Cratera de Chicxulub
Acho que seria o único desastre natural com algum paralelismo pertinente, assumindo, claro, que os dinossauros também se organizassem por meio de um mercado de trabalho formal.
Começam a surgir formulações mais construtivas sobre a pandemia e o funcionamento concomitante das economias, potencialmente capazes de, se concretizadas, constituir fundamentos estruturais mais positivos para os ativos de risco além da mera expansão monetária e fiscal, tipicamente mais associadas a certo artificialismo.
Há uma corrente na comunidade científica, ainda minoritária, argumentando em favor de uma mutação do vírus, que teria o tornado mais fraco e menos letal. Outra vertente, cuja representatividade vem crescendo, sugere uma maior taxa de imunização da sociedade do que o oficialmente medido e reportado. Isso viria das pessoas com atividade viral baixa e sintomas leves.
Em paralelo, países que estão em processos de reabertura têm o feito com algum sucesso, com as pessoas voltando, aos poucos, suas vidas ao normal, sem, ao menos até o momento, uma segunda onda importante de contágio — Itália e Espanha talvez sejam os exemplos mais emblemáticos, além, claro, da Alemanha, que fez um trabalho formidável desde o princípio.
Para reforçar, a China tem observado uma clara recuperação em V de sua economia, ainda que os paralelos com o Ocidente sempre sejam particularmente problemáticos e ainda que confiar na China seja quase um salto de fé.
Essa soma de imunização mais alta, sinais de possível convivência com a pandemia pós-lockdown ou quarentena, associados ao prognóstico de uma vacina em 2021, têm alimentado um ambiente mais favorável a negócios e aos mercados. O dinheiro tem fluído do dólar e dos EUA em busca de yield e de mais crescimento nas periferias, num movimento claríssimo de dash to trash — uma outra forma de descrever um modo “risk on”, de forma mais exacerbada.
Assim, vai se construindo uma interpretação de que a crise de 2020 teria um caráter mais parecido a um “desastre natural”. Ocorre um grande choque inesperado, quase literalmente um abalo sísmico, que, depois de acontecido, permite a volta da vida ao normal. Não haveria, segundo essa interpretação, algo mais perene e estrutural da mudança. Destruição súbita, com recuperação rápida, sem maiores consequências de longo prazo, a tal V-shaped recovery.
Leia Também
As vantagens da holding familiar para organizar a herança, a inflação nos EUA e o que mais afeta os mercados hoje
Rodolfo Amstalden: De Flávio Day a Flávio Daily…
Essa dinâmica tem guiado os mercados nas últimas duas semanas e, na ausência de fatos novos — o que costuma ser uma premissa bastante restritiva, mas paciência —, parece querer prosseguir nos próximos dias. O fluxo comprador e otimista, sem encontrar vendedor marginal relevante, flerta com escalada adicional de ativos de maior risco, em especial daqueles que ficaram excessivamente descontados na crise.
Diante do cenário, temos, com cautela e responsabilidade, aumentado o risco da Carteira Empiricus nos últimos dias. Adicionamos as ações da Stone no lugar daquelas da XP dando-lhes maior peso frente à exposição anterior, recompusemos o short (posição vendida) em PRIO3 e migramos 5 pontos percentuais da posição em dólar puro para comprar ações de empresas americanas. Desse modo, incrementamos em 6,5 pontos percentuais a posição em ações do Carteira.
De ontem para hoje, fizemos uma nova adição de ação ao portfólio, no setor de saneamento (talvez o mais descontado da Bolsa junto aos bancos, com um catalisador claríssimo na cara do gol), de mais 1,5 ponto, totalizando, portanto, 8 pontos percentuais. Estamos na diligência final para novos incrementos, possivelmente ainda nesta semana. Ressalva importante: nada será feito sem desrespeitar a imperiosa necessidade de proteção e preservação patrimonial.
O momento ainda exige isso e não nos permitiremos jamais assumir riscos além dos razoáveis, adentrando euforias momentâneas de fluxo, cujos resultados de médio e longo prazo são tipicamente conhecidos. Estamos comprando empresas sólidas, com resultados bem previsíveis e resilientes, a valuations descontados. Nada além disso. Rigor e profundidade de análise sempre.
Reconhecida a melhora, ao menos na margem, dos fundamentos frente à completa falta de visibilidade de semanas atrás, em particular quando consideramos a expansão monetária sem precedentes observada nesta crise, algumas questões relevantes continuam sem respostas.
Pergunto (a mim mesmo, mas também aos universitários): qual desastre natural na História nos logrou tamanho retrocesso nos PIBs globais e uma taxa de desemprego de 20% da população americana? Qual evento semelhante trouxe esse nível de aumento do endividamento para os países, com consequências, claro, sobre a produtividade e sobre as gerações futuras? Nossos filhos e netos, talvez nós mesmos, arcaremos com mais impostos — pode não ser agora, mas me parece quase inescapável uma elevação da CSLL em 2021 (imagino que para algo em torno de 30%) e possível tributação de dividendos (ações e FIIs).
Se um terço das empresas americanas já não conseguia gerar caixa para pagar seus serviços da dívida antes da pandemia, depois da famigerada ajuda do Fed, qual deve ser o percentual atual? Para o caso brasileiro, como ficam os comentários sobre uma potencialmente tranquila segunda onda se nem saímos da primeira? E mais: 100% de dívida/PIB será facilmente contornado? O case de estatais blindadas de indicações políticas continua? E, por fim, de forma mais grosseira, qual desastre natural se abateu sobre o mundo todo?
Depois de muito refletir, acho que voltei uns 66 milhões de anos (pois é, os evento raros são… raros), tendo tomado um avião (mentalmente, claro, mas ainda assim devidamente vestido com a minha máscara) para a Península de Iucatã, em direção à cratera de Chicxulub, que teria se constituído a partir do impacto de um meteoro, resultando na extinção de uma gama ampla de animais, incluindo os dinossauros. Acho que seria o único desastre natural com algum paralelismo pertinente, assumindo, claro, que os dinossauros também se organizassem por meio de um mercado de trabalho formal.
Dois gráficos que ainda precisamos reconciliar nesta história toda, se há, de fato, uma semelhança desta crise com um desastre natural e ainda existe atratividade nos valuations de ativos de risco.
Esta é a projeção de “vida normal” pós-covid:

E esse é o nível de preços das ações hoje:

Enquanto o mundo caminha para a saída talvez definitiva das quarentenas e para a liberdade de uma “vida normal”, talvez ainda estejamos presos às nossas próprias amarras mentais de ancoragem.
Como Kant disse uma vez, “o homem nasce livre, mas a todo canto encontra-se a grossos ferros, seja por outros seja por ele mesmo. Mas mesmo que o homem seja posto a grossos ferros, ninguém pode aprisionar a sua mente”.
A resposta — para as perguntas acima, mas, mais ainda, para toda a quarentena — talvez esteja na poesia de Shakespeare: “Eu poderia viver recluso numa casca de noz e me considerar rei do espaço infinito...”.
Felipe Miranda: Uma visão de Brasil, por Daniel Goldberg
O fundador da Lumina Capital participou de um dos episódios de ‘Hello, Brasil!’ e faz um diagnóstico da realidade brasileira
Dividendos em 2026, empresas encrencadas e agenda da semana: veja tudo que mexe com seu bolso hoje
O Seu Dinheiro traz um levantamento do enorme volume de dividendos pagos pelas empresas neste ano e diz o que esperar para os proventos em 2026
Como enterrar um projeto: você já fez a lista do que vai abandonar em 2025?
Talvez você ou sua empresa já tenham sua lista de metas para 2026. Mas você já fez a lista do que vai abandonar em 2025?
Flávio Day: veja dicas para proteger seu patrimônio com contratos de opções e escolhas de boas ações
Veja como proteger seu patrimônio com contratos de opções e com escolhas de boas empresas
Flávio Day nos lembra a importância de ter proteção e investir em boas empresas
O evento mostra que ainda não chegou a hora de colocar qualquer ação na carteira. Por enquanto, vamos apenas com aquelas empresas boas, segundo a definição de André Esteves: que vão bem em qualquer cenário
A busca pelo rendimento alto sem risco, os juros no Brasil, e o que mais move os mercados hoje
A janela para buscar retornos de 1% ao mês na renda fixa está acabando; mercado vai reagir à manutenção da Selic e à falta de indicações do Copom sobre cortes futuros de juros
Rodolfo Amstalden: E olha que ele nem estava lá, imagina se estivesse…
Entre choques externos e incertezas eleitorais, o pregão de 5 de dezembro revelou que os preços já carregavam mais política do que os investidores admitiam — e que a Bolsa pode reagir tanto a fatores invisíveis quanto a surpresas ainda por vir
A mensagem do Copom para a Selic, juros nos EUA, eleições no Brasil e o que mexe com seu bolso hoje
Investidores e analistas vão avaliar cada vírgula do comunicado do Banco Central para buscar pistas sobre o caminho da taxa básica de juros no ano que vem
Os testes da família Bolsonaro, o sonho de consumo do Magalu (MGLU3), e o que move a bolsa hoje
Veja por que a pré-candidatura de Flávio Bolsonaro à presidência derrubou os mercados; Magazine Luiza inaugura megaloja para turbinar suas receitas
O suposto balão de ensaio do clã Bolsonaro que furou o mercado: como fica o cenário eleitoral agora?
Ainda que o processo eleitoral esteja longe de qualquer definição, a reação ao anúncio da candidatura de Flávio Bolsonaro deixou claro que o caminho até 2026 tende a ser marcado por tensão e volatilidade
Felipe Miranda: Os últimos passos de um homem — ou, compre na fraqueza
A reação do mercado à possível candidatura de Flávio Bolsonaro reacende memórias do Joesley Day, mas há oportunidade
Bolha nas ações de IA, app da B3, e definições de juros: veja o que você precisa saber para investir hoje
Veja o que especialista de gestora com mais de US$ 1,5 trilhão em ativos diz sobre a alta das ações de tecnologia e qual é o impacto para o mercado brasileiro. Acompanhe também a agenda da semana
É o fim da pirâmide corporativa? Como a IA muda a base do trabalho, ameaça os cargos de entrada e reescreve a carreira
As ofertas de emprego para posições de entrada tiveram fortes quedas desde 2024 em razão da adoção da IA. Como os novos trabalhadores vão aprender?
As dicas para quem quer receber dividendos de Natal, e por que Gerdau (GGBR4) e Direcional (DIRR3) são boas apostas
O que o investidor deve olhar antes de investir em uma empresa de olho dos proventos, segundo o colunista do Seu Dinheiro
Tsunami de dividendos extraordinários: como a taxação abre uma janela rara para os amantes de proventos
Ainda que a antecipação seja muito vantajosa em algumas circunstâncias, é preciso analisar caso a caso e não se animar com qualquer anúncio de dividendo extraordinário
Quais são os FIIs campeões de dezembro, divulgação do PIB e da balança comercial e o que mais o mercado espera para hoje
Sete FIIs disputam a liderança no mês de dezembro; veja o que mais você precisa saber hoje antes de investir
Copel (CPLE3) é a ação do mês, Ibovespa bate novo recorde, e o que mais movimenta os mercados hoje
Empresa de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica, a Copel é a favorita para investir em dezembro. Veja o que mais você precisa saber sobre os mercados hoje
Mais empresas no nó do Master e Vorcaro, a escolha do Fed e o que move as bolsas hoje
Titan Capital surge como peça-chave no emaranhado de negócios de Daniel Vorcaro, envolvendo mais de 30 empresas; qual o risco da perda da independência do Fed, e o que mais o investidor precisa saber hoje
A sucessão no Fed: o risco silencioso por trás da queda dos juros
A simples possibilidade de mudança no comando do BC dos EUA já começou a mexer na curva de juros, refletindo a percepção de que o “jogo” da política monetária em 2026 será bem diferente do atual
Tony Volpon: Bolhas não acabam assim
Wall Street vivencia hoje uma bolha especulativa no mercado de ações? Entenda o que está acontecendo nas bolsas norte-americanas, e o que a inteligência artificial tem a ver com isso