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Olivia Bulla
Olivia Bulla
Olívia Bulla é jornalista, formada pela PUC Minas, e especialista em mercado financeiro e Economia, com mais de 10 anos de experiência e longa passagem pela Agência Estado/Broadcast. É mestre em Comunicação pela ECA-USP e tem conhecimento avançado em mandarim (chinês simplificado).
A Bula do Mercado

Tempo fecha nos mercados

Trocas intensivas de provocações entre EUA e China no fim de semana turvam cenário para o mercado financeiro, antecipando tsunami esperado apenas em Brasília

Olivia Bulla
Olivia Bulla
13 de maio de 2019
5:29 - atualizado às 5:59
Investidor recebe declarações de EUA e China como sinal de que o impasse comercial vai durar

Novos tweets do presidente Donald Trump e ameaças de retaliação da China significam que os investidores podem esquecer a melhora ensaiada pelo mercado financeiro na última sexta-feira, quando se dizia que as conversas eram “construtivas”. Os eventos do fim de semana turvaram o cenário em relação à guerra comercial, ampliando a capacidade do tsunami que era esperado só em Brasília - conforme previsão do presidente Jair Bolsonaro - e atingindo em cheio os ativos de risco pelo mundo.

Depois de elevar as tarifas sobre US$ 200 bilhões em produtos chineses e ameaçar taxar mais US$ 300 bilhões em até quatro semanas, Trump disse no sábado, pelo Twitter, que seria “sensato” para a China “agir agora” e concluir um acordo com os EUA logo. Segundo o republicano, o país asiático parece querer esperar pela eleição presidencial em 2020, “para ver se terão sorte com uma vitória democrata”.

“O único problema é que eles sabem que eu vou ganhar e o acordo se tornará muito pior para eles se tiver que ser negociado no meu segundo mandato”, emendou o presidente. Trump disse ainda que adora coletar GRANDES TARIFAS (sic) e uma maneira fácil para as fabricantes norte-americanas de evitá-las seria produzir suas mercadorias dentro dos EUA. “É muito simples”, garantiu.

O outro lado

Já o vice-primeiro-ministro chinês, Liu He, listou o preço para um acordo comercial com Washington, assim que desembarcou em Pequim. Segundo ele, existem três pontos principais de diferença entre os dois país. O primeiro, e mais importante, é de que os EUA removam todas as tarifas adicionais impostas à China. “As tarifas são o ponto de partida da disputa comercial bilateral, e todas elas devem ser removidas se um acordo for feito", disse.

O segundo ponto trata das metas estabelecidas pelos EUA para as compras chinesas, que devem estar compatíveis com a demanda real. Liu disse que os dois lados diferem em quanto a China deve comprar dos EUA, dando a entender que o governo norte-americano está tentando renegociar uma quantia maior, incompatível com o consumo doméstico do país asiático. Isso "é um problema muito sério e não pode ser alterado facilmente", afirmou.

Por fim, Pequim exige que o texto final do acordo seja “equilibrado”, garantindo a "dignidade" de ambas as nações. Segundo Liu, não houve recuos; é “inevitável” ter “soluços” durante as negociações.. Em entrevista às estatais CCTV e Xinhua, o vice-primeiro-ministro indicou que “um pé de igualdade" é a base para o texto e emendou: “[o conflito] Não é apenas uma questão econômica. Tem a ver com muitas outras questões”.

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Entre a guerra e os BCs

Os investidores recebem as trocas intensivas de provocações entre EUA e China como um sinal de que o impasse comercial vai durar. Não há qualquer otimismo para a retomada das negociações. Houve um convite para a delegação norte-americana voltar a Pequim, mas nenhuma data foi marcada. O próximo encontro deve acontecer durante a reunião do G-20, no fim de junho, quando Trump e o presidente chinês Xi Jinping devem se reunir.

Assim, após Wall Street amargar o pior desempenho semanal de 2019 - exceto o Dow Jones, que teve a maior queda desde março - os desdobramentos da guerra comercial devem continuar ditando a tendência de curto prazo dos mercados. O foco dos investidores tende a se concentrar nos impactos da disputa sobre a economia global.

Por ora, os ativos de risco ainda se apoiam na capacidade que os bancos centrais têm para garantir a liquidez financeira - isto é, o fluxo de recursos pelo mundo - via estímulos monetários. Porém, os principais BCs globais parecem ter poderes limitados, uma vez que o sistema financeiro já se provou incapaz de impulsionar a atividade - e o crescimento.

Com isso, o mundo continua a mostrar fragilidade na economia real, em meio à perda de dinamismo de vários países emergentes e desenvolvidos. Já a inflação insiste em seguir baixas em várias economias maduras, ao passo que choques de oferta (alimentos, combustíveis etc.) afetam os preços em nações produtoras e exportadoras - como o Brasil.

Assim, o mercado financeiro ainda coloca grande esperança em uma estabilização econômica global e no poder dos bancos centrais para carregar os ativos. Mas ainda é preciso entender o quanto esse cenário se sustenta, no caso de uma guerra comercial mais longa afetar o crescimento mundial de maneira mais estrutural.

Segunda-feira pesada

O impasse sobre as negociações comerciais entre EUA e China chocam os investidores, que buscam proteção em ativos seguros, penalizando os mercados emergentes. Os índices futuros das bolsas de Nova York exibem perdas aceleradas nesta manhã, com o Dow Jones caindo mais de 300 pontos. As praças na Ásia e Europa também têm queda firme.

A Bolsa de Xangai caiu 1,2%, enquanto Hong Kong permaneceu fechada por causa de um feriado. O yuan chinês (renminbi) teve a maior queda em nove meses, cotado próximo a 6,90 yuans por dólar. Na outra ponta, o iene se fortaleceu, ao passo que o euro está no nível mais elevado em três semanas.

Nos bônus, o juro projetado pelo título norte-americano de 10 anos (T-note) volta aos níveis de março, enquanto o rendimento (yield) do “bund” alemão segue negativo, em -0,05%. Entre as commodities, o petróleo e os metais básicos recuam. Destaque ainda para as commodities agrícolas, com o algodão e a soja caindo por causa da guerra comercial.

Esse sinal negativo vindo do exterior contrata novas perdas para os mercados domésticos, após o Ibovespa sustentar a faixa dos 94 mil pontos na última sexta-feira e o dólar encerrar acima da marca de R$ 3,90 pela quarta semana seguida. Além do cenário externo hostil, os investidores também monitoram a articulação política do governo no Congresso.

Um tsunami na semana

Os próximos dias também não serão de alívio no mercado financeiro. No Brasil, os investidores estão atentos ao governo Bolsonaro, após o presidente falar em um tsunami nesta semana, em evento na última sexta-feira. “Mas a gente vence o obstáculo, com toda certeza”, emendou.

Bolsonaro estava se referindo à redução da quantidade de ministérios, com o governo tentando votar a medida provisória da reforma administrativa no plenário da Câmara. O Executivo tem pressa e, sob o risco de a MP que expira em 3 de junho perder a validade, aceita adiar a tramitação da reforma da Previdência na comissão especial.

Se acumular mais uma derrota, a estrutura da Esplanada volta a ter 29 ministérios, como era na gestão Temer. E o Congresso já estaria até se movimentando para indicador nomes de possíveis ministros. Durante a campanha, o então candidato Bolsonaro prometeu enxugar a máquina para 15 Pastas, mas acabou ficando com 22.

Já no front econômico, os investidores aguardam as publicações do Banco Central ao longo da semana. Hoje, sai o relatório Focus (8h25), que pode trazer revisões, para baixo, nas estimativas do mercado financeiro para o Produto Interno Bruto (PIB) - a décima primeira seguida - e também para a taxa básica de juros (Selic).

Na semana passada, o Comitê de Política Monetária (Copom) manteve a Selic em 6,50% pela nona vez seguida. Parte do mercado financeiro viu o comunicado que acompanhou a decisão como mais suave (dovish), o que aliado aos dados de atividade fraco e inflação comportada, reacendeu a discussão sobre um novo ciclo de cortes de juros.

Com isso, ganha importação a ata da reunião do Copom na semana passada, que sai amanhã. No mesmo dia, será conhecido mais um indicador de atividade, desta vez, sobre o desempenho do setor de serviços em março. No dia seguinte, é esperada a divulgação do índice de atividade econômica medido pelo Banco Central, o IBC-Br.

Já na quinta-feira, sai o primeiro IGP de maio, o IGP-10. Na safra de balanços, a temporada vai chegando ao fim tendo como destaque para os resultados trimestrais de Eletrobras, Embraer e JBS. No exterior, destaque para dados de atividade nos EUA e na China. O desempenho da indústria e do varejo norte-americanos serão conhecidos na quarta-feira.

Na noite do dia anterior, saem os números da produção industrial e das vendas no comércio varejista chinês. Também serão conhecidos dados do setor imobiliário nos EUA, ao longo da semana, além do índice de confiança do consumidor norte-americano, na sexta-feira. Nesse mesmo dia, na zona do euro, saem dados de atividade e de inflação.

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