Em sua primeira coletiva como presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto transmitiu a mensagem de que o Comitê de Política Monetária (Copom) não reage a eventos de curto prazo sobre reformas, crescimento ou mercado externo, reforçando expectativa de estabilidade da Selic em 6,5% ao ano.
“O Copom tenta se abstrair da alta frequência. Tem elementos de incerteza na parte externa e reformas. Temos observados nível de ruído no mercado. O que podemos falar é que reavaliamos o cenário e vamos atuar quando necessário, mas o importante é ter um planejamento de longo prazo”, disse.
Campos Neto foi bastante perguntado sobre os ruídos políticos envolvendo a reforma da Previdência e se o BC teria uma estimativa de quando a reforma seria aprovada.
Segundo o presidente, não tem como o BC ter uma expectativa sobre a aprovação, pois esse é um tema do Legislativo. Ele lembrou que o ministro Paulo Guedes está fortemente empenhado, e completou afirmando que:
“Estamos confiantes que será aprovada. É o que podemos falar no momento.”
Segundo Campos Neto, o que importa para o BC é a influência das expectativas com relação às reformas nos canais de transmissão da política monetária. Quando a isso, disse o presidente, não tem como fazer teses sobre o quanto de reforma está ou não no preço do mercado. “Revisamos frequentemente.”
Campos Neto fez questão de explicar que o tomou o cuidado de não mudar nada na forma como o BC vinha atuando. “Tivemos a preocupação de manter a narrativa anterior e olhar três fatores determinantes, ociosidade, parte externa e reformas”, disse.
O que mudou foi a avaliação do balanço de riscos, que mostra os vetores com maior influência na inflação, que saiu de assimétrico para simétrico. Sobre o timing de avaliação, Campos Neto explicou que a expressão que mais se enquadrou foi “curto prazo”, para dizer que essa avaliação deve levar mais algum tempo. “Não temos como tomar medida no curto prazo.”
“Entendemos que existem choques e que precisamos de um tempo maior para avaliar. Que tempo é esse? Não tenho como dizer agora”, afirmou.
Crescimento
Campos Neto e o diretor Carlos Viana reforçaram que os choques do ano passado, como crise em emergentes, greve dos caminhoneiros e eleições, funcionaram como uma série de apertos monetários (alta de juros) e que é preciso mais tempo para avaliar os efeitos disso sobre a atividade.
Segundo o presidente, de forma alguma há complacência com o baixo crescimento. Para o BC, a recuperação segue em rimo gradual e o Produto Interno Bruto (PIB) deve crescer 2% em 2019, previsão menor que os 2,4% estimados no fim do ano passado.
Câmbio
Perguntando sobre o recente aumento de volatilidade na taxa de câmbio, que levou o dólar a testar a linha dos R$ 4,0, Campos Neto lembrou que já instabilidade também em Turquia e Argentina.
“Não tem mudança de estratégia com relação ao câmbio, que é flutuante e vamos sempre fazer as intervenções visando suprir liquidez, entendendo o instrumento mais demandado”, disse.
Sobre a atuação desta quinta-feira com leilão de linha, Campos Neto disse que o BC viu o aumento no cupom cambial (juro em dólar) e resolveu atuar. Movimento de alta do cupom geralmente estão associados à demanda por dólar à vista.
Cena externa
Segundo Campos Neto, o que importa na avaliação do BC é qual o impacto sobre o cenário de liquidez global. Já tivemos desaceleração global de atividade com aumento de liquidez e também vimos desacelerações mais fortes, seguidas de crises de aversão a risco, com saída de capital de emergentes e Brasil.
No momento, disse Campos Neto, “não temos como fazer essa avaliação”. Ele também citou preocupações com o crescimento na Europa e com a incerteza sobre o funcionamento das medidas tomadas pela China para estimular o crescimento por lá.
Paulo Guedes
Perguntado sobre a fala de ontem de Guedes de que com reforma da Previdência o juro poderia caria até 2 pontos, Campos Neto lembrou que o ministro enfatiza a independência do BC em tomar as decisões que tem de tomar.
Segundo Campos Neto, as reformas são importantes para reduzir a chamada taxa estrutural de juros de longo prazo e não tem como quantificar o impacto das reformas no curto prazo. Para ele, a reforma vai proporcional maior visibilidade fiscal e aumento da credibilidade.