Bolsa hoje: estaria o governo querendo furar o teto?
Ignorando o bom humor internacional de ontem, nós brasileiros vivemos nossa própria realidade, muito afetados com o vaivém de Brasília, que prejudicou bastante os mercados e que promete prejudicar ainda mais nos próximos dias

Bom dia, pessoal!
Diferentemente de ontem (19), o mercado de ações lá fora oscilou um pouco mais nesta quarta-feira (20), em meio a manutenção da taxa de juros na China, ainda que tenha havido uma predominância de tom positivo na Ásia diante das perspectivas de ganhos corporativos mais fortes no Ocidente. A Europa, por sua vez, não consegue engatar no bom humor e acaba tendo uma manhã negativa, pelo menos por enquanto.
Os mercados divulgam uma série de dados asiáticos e europeus – o Japão divulgou bons números de comércio exterior, enquanto indicadores de inflação vieram mais fracos do que o esperado no Reino Unido (para o consumidor) e mais fortes do que as expectativas na Alemanha (para o produtor), em seu maior aumento desde outubro de 1974, durante o primeiro choque do petróleo.
Saindo dos mercados convencionais, o bitcoin segue subindo, negociando nesta manhã acima de US$ 64 mil, muito próximo da última máxima do início do ano. Esta última pernada para cima veio no primeiro dia de negociação do novo fundo negociado em Bolsa criado nos EUA, o ETF ProShares Bitcoin Strategy, que encerrou o dia com alta de quase 5%.
A ver...
· O assunto da semana por aqui? Basta dizer “Auxílio Brasil”...
Ignorando o bom humor internacional de ontem, nós brasileiros vivemos nossa própria realidade, muito afetados com o vaivém de Brasília, que prejudicou bastante os mercados e que promete prejudicar ainda mais nos próximos dias. Em grande parte, os investidores reagiram mal à potencial tentativa do governo de furar o teto de gastos para bancar um Auxílio Brasil mais robusto, lida como parte de uma agenda eleitoral segundo o próprio relator da proposta (interlocutores do Planalto argumentam que o plano do presidente para reeleição passa pela retomada da economia e pelo pagamento do Auxílio Brasil). Estava previsto o anúncio do novo programa para ontem, mas de última hora este foi cancelado, para alinhar novamente o valor do programa.
Leia Também
Estima-se que o governo pretendia lançar um auxílio social de R$ 400 até o fim de 2022, sendo R$ 100 fora do teto de gastos. O Bolsa Família hoje é um orçamento de R$ 34,7 bilhões. Durante os últimos meses, havia um consenso de levar o programa para algo como R$ 60 bilhões, mas as últimas notícias mudaram o discurso, surpreendendo vários parlamentares, que ficaram descontentes com o movimento do governo. No novo valor, seria gerado um ônus de R$ 85 bilhões, sendo R$ 35 bilhões para o programa permanente e outros R$ 50 bilhões divididos em dois programas transitórios – mais de R$ 30 bilhões poderiam ficar fora do teto.
Não se sabe muito bem o porquê da revisão de última hora. Otimistas argumentam que houve um recuo de Bolsonaro ou até uma vitória de Guedes, diante da péssima repercussão nos mercados, enquanto pessimistas apontam para a ala política pressionando para que as duas parcelas fiquem fora do teto. Uma confusão que foi sentida pelo mercado e poderá ser sentida hoje novamente, apesar de haver quem espere um rebound nos ativos (algo como uma "caça às barganhas"). A possível falta de compromisso com a responsabilidade fiscal gera uma combinação explosiva para o Brasil. Para tentar alinhar um pouco mais as coisas, vale acompanhar hoje a Comissão Especial da Câmara que discute e vota a PEC dos Precatórios.
· Vamos falar de Brasil até você dizer chega
Acha que paramos por aqui? Achou errado, ainda tem mais. Esta quarta-feira (20) guarda, entre outras coisas, a apresentação do relatório da CPI da Pandemia no Senado – a votação ficou apenas para a semana que vem, no dia 26. Apesar de ser lida mais como ruído do que sinal pelo mercado atualmente, há pressão política que poderia se originar daqui.
Adicionalmente, gera volatilidade a notícia de que, para endereçar a possível falta de combustíveis, as distribuidoras vão importar combustíveis para suprir a demanda não atendida pela Petrobras. Consequentemente, os custos de importação serão repassados aos consumidores nas bombas, o que pode anular os efeitos das últimas medidas aprovadas no Congresso, ao menos no curto prazo. Diante disso, vale a repercussão do projeto de lei aprovado ontem que cria o programa Gás para os Brasileiros – nessa mesma linha, as iniciativas para baratear o custo final para o consumidor estão sob ameaça por questões mercadológicas.
Por fim, a segunda audiência pública sobre o PL que permite a privatização dos Correios, está marcada para esta manhã. Serão ouvidos, entre outras autoridades, o presidente dos Correios, Floriano Peixoto Vieira Neto, o ministro das Comunicações, Fábio Faria, o secretário especial de Desestatização, Desinvestimento e Mercados do Ministério de Economia, Diogo Mac Cord de Faria, e o presidente do BNDES, Gustavo Montezano. O projeto está na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE).
· Mais e mais resultados positivos!
Ontem (19), lá fora, as ações tiveram outro grande dia, com o S&P 500 subindo 0,7%. Com isso, o índice está agora a uma curta distância de sua última máxima histórica. O grande motivador desta alta? Até agora, 53 empresas no S&P 500 relataram lucros do terceiro trimestre, das quais 83% superaram as estimativas de Wall Street. Anteriormente, analistas já viam os lucros do terceiro trimestre subindo 32,4%, enquanto este número, no início do ano, era da ordem de 14% para o período. Ou seja, a revisão positiva está sendo mais uma vez superada.
A continuidade do crescimento dos lucros é um ingrediente infalível para ganhos de ações. Assim, tal otimismo em relação ao terceiro trimestre, juntamente com fortes temporadas de resultados no primeiro e no segundo trimestre, é o motivo pelo qual o S&P 500 está acumulando alta de 20% no ano. Para hoje, mais resultados estão previstos, com nomes de peso como Tesla, IBM e Verizon. Além disso, o mercado acompanha o Federal Reserve divulgando seu Livro Bege sobre as condições econômicas atuais nos 12 distritos do banco central.
· Anote aí!
Lá fora, há outra enxurrada de falas de membros dos diferentes bancos centrais relevantes do mundo. Entre os mais importantes, quatro membros do Fed se pronunciarão hoje, o que poderá trazer pressão nos juros dos títulos americanos. No velho continente, o mercado digere dados de inflação da Zona do Euro para o mês de setembro, que acelerou 3,4% na comparação anual, bem acima da meta de 2% do BCE. Nos EUA, dados de estoque de petróleo e divulgação do Livro Bege do Fed são relevantes na agenda.
Por aqui, acompanhamos mais atuações do BC hoje, em duas rodadas de leilões extraordinários de swap cambial nesta manhã, buscando estabilizar o câmbio, que chegou a superar a marca de R$ 5,60 ontem – volatilidade no câmbio pode afetar inflação e, consequentemente, política monetária e crescimento. O Congresso, além de receber o relatório da CPI da Pandemia e votar a PEC dos Precatórios em comissão especial, poderá também votar a PEC que altera a composição do Conselho Nacional do Ministério Público, vista por muitos como polêmica. O STF julga duas pautas importantes relacionadas com o mercado de trabalho (recurso de empregados demitidos do Banco do Brasil e alguns pontos da reforma trabalhista) que podem afetar a performance do mercado local.
· Muda o que na minha vida?
Os recentes alertas climáticos da ONU aumentam oportunidades para investidores, como temos colocado aqui no Transparência Radical. Para se ter uma ideia, o último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU aponta para a necessidade de uma redução rápida das emissões para conter o aquecimento global. Assinado por 234 cientistas de mais de 60 países, o relatório apresentou um tom desanimador e destacou que um resultado mais perturbador era provável. Agora, como o ímpeto dos formuladores de políticas públicas tem aumentado, vide os ajustes recentes da Comissão Europeia sobre o mercado de créditos de carbono e o plano da SEC nos EUA de tornar obrigatória a divulgação da quantidade de emissões de carbono – o próprio Brasil tem projetos nesse sentido bem avançados no Congresso, que visam regulamentar este mercado em território nacional –, entende-se que o ímpeto em direção à descarbonização está criando uma série de oportunidades para investidores em Energia Limpa.
Vemos as maiores oportunidades de crescimento para a energia renovável em baterias, hidrogênio, urânio, digitalização e eficiência energética, entre outros. Não só isso, mas a própria dinâmica Agro está no radar. O mercado espera que o tema da revolução alimentar cresça mais rápido do que o PIB global na próxima década, pois o mundo precisará produzir alimentos mais ricos em nutrientes em menos terras e em condições menos estáveis. Com isso, mudanças regulatórias, preferências do consumidor e avanços tecnológicos devem levar a um maior fluxo de recursos para tais mercados. A oportunidades está aí!
Oportunidades do Dia
- Um COE do BTG para o caso de o dólar cair nos próximos anos. Vence em 29/10/2024 e rende IPCA + Queda ilimitada alavancada, entre 1 e 1,5x, do dólar. Na pior das hipóteses, rende “apenas” IPCA.
- Você já viu qual é o investimento que está esmagando o Bitcoin? Se não, veja e tires suas próprias conclusões.
A fome de aquisições de um FII que superou a crise da Americanas e tudo que mexe com o seu bolso nesta quarta (15)
A história e a estratégia de expansão do GGRC11, prestes a se tornar um dos cinco maiores FIIs da bolsa, são os destaques do dia; nos mercados, atenção para a guerra comercial, o Livro Bege e balanços nos EUA
Um atalho para a bolsa: os riscos dos IPOs reversos, da imprevisibilidade de Trump e do que mexe com o seu bolso hoje
Reportagem especial explora o caminho encontrado por algumas empresas para chegarem à bolsa com a janela de IPOs fechada; colunista Matheus Spiess explora o que está em jogo com a nova tarifa à China anunciada por Trump
100% de tarifa, 0% de previsibilidade: Trump reacende risco global com novo round da guerra comercial com a China
O republicano voltou a impor tarifas de 100% aos produtos chineses. A decisão foi uma resposta direta ao endurecimento da postura de Pequim
Felipe Miranda: Perdidos no espaço-tempo
Toda a Ordem Mundial dos últimos anos dá lugar a uma nova orientação, ao menos, por enquanto, marcada pela Desordem
Abuse, use e invista: C&A queridinha dos analistas e Trump de volta ao morde-assopra com a China; o que mexe com o mercado hoje?
Reportagem especial do Seu Dinheiro aborda disparada da varejista na bolsa. Confira ainda a agenda da semana e a mais nova guerra tarifária do presidente norte-americano
ThIAgo e eu: uma conversa sobre IA, autenticidade e o futuro do trabalho
Uma colab entre mim e a inteligência artificial para refletir sobre três temas quentes de carreira — coffee badging, micro-shifting e as demissões por falta de produtividade no home office
A pequena notável que nos conecta, e o que mexe com os mercados nesta sexta-feira (10)
No Brasil, investidores avaliam embate após a queda da MP 1.303 e anúncio de novos recursos para a construção civil; nos EUA, todos de olho nos índices de inflação
Esta ação subiu mais de 50% em menos de um mês – e tem espaço para ir bem mais longe
Por que a aquisição da Desktop (DESK3) pela Claro faz sentido para a compradora e até onde pode ir a Microcap
Menos leão no IR e mais peru no Natal, e o que mexe com os mercados nesta quinta-feira (9)
No cenário local, investidores aguardam inflação de setembro e repercutem derrota do governo no Congresso; nos EUA, foco no discurso de Powell
Rodolfo Amstalden: No news is bad news
Apuração da Bloomberg diz que os financistas globais têm reclamado de outubro principalmente por sua ausência de notícias
Pão de queijo, doce de leite e… privatização, e o que mexe com os mercados nesta quarta-feira (8)
No Brasil, investidores de olho na votação da MP do IOF na Câmara e no Senado; no exterior, ata do Fomc e shutdown nos EUA
O declínio do império americano — e do dólar — vem aí? Saiba também o que mexe com os mercados hoje
No cenário nacional, investidores repercutem ligação entre Lula e Trump; no exterior, mudanças políticas na França e no Japão, além de discursos de dirigentes do Fed
O dólar já não reina sozinho: Trump abala o status da moeda como porto seguro global — e o Brasil pode ganhar com isso
Trump sempre deixou clara sua preferência por um dólar mais fraco. Porém, na prática, o atual enfraquecimento não decorre de uma estratégia deliberada, mas sim de efeitos colaterais das decisões que abalaram a confiança global na moeda
Felipe Miranda: Lições de uma semana em Harvard
O foco do curso foi a revolução provocada pela IA generativa. E não se engane: isso é mesmo uma revolução
Tudo para ontem — ou melhor, amanhã, no caso do e-commerce — e o que mexe com os mercados nesta segunda-feira (6)
No cenário local, investidores aguardam a balança comercial de setembro; no exterior, mudanças de premiê na França e no Japão agitam as bolsas
Shopping centers: é melhor investir via fundos imobiliários ou ações?
Na última semana, foi divulgada alteração na MP que trata da tributação de investimentos antes isentos. Com o tema mais sensível retirado da pauta, os FIIs voltam ao radar dos investidores
A volta do campeão na ação do mês, o esperado caso da Ambipar e o que move os mercados nesta sexta-feira (3)
Por aqui, investidores ainda avaliam aprovação da isenção do IR para quem ganha até R$ 5 mil; no exterior, todos de olho no shutdown nos EUA, que suspendeu a divulgação de dados econômicos
Tragédia anunciada: o que a derrocada da Ambipar (AMBP3) ensina sobre a relação entre preço e fundamento
Se o fundamento não converge para o preço, fatalmente é o preço que convergirá para o fundamento, como no caso da Ambipar
As críticas a uma Petrobras ‘do poço ao posto’ e o que mexe com os mercados nesta quinta-feira (2)
No Brasil, investidores repercutem a aprovação do projeto de isenção do IR e o IPC-Fipe de setembro; no exterior, shutdown nos EUA e dados do emprego na zona do euro
Rodolfo Amstalden: Bolhas de pus, bolhas de sabão e outras hipóteses
Ainda que uma bolha de preços no setor de inteligência artificial pareça improvável, uma bolha de lucros continua sendo possível