Eu já cansei de ouvir diversos analistas e gestores dizendo que fogem de ações de empresas expostas a commodities pois seus resultados são totalmente imprevisíveis e dependentes de fatores externos.
Isso pode até ser verdade, mas como tudo que envolve a análise de companhias, as coisas nem sempre são tão simples assim.
Para começo de conversa, o simples fato de uma companhia não estar diretamente exposta ao setor de commodities não significa que ela não está vulnerável a várias outras imprevisibilidades.
Pegue o exemplo dos bancões, cujas ações estão estagnadas nos últimos três anos com o avanço das fintechs, ou as companhias de geração hidrelétrica, que apanharam em 2021 por conta da falta de chuvas, e você verá que externalidades estão presentes mesmo em setores que nem estão intimamente relacionados com commodities.
Poderíamos ainda citar diversos outros setores que foram fortemente impactados pela pandemia (varejo de moda, shoppings, aéreas, etc), mas você já entendeu o meu ponto.
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Do lado errado do muro
Esta é uma desmistificação importante, porque no ambiente inflacionário atual as companhias ligadas às commodities oferecem uma diversificação importante para o portfólio de qualquer investidor.
Ficar de fora por um simples preconceito pode custar muito caro para os seus investimentos.
Em alguns casos, inclusive, essas companhias estão aproveitando o elevado preço de seus produtos para distribuir ótimos dividendos (como veremos mais à frente).
Mas é importante entender duas coisas antes de colocar o seu dinheiro nessas companhias. Primeiro, que este investimento deve servir como diversificação, e não pode estar muito concentrado no seu portfólio.
Da mesma forma que o petróleo, o minério, e os produtos agrícolas dispararam por conta da pandemia e da guerra no leste europeu, um cessar-fogo, por exemplo, acabaria sendo um forte vento contrário para esses produtos, porque a Rússia e a Ucrânia poderiam voltar a produzir.
Parece, mas não é
Segundo, e talvez ainda mais importante, é crucial saber diferenciar as companhias compradoras e as vendedoras de commodities.
Por exemplo, eu já vi muita gente enquadrando a M. Dias Branco (MDIA3) e BRF (BRFS3) na mesma categoria da Petrobras (PETR4) quando o assunto é commodity, só porque estão diretamente expostas a esse tipo de mercado.
Mas a posição delas é completamente diferente.
A BRF precisa comprar milho e soja para alimentar os frangos e os suínos que produz. E uma alta de preços dos grãos, como a que temos visto recentemente, é horrível para as margens da companhia. Especialmente em um ambiente econômico fraco e mais difícil de repassar preços.
Outra que sofre com esse tipo de ambiente é a M. Dias Branco (MDIA3), uma das líderes em vendas de massas e biscoitos no Brasil e que tem no trigo o seu principal custo.
Olha o que o preço do trigo fez com a margem bruta da companhia:
Petrobras: do lado certo do muro
A Petrobras, por outro lado, vende commodities. Ela tem custos relativamente estáveis, mas suas receitas estão diretamente relacionadas às flutuações do petróleo.
Neste caso, então, a alta das commodities é ótima. Aumenta mais a receita do que os custos, e o efeito sobre as margens é muito positivo.
Viu como a influência das commodities pode afetar de maneiras muito diferentes cada companhia?
Petrobras virou “vaca ou petroleira”
Essa "ajudinha" do petróleo combinada com a melhora de eficiência significa mais lucro e maior geração de caixa para a petroleira. E tudo isso somado com a enorme redução das dívidas nos últimos anos permite à Petrobras pagar grandes quantias de dividendos aos seus acionistas.
Aliás, esse não é um sonho distante, que pode acontecer caso o cenário continue favorável.
Na verdade, isso está acontecendo agora mesmo. Nesta semana, a Petrobras anunciou o pagamento de mais proventos aos seus acionistas por causa do bom desempenho dos últimos trimestres, e a expectativa é de dividendos fartos em 2022 e 2023 também.
Sabemos que ainda existem riscos de o governo interferir na companhia, e isso não seria nada bom para o preço das ações. Mas PETR4 negocia hoje por menos de 4 vezes os seus lucros, o que em nossa visão deixa o risco vs retorno bastante atrativo.
Isso sem falar nos mais de 10% de dividend yield (retorno com dividendos) que a companhia deve distribuir aos seus acionistas nos próximos anos, mesmo já tendo considerado em seu plano estratégico preços de petróleo 40% abaixo dos preços atuais.
De olho nos dividendos
Não é à toa que a PETR4 recentemente se juntou a outras ótimas pagadoras de dividendos na carteira da série Vacas Leiteiras, que é tocada pelo Rodolfo Amstalden, pelo Richard Camargo e por mim.
Com o Empiricus Pass, você tem acesso não somente ao Vacas, mas também a todas as séries essenciais da Empiricus pelo preço de uma. Se tiver interesse, você pode conferir aqui mais sobre essa oportunidade.
Ainda está receoso com os preços do petróleo e achando que todo esse papo de transição energética vai fazer os preços dessa commodity ir para zero nos próximos anos e arrastar para baixo as companhias do setor?
Então eu vou mostrar na semana que vem que temos bons motivos para acreditar que não será esse o destino delas, pelo menos, não para as petroleiras mais bem posicionadas, como é o caso da Petrobras. Faça parte do clube de leitores do Seu Dinheiro e não perca as atualizações.
Um grande abraço e até a semana que vem!
Ruy
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