A guerra entre Rússia e Ucrânia ganhou um capítulo que já era esperado por muitos, mas que só aconteceu agora: o corte no fornecimento de gás entre os dois países.
A Rússia responde por 40% das importações de gás natural da União Europeia (UE) e, há muito tempo, vem ameaçando suspender esse envio em resposta às sanções impostas pelo bloco.
Mas quem deu o primeiro passo nessa direção foi a Ucrânia. A operadora estatal ucraniana TSO anunciou na última terça-feira (10) uma situação de “força maior” — na prática, isso significa que a empresa está enfrentando circunstâncias imprevisíveis e que impedem o cumprimento de um contrato.
Com a declaração — a primeira desse tipo desde que a Rússia invadiu a Ucrânia, em 24 de fevereiro — o gás russo que passa pelo território ucraniano deixou de ir para o resto da Europa nesta quarta-feira (11).
A operadora também bloqueou o transporte de gás através de sua estação de compressão de Novopskov, através da qual é transportado quase um terço do gás — até 32,6 milhões de metros cúbicos por dia — da Rússia para a Europa.
Tanto a estação de medição de gás de Sokhranivka quanto a de Novopskov estão situadas em áreas ocupadas pelos russos no leste da Ucrânia, e a Gás TSO culpou “as ações dos ocupantes” pela interrupção do trânsito de gás.
Guerra: uma reação há muito esperada
O fechamento da torneira do gasoduto russo pela Ucrânia, embora tenha acontecido pela primeira vez desde a invasão do país, era esperada pelos especialistas.
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Timothy Ash, estrategista sênior soberano de EM da BlueBay Asset Management, disse que ficou surpreso que a Ucrânia não tenha cortado o trânsito de gás e energia antes, na ausência de um bloqueio de energia imposto pela Europa.
“A própria Rússia está atingindo depósitos e suprimentos de combustível ucranianos, então talvez esta seja uma resposta ucraniana a isso”, afirmou ele para a rede CNBC.
O efeito colateral das torneiras fechadas
Como toda ação tem uma reação, os preços do gás natural na Europa dispararam depois que a operadora de rede estatal da Ucrânia suspendeu os fluxos russos por meio desse importante ponto de entrada.
Os preços do gás natural TTF na Europa subiram mais de 6,4% na manhã desta quarta-feira (11), segundo dados da Refinitiv.
De acordo com especialistas em energia, se o corte de fornecimento persistir, esse será o impacto mais direto até agora nos mercados de energia europeus durante a guerra na Ucrânia.
A operadora, no entanto, disse que pode cumprir suas obrigações de trânsito com os parceiros europeus redirecionando o gás para o ponto de interconexão de Sudzha, localizado em território controlado pela Ucrânia.
De qualquer forma, as remessas de gás da russa Gazprom para a Europa via Ucrânia caíram em um quarto depois que Kiev disse que foi forçada a interromper todos os fluxos do ponto de trânsito de Sokhranovka, no sul da Rússia.
*Com informações da CNBC e da Reuters