Quando a volatilidade é tratada como um ativo
A volatilidade traz muita informação e hoje é algo que todo mundo pode discutir a respeito. Você não precisa ser um PhD, nem precisa ter uma formação em economia para falar sobre esse assunto
Hoje, eu quero falar com você a respeito de volatilidade. Especificamente, quero chamar sua atenção para o fato de como a volatilidade, que normalmente é um atributo, um sintoma, tem se tornado cada vez mais uma causa, um ativo negociável.
Na verdade, já é negociável há bastante tempo. Só que, hoje em dia, está se tornando um produto de prateleira, acessível ao investidor comum, talvez não ao investidor brasileiro, mas certamente ao investidor americano.
Neste cenário, o Wall Street Journal, um dos principais jornais de finanças nos Estados Unidos, fez uma matéria a respeito desse tema, chamando atenção para o seguinte fato: durante uma das mais expressivas quedas dos últimos dias do índice S&P 500, alguns fundos tiveram suas cotas valorizadas, se beneficiando desta baixa. Ou seja, conforme o S&P 500 caia, o fundo apresentava variação positiva em sua cota.
Esse fundo estava vendido em S&P?
Não, este fundo estava comprado em volatilidade!
Isso é muito interessante porque, a partir do momento que você tem esse produto na prateleira, em um mercado inundado por liquidez, com cada vez mais pessoas demandando esse tipo de produto, a própria volatilidade se torna a causa de mais e mais volatilidade no ativo-base, nas próprias ações.
Leia Também
Isso é interessante, eu diria até fascinante.
Já escrevi sobre esta temática em um texto intitulado “Momentos em que o rabo balança o cão”, quando o mais comum seria o oposto a isso.
E isso é um tema que veio para ficar. Há um processo de sofisticação do investidor.
Mas do que se trata a volatilidade?
Volatilidade para todos
A volatilidade é uma medida de dispersão.
Citando como exemplo as ações da Petrobras, sabemos que o seu preço pode oscilar muito ou pouco. Podemos visualizar a variação histórica e calcular uma medida de desvio padrão para um determinado prazo. Podemos pegar esse desvio padrão e anualizar, para dizer, no jargão do mercado, “a volatilidade da Petrobras está alta ou está baixa”.
Eu mesmo digo, para as pessoas que me seguem, que uma volatilidade abaixo de 30 é baixa. De 30 para 40, é normal. Acima de 40 é um valor mais alto. Isso em relação à volatilidade dos contratos de opções associados às ações preferenciais da Petrobras.
Esse é o produto que eu dedico praticamente a minha vida profissional, montando estruturas com ações e opções de Petrobras PN. Posso dizer categoricamente: a volatilidade está muito ligada ao comportamento de um determinado ativo.
- Saiba Mais: Investindo em Opções com Marink Martins, como aproveitar melhor as oportunidades do mercado financeiro.
Já lá nos EUA, o S&P 500, que é o principal índice que todos os gestores monitoram (embora o Dow Jones seja mais pop na mídia), tem diversos derivativos e contratos futuros.
Neste índice também existem derivativos, como opções de compra e de venda, e sabemos que nessa precificação de opções, o principal input para determinar o preço de um contrato de opção é a sua volatilidade.
E essa volatilidade é uma expectativa de movimento. Não é o que aconteceu no passado, não é exatamente o que está acontecendo neste momento: é o que está por vir.
A volatilidade traz muita informação e hoje é algo que todo mundo pode discutir a respeito. Você não precisa ser um PhD, nem precisa ter uma formação em economia para falar sobre esse assunto. Às vezes, o simples bom senso já é mais do que suficiente e, muitas vezes, até mais interessante do que dados técnicos.
Por exemplo, não gosto muito de olhar para a volatilidade histórica, mas muitas vezes, quando critico a volatilidade histórica, eu mesmo me critico, porque sempre estou olhando e citando exemplos históricos que, embora não os coloque numa planilha, estão aqui na minha mente.
E eu posso compartilhar alguns momentos aqui com você.
Predicado afetando o sujeito
Um momento que é particularmente interessante diz respeito a 2011, quando durante o mês de agosto, a classificação de risco dos Estados Unidos foi rebaixada de triplo A para duplo A.
Por que é relevante falar sobre isso hoje?
O mesmo ocorreu com o Canadá, que foi rebaixado de triplo A para duplo A. Agora, só existem 10 países com classificação de risco triplo A. E pasmem: nesta lista não está nem os Estados Unidos, nem o Canadá.
E é interessante porque, naquela ocasião, a volatilidade estava baixa, por volta de 22 e 23 na Petrobras, e deu um salto, foi para 50% nos meses subsequentes a esse downgrade dos EUA.
Por lá, as ações dos bancos sofreram bastante e o VIX deu um mega de um salto. E em diversos outros eventos subsequentes, vimos saltos da volatilidade.
Mas o mais relevante agora é que, como o próprio Wall Street Journal noticiou ao longo dessa semana, ao negociarem o ETF UVXY, as pessoas podem de fato apostar nesta volatilidade.
E quando você tem muita gente apostando na volatilidade, a própria volatilidade vai lá e faz com que o ativo-base fique mais volátil.
Citando alguns exemplos: o Ray Dalio, gestor da famosa Bridgewater Capital, nos surpreendeu há alguns meses dizendo que comprou um bilhão de dólares em contratos de opções de venda, em puts.
Bem, se ele comprou um bilhão de dólares, você pode imaginar que teve um elevado número de pessoas vendendo esses contratos para ele.
E conforme a tal da volatilidade que o Ray Dalio estava apostando se materializava, conforme o mercado foi ficando mais nervoso, aqueles que estavam vendidos nessa volatilidade, grande parte, em particular aqueles que trabalham de uma forma mais dinâmica, mais não direcional, buscando uma taxa de juros, tiveram que se ajustar.
Para finalizar, em situações em que há muita gente apostando na volatilidade, em momentos de queda, muita gente tem que vender mais para se adequar à nova realidade do mercado.
Em momentos de alta, aqueles vendidos em volatilidade precisam comprar mais para se adequar a essa nova realidade.
Então, o resumo da ópera é o seguinte: a presença da volatilidade como um ativo intensifica os movimentos, fazendo com que os mercados simplesmente saiam de um estado de pouca volatilidade para um de muita volatilidade em questão de horas.
Sim, é isso.
E, muitas vezes, esses estados de alta volatilidade e baixa volatilidade tendem a permanecer por um bom tempo.
Em 2017, o S&P 500 bateu um recorde em que a volatilidade nunca foi tão baixa. E esse ciclo durou até fevereiro de 2018, quando tivemos um grande salto na volatilidade, que provocou a quebra de um fundo associado ao banco Credit Suisse.
Naquela ocasião, muitos chamaram o que ocorreu de “volmageddon”, num paralelo com a expressão armagedon. Esses saltos da volatilidade vieram para ficar.
Algo que devemos ver com mais e mais frequência.
Aproveito para indicar meu curso de Opções, onde me aprofundo melhor no tema. Basta clicar neste link para ter meu acompanhamento nos seus investimentos.
Eu fico por aqui.
Mais empresas no nó do Master e Vorcaro, a escolha do Fed e o que move as bolsas hoje
Titan Capital surge como peça-chave no emaranhado de negócios de Daniel Vorcaro, envolvendo mais de 30 empresas; qual o risco da perda da independência do Fed, e o que mais o investidor precisa saber hoje
A sucessão no Fed: o risco silencioso por trás da queda dos juros
A simples possibilidade de mudança no comando do BC dos EUA já começou a mexer na curva de juros, refletindo a percepção de que o “jogo” da política monetária em 2026 será bem diferente do atual
Tony Volpon: Bolhas não acabam assim
Wall Street vivencia hoje uma bolha especulativa no mercado de ações? Entenda o que está acontecendo nas bolsas norte-americanas, e o que a inteligência artificial tem a ver com isso
As lições da Black Friday para o universo dos fundos imobiliários e uma indicação de FII que realmente vale a pena agora
Descontos na bolsa, retorno com dividendos elevados, movimentos de consolidação: que tipo de investimento realmente compensa na Black Friday dos FIIs?
Os futuros dividendos da Estapar (ALPK3), o plano da Petrobras (PETR3), as falas de Galípolo e o que mais move o mercado
Com mudanças contábeis, Estapar antecipa pagamentos de dividendos. Petrobras divulga seu plano estratégico, e presidente do BC se mantém duro em sua política de juros
Jogada de mestre: proposta da Estapar (ALPK3) reduz a espera por dividendos em até 8 anos, ações disparam e esse pode ser só o começo
A companhia possui um prejuízo acumulado bilionário e precisaria de mais 8 anos para conseguir zerar esse saldo para distribuir dividendos. Essa espera, porém, pode cair drasticamente se duas propostas forem aprovadas na AGE de dezembro.
A decisão de Natal do Fed, os títulos incentivados e o que mais move o mercado hoje
Veja qual o impacto da decisão de dezembro do banco central dos EUA para os mercados brasileiros e o que deve acontecer com as debêntures incentivadas, isentas de IR
Corte de juros em dezembro? O Fed diz talvez, o mercado jura que sim
Embora a maioria do mercado espere um corte de 25 pontos-base, as declarações do Fed revelam divisão interna: há quem considere a inflação o maior risco e há quem veja a fragilidade do mercado de trabalho como a principal preocupação
Rodolfo Amstalden: O mercado realmente subestima a Selic?
Dentro do arcabouço de metas de inflação, nosso Bacen dá mais cavalos de pau do que a média global. E o custo de se voltar atrás para um formulador de política monetária é quase que proibitivo. Logo, faz sentido para o mercado cobrar um seguro diante de viradas possíveis.
As projeções para a economia em 2026, inflação no Brasil e o que mais move os mercados hoje
Seu Dinheiro mostra as projeções do Itaú para os juros, inflação e dólar para 2026; veja o que você precisa saber sobre a bolsa hoje
Os planos e dividendos da Petrobras (PETR3), a guerra entre Rússia e Ucrânia, acordo entre Mercosul e UE e o que mais move o mercado
Seu Dinheiro conversou com analistas para entender o que esperar do novo plano de investimentos da Petrobras; a bolsa brasileira também reflete notícias do cenário econômico internacional
Felipe Miranda: O paradoxo do banqueiro central
Se você é explicitamente “o menino de ouro” do presidente da República e próximo ao ministério da Fazenda, é natural desconfiar de sua eventual subserviência ao poder Executivo
Hapvida decepciona mais uma vez, dados da Europa e dos EUA e o que mais move a bolsa hoje
Operadora de saúde enfrenta mais uma vez os mesmos problemas que a fizeram despencar na bolsa há mais dois anos; investidores aguardam discurso da presidente do Banco Central Europeu (BCE) e dados da economia dos EUA
CDBs do Master, Oncoclínicas (ONCO3), o ‘terror dos vendidos’ e mais: as matérias mais lidas do Seu Dinheiro na semana
Matéria sobre a exposição da Oncoclínicas aos CDBs do Banco Master foi a mais lida da semana; veja os destaques do SD
A debandada da bolsa, pessimismo global e tarifas de Trump: veja o que move os mercados hoje
Nos últimos anos, diversas empresas deixaram a B3; veja o que está por trás desse movimento e o que mais pode afetar o seu bolso
Planejamento, pé no chão e consciência de que a realidade pode ser dura são alguns dos requisitos mais importantes de quem quer ser dono da própria empresa
Milhões de brasileiros sonham em abrir um negócio, mas especialistas alertam que a realidade envolve insegurança financeira, mais trabalho e falta de planejamento
Rodolfo Amstalden: Será que o Fed já pode usar AI para cortar juros?
Chegamos à situação contemporânea nos EUA em que o mercado de trabalho começa a dar sinais em prol de cortes nos juros, enquanto a inflação (acima da meta) sugere insistência no aperto
A nova estratégia dos FIIs para crescer, a espera pelo balanço da Nvidia e o que mais mexe com seu bolso hoje
Para continuarem entregando bons retornos, os Fundos de Investimento Imobiliários adaptaram sua estratégia; veja se há riscos para o investidor comum. Balanço da Nvidia e dados de emprego dos EUA também movem os mercados hoje
O recado das eleições chilenas para o Brasil, prisão de dono e liquidação do Banco Master e o que mais move os mercados hoje
Resultado do primeiro turno mostra que o Chile segue tendência de virada à direita já vista em outros países da América do Sul; BC decide liquidar o Banco Master, poucas horas depois que o banco recebeu uma proposta de compra da holding Fictor
Eleição no Chile confirma a guinada política da América do Sul para a direita; o Brasil será o próximo?
Após a vitória de Javier Milei na Argentina em 2023 e o avanço da direita na Bolívia em 2025, o Chile agora caminha para um segundo turno amplamente favorável ao campo conservador