As ações ON da BRF (BRFS3) estão tendo uma semana daquelas: na terça, subiram 1%; na quarta, avançaram mais 4,55%; na quinta, saltaram outros 5,17%; e, hoje, dispararam 16,28%. O ganho acumulado no período foi de impressionantes 28,8%, versus 0,6% do Ibovespa.
E isso sem que qualquer notícia relevante tenha sido divulgada ao mercado. Quer dizer... Pelo menos não oficialmente.
No início da semana, começaram a surgir rumores de que a Marfrig teria interesse em uma fusão com a BRF, o que justificava o movimento de alta — a tese, no entanto, foi desmontada pelo Brazil Journal, que cravou que tudo não passava de um boato.
Pois a história ficou mais estranha a partir daí: as ações continuaram subindo forte, indicando que algum comprador (ou grupo de compradores) continuava sedento pelas ações da BRF. Em paralelo, havia o dado de que a taxa de aluguel das ações da companhia estava relativamente alta.
Ok, é um típico caso de short squeeze: em geral, quem aluga ações de uma empresa está apostando na queda dos papéis. Assim, um movimento de compra relativamente organizado serviria para "apertar" esses investidores — e, vale lembrar, o vencimento de opções sobre ações da B3 ocorre exatamente nesta sexta.
Essa tese faria sentido se a taxa de aluguel das ações da BRF diminuísse nos últimos dias: ao ver as cotações avançando, os alugados tentariam desmontar a posição o mais rápido possível. Mas, pelo contrário: o nível de aluguel de BRFS3 foi aumentando.
Estranho, muito estranho...
Veja o gráfico abaixo. A linha amarela representa a taxa de aluguel de BRFS3 ao longo do último mês. A linha branca representa a quantidade de ações alugadas.

Marfrig, BRF e um plano
Voltemos à história da Marfrig planejando uma fusão com a BRF. Uma notícia publicada há pouco pelos colegas do Pipeline mostra que o boato não estava tão longe da realidade: aparentemente, a Marfrig é a compradora das ações da BRF nos últimos dias.
E por que ela faria isso? Bem, acionistas que detém uma posição acionária relevante numa companhia também têm um peso maior nas assembleias, podendo interferir nos rumos da empresa por meio dos votos.
E o que explica o comportamento do aluguel: bem, novamente a Marfrig parece estar envolvida. Uma alta forte de uma ação, acompanhada de um volume de aluguel elevado, implica que os locadores não estão preocupados com o preço do ativo.
E há uma característica do aluguel de ações que quase nunca é citada: ao alugar um papel, o locador também passa adiante o direito de participação em assembleia — é o locatário quem pode votar.
Ou seja: se de fato a Marfrig estiver por trás da compra de ações da BRF — e, em paralelo, atuando na ponta do aluguel — a empresa poderá chegar a uma posição suficientemente grande para ter um voz importante nas assembleias da BRF.
Não é uma fusão ou uma compra; é uma espécie de controle mais indireto, de influência.
Por enquanto, nem BRF nem Marfrig soltaram comunicados a respeito de movimentações acionárias relevantes ou qualquer outro mecanismo similar. Mas, de qualquer maneira, o mercado como um todo parece querer surfar na operação, colocando os papéis da BRF numa espiral positiva.

Entramos em contato com a assessoria de imprensa da Marfrig. Assim que obtivermos uma resposta, atualizaremos esse texto.