Se assustou com a tragédia argentina? E se o dinheiro fosse seu?
Episódios extremos, como o vivido pelos hermanos, servem de alerta para importância de ter posições defensivas na carteira de investimentos

Quando países como Argentina, Turquia ou mesmo Brasil estão dominando o noticiário de economia e finanças no mundo, quase nunca é por um bom motivo. Na segunda-feira, foi a Argentina que arrastou os demais pares depois de uma “surpresa” na corrida eleitoral. Já pensou se fosse o seu dinheiro? Já pensou se um evento desses ocorresse no Brasil? Você sobreviveria?
Para dar uma dimensão da destruição de riqueza, o argentino que foi dormir comprado e feliz na sexta-feira, depois de uma alta de 8% da bolsa, terminou a segunda-feira amargando o segundo pior pregão da história do mundo nas contas da Bloomberg, com uma queda de 48% em dólares do índice Merval.
Olhando só o câmbio, imagine ficar 30% mais pobre em apenas alguns minutos de pregão. Doí né? E dor aqui chega a ser física mesmo. E não eram só os pequenos que estavam “com o pé trocado”, pesquisa do Bank of America Merrill Lynch mostrou que dois em cada três gestores também acreditavam em melhora no quadro político. Pois é, não deu.
Guardadas as proporções, tivemos episódio parecido no famigerado “Joesley Day”, em 2017, que até já virou “data” no mercado (você lembra quanto perdeu ou ganhou naquele dia?). E nada impede que algo semelhante venha a ocorrer.
Não vou entrar no mérito aqui de eventos possíveis/previsíveis ou não (o tal do cisne negro ou cisne cinza, se preferir). A ideia da conversa é enfatizar que por mais chato e sem graça que pareça, ter alguma posição defensiva na sua carteira de investimento é a diferença entre sobreviver ou não a esses eventos extremos. Comprar o carro (montar as posições) é muito mais divertido que ficar cotando o seguro (montar o hedge). Mas no fim, acabamos fazendo a parte chata também.
Aproveito o assunto e deixo o link para nosso e-book sobre investimentos no segundo semestre. Também sugiro a leitura de duas matérias da Julia Wiltgen sobre investimentos para conservadores e arrojados. No fim da pagina tem o link para uma conversa sobre investimentos no exterior.
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'Wall of worry'
Para quem está achando que Argentina é um caso isolado, levantei aqui uma lista de temas que estão no radar e tem potencial de balançar o mundo dos investimentos ou o que se chama de “wall of worry”, ou eventos a se superar. Há também os “unknows unkonws”, do ex-secretário dos EUA Donald Rumsfeld. Mas vamos à lista:
- Guerra comercial
- Guerra cambial
- Brexit
- Relação China/Hong Kong
- Dívida corporativa americana
- Dívida pública americana
- A própria China e seu mercado de crédito (três grandes bancos já foram resgatados neste ano)
- Irã com EUA e Arábia Saudita
- Índia e Paquistão brigando pela Caxemira – lembre-se os dois têm bombas nucleares
- Turquia
- Venezuela
- Aquecimento global/mudanças climáticas
O ponto é que esses e outros eventos estão por aí e numa segunda-feira qualquer, ou mesmo na preguiçosa sexta-feira à tarde, eles podem virar o destaque no noticiário, levando a movimentos exuberantes de fuga de risco (risk off) ou a um “sea of red” como dizem os dramáticos colegas americanos.
Sobreviver é o primeiro passo
Procurei o gestor da Vérios Investimentos, Pedro Mota, para falar do tema depois de ler alguns tuítes seus sobre o assunto. A Vérios oferece carteiras personalizadas que fazem alocações automáticas levando em conta o perfil de cada cliente. A equipe de gestão trabalha com 15 robôs que ajudam a buscar uma “carteira ótima”, além de fazer os rebalanceamento entre as diferentes classes de ativos.
https://twitter.com/PedrooLula/status/1161253283417198593?s=20
Segundo Mota, a ideia da Vérios e que também deve guiar os demais investidores é a busca por ativos não correlacionados. Pense assim: Quando o Ibovespa toma uma surra, que ativo poder estar subindo ou apanhando menos?
“A diversificação traz a paz de espírito para você conseguir passar por essas situações. Não existe hedge perfeito, mas o primeiro passo para qualquer investidor é sobreviver ao mercado. A recuperação de uma queda de 50% em um dia é quase impossível”, explica.
Sem uma posição diversificada, o investidor tem de ter o tempo e a habilidade de fazer o que se chama de “market timing”, estando sempre comprado ou vendido em alguma coisa e, claro, acertando o tempo certo de virar a mão.
“Não é todo tipo de investidor que tem tempo e habilidade para fazer esse acompanhamento”, diz Mota.
Aqui no Brasil, diz o gestor, a lista de ativos descorrelacionados à disposição do investidor conta com os fundos quantitativos, long e short de ações, índices e ETFs e fundos de ouro. “Cada vez mais a pessoa física consegue buscar esses ativos que têm comportamento diferenciado.”
Na Vérios, diz Mota, a proteção das carteiras é feita via posições em dólar e S&P 500, também disponíveis a todos. Para quem tem certa intimidade com o mercado de ações, opções de venda (puts) também podem compor a estratégia de defesa.
Tenha um plano!
Também conversei com Adriano Cantreva, sócio da Portofino Investimentos, que faz a gestão de portfólio para cerca de 250 famílias brasileiras. Mas antes de falar sobre diversificação de investimentos seja no Brasil ou mundo, Cantreva disse que o ponto principal é ter um plano.
“As pessoas começam a investir e não têm um plano bem definido. Saber onde se quer chegar. Se e quando chega a algum lugar, é sorte”, diz Cantreva.
Então, o primeiro passo é montar esse plano (invisto para ter ganho financeiro? me aposentar? faculdade?). Feito o plano, monta-se uma estratégia de investimento e, depois disso, começa o trabalho de refinar as posições e diversificações.
Outro ponto importante é que feito o plano, siga o plano. Parece redundante falar isso, mas muitos investidores duvidam do plano quando eventos extremos acontecem.
“É nessa hora que o cara comete erro. Mesmo quem faz o plano, na hora do calor, se desvia dele.”
Só para ressaltar a importância de ter um plano de investimento, Cantreva nos diz que um investidor argentino com planejamento jamais teria 100% do seu capital investido na Argentina.
“Ninguém em sã consciência ia fazer um plano de ficar 100% comprado em Argentina dado o histórico do país”, avalia.
Fazer esse plano de investimento é particularmente importante, diz Cantreva, dentro de um cenário de juros baixos e que tendem a permanecer baixos no Brasil por longo período. CDI alto desobrigava o investidor a pensar nisso.
Pense globalmente
O Brasil, segundo Cantreva, representa algo como 3% dos ativos globais. Partindo dessa informação, o ponto para qual ele chama atenção é que por mais que você tenha, imóveis, ações, renda fixa ou qualquer outro produto, sua diversificação está restrita a 3% dos ativos mundiais.
“Tem outros 97% de ativos nos quais você não está diversificado”, explica.
Assim, não importa apenas a diversificação em classes de ativos, mas também a diversificação geográfica desses ativos.
Segundo Cantreva, temos, basicamente, três tipos de ativos. Imóveis, geralmente no país de residência. Empresa ou emprego, também onde se reside. E os ativos financeiros, que oferecem a maior oportunidade de diversificação.
“Não que seja ruim ter investimentos no Brasil, o ponto é a concentração de investimentos no mesmo mercado”, explica.
Bônus
Aproveitando que Cantreva tem 27 anos acompanhando os mercados lá de Nova York, falamos um pouco sobre a visão do gringo e porque não estamos vendo um firme fluxo de portfólio para cá.
Segundo Cantreva, o Brasil tem uma chance de ouro para decolar, para mudar de patamar. Os locais parecem entender isso, mas o estrangeiro ainda duvida se vamos conseguir entregar dessa vez. “O estrangeiro está esperando para ver.”
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