Felipe Miranda: A neoindustrialização brasileira (e algumas outras tendências)
Fora do ar condicionado e dos escritórios muito bem acarpetados, há um Brasil real de fronteira tecnológica, liderando inovação e produtividade
 
					Leio na Folha de S.Paulo sobre uma posição supostamente frágil da relação comercial brasileira. Segundo estudo do Centro Empresarial Brasil-China publicado em parceria com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, 8 de cada 10 dólares exportados para Pequim derivam de apenas três produtos de nossa pauta de exportações: soja, minério e petróleo.
Diante do exposto, o colunista Igor Patrick defende a típica argumentação desenvolvimentista: aumentar a complexidade produtiva, a partir de uma estratégia de diversificação e inovação.
É sempre difícil combater platitudes como a “necessidade de diversificar e inovar”. Desconfio, porém, haver um "bom mocismo" no discurso incapaz de resistir à real observação da já existente complexidade produtiva nacional.
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Fora do ar condicionado e dos escritórios muito bem acarpetados, há um Brasil real de fronteira tecnológica, liderando inovação e produtividade. A modelagem tradicional entre setor primário (agro e extrativismo) e secundário (indústria) simplifica o desenho, mas sofre de um platonismo alheio à observação empírica objetiva.
Tecnologia e complexidade
Na semana passada, aconteceu a colheita do algodão em Luís Eduardo Magalhães, oeste da Bahia. A cidade não existia até poucas décadas atrás.
Graças a um ímpeto de empreendedores visionários (e um tanto corajosos), hoje oferece algodão a uma produtividade de fazer inveja aos EUA — e conta com uma porção de bilionários (alguns casos de multibilionários), devidamente compensados pela assunção de grandes riscos no passado.
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Ali, encontramos colheitadeiras de alta capacidade com cilindros rotativos da John Deere para puxar as fibras do algodão das maçãs abertas, dirigidas por motoristas especializados com salários entre R$ 10/15 mil por mês, apoiados por georreferenciamento, monitoramento da safra e softwares para aplicação localizada de defensivos.
Assim, otimizamos o tempo da colheita e a qualidade da fibra. Tudo sob gestão impecável dos recursos hídricos e orientação voltada ao respeito ambiental, o que nos permite aproveitar a vantagem comparativa estrutural de plantar o algodão no início da chuva, passar todo o período vegetativo com boa pluviosidade e, no amadurecimento do algodão, a chuva cessa até chegarmos ao momento da colheita.
Será mesmo que a tecnologia e a complexidade embarcadas nesse processo “agrícola" são inferiores àquelas adotadas nas montadoras típicas do ABC paulista, tão defendidas (e subsidiadas) pelo discurso dos keynesianos de quermesse?
Essa conexão entre uma indústria de ponta aplicada ao agro gera riqueza para regiões anteriormente pouco desenvolvidas. Além da melhora regional e da sustentabilidade ao setor externo brasileiro, promove uma posição geopolítica diferenciada do Brasil: seremos responsáveis por prover 80% do aumento do consumo de alimentos do mundo nas próximas décadas!
Décadas de transformações
O país vira (ou deveria virar, ao menos) o epicentro da segurança alimentar global. Evidentemente, num país de proporções continentais, precisamos de infraestrutura para escoar essa produção do tal setor primário. E como são projetos de longo prazo altamente intensivos em capital, haveremos de contar com o mercado de capitais para financiá-los, num momento em que o setor público carece de capacidade financeira e, felizmente, os bancos públicos, sobretudo o BNDES, estão mais disciplinados pela melhoria de governança dos últimos anos.
Nesse escopo específico, há um claro efeito "crowding in”: os bancos públicos cedem seu espaço histórico para bancos privados.
Antes, o empreendedor tinha de recorrer ao BNDES para aprovar o financiamento de um projeto de 10 anos. Era uma década até sua aprovação, para uma década de financiamento! Empate com gosto de derrota.
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Agora, com grande agilidade e boa precificação, pode recorrer a bancos de investimento privados para uma debênture de infraestrutura rapidamente estruturada e distribuída nas plataformas que incluem o investidor de varejo, num funding razoavelmente barato, sem pressão sobre o orçamento público.
É um Brasil diferente, com três setores de destaque em nível global: produção de alimentos, infraestrutura e financeiro, sob apoio de grande disponibilidade de energia, seja limpa (o que nos ajuda para penetrar o universo da inteligência artificial) ou de combustíveis fósseis.
As consequências das transformações das últimas décadas na típica clivagem entre setor primário, secundário e terciário vão além do ambiente estritamente sócio-econômico. Se o passado trazia sindicatos de metalúrgicos ou de bancários bastante fortes e organizados, agora talvez as maiores associações brasileiras sejam de motoboys ou de motoristas de aplicativo.
As demandas desse pessoal são bem diferentes, muito mais parecidas com de microempreendedores. E para essa gente, as maiores motivações são liberdade econômica, menos impostos, desburocratização e flexibilidade.
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A tudo isso se soma uma mudança religiosa importante: o país tipicamente católico agora também é evangélico. Com isso, talvez pudéssemos sonhar com uma versão tropical da “Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo”, como se a teologia da prosperidade nos aproximasse de algum modo de Max Weber.
Há algo no Brasil acontecendo hoje semelhante aos EUA nas décadas de 50 e 60, em seu interior, cada vez mais tecnológico, empreendedor e com uma ética de trabalho.
Essa alteração estrutural da sociedade já se fez perceber nas preferências reveladas nas eleições municipais e parlamentares de 2024. Se vai chegar ao âmbito nacional já em 2026, ainda não dá pra saber. Mas as chances de endireitar o Brasil parecem bastante razoáveis.
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