Como numa partida de xadrez, Aliansce (ALSO3) e brMalls (BRML3) movem suas peças pelo tabuleiro, tentando capturar o rei: uma eventual fusão entre as companhias, criando a maior operadora de shoppings da América Latina. Mas, ao menos por enquanto, o jogo está travado — as companhias não chegam a um acordo, e um xeque-mate nas negociações parece distante. Sendo assim, as duas agora planejam os próximos movimentos.
Após ver suas duas propostas de fusão serem categoricamente negadas, a Aliansce agora parece apostar suas fichas numa assembleia extraordinária da brMalls. A ideia é colocar a combinação de negócios em pauta e, quem sabe, conseguir um sinal verde por parte dos acionistas — uma espécie de cerco às peças da rival.
Essa movimentação estratégica ficou mais clara nesta segunda (21): o CCPIB, fundo de pensão canadense e um dos acionistas majoritários da Aliansce, aumentou sua participação no capital da brMalls, chegando a uma posição de cerca de 10% na empresa.
Vale lembrar que essa não é a primeira vez que a Aliansce e o CCPIB ensaiam essa jogada. Em fevereiro, as duas já tinham montado um bloco com cerca de 11% do capital social da brMalls — na ocasião, a operadora de shoppings era dona direta de pouco mais de 5%, com o restante ficando concentrado com o fundo canadense.
Isso, no entanto, não necessariamente quer dizer que o bloco seja de 15%: não se sabe, por exemplo, se o CCPIB comprou ações da brMalls que eram detidas pela Aliansce ou se as aquisições foram feitas no mercado de capitais. De concreto, apenas a informação de que as peças estão sendo mexidas no tabuleiro.
brMalls (BRML3): defesa e ataque na fusão
E por que a fusão entre Aliansce (ALSO3) e brMalls (BRML3) está tão difícil de ser concretizada? Basicamente, porque as duas não chegam a um acordo quanto aos pormenores financeiros da combinação de negócios.
Na primeira proposta, a Aliansce propôs uma 'fusão de iguais', com cada uma ficando com 50% da nova companhia — termos que foram rejeitados pela administração da brMalls, sob a alegação de que 'subestimavam substancialmente' o valor justo para a empresa e não incluíam um prêmio pelo controle.
Na semana passada, a Aliansce refez a oferta, aumentando o preço a ser pago pela brMalls e dando à rival uma fatia ligeiramente maior no conglomerado, de cerca de 52%. Novamente, a proposta foi rejeitada e, novamente, as condições financeiras foram consideradas insuficientes.
Nesse contexto, a Aliansce afirmou que irá usar seu direito de acionista para convocar uma assembleia extraordinária na brMalls, de modo a colocar em pauta a combinação das operações. O conselho de administração da brMalls, no entanto, dá a entender que não vai recomendar a instalação de uma reunião desse tipo, uma vez que não vê méritos na proposta que está na mesa.
"Está previsto em lei que um acionista pode chamar, mas temos convicção que uma parcela expressiva dos acionistas rejeita os termos", disse Ruy Kameyama, CEO da brMalls, em entrevista ao Pipeline, do Valor Econômico. E quem são os demais acionistas da companhia?
Basicamente, há outros quatro grandes grupos com posições relevantes no capital da companhia: Squadra, VELT Partners, Capital International Investors e Atmos. O Seu Dinheiro entrou em contato com eles, questionando-os a respeito de suas posições numa eventual assembleia extraordinária de acionistas, mas não teve resposta.
Seja como for, esses outros acionistas também parecem estar se movimentando. Há duas fontes de dados a respeito do capital social da brMalls: a versão mais recente do formulário de referência da companhia, arquivada na CVM em 14 de março, e o site de relações com investidores da empresa, atualizado pela última vez no dia 17. Veja as diferenças entre eles:
Acionista | Formulário de referência (14/03) | Site de RI (17/03) |
Atmos | 5,33% | 5,30% |
Aliansce + CCPIB | 11,12% | 7,90% |
Capital International | 5,33% | 10% |
Squadra | 9,48% | 9,50% |
VELT | 5,38% | -- |
Outros | 63,37% | 67,30% |
Tesouraria | -- | -- |
Total | 100,00% | 100,00% |
A análise entre os dois períodos mostra que a VELT deixou de ser um acionista relevante — ela não necessariamente zerou sua posição, mas agora detém menos de 5% do capital da brMalls. Por outro lado, a Capital International aumentou sua presença, enquanto Atmos e Squadra permaneceram praticamente inalterados.
O movimento do CCPIB, chegando a 10% do capital da brMalls, foi comunicado à empresa no dia 18 de março e, portanto, ainda não foi contemplado em nenhum dos canais oficiais da companhia. Novamente: não é possível saber com exatidão qual o tamanho da fatia detida pelo fundo canadense em conjunto com a Aliansce, mas tudo parece estar conectado à possível assembleia extraordinária de acionistas.
Aliansce (ALSO3) e o setor de shoppings
A possível consolidação do setor de shoppings centers ocorre num bom momento para as empresas na bolsa: companhias como Multiplan (MULT3), Iguatemi (IGTI11) e brMalls (BRML3) têm mostrado fôlego na B3, apesar das incertezas do mercado de ações — o alívio nas restrições sociais e os bons resultados do quarto trimestre ajudaram o segmento como um todo. Mesmo a Aliansce (ALSO3), que agora está no vermelho, vinha em tendência de alta até fevereiro.
