O mundo vai pagar um preço pela guerra de Trump — a bolsa já dá sinais de quando e como isso pode acontecer
Cálculos feitos pela equipe do Bradesco mostram o tamanho do tombo da economia global caso o presidente norte-americano não recue em definitivo das tarifas

O bater de asas de uma borboleta nos EUA pode desencadear um tufão no Japão. O efeito borboleta nunca se fez tão presente como agora: o presidente norte-americano, Donald Trump, bateu asas com seu tarifaço e agora a economia global está prestes a encarar um tufão.
A guerra tarifária de Trump levou a uma queda generalizada das bolsas de valores ao longo das últimas semanas. O S&P 500, por exemplo, caiu 12% desde o pico em 19 de fevereiro — no pior momento recente, essa queda chegou a 19%.
“Há vários canais pelos quais a queda do mercado acionário impacta o PIB de um país. Primeiro, as empresas podem reduzir investimentos por conta de uma menor capacidade de financiamento. A redução do preço das ações também diminui a riqueza das famílias, levando a uma queda do consumo”, diz o economista Marcelo Gazzano, do Bradesco.
- VEJA MAIS: Momento pode ser de menos defensividade ao investir, segundo analista; conheça os ativos mais promissores para comprar em abril
“O sistema financeiro também pode ser atingido pela queda da bolsa. Isso pode restringir a oferta de crédito para empresas e consumidores”, acrescenta.
Cálculos da consultoria Elos Ayta mostram ainda que as bolsas norte-americanas acumulam um prejuízo de US$ 8 trilhões em 2025 — desse total, US$ 4 trilhões se acumularam desde 2 de abril, dia em que Trump anunciou o tarifaço.
No Brasil, a B3 encolheu US$ 141,8 bilhões em valor de mercado entre os dias 2 e 10 de abril, ainda de acordo com a consultoria.
Leia Também
Os dados compilados pela equipe do Bradesco ganham ainda mais importância quando colocados em perspectiva: analisando o histórico do S&P 500 desde 1990, poucos foram os períodos em que a bolsa dos EUA recuou 10% ou mais em apenas um mês. São eles:
- Agosto de 1998: crise da Rússia
- Setembro de 2001: ataque terrorista às torres gêmeas
- 2002: escândalo de contabilidade da Enron e da WolrdCom
- Outubro de 2008: crise financeira das hipotecas (subprime)
- Fevereiro de 2009: crise financeiras das hipotecas (subprime)
- Agosto de 2011: crise de dívida na Europa
- Março de 2020: pandemia de covid-19
E aí o efeito borboleta aparece: esses eventos não apenas impactaram os mercados acionários como também tiveram reflexos significativos para o crescimento global.
Um exemplo disso é a crise financeira de 2008, que teve um impacto significativo na economia global, levando a uma recessão em 2009. O Produto Interno Bruto (PIB) mundial encolheu 1,7% naquele ano, na primeira recessão global desde 1993.
“A bolsa pode ser vista como um farol do ambiente econômico de um determinado país. A contração do mercado acionário pode reduzir a confiança de empresários e indivíduos, com impacto negativo sobre a demanda privada”, diz Gazzano.

O que pode acontecer agora com a guerra comercial de Trump?
Em 2 de abril, Trump oficializou as chamadas tarifas recíprocas e causou um verdadeiro caos nos mercados mundiais nos dias que se seguiram ao anúncio.
Para se ter uma ideia do estrago, todos os 21 índices de ações acompanhados pela consultoria Elos Ayta nas Américas, na Europa e na Ásia estão em terreno negativo desde 2 de abril, com quedas que superam 15%.
Apesar de dizer que os mercados precisam se adaptar às tarifas, Trump recuou e concedeu um alívio de 90 dias aos países que não retaliaram os EUA: baixou as taxas para 10% e segue negociando individualmente a suspensão dos impostos desde então.
Nos cálculos do Bradesco, no entanto, o estrago pode estar feito se nada mudar daqui até o final do ano.
O banco simulou a resposta do PIB mundial a um choque de -1% ano a ano no índice acionário dos EUA. Os resultados mostram que uma queda interanual de 10% no S&P 500 reduz o crescimento global em 1,5 ponto percentual (pp).
“Caso o S&P500 permaneça nos níveis atuais até o final do ano, sua variação interanual atingirá -10% em novembro”, diz Gazzano.
O economista afirma que a guerra comercial de Trump deverá impactar os países de forma desigual e, ao que tudo indica, os EUA devem ser o país no qual o crescimento deve ser mais deprimido.
“A queda das bolsas pode ampliar o impacto negativo das tarifas sobre a atividade. Sem uma rápida reversão desse movimento do mercado acionário, devemos observar uma importante revisão das estimativas do crescimento global nos próximos meses”, acrescenta.
DONALD TRUMP: GÊNIO ou LOUCO? A estratégia dos EUA por trás da GUERRA COMERCIAL com a CHINA
As previsões para o mundo em 2025
O Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI) ainda não apresentaram as novas projeções para o PIB global em 2025, mas a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) divulgou na segunda-feira (14) as estimativas revisadas.
A Opep cortou levemente a previsão para o avanço do PIB global em 2025, de 3,1% para 3%, citando a política tarifária dos EUA.
Para 2026, a projeção de alta também sofreu ligeira revisão para baixo, de 3,2% para 3,1%.
No caso do PIB dos EUA, a Opep reduziu as estimativas de avanço tanto para este ano, de 2,4% para 2,1%, quanto para o próximo, de 2,3% para 2,2%.
Já para a China, as projeções de crescimento foram levemente cortadas para 4,6% em 2025 e 4,5% em 2026. Antes, eram de 4,7% e 4,6%, respectivamente.
- VEJA MAIS: ‘Efeito Trump’ na bolsa pode gerar oportunidades de investimento: conheça as melhores ações internacionais para comprar agora, segundo analista
No caso do Brasil, a Opep manteve a projeção para 2025 em crescimento de 2,3%, e para 2026, de 2,5%.
No documento, o cartel menciona que as tarifas de Trump devem ter apenas um impacto marginal no Brasil e, para o próximo ano, é esperada uma aceleração impulsionada pela flexibilização monetária, além de uma retomada do consumo doméstico e dos investimentos.
Bancos e consultorias também começaram a rever suas previsões diante das tarifas de Trump.
A Capital Economics, por exemplo, diz que a tarifa de 145% imposta pelos EUA à China pode reduzir o PIB global em até 1% nos próximos dois anos, caso não haja avanços em acordos comerciais.
Já o Goldman Sachs reviu seu cenário base para os EUA e disse que não haverá recessão este ano depois da trégua anunciada por Trump.
Quanto ao PIB norte-americano, o banco espera crescimento anualizado de 0,5% ao fim do quarto trimestre deste ano ante queda de 1% na previsão anterior.
A Moody´s, por sua vez, diz que as tarifas de Trump podem reduzir o crescimento do PIB do G-20 (grupo composto pelos países avançados e principais emergentes) para 2,5% em 2025, com riscos de inflação mais alta e atividade ainda mais fraca.
A agência de classificação de risco diz que o cenário pode se agravar dependendo da persistência das tarifas, das estratégias de preços das empresas e das retaliações de outros países.
Copel (CPLE6) vai distribuir R$ 1,25 bilhão em dividendos; confira quando essa bolada vai pingar na conta e quem mais paga
A maior fatia dos proventos é da Copel, referentes a proventos adicionais, enquanto a Magazine Luiza distribui proventos referentes ao lucro de 2024
Dividendos extraordinários estão fora do horizonte da Petrobras (PETR4) com resultados de 2025, diz Bradesco BBI
Preço-alvo da ação da petroleira foi reduzido nas estimativas do banco, mas recomendação de compra foi mantida
Bradesco dispara em ranking do Banco Central de reclamações contra bancos; Inter e PagSeguro fecham o pódio. Veja as principais queixas
O Bradesco saiu da sétima posição ao fim de 2024 para o primeiro colocado no começo deste ano, ao somar 7.647 reclamações procedentes. Já Inter e PagSeguro figuram no pódio há muitos trimestres
Dona do Google vai pagar mais dividendos e recomprar US$ 70 bilhões em ações após superar projeção de receita e lucro no trimestre
A reação dos investidores aos números da Alphabet foi imediata: as ações chegaram a subir mais de 4% no after market em Nova York nesta quinta-feira (24)
Subir é o melhor remédio: ação da Hypera (HYPE3) dispara 12% e lidera o Ibovespa mesmo após prejuízo
Entenda a razão para o desempenho negativo da companhia entre janeiro e março não ter assustado os investidores e saiba se é o momento de colocar os papéis na carteira ou se desfazer deles
Gestora controlada por Verde Asset, de Luis Stuhlberger, tenta captar R$ 400 milhões com primeiro fundo imobiliário
FII Verde A&I Cedro Portfolio Renda é o nome do novo fundo imobiliário a ser lançado por Stuhlberger.
Por que o ouro se tornou o porto seguro preferido dos investidores ante a liquidação dos títulos do Tesouro americano e do dólar?
Perda de credibilidade dos ativos americanos e proteção contra a inflação levam o ouro a se destacar neste início de ano
Vigilantes do Peso sucumbe à concorrência do Ozempic e pede recuperação judicial nos Estados Unidos
Ícone das dietas fundado na década de 1960 é vítima do espírito do tempo e se viu obrigada a reestruturar dívida com credores, em meio a um passivo de US$ 1,5 bilhão
Fim da linha para o dólar? Moeda ainda tem muito a cair, diz economista-chefe do Goldman Sachs
Desvalorização pode vir da relutância dos investidores em se exporem a investimentos dos EUA diante da guerra comercial com a China e das incertezas tarifárias, segundo Jan Hatzius
Lucro líquido da Usiminas (USIM5) sobe 9 vezes no 1T25; então por que as ações chegaram a cair 6% hoje?
Empresa entregou bons resultados, com receita maior, margens melhores e lucro alto, mas a dívida disparou 46% e não agradou investidores que veem juros altos como um detrator para os resultados futuros
O que está derrubando Wall Street não é a fuga de investidores estrangeiros — o JP Morgan identifica os responsáveis
Queda de Wall Street teria sido motivada pela redução da exposição dos fundos de hedge às ações disponíveis no mercado dos EUA
CCR agora é Motiva (MOTV3): empresa troca de nome e de ticker na bolsa e anuncia pagamento de R$ 320 milhões em dividendos
Novo código e nome passam a valer na B3 a partir de 2 de maio
Azul (AZUL4) capta R$ 1,66 bilhão em oferta de ações e avança na reestruturação financeira
Oferta da aérea visa também a melhorar a estrutura de capital, aumentar a liquidez das ações e equitizar dívidas, além de incluir bônus de subscrição aos acionistas
Fraude bilionária no INSS: AGU cria grupo para recuperar dinheiro de aposentados e pensionistas; veja o que fazer se você foi vítima
Esquema descoberto pela Polícia Federal desviou cerca de R$ 6,3 bilhões ao longo dos anos; presidente do órgão foi demitido por Lula.
OPA do Carrefour (CRFB3): com saída de Península e GIC do negócio, o que fazer com as ações?
Analistas ouvidos pelo Seu Dinheiro indicam qual a melhor estratégia para os pequenos acionistas — e até uma ação alternativa para comprar com os recursos
COP30: ‘Se o governo Trump não atrapalhar, já é lucro’, diz secretário executivo do Observatório do Clima
Em uma conversa com o Seu Dinheiro, Marcio Astrini analisa o contexto geopolítico atual e alerta investidores sobre os riscos climáticos que já impactam a economia
Listas e mais listas: o que os rankings gastronômicos revelam sobre a nova economia da comida
Muito além do hype, listas dão visibilidade, investimento e projeção, por vezes global, a empreendimentos gastronômicos
Tudo tem um preço: Ibovespa tenta manter o bom momento, mas resposta da China aos EUA pode atrapalhar
China nega que esteja negociando tarifas com os Estados Unidos e mercados internacionais patinam
É investimento no Brasil ou no exterior? Veja como declarar BDR no imposto de renda 2025
A forma de declarar BDR é similar à de declarar ações, mas há diferenças relativas aos dividendos distribuídos por esses ativos
A tarifa como arma, a recessão como colateral: o preço da guerra comercial de Trump
Em meio a sinais de que a Casa Branca pode aliviar o tom na guerra comercial com a China, os mercados dos EUA fecharam em alta. O alívio, no entanto, contrasta com o alerta do FMI, que cortou a projeção de crescimento americano e elevou o risco de recessão — efeito colateral da política tarifária errática de Trump.