Discutimos ao longo de toda a semana passada o fato de o cenário estar assimétrico no mercado de câmbio, com os vetores mais favoráveis aos comprados, que ganham com alta do dólar, que aos vendidos. Mas nada como o impacto psicológico e midiático de anunciar que o dólar fechou acima de R$ 4,20 pela primeira vez na história, mesmo que a máxima seja nominal.
Não temos grandes novidades no cenário, mas o rompimento dessa linha deve ampliar a ansiedade do mercado com relação à postura do Banco Central (BC). Algum aceno pode vir na manhã desta terça-feira, seja via mesa de operações ou pela fala do presidente Roberto Campos Neto, que comparece à Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado.
Será que teremos atuação no câmbio além das ordinárias, como vimos em agosto? Aliás, foi pouco depois de discuso na mesma CAE que o BC vendeu dólares das reservas pela primeira vez desde 2009, com cotação a R$ 4,19 na máxima do dia 27 de agosto.
Antes de seguir adiante, repito aqui o conselho prático já dado por aqui outras vezes: "Seja qual for o comportamento futuro do câmbio, é prudente você sempre manter uma exposição em dólar na sua carteira. Nós inclusive já escrevemos uma reportagem para ajudar você nessa tarefa."
Falta moeda
Como já dissemos, a liquidez em dólar no mercado local está escassa e não é de hoje. Entre os vetores que reduzem a oferta de moeda por aqui temos, mais recentemente, a frustração com os leilões do pré-sal e as tensões políticas no Chile e na Bolívia.
Além disso, temos a sazonalidade de fim de ano, com empresas e fundos fechando balanços e ampliando a demanda por remessas. Algo que pode ampliar ainda mais o buraco no fluxo cambial, que caminha para ser o maior da história, com mais de US$ 20 bilhões deixando o país.
No lado mais estrutural, temos discutido o fim dos fluxos de curto prazo, notadamente, para operações de arbitragem de taxa de juros (carry-trade), reflexo da queda de diferencial da Selic com os juros globais.
Também já conversamos sobre a atuação das empresas no mercado de dívida, com claro movimento de troca de endividamento externo por doméstico, algo que elevou a demanda por moeda americana ao longo de todo o ano.
Dólar x Selic
Dólar acima de R$ 4,20 também deve fomentar as discussões sobre impacto na inflação e, consequentemente, no espaço para o Comitê de Política Monetária (Copom) seguir cortando a Selic.
O BC já acenou que haveria espaço para novo corte de meio ponto em dezembro, levando o juro básico a 4,5% ao ano, mas que ir além disso exigiria cautela.
Na última pesquisa com gestores de América Latina do Bank of America, a maioria dos consultados avalia que dólar acima de R$ 4,2 poderia impedir uma Selic abaixo de 4,5% ao ano.
Na última vez que falou sobre o assunto, Campos Neto, destacou que a alta do dólar acontece em um ambiente de inflação controlada, expectativas nas metas e juros em queda. Algo praticamente inédito na história do país. Segundo o presidente, o que importa para o BC é o impacto que o câmbio pode vir a ter sobre a inflação e as expectativas.