Já foi o tempo em que a Petrobras (PETR4) brilhava nas carteiras de todo o investidor em ações. O Itaú BBA, por exemplo, decidiu rebaixar a recomendação das ações da estatal.
Em uma atualização que acontece apenas dois meses após a retomada da cobertura de Petrobras (PETR4), o banco deixou de indicar a compra dos papéis e agora tem uma recomendação neutra.
- LEIA TAMBÉM - Não é só Petrobras (PETR4): a ação desta petroleira for do radar está barata e pode dobrar de valor; clique aqui e descubra qual é em vídeo exclusivo do Seu Dinheiro em parceria com a Vitreo.
Entre outros fatores, os analistas revisaram a indicação porque já não veem tanto potencial para as ações. O banco também cortou o preço-alvo das ações de R$ 43 para R$ 38, o que representa um potencial de alta de 10,2% ante o fechamento de segunda-feira (29).
Por volta de 14h10, os papéis PETR4 caíam 5,71%, a R$ 32,51. Já os papéis PETR3 baixavam 5,54%, a R$ 36,15, também acompanhando a queda dos preços do petróleo no mercado internacional. Confira a cobertura completa dos mercados.
O dividendo bilionário “atrapalhou” a Petrobras (PETR4)?
De acordo com o Itaú BBA, as estimativas incorporam uma alta no custo de capital da Petrobras (PETR4), por conta de um cenário mais prolongado de juro alto e de incertezas macroeconômicas no longo prazo.
Desde que o banco retomou a cobertura da Petrobras com uma recomendação de compra, as ações tiveram um retorno total ao acionista de 57% diante da forte geração de caixa e um excelente pagamento de dividendos, quase atingindo a estimativa inicial do Itaú BBA, de 63%.
Mas as coisas mudaram. Segundo o banco, ocorreram algumas mudanças importantes no cenário macroeconômico que tornaram o ambiente para os mercados acionários mais difícil. Isso sem falar na distribuição recente de dividendos, que veio muito acima do esperado pelo banco.
Somente no segundo trimestre, a Petrobras distribuiu US$ 9,7 bilhões em proventos, ou cerca de R$ 49,5 bilhões — bem acima do montante de US$ 1 bilhão pago pela empresa no mesmo período de 2021.
Essa distribuição farta rendeu à companhia a coroa de maior pagadora de proventos do mundo, segundo ranking da gestora Janus Henderson.
A Petrobras deve seguir como uma boa pagadora de dividendos, mas diante da distribuição mais que generosa do último trimestre, o potencial de pagamentos futuros diminuiu.
Redução do preço dos combustíveis também pesou
Mas não foi só o custo de capital mais alto e o fator dividendos que pesaram na nova atualização para as ações da Petrobras (PETR4).
Segundo o Itaú BBA, os ajustes recentes dos preços do diesel e da gasolina no mercado doméstico e a acomodação dos preços internacionais antes do esperado também influenciaram a nova recomendação.
Isso não significa, no entanto, que a Petrobras terá problemas financeiros pela frente.
"Embora ainda esperemos que a Petrobras apresente resultados e fundamentos sólidos, prevemos meses de alta volatilidade pela frente, o que nos levou à margem de espera por um caminho claro para a tese de investimento da empresa", diz o banco, em relatório.
- Leia também: Passando o chapéu: IRB (IRBR3) acerta a venda da própria sede em meio a medidas para se reenquadrar
Petrobras (PETR4) sob fogo cruzado
A reclassificação da Petrobras (PETR4) acontece em um momento no qual a estatal está sob fogo cruzado do governo de Jair Bolsonaro (PL) — que, de olho na reeleição, tem condenado a política de preços de paridade de importação (PPI) da empresa.
Outros candidatos, como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Ciro Gomes (PDT), também pretendem mudar a forma como a estatal regula os preços dos combustíveis.
A PPI vincula o preço do petróleo ao mercado internacional tendo como referência o preço do barril tipo brent, calculado em dólar.
Desde 2016, a Petrobras utiliza essa política e, portanto, o valor internacional do petróleo e a cotação do dólar influenciam diretamente na composição dos preços da companhia.
Com a guerra entre Rússia e Ucrânia, o preço do barril do Brent disparou, superando os US$ 130 e ajudando a alimentar a inflação no mundo todo, inclusive no Brasil.
Como a inflação é um mau negócio para um governo que tenta a reeleição, Bolsonaro vinha pressionando a Petrobras — a estatal enfrentou diversas trocas de comando até que sob a gestão de Caio Paes de Andrade começou a reduzir o preço dos combustíveis.
Acontece que esse corte de preços pouco tem a ver com a presidência da Petrobras. Além de os preços do petróleo terem baixado no mercado internacional, o governo anunciou uma série de medidas, entre elas, desonerações, para ajudar a reduzir o valor da gasolina e do diesel, por exemplo.