Por ora, o time da economia parece ter vencido mais uma queda de braço contra a turma da política. Em disputa, o incompreendido teto de gastos, medida que limita o crescimento das despesas públicas à inflação, e tem se mostrado fundamental para o controle da inflação e queda da Selic para mínimas históricas
Logo cedo, nesta quinta-feira, o presidente Jair Bolsonaro foi ao seu “Twitter” para dizer o seguinte:
Temos que preservar a Emenda do Teto. Devemos sim, reduzir despesas, combater fraudes e desperdícios. Ceder ao teto é abrir uma rachadura no casco do transatlântico. O Brasil vai dar certo. Parabéns a nossos ministros pelo apoio às medidas econômicas do Paulo Guedes.
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) September 5, 2019
Com a afirmação, esvazia-se uma escalada que aconteceu ontem, depois que Jair Bolsonaro disse que apoiaria alterações na regra para não faltar luz nos quartéis. O presidente era questionado sobre notícia do “Estadão” falando que as alas políticas e militares defendiam mudanças. O próprio presidente já tinha tido que isso poderia atrapalhar seus planos de reeleição.
Ainda ontem, em uma nova rodada, o porta-voz da Presidência, general Otávio Rêgo Barros, reafirmou que Bolsonaro defendia sim alterações no teto. Movimento pouco compreendido, pois a fala do porta-voz aconteceu pouco depois de Bolsonaro deixar o Ministério da Economia, onde esteve reunido com Paulo Guedes.
Essa última fala do porta-voz é que elevou a temperatura do debate e, não por acaso, o tema foi destaques nos jornais de hoje.
Ontem, discutimos os riscos que uma alteração do teto poderia causar e usamos o exemplo da Argentina para mostrar a capacidade destrutiva das reversões de expectativas. O ponto não é rever regras que não estejam funcionando bem, mas sim a sinalização que se passa. Um aceno de afrouxamento no controle das despesas visando eleições poderia colocar por terra os ganhos no combate à inflação e queda de juros.
Embates naturais
Tendemos a ver o governo como um monolito, uma coisa só, mas não é bem assim. São diferentes alas disputando poder e influência. No governo Bolsonaro podemos identificar alguns núcleos e temos o presidente como arbitrador, ou técnico do time, como ele mesmo diz.
O núcleo econômico, liderado por Paulo Guedes, a ala política, com Onyx Lorenzoni, os militares, os responsáveis pela agenda de costumes e o ministro da Justiça, Sergio Moro.
Embates acontecem, mas o presidente tem mostrado alguma habilidade em alinhar interesses díspares. No campo econômico, Guedes tem levado vantagem, basta lembrar que possível controle de preço de combustíveis não voltou mais para a pauta e o presidente já não descarta eventual privatização da Petrobras.
A dúvida que fica é o que Guedes teria tido a Bolsonaro para convencê-lo da importância to teto de gastos. Será que ele usou o argumento da Argentina? Vale lembrar que o próprio Guedes já disse que a eleição do Bolsonaro impediu que o Brasil virasse uma Venezuela, mas não garantiu o país não vire a Argentina.