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Eslen Brito
Eslen Brito
Repórter multimídia do Seu Dinheiro. Cursa jornalismo na Universidade de São Paulo (ECA-USP) e já passou pela Rádio Alpha FM e pela Jornalismo Júnior.
Rublo em disparada

Apesar de sanções, o rublo está no seu maior patamar em sete anos — mas isso não é uma boa notícia para Putin

Moeda russa se valorizou quase 250% desde março; entenda o que isso representa para a economia do país

Eslen Brito
Eslen Brito
23 de junho de 2022
11:55
Presidente da Rússia, Vladimir Putin
Vladimir Putin, presidente da Rússia - Imagem: Shutterstock

Nos últimos três meses, o rublo se fortaleceu tanto que o banco central da Rússia está tomando medidas diretas para conter a alta da moeda em relação ao dólar. O temor é que as exportações do país percam competitividade.

Apesar das sanções do Ocidente pela invasão da Ucrânia no final de fevereiro, com a finalidade de sufocar o orçamento bélico do presidente Vladimir Putin, a moeda russa passou por uma valorização de 250% desde a cotação mínima deste ano: US$ 0,0072 em 7 de março.

Nesta quinta (23), o rublo era cotado a US$ 54,75 por volta das 10 horas. O que explica essa alta vertiginosa são basicamente três fatores: altos preços das commodities energéticas, controle de capital e, por incrível que pareça, as próprias sanções.

Óleo e gás nas alturas

Como penalidade pelo ataque à Ucrânia, países da União Europeia concordaram em reduzir a compra de petróleo e gás da Rússia, que é líder em exportações nesse setor. 

Em maio, o bloco concordou com o corte de 90% das importações russas até o final do ano. Os 10% restantes se referem às importações via oleoduto, que países como Hungria e Eslovênia continuariam a receber por não terem acesso a fontes alternativas.

Acontece que essas sanções tiveram como consequência o aumento global dos preços das commodities de energia. Assim, mesmo com a redução da compra de óleo e gás russos, a Europa ainda depende do país para seu fornecimento de energia e passou a pagar muito mais caro pelo que ainda importa da Rússia.

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Com o petróleo Brent, referência no mercado internacional, em uma alta de 60% em relação ao mesmo período do ano passado, a Rússia já arrecadou mais de US$ 110 bilhões de janeiro a maio deste ano — mais de 3,5 vezes o superávit do mesmo período de 2021.

Controle de capital: o rublo não tem para onde correr

No início da guerra na Ucrânia, a Rússia limitou a saída de moeda local justamente para evitar sua desvalorização. Pouco tempo depois, esse esforço deixou de ser necessário. Graças às sanções estrangeiras, o país agora tem dificuldade em importar. 

Vale lembrar que o país foi cortado do sistema SWIFT de pagamentos internacionais e impedido de fazer compras com euro e dólar. Isso significa que a Rússia está ganhando rios de dinheiro e gastando ainda menos, o que aumentou suas reservas em moeda estrangeira.

A Rússia escapou das sanções?

O fortalecimento do rublo não significa que a economia russa está mais forte, acredita Max Hess, membro do Instituto de Pesquisa em Políticas Exteriores, think tank norte-americano..

“Deveriam ser analisados outros aspectos da economia russa. Mesmo com o rublo em alta, as sanções terão um impacto devastador na economia e na qualidade de vida”, explicou ele à CNBC.

O ministro de economia da Rússia, Mikhail Kasyanov, já afirmou que espera uma taxa de desemprego em torno de 7% até o fim do ano e que um retorno aos níveis econômicos de 2021 não deve ser possível antes de 2025. Nos últimos meses, milhares de companhias estrangeiras abandonaram o país, deixando muitos desempregados. 

Só nas primeiras cinco semanas desde o início do conflito, a pobreza na Rússia praticamente dobrou, de acordo com dados da agência federal de estatística Rosstat. De 12 milhões de pessoas em situação de pobreza no início do ano, ao final do primeiro trimestre elas já eram 21 milhões.

“O rublo não é mais um indicador de saúde econômica. Enquanto a moeda ganhou força graças à interferência do Kremlin, a negligência ao bem-estar dos russos continua”, disse Hess. 

* Com informações da CNBC

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