A principal mensagem dada pelo presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, e pelo diretor de Política Econômica, Carlos Viana, é que não existe relação direta e mecânica entre aprovação da reforma da Previdência e a condução da política monetária.
Ao contrário do que o mercado se apega e aposta, de que a Selic cai quando a reforma passar na Comissão Especial, no plenário da Câmara ou do Senado, o Comitê de Política Monetária (Copom) avalia como a aprovação da reforma afetará a trajetória futura da inflação.
“Não tem relação mecânica. São vários fatores que consideramos. Por isso falamos em balanço de riscos. Não é a reforma em si. É como a reforma afeta a inflação”, disse Campos Neto, na coletiva para divulgação do Relatório de Inflação.
Segundo Campos Neto, o BC entende que a reforma será aprovada e que a aprovação gera condições estimulativas para a economia. Mas que é impossível fazer previsão além dessa.
O presidente também disse que não é função do BC fazer diversos cenários sobre aprovação da reforma, até porque não se sabe que texto será aprovado pelo Congresso.
“Não trabalhamos o quanto está precificado ou o que tem no cenário A, B ou C. Não sabemos se será uma reforma muito ou menos robusta. Não trabalhamos com essas hipóteses sobre o que está no Legislativo. Analisamos os riscos e propomos um caminho que seja razoável para a sustentabilidade de preços no longo prazo”, explicou Campos Neto.
O presidente também enfatizou que o balanço de riscos está mais favorável para inflação na comparação com as reuniões anteriores e que isso também decorre da avaliação dos outros vetores avaliados, com a própria debilidade da atividade econômica, e o cenário externo.
Chantagem e pressão
Campos Neto negou que haja qualquer tipo de chantagem ou pressão sobre o Congresso nacional pela aprovação das reformas.
Essa visão e a pergunta feita ao presidente decorrem, justamente, da avaliação prevalente no mercado de que aprovando reforma, teremos corte de juros (algo não necessariamente verdadeiro, como vimos acima).
“Não, de nenhuma forma tem pressão no Congresso. Quando tem fator de risco importante, temos de mencionar, pois faz parte da análise do Copom”, disse Campos Neto.
Carlos Viana ponderou que uma frustração com a reforma geraria aumento nos prêmios de risco no mercado, afetando taxas de câmbio e de juros, o custo de capital e os comportamentos dos atores da economia real.
Política Cambial
O presidente também fez questão de enfatizar que não há mudança alguma na política cambial do Banco Central, que continuará atuando com o instrumento que achar necessário de acordo com as condições de mercado.
“Não tem mudança de política cambial. Somente o que temos tentado dizer é que não temos discriminação com relação aos diferentes instrumentos que temos na mesa”, afirmou.
O BC pode atuar no câmbio via swaps (com maior impacto no mercado futuro), com leilões de linha (que atendem à demanda à vista) e por atuações diretas via compra ou venda de dólares.
“Temos dito que vamos operar tentando maximizar a política cambial, no sentido de que temos política de câmbio flutuante e que vamos atuar quando tiver problema de liquidez e quando os preços relativos dos instrumentos cambiais estiverem distorcidos”, explicou.
Compulsórios
Segundo o presidente do BC, a redução de depósitos compulsórios, fatia de recursos que os bancos têm de deixar depositados no próprio BC, não substitui a política monetária (taxa de juros).
“Gostaria de deixar bastante claro que compulsório não substitui política monetária. Não é essa a nossa visão e não é essa a nossa intenção”, afirmou.
De acordo com o presidente, o tema compulsório está mais relacionado à agenda de reformas microeconômicas que deem ao BC veículos de assistência à liquidez ao sistema financeiro. Segundo o presidente, o se o BC dispor de outro instrumento prudencial, os compulsórios poderão ser mais baixos.
Sobre a redução de alíquota anunciada ontem, Campos Neto disse que o BC enxerga para queda estrutural de compulsório. Afastando a ideia de que o BC usa o instrumento para tentar estimular a economia.