Antes de embarcar para Brasília, vindo de Israel, o presidente Jair Bolsonaro, disse que iria “jogar pesado” na reforma da Previdência. De volta ao Palácio do Planalto esteve com lideranças de cinco partidos que acenaram apoio ao presidente e sua agenda, mas não abraçaram a causa.
Os partidos do centrão ou centro-direita é que devem garantir os votos para as reformas nas comissões e no Plenário. A oposição, apesar de articulada e barulhenta, como bem vimos ontem na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, simplesmente não têm votos
Uma avaliação das falas dos líderes do PRB, PRB, PSD, PP, DEM, que fazem parte do chamado centrão, e do PSDB, mostra um razoável alinhamento de posturas com a agenda de reformas, mas não saíram determinações de fechamento de questão.
Isso quer dizer que, por ora, os líderes partidários não vão usar o poder que exercem sobre suas bancadas para fazê-las votar de maneira uniforme. Esses partidos, mais o MDB, somam quase 200 votos, dos 513 da deputados.
O presidente do PSD, Gilberto Kassab, deu bem o tom, falando que “o partido não fechará questão”, mas fará um esforço intenso para mostrar aos seus deputados a importância da agenda de reformas. Geraldo Alckmin, do PSDB, foi na mesma linha: apoia as reformas, mas será independente do governo.
Disposição
Como política também se faz por gestos a disposição de receber os líderes passa a ideia de um Bolsonaro mais disposto a fazer a articulação e defesa de sua agenda de reformas.
No entanto, segue o impasse de Bolsonaro sobre como negociar com lideranças partidárias e não decepcionar um eleitorado e seu discurso de não ceder “à velha política”. Durante a campanha o presidente acenou que negociaria com bancadas, mas essa articulação não se mostrou possível ou suficiente para arregimentar votos.
Essa angústia do presidente transparece claramente na postagem feita agora à tarde, comentando as reuniões que teve, destacando que “nada se falou sobre cargos”.
Pela manhã me reuni com vários presidentes e líderes de partidos. Tudo ocorreu em alto nível. Ao contrário do que propalado por alguns, nada se falou sobre cargos. Executivo e Legislativo unidos, por uma causa que representa o futuro de nossos filhos e netos: a Nova Previdência.
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) April 4, 2019
Pode ser que o presidente consiga costurar apoio de outras formas, talvez por projetos votados, algo como você me apoia agora que eu trabalho com você em alguma outra matéria de seu interesse.
O modelo é mais trabalhoso que a construção de uma base, nos moldes do que seria a velha política de “presidencialismo de coalizão”, na qual o Executivo cedia espaço ao Legislativo em troca de votos no parlamento.
No entanto, formato foi desgastado ao extremo, quando o Executivo passou a comprar parlamentes, como vimos nos diversos escândalos de corrupção dos últimos anos. Lembram que Bolsonaro disse que não queria jogar dominó no xadrez com Lula e Temer?
As conversas e recepções são parte da cena política, mas o jogo exige um pouco de troca de poderes e o desafio de Bolsonaro é como fazer isso sem se contradizer ou decepcionar seu eleitorado cativo. Cargos e verbas podem ser demandas legítimas, o difícil é como explicar isso.