Copom mantém mantra e China busca um para si
Banco Central repete que é preciso ter “cautela, serenidade e perseverança” na condução do juro básico, enquanto China chega a Washington com uma “espada sobre o pescoço”

O Comitê de Política Monetária (Copom) manteve o mantra “cautela, serenidade e perseverança” ao deixar a taxa básica de juros no piso histórico, descartando, por ora, qualquer chance de corte na Selic. Já a China busca um mantra para si, uma vez que chega a Washington tendo que negociar um acordo comercial com uma “espada sobre o pescoço”.
O presidente norte-americano, Donald Trump, renovou ontem as ameaças sobre Pequim, alegando que o país asiático “quebrou o acordo” comercial que vinha sendo costurado há meses. A declaração ocorreu após a China afirmar que irá retaliar o aumento de 10% para 25% sobre US$ 200 bilhões em produtos exportados aos Estados Unidos, amanhã.
Em reação às novas declarações vindas da Casa Branca, as principais bolsas asiáticas registraram fortes perdas, que foram lideradas por Hong Kong (-2,25%) e seguidas de perto por Xangai (-1,5%). Tóquio caiu 0,9%. No Ocidente, os índices futuros das bolsas de Nova York exibem queda acelerada, indicando uma sessão negativa em Wall Street. O dólar se fortalece, mas cai frente ao iene, enquanto o petróleo recua mais de 1% e o ouro sobe.
O movimento de fuga dos ativos de risco reflete o nervosismo dos investidores com a escalada da tensão comercial entre as duas maiores economias do mundo, sendo que os comentários de Trump elevaram a busca por proteção nos mercados. As declarações foram feitas na Flórida, um dos estados decisivos (swing state) na eleição presidencial, em que nenhum candidato possui maioria absoluta.
Ou seja, Trump já está em campanha pela reeleição em 2020 e visa conquistar os eleitores conservadores na região Sudeste dos EUA com sua retórica protecionista. "Você vê as tarifas que estamos fazendo? Porque eles quebraram o acordo. Eles quebraram o acordo ”, disse. "Eles não podem fazer isso, então eles vão pagar [por isso]."
Com isso, a recepção à delegação chinesa parece ser a pior possível e a expectativa é de que as negociações entre os dois países, que vão até amanhã, podem marcar uma aumento significativo da guerra comercial. E um colapso nas conversas entre EUA e China pode desencadear uma grande onda vendedora (selloff) de ativos de risco pelo mundo, o que inclui o Brasil.
Salvo uma concessão maciça de Pequim às exigências de Washington ou uma reversão extrema na tática de negociação Trump, o conflito entre EUA e China pode durar até 2020. Mas precisamente até as eleições presidenciais norte-americanas - ou além, a depender do resultado do pleito.
Afinal, qualquer medida que seja adotada e que vá na direção contrária a um acordo comercial tende a acirrar a disputa entre as duas maiores economias do mundo, com efeitos danosos para ambas - e para o mundo. A questão é que nenhum dos dois lado quer “perder a face”. Ao contrário, tanto EUA quanto China querem manter o prestígio, evitando perder o respeito enquanto potência econômica (e geopolítica).
Juro longo também baixo
Além do exterior mais avesso ao risco, o mercado doméstico também se ajusta à perspectiva de que o juro básico deve ficar estável durante um período relevante. Mais que isso, a taxa Selic tende a seguir baixa no horizonte à frente, mesmo quando voltar a subir. O problema é que os investidores esperavam uma eventual sinalização de queda à frente, o que seria bem-vinda à atividade doméstica.
O mesmo não se pode dizer para o dólar nem para a inflação. Afinal, os juros baixos no Brasil é um dos fatores responsáveis pela desvalorização do real, diante da menor atratividade no diferencial de juros pago no país em relação ao mundo. Ao mesmo tempo, um dólar forte pesa nos preços de alguns insumos básicos, como os combustíveis.
Para o Banco Central, o cenário básico para a inflação permanecem com fatores de risco em ambas as direções, sendo dois fatores de pressão para cima e um, para baixo. Segundo o Copom, é importante observar o comportamento da economia brasileira ao longo do tempo, o que é refletido nas taxas de juros de longo prazo - e nos DIs.
Para tanto, é fundamental a redução do grau de incerteza da atividade doméstica, o que lança luz sobre as reformas, em especial a da Previdência. Afinal, os investidores veem a aprovação de novas regras para aposentadoria como condição sine qua non para a retomada do crescimento econômico.
Ontem, o ministro Paulo Guedes e sua equipe econômica mostraram aos deputados da comissão especial a necessidade da aprovação da reforma. O destaque na audiência pública ficou com a mudança de postura do Centrão. Após se omitir na defesa do ministro durante a sessão tumultuada na CCJ, os partidos do bloco manifestaram apoio.
Essa disposição ocorre depois de o presidente Jair Bolsonaro ceder às pressões. Portanto, se por um lado a decisão do governo de recriar as pastas de Cidades e Integração Nacional quebra a promessa de se opor à “velha política”; por outro revela maiores chances de aprovação da reforma em tempo mais curto e menos desidratada.
Agenda traz dados de atividade e inflação
O calendário econômico desta quinta-feira está mais carregado, no Brasil e no exterior. Aqui, as atenções se voltam para os indicadores de atividade que o IBGE anuncia, às 9h, sobre as vendas no varejo em março e sobre a estimativa para a safra agrícola neste ano.
Enquanto se espera uma recuperação do comércio varejista em relação a fevereiro, com alta de 1%, o desempenho anual deve interromper uma sequência de sete avanços seguidos e cair 2%. Na safra de balanços, destaque para os resultados trimestrais de Banco do Brasil, antes da abertura, e da Vale, depois do fechamento do pregão local.
Já no exterior, o foco está na inflação. Pela manhã, sai o índice de preços ao produtor norte-americano (PPI) em abril, às 9h30. No fim do dia, a China anuncia o comportamento dos preços no atacado e também ao consumidor (CPI) no mês passado.
Ao longo da manhã, saem os dados da balança comercial dos EUA em março e os pedidos semanais de auxílio-desemprego feitos no país, ambos às 9h30. Neste mesmo horário, o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, discursa em evento em Washington. Ainda na agenda econômica norte-americana, saem os estoques no atacado em março (11h).
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