo para um embargo saudita, à medida que ainda não foi concretizada.
"A embaixada não está mudada ainda, o pessoal está se antecipando ao inimigo", declarou Mourão, quando perguntado se a suspensão seria uma retaliação.
*Com Estadão Conteúdo.