🔴 EVENTO GRATUITO: COMPRAR OU VENDER VALE3? INSCREVA-SE

Victor Aguiar
Victor Aguiar
Jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero e com MBA em Informações Econômico-Financeiras e Mercado de Capitais pelo Instituto Educacional BM&FBovespa. Trabalhou nas principais redações de economia do país, como Bloomberg, Agência Estado/Broadcast e Valor Econômico. Em 2020, foi eleito pela Jornalistas & Cia como um dos 10 profissionais de imprensa mais admirados no segmento de economia, negócios e finanças.
Levíssimo?

Na BRF (BRFS3), um começo de ano horripilante — e uma teleconferência para tentar resgatar a confiança do mercado

A BRF (BRFS3) viu suas margens piorarem drasticamente no trimestre, em meio à alta dos custos e ajustes na cadeia de produção

Victor Aguiar
Victor Aguiar
5 de maio de 2022
14:01 - atualizado às 0:10
Comercial da Sadia, marca da BRF (BRFS3), mostrando o peru que é símbolodo da marca enrolado em cabos
Imagem: Divulgação

Poucos minutos após as 10 horas, Lourival Luz, CEO da BRF, deu boas-vindas aos analistas e investidores que estavam presentes na teleconferência de resultados trimestrais da companhia. Em paralelo, as ações BRFS3 começavam a ser negociadas na bolsa — e os primeiros movimentos do dia deixavam clara a insatisfação do mercado com o balanço da companhia: logo na abertura, os papéis já ensaiavam uma queda de cerca de 10%.

"Não foi um trimestre bom, foi aquém da nossa capacidade, aquém do que gostaríamos", disse Luz, numa espécie de mea-culpa pelo desempenho da BRF entre janeiro e março deste ano. O prejuízo de R$ 1,5 bilhão, somado à fraqueza vista nas operações do Brasil, surpreenderam até os analistas que não estavam lá muito confiantes com a empresa.

É verdade: o dia está particularmente duro para o mercado de ações brasileiro. Por volta das 12h20, o Ibovespa despencava cerca de 3,5%, e quase todos os ativos do índice operavam no vermelho. Dito isso, a perplexidade gerada pelo balanço da BRF no primeiro trimestre ajuda a puxar seus papéis para baixo, a patamares de preço que não eram vistos há anos.

Dando uma dimensão mais precisa: na mínima do dia, as ações BRFS3 chegaram a ser negociadas a R$ 11,77, cotações que não eram vistas desde abril de 2009 — nas máximas históricas, em 2015, os papéis chegaram a superar o nível de R$ 70,00.

"Tomamos decisões e impactos ocorreram, mas o primeiro trimestre ficou para trás. O cenário para 2022, de forma geral, é positivo", continuou Luz. "Temos confiança na reversão desses resultados".

Gráfico com o comportamento das ações da BRF (BRFS3) desde o começo dos anos 2000. Somente em 2022, os papéis amargam perdas de mais de 40%. Fonte: B3

BRF: piora generalizada

Mas o que aconteceu de tão ruim com a BRF (BRFS3) no primeiro trimestre deste ano?

A priori, a linha de receita líquida não foi trágica: R$ 12 bilhões entre janeiro e março, cifra 13,7% maior na base anual e que ficou apenas ligeiramente abaixo das expectativas do mercado. Mas, a partir daí, os efeitos negativos começam a se acumular.

Começando pelos custos, que saltaram quase 30% na mesma base de comparação e se aproximaram de R$ 11 bilhões. E, com os gastos crescendo num ritmo superior à receita, a margem bruta da BRF desabou 10,5 pontos percentuais (p.p.) em um ano, para 9,2%.

O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) foi de R$ 121 milhões, recuando quase 90% ante os três primeiros meses de 2021 — o consenso do mercado apontava para um resultado superior a R$ 900 milhões. Por fim, o prejuízo de R$ 1,5 bilhão foi muito maior do que as previsões mais pessimistas dos analistas.

Essa visão geral da BRF consolidada é bastante incômoda, mas o quadro fica ainda pior quando analisamos o balanço com uma lupa. Ao olharmos para as divisões da empresa de maneira separada, é possível ver que algumas áreas em específico tiveram um desempenho surpreendentemente fraco neste começo de ano.

E o destaque negativo ficou justamente com as operações do Brasil, responsáveis por quase metade da geração de receita da companhia. Por aqui, os custos dispararam e a demanda dos consumidores mostrou-se bastante desfavorável, dada a inflação pesada e a perda no poder de compra da população.

Custos e ajustes, os vilões da BRF

Pois vamos, então, falar do Brasil: as vendas da BRF (BRFS3) por aqui chegaram a 549 mil toneladas, alta de 2,6% em um ano — suínos e processados tiveram um crescimento, enquanto a demanda por aves recuou. Mas se, em volume, as coisas parecem razoáveis, o quadro muda drasticamente ao analisarmos o lado financeiro.

A receita líquida do Brasil somou R$ 2,88 bilhões, avançando 9,1% na base anual. Mas, por outro lado, o custo dos produtos vendidos disparou 35%, para R$ 5,69 bilhões. Com isso, a margem bruta das operações domésticas desabou para meros 3,3% — no primeiro trimestre do ano passado, estava em 21,6%.

E, ainda pior: o Ebitda da divisão brasileira ficou negativo em R$ 411 milhões entre janeiro e março deste ano.

O xis da questão, naturalmente, é a linha de custos: houve uma espécie de 'tempestade perfeita', combinando uma alta nos preços de milho e farelo de soja — os insumos para a ração animal —, elevação nos gastos com frete (os combustíveis, afinal, dispararam neste começo de ano), e subida forte nas despesas com embalagens, tanto plástico quanto papelão.

Mas falar sobre os custos sob a ótica dos insumos é contar apenas metade da história da BRF no trimestre. O grande problema foi a incapacidade da empresa de repassar essa elevação aos consumidores; na verdade, a companhia precisou fazer o contrário, promovendo descontos e promoções para não ficar com estoques elevados demais.

Ou seja: o volume vendido, que parece saudável a primeira vista, ocorreu às custas do preço dos produtos, derrubando as margens — uma constatação que muitos analistas classificaram como um erro de execução da estratégia.

Para evitar esse descasamento entre a demanda e os estoques daqui para frente, a BRF optou por promover "ajustes de cadeia": redução no abate e no ritmo de corte, alteração no mix de produtos vendidos, dando preferência a produtos mais baratos e que se adequem ao momento mais difícil do mercado consumidor e outras medidas. Esses ajustes, por si só, aumentaram a linha de custos total em R$ 422 milhões.

Por fim, houve ainda um impacto extraordinário com hedge de commodities agrícolas; com a disparada nos preços do milho e do farelo de soja, a empresa contabilizou perdas de R$ 406 milhões com suas políticas de proteção — os mecanismos adotados pela BRF acabaram não tendo um resultado adequado.

Saindo do Brasil, a BRF também encontrou dificuldades no trimestre: na Ásia, a demanda por todos os tipos de cortes e processados caiu, resultando em outro desempenho fraco e Ebitda negativo; quem amenizou parte dos problemas foi a operação Halal, que se expandiu em termos de volume e teve crescimento no lucro e Ebitda.

Em seu relatório trimestral, a BRF (BRFS3) destaca que, caso os 'efeitos extraordinários' sejam descontados, o Ebitda da companhia se aproximaria de R$ 1 bilhão no primeiro trimestre. Fonte: BRF

E agora?

Conforme dito no começo do texto, Lourival Luz, o CEO da BRF (BRFS3), não se esquivou em admitir a fraqueza da empresa no primeiro trimestre; sendo assim, seu foco durante boa parte da teleconferência foi o futuro da companhia — e a tentativa de passar uma mensagem de que o pior ficou para trás.

A começar pelos ajustes vistos neste começo de ano: o executivo ressaltou que tanto as perdas com hedge quanto os ajustes de cadeia foram pontuais e não serão mais vistos daqui em diante — as mudanças sistemáticas no abate, corte e mix de produção, inclusive, devem amenizar as linhas de custo e permitir margens mais elevadas.

"Vamos simplificar a operação como um todo, o modo de operar em várias frentes, em todos os níveis. Vamos, inclusive, deixar de fazer algumas coisas", disse Luz, sem dar mais detalhes — ele adiantou que o plano oficial será reportado "em breve", dizendo apenas que a venda de ativos ou a descontinuidade de operações não está inclusa.

No lado de perspectivas operacionais, a BRF diz ver uma "recuperação sequencial" da demanda, após um mês de janeiro bastante fraco. Dado o ambiente inflacionário bastante elevado no país e a disparada da carne bovina, a empresa vê uma oportunidade para ganho de participação de mercado — aves e embutidos, dois pontos fortes da companhia, podem ver um aumento de demanda em detrimento de outros cortes mais caros.

O CEO da BRF também abordou o plano estratégico da empresa para 2030, divulgado no fim de 2020; na ocasião, era estimada uma receita líquida de mais de R$ 100 bilhões e um crescimento de cerca de 3,5 vezes do Ebitda em dez anos — a ideia também é simplificar e revisitar os números.

Dado o cenário global que a gente vive, as mudanças macro e geopolíticas, faz-se necessária uma ampla e profunda revisão para adequação do plano, revisitando prioridades, avenidas de crescimento, foco. A ambição de longo prazo continua, mas temos que adequar, revisar as prioridades

Lourival Luz, CEO da BRF (BRFS3), em teleconferência com analistas e investidores

A postura do executivo parece ter surtido efeito no mercado: os papéis BRFS3 se afastaram das mínimas e, por volta de 13h20, recuavam "apenas" 5,2%, a R$ 12,95.

BRFS3: analistas decepcionados

Mas, independente da mensagem passada por Luz durante a teleconferência, fato é que o balanço da BRF caiu mal entre os analistas de bancos e casas de investimento. O consenso foi o de que os números apresentados surpreenderam negativamente, ao ponto de causar espanto.

O JP Morgan, por exemplo, soltou um relatório mais cedo com o sugestivo título "Não esperávamos por essa" — o banco americano inclusive não hesitou em rebaixar a recomendação para as ações BRFS3, de neutro para venda. O Itaú BBA fala em "trimestre para esquecer"; o Credit Suisse, em "tempos difíceis"; o BTG Pactual, em "volta ao passado".

Veja abaixo um resumo das recomendações e preços-alvo para as ações BRFS3; quase todas as casas, no entanto, destacam que ainda irão revisar — potencialmente para baixo — as estimativas para a empresa depois dos resultados do primeiro trimestre:

InstituiçãoRecomendaçãoPreço-alvo (R$)Potencial de alta/queda*
JP MorganVenda12,00-12,2%
BTG PactualNeutro25,00+83,0%
Itaú BBANeutro24,00+75,7%
Genial InvestimentosNeutro15,00+9,8%
XPNeutro30,40+122,5%
SantanderCompra25,00+83,0%
Credit SuisseCompra30,00+119,6%
*Em relação ao fechamento de BRFS3 em 4 de maio, de R$ 13,66; Levantamento: Seu Dinheiro

No relatório, o JP Morgan destaca o "erro estratégico" de excesso de produção da BRF, o que culminou na necessidade de ajustes na cadeia e concessão de descontos para regular os estoques. E, apesar do tom otimista da administração da empresa, o banco americano se mostra cético quanto ao futuro.

"A cadeia de suínos é mais difícil de ser ajustado, dado que os ciclos são mais longos que os de aves, e essa situação vai persistir no segundo trimestre", escreve a instituição, citando também que as propostas para simplificação das operações ainda são "vagas".

Mas, mesmo com a decepção generalizada, alguns analistas tentaram ver o copo meio cheio. É o caso do Credit Suisse: para os analistas do banco, os "tempos difíceis" citados no título devem pressionar as ações da BRF para baixo — e, se o patamar mais baixo de preço se concretizar, os investidores podem ter um bom ponto de entrada em BRFS3.

Victor Saragiotto, o analista do Credit Suisse responsável pelo relatório, diz que falar em compra da ação neste momento pode soar "ingênuo" ou "desconfortável", mas que, ao longo do trimestre, a BRF mostrou uma melhora operacional e que essa tendência positiva pode se estender de abril em diante, colocando a companhia num patamar de rentabilidade bem melhor num curto período de tempo.

Compartilhe

MERCADOS HOJE

Esquenta dos mercados: Bolsas internacionais sobem com balanços antes do PIB dos EUA e dados de inflação; Ibovespa acompanha reforma tributária no Congresso e resultados da Vale (VALE3)

24 de abril de 2024 - 6:46

RESUMO DO DIA: As bolsas internacionais tentam emplacar mais um dia de alta. O destaque da noite anterior foi o balanço da Tesla, empresa de carros elétricos de Elon Musk. Os papéis da fabricante chegaram a saltar mais de 10% no pré-mercado em Nova York. Por um lado, os dados trimestrais não vieram lá muito […]

DESTAQUES DA BOLSA

Exame bem feito: Fleury (FLRY3) acerta o diagnóstico com aquisição milionária e ações sobem 4%

23 de abril de 2024 - 14:04

A aquisição marca a entrada do Grupo Fleury em Santa Catarina com a estratégia B2C, o modelo de negócio direto ao consumidor

MERCADOS HOJE

Bolsa hoje: Ibovespa recua com pressão de Vale (VALE3) na véspera do balanço; dólar cai após dados nos EUA

23 de abril de 2024 - 7:06

RESUMO DO DIA: O Ibovespa até começou a semana com o pé direito, mas hoje faltou impulso para sustentar a continuidade de ganhos da véspera O Ibovespa fechou com queda de 0,34%, aos 125.148 pontos. O dólar à vista segue enfraquecido e terminou o dia a R$ 5,1304, com baixa de 0,74%. Por aqui, o […]

SEM PARAR

A bolsa nunca mais vai fechar? O plano da Bolsa de Valores de Nova York para negociar ações 24 horas por dia, sete dias da semana

22 de abril de 2024 - 17:22

O tema esquentou nos últimos anos por conta da negociação de criptomoedas e também por concorrentes da Nyse, que tentam registro para funcionar sem intervalo

EXCLUSIVO

Gestor do Quasar Agro (QAGR11) acusa Capitânia de “estratégia predatória” em disputa sobre FII com mais de 20 mil cotistas na B3 

22 de abril de 2024 - 13:32

A Capitânia solicitou no mês passado uma assembleia para discutir uma possível troca na gestão do fundo imobiliário

MERCADOS HOJE

Bolsa hoje: Com Petrobras (PETR4) e Wall Street, Ibovespa fecha em alta; dólar cai e volta para o nível abaixo de R$ 5,20

22 de abril de 2024 - 6:54

RESUMO DO DIA: A Petrobras (PETR4) deu o tom do pregão mais uma vez e impulsionou o principal índice a bolsa brasileira, mas sem desprezar o apoio de Wall Street. O Ibovespa fechou em alta de 0,36%, aos 125.573 pontos. Já o dólar seguiu a trajetória de queda e fechou a R$ 5,1687, com baixa […]

ANOTE NO CALENDÁRIO

Agenda econômica: Inflação é destaque no Brasil e nos Estados Unidos na mesma semana dos balanços das ‘big techs’

22 de abril de 2024 - 6:20

Também nos EUA serão publicados dados do PIB do primeiro trimestre e diversos outros indicadores, como pedidos de bens duráveis e a balança comercial norte-americana

BOLSA NA SEMANA

Petz (PETZ3) zera as perdas do ano enquanto CVC (CVCB3) despenca quase 15% — veja o que foi destaque na bolsa na semana

20 de abril de 2024 - 12:50

Ibovespa teve uma sequência de seis quedas com a disparada do dólar em meio às incertezas sobre os juros nos EUA

APERTA O PLAY!

Barril de pólvora — e inflação. Como o conflito no Oriente Médio e os juros nos EUA mexem com a bolsa e o dólar

20 de abril de 2024 - 11:02

O podcast Touros e Ursos recebe João Piccioni, CIO da Empiricus Gestão, para comentar a escalada das tensões entre Irã e Israel e a pressão inflacionária nos EUA

VOLTOU ATRÁS

Vitória dos acionistas? Petrobras (PETR4) pode distribuir parte dos dividendos extraordinários após sinal verde de Lula

20 de abril de 2024 - 9:58

O pagamento dos proventos foi aprovado pelo conselho de administração e deve ser votado na assembleia geral na próxima semana

Fechar
Menu

Usamos cookies para guardar estatísticas de visitas, personalizar anúncios e melhorar sua experiência de navegação. Ao continuar, você concorda com nossas políticas de cookies

Continuar e fechar