Colocando o histórico do tema reforma da Previdência em perspectiva, os resultados de Jair Bolsonaro e Paulo Guedes superam as expectativas
A profusão de notícias é tamanha que, por vezes, perdemos o senso de evolução com relação aos temas que estão em discussão. Conversava sobre a reforma da Previdência com um amigo, comentando sobre as 4h20 da entrevista coletiva feita na última quarta-feira para explicar os principais pontos do texto enviado ao Congresso, quando me dei conta de olhar o assunto com uma perspectiva um pouco mais ampla. A conclusão de ambos é de que até agora as melhores expectativas foram atendidas.
Durante a campanha e pouco depois da eleição, a dúvida era se Paulo Guedes teria conseguido convencer Jair Bolsonaro sobre a importância da reforma. O capitão sempre teve um discurso contrário, chegando a dizer que jamais atuaria para levar “miséria” aos aposentados.
Junto disso, veio a preocupação com relação ao timing de apresentação da reforma. Seria ou não prioridade? Confirmado que alguma reforma seria proposta, as indagações que se seguiram foram com relação à firmeza do ajuste proposto.
Guedes sempre foi defensor de uma reforma “dura”, com idades mínimas iguais para homens e mulheres, e um tempo de transição relativamente curto. Já Bolsonaro falou, pouco depois da posse, em idades de 57 anos para mulheres e 62 para os homens, cenário que foi dado “como martelo batido”, na véspera da apresentação do texto.
No fim, os acontecimentos da semana nos mostraram que Guedes não só convenceu Bolsonaro da importância e urgência da reforma, como o texto apresentado tem sido classificado como “mais duro” que o esperado.
Além disso, o capitão foi até o Congresso Nacional levar a proposta em um importante gesto político. Admitiu que errou quando se posicionou contra a reforma e ainda fez um pronunciamento à nação sobre o tema.
Ao recapitular esses episódios lembrei de algo que Guedes falou em uma reunião com “gente de mercado” que aconteceu no Rio de Janeiro, em agosto do ano passado. Que no “acordo” entre os dois, Guedes trataria da economia e que Bolsonaro reconhecendo suas limitações sobre o tema sempre o ouviria. Já Bolsonaro ficaria com a parte política, já que Guedes é que não tem conhecimento prático nesse campo.
Esse “acordo” voltou a aparecer na solenidade de posse dos presidentes de bancos públicos, quando Bolsonaro lembrou da aproximação e “namoro no bom sentido” com Guedes no período de campanha. Segundo o presidente, foi um sinal de humildade, sem qualquer demérito, reconhecer que Guedes sabe muito mais de economia do que ele, mas que ele sabe mais de política.
Essa dobradinha, composta por conhecimento de um e humildade do outro, parece ter funcionado muito bem até aqui, principalmente no tema reforma da Previdência. Eventuais embates e possíveis decepções são inevitáveis (o caso do leite em pó me veio em mente agora). Mas o importante é que esse bom entendimento persista de agora em diante, já que a reforma entra na delicada fase de barganhas políticas, interesses corporativos contrariados e “fake news”.