Cautela, serenidade e perseverança ao quadrado na ata do Copom
Banco Central afirma que estímulo está adequado e que crescimento depende da redução de incertezas, que passa pela aprovação de reformas

A ata referente à última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) reiterou cautela, serenidade e perseverança na condução da taxa básica de juros, reforçando que a Selic permanece estável em 6,5% ao ano por um bom período de tempo.
Juro baixo e estável é boa notícia para os ativos de risco, como bolsa de valores e também estimula a queda dos juros de longo prazo. No entanto, a manutenção desse cenário depende da aprovação das reformas, notadamente as de natureza fiscal. Assim como você, eu e o restante do mercado, o BC precisa saber que reforma da Previdência saíra do Congresso e quando isso acontecerá.
Essa foi a primeira reunião do Copom comanda por Roberto Campos Neto, que já tinha indicado que manteria o desenho de política feito por seu antecessor, Ilan Goldfajn.
O BC deixou de dedicar um parágrafo para comentar eventual aceno sobre os passos futuros, optando por reafirmar, pela segunda no comunicado, “cautela, serenidade e perseverança”.
Até então, o BC afirmava que a atual conjuntura recomendava maior flexibilidade para a condução da política monetária, o que implicava em abster-se de indicar os próximos passos.
Para o BC, a política monetária está estimulativa, ou seja, o juro real está baixo da taxa neutra, e “que uma aceleração do ritmo de retomada da economia para patamares mais robustos dependerá da diminuição das incertezas”, o que passa pela aprovação das reformas.
Leia Também
Felipe Miranda: Recuperação técnica?
Aquém do esperado
O BC aprofunda um pouco a discussão sobre o crescimento, que tem decepcionado e estimulado um debate de que a Selic poderia ter caído e deveria cair ainda mais como forma de estimular a retomada, sem ameaçar o cumprimento das metas de inflação.
O colegiado confirma um crescimento aquém do esperado no fim de 2018, fala do impacto disso sobre o “carregamento estatístico”, que se reflete na redução das projeções de 2019 e que esses prognósticos também parecem refletir indicadores preliminares disponíveis para os primeiros meses do trimestre corrente.
Ainda assim, o BC reforça que a dinâmica é consistente com seu cenário básico de recuperação em ritmo gradual. O BC mantém projeção de alta do PIB de 2,4%, que poderá ser revista ainda nesta semana.
Para o BC, mesmo com as revisões das projeções do mercado da linha de 2,5% para cerca de 2%, os prognósticos para o crescimento do PIB na margem, ou seja, do primeiro ou segundo trimestres em diante, em relação aos trimestres anteriores, "não sofreram alterações relevantes".
Segundo o BC, a economia sofreu diversos choques adversos em 2018, como greve dos caminhoneiros, crise de emergentes e incerteza eleitoral. “Esses fatores produziram impactos sobre a economia e aperto relevante das condições financeiras, cujos efeitos sobre a atividade econômica persistem mesmo após cessados seus impactos diretos”, diz o Copom.
Ainda de acordo com o BC, esses choques devem ter reduzido sensivelmente o crescimento que a economia brasileira teria vivenciado na sua ausência.
Aqui fica uma dúvida, se o BC está apenas relatando o passado, ou sugerindo que tivemos uma perda de PIB potencial, ou seja, a capacidade de a economia crescer sem gerar inflação estaria menor.
Essas explicações ajudam a fundamentar a preferência por “observar o comportamento da economia brasileira longo do tempo, com menor grau de incerteza e livre dos efeitos dos diversos choques a que foi submetida no ano passado”.
“O Comitê considera que esta avaliação demanda tempo e não deverá ser concluída a curto prazo.”
Inflação
Segundo o BC, a inflação e sua tendência (núcleos) estão em níveis apropriados ou confortáveis (senha para ao redor das metas) e as projeções indicam convergência da inflação em direção às metas ao longo de 2019 (4,25%) e 2020 (4%), que ganha cada vez mais relevância no horizonte de política monetária.
Na quinta-feira, dia 28, o BC apresenta o Relatório de Inflação, detalhando as projeções até 2021, mas na ata, o BC já antecipa elevação da inflação nos próximos meses, que deverá levar a inflação acumulada em doze meses a atingir um pico em torno de abril ou maio próximos.
Em seguida, explica o BC, a inflação acumulada em doze meses deve recuar e encerrar o ano em torno dos níveis projetados de 4%. Mas faz uma ponderação: “a consolidação desse cenário favorável no médio e longo prazos depende do andamento das reformas e ajustes necessários na economia brasileira”.
Agora pela manhã, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) de março, que surpreendeu para cima ao marcar 0,54%, maior desde 2015, ante 0,34% em fevereiro. O resultado ficou acima da mediana do mercado de 0,5%, da “Projeções Broadcast”. Em 12 meses, a variação é de 4,18%.
Os núcleos, no entanto, mostram redução na margem, mas têm breve aceleração na medição em 12 meses, segundo os cálculos da CM Capital Markets. O grupo alimentação respondeu por 0,32 pontos da inflação.
De volta à ata, os riscos de alta e de baixa da inflação estão equilibrados. Por um lado, a atividade fraca pode manter o IPCA abaixo da meta. De outro lado, uma frustração com as reformas pode colocar os preços para cima, risco que se intensifica em caso de piora externa.
Cenário externo desafiador
O Copom mantém a avaliação de um quadro internacional desafiador e discutiu diferentes trajetórias para a economia americana.
O primeiro cenário é de desaceleração relevante da atividade econômica. O segundo cenário é de continuidade do vigor exibido nos últimos anos.
Segundo o BC, esses dois cenários têm implicações opostas para o rumo da política monetária do Federal Reserve (Fed), banco central americano, que passou a emitir sinais de que pretende aguardar a resolução dessa incerteza ao longo do tempo.
O Fed também esteve reunido na quarta-feira da semana passada e reiterou paciência na condução da política monetária por lá, deixou de projetar alta de juros em 2019 e redesenhou o programa que lida com os ativos do seu balanço.
Além disso, os membros do Copom avaliaram que os riscos associados a uma desaceleração da economia global se intensificaram, pois a Europa dá sinais de desaceleração econômica relevante e “fatores indutores de incerteza” podem contribuir para um crescimento global ainda menor.
Dentro desse contexto, o BC voltou a destacar a capacidade que a economia brasileira apresenta de absorver revés no cenário internacional, devido ao seu balanço de pagamentos robusto, à ancoragem das expectativas de inflação e à perspectiva de recuperação econômica.
Toda essa discussão sobre cenário externo guarda relação com a cotação da moeda americana, que tem influência não desprezível sobre o comportamento da inflação. Para dar um parâmetro, entre a reunião de fevereiro e a da semana passada, o dólar considerado no modelo de projeção subiu de R$ 3,70 para R$ 3,85, com o IPCA estimado avançando de 3,9% para 4,1% em 2019.
Brasil não vive crise como a de 2016, mas precisa largar o ‘vício em gasto público’ se quiser que os juros caiam, diz Mansueto Almeida, do BTG
Comentários do economista-chefe do banco foram feitos durante evento promovido pelo BTG Pactual na manhã desta quarta-feira em São Paulo
Inflação desacelera a menor nível para janeiro desde o Plano Real, mas não vai impedir Galípolo de continuar subindo os juros
Inflação oficial desacelerou de +0,52% para +0,16% na passagem de dezembro para janeiro, mas segue fora da meta no acumulado em 12 meses
Dividendos acima da Selic: FII de crédito com dividend yield projetado de 14% em 2025 é o favorito de analista em fevereiro
Analista destaca que esse FII pode entregar retornos atrativos com a valorização das cotas e a renda extra isenta; o ativo está sendo negociado com 20% de desconto
Um (dilema) Tostines na bolsa: Ibovespa reage a balanços e produção industrial em dia de aversão ao risco lá fora
Santander Brasil é o primeiro bancão a divulgar balanço do quarto trimestre de 2024; Itaú publica resultado depois do fechamento
Dólar registra maior sequência de perdas ante o real na história com “trégua” do tarifaço de Trump
A moeda norte-americana fechou a R$ 5,77, chegando no menor nível desde novembro do ano passado durante a sessão
Galípolo prepara a caneta: a meta de inflação já tem data para ser descumprida — e isso tende a tornar o Banco Central ainda mais rigoroso
Ata do Copom trouxe poucas novidades em relação ao comunicado, mas proporcionou vislumbres sobre o novo regime de metas de inflação.
Magazine Luiza (MGLU3) afunda quase 5% na bolsa após ata do Copom e lidera as perdas do Ibovespa hoje. O que está por trás do tombo?
A gigante do varejo não é a única no vermelho nesta sessão. No pódio de maiores quedas, a CVC (CVCB3) vem logo na esteira, com quedas da ordem de 4,55%
Um olho na estrada, outro no retrovisor: Ibovespa reage à ata do Copom enquanto se prepara para temporada de balanços
Investidores também repercutem a relatório de produção e vendas da Petrobras enquanto monitoram desdobramentos da guerra comercial de Trump
A mensagem de uma mudança: Ibovespa se prepara para balanços enquanto guerra comercial de Trump derruba bolsas mundo afora
Trump impõe ao Canadá e ao México maiores até do que as direcionadas à China e coloca a União Europeia de sobreaviso; países retaliam
Agenda econômica: Discursos de lideranças do Fed e ata do Copom movimentam a semana de IPCA no Brasil
Após a Super Quarta, a semana deve ser agitada por indicadores decisivos e dados sobre atividade econômica e inflação por aqui
A bolsa assim sem você: Ibovespa chega à última sessão de janeiro com alta acumulada de 5,5% e PCE e dados fiscais no radar
Imposição de tarifas ao petróleo do Canadá e do México por Trump coloca em risco sequência de nove sessões em queda do dólar
A forte valorização da bolsa mesmo com a Selic subindo mostra como as ações estão baratas
Ter uma boa parte da carteira em renda fixa aproveitando a Selic elevada faz todo o sentido. Mas eu não deixaria de ter algumas ações boas e baratas na carteira, especialmente se forem boas pagadoras de dividendos.
Ações do Magazine Luiza (MGLU3) saltam 10% com Ibovespa nas alturas. O que está por trás da pernada da bolsa hoje?
Por volta das 15h08, o principal índice de ações da B3 subia 2,78%, aos 126.861 pontos, com as ações cíclicas dominando a ponta positiva
Alta da Selic, autonomia do BC e novo comando da Vale (VALE3): as falas de Lula que ajudam o Ibovespa e as ações da mineradora hoje
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva realizou a primeira coletiva de imprensa do ano nesta quinta-feira (30) e falou também sobre a questão fiscal e a alta do preço dos alimentos
O primeiro encontro: Ibovespa reage à alta dos juros pelo Copom e à manutenção das taxas pelo Fed
Alta dos juros pesa sobre Ibovespa e ativos de risco em geral, mas é positiva para a renda fixa conservadora
Selic sobe a 13,25% e deixa renda fixa ainda mais rentável; veja quanto rendem R$ 100 mil na poupança, em Tesouro Selic, CDB e LCI
Conforme já sinalizado, Copom aumentou a taxa básica em mais 1,00 ponto percentual nesta quarta (29), elevando ainda mais o retorno das aplicações pós-fixadas
Agora sob a batuta de Galípolo, Copom cumpre o prometido, eleva Selic para 13,25% e mantém previsão de alta de 1,0 pp. na próxima reunião
Conforme esperado pelo mercado e antecipado pelo BC, taxa básica de juros subiu 1,0 ponto percentual em decisão unânime do colegiado, mas trajetória da Selic depois de março foi deixada em aberto
Henrique Meirelles: “não basta o BC tomar decisões técnicas sobre os juros. É preciso mostrar que tem autonomia para fazer o que for necessário”
Na opinião de Meirelles, a nomeação do Galípolo é uma vantagem para o mercado, desde que o BC mantenha uma distância respeitosa do governo e faça o que for preciso
Primeira reunião do Copom de 2025 pode levar a Selic para 13,25% ao ano: veja os ativos mais promissores para investir, segundo o BTG Pactual
O BTG Pactual selecionou ativos que podem se beneficiar do ciclo de alta dos juros promovido pelo Copom; confira as recomendações do maior Banco de investimentos da América Latina
Até quando Galípolo conseguirá segurar os juros elevados sem que Lula interfira? Teste de fogo do chefe do BC pode estar mais próximo do que você imagina
Para Rodrigo Azevedo, Carlos Viana de Carvalho e Bruno Serra, uma das grandes dúvidas é se Galípolo conseguirá manter a política monetária restritiva por tempo suficiente para domar a inflação sem uma interferência do governo