A vingança dos ursos: Ibovespa desaba mais de 4% e dólar à vista chega a R$ 4,65
Em meio ao pessimismo quanto aos impactos econômicos do coronavírus, o mercado teve uma sessão amplamente pressionada nesta quinta-feira. O Ibovespa chegou a despencar mais de 6% e o dólar rompeu os R$ 4,65, nervoso com a falta de firmeza do BC — e o salto nos novos casos da doença no Brasil trouxe ainda mais estresse às negociações
Durante boa parte do ano passado, os touros mandaram no mercado: as bolsas globais subiram forte ao longo de 2019 e, por aqui, o Ibovespa atingiu patamares inéditos, rompendo pela primeira vez o nível dos 100 mil pontos. Nesse meio tempo, os pessimistas hibernaram — não tinham outra coisa a fazer, em meio à euforia que tomou conta dos investidores.
Pois os ursos finalmente despertaram do sono profundo. E estão com fome.
A sessão desta quinta-feira (5) foi muito parecida com aquela famosa cena do filme "O Regresso", em que o personagem do Leonardo DiCaprio é massacrado por um enorme urso raivoso. A diferença é que, depois de todo o drama, os mercados certamente não vão receber um Oscar.
No Ibovespa, a mordida foi feia: uma queda de 4,65%, aos 102.233,24 pontos — na mínima, chegou a desabar 6,24%, aos 100.536,15 pontos. Depois desse ataque, o índice passou a acumular perdas de 11,63% desde o início de 2020.
Nas bolsas internacionais, a patada foi agressiva: o Dow Jones caiu 3,58%, o S&P 500 recuou 3,39% e o Nasdaq fechou em baixa de 3,10%; na Europa, as principais praças tiveram perdas de mais de 1%.
E, no mercado de câmbio, o rugido foi ameaçador: o dólar à vista disparou 1,60%, a R$ 4,6535, na décima segunda alta consecutiva da moeda americana — no ano, o salto já chega a 14,71%.
Leia Também
O despertar furioso dos ursos tem um motivo: o surto de coronavírus, que se espalha cada vez mais pelo mundo e aumenta a percepção de que a economia global será impactada de maneira importante.
No entanto, há também fatores locais que ajudam a aumentar a aversão ao risco: a economia vacilante, a falta de firmeza na postura do Banco Central — promovendo apenas leilões de swap cambial anunciados com antecedência — e o tom descompromissado assumido pelo ministro Paulo Guedes contribuem para gerar um ambiente de enorme cautela por aqui.
- Eu gravei um vídeo com alguns comentários a respeito dessa postura vacilante do BC num momento de disparada do dólar. Veja abaixo:
Ilha do Medo
O pano de fundo para as bolsas globais segue o mesmo, com o surto de coronavírus ditando a percepção de risco dos investidores. E, nesta quinta-feira, a prudência foi dominante, em meio aos relatos de avanço da doença nos Estados Unidos.
"A situação está bem conturbada no curto prazo, e aí tem pouca gente querendo assumir riscos", diz Glauco Legat, analista-chefe da Necton Investimentos, destacando a notícia de que a Califórnia decretou estado de emergência por causa das novas ocorrências da doença.
Ao todo, já são quase 3,3 mil mortos e mais de 97 mil pessoas contaminadas no mundo. A situação é particularmente preocupante na Itália, que já contabiliza 148 óbitos e pouco menos de quatro mil infectados.
E, em meio à expansão da doença em escala global, começam a surgir sinais mais claros do impacto econômico. O setor aéreo, por exemplo, é um dos principais afetados — segundo a Associação Internacional de Transportes Aéreos, o coronavírus fez a demanda global por viagens crescer apenas 2,4% em janeiro, o menor ritmo de expansão desde 2010.
Além disso, vale ressaltar que, ontem, as bolsas americanas tiveram um desempenho bastante positivo, impulsionadas pelo fortalecimento de Joe Biden nas prévias do partido Democrata. Desta maneira, havia um espaço maior para um movimento de realização de lucros.
Por aqui, a constatação de novos casos de coronavírus no Brasil — já são oito contaminados, sendo que duas dessas ocorrências foram resultado de transmissões locais — contribuiu para aumentar ainda mais a aversão ao risco.
O dia, que já era bastante ruim no Ibovespa, ficou ainda pior com a atualização dos números da doença no país. Foi a partir daí que o índice entrou num estado de pânico e chegou a desabar mais de 6%, embora tenha recuperado parte das perdas antes do fechamento.
"O mercado está muito errático e a incerteza está cada vez mais forte"
Glauco Legat, analista-chefe da Necton Investimentos
O Lobo de Wall Street
No câmbio, a tensão com o coronavírus também é protagonista. Todo o cenário de preocupação fez com que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) cortasse a taxa de juros do país em 0,5 ponto, de maneira extraordinária na última terça-feira (3), de modo a blindar a economia local de eventuais impactos negativos do surto.
A medida surpreendeu o mercado e renovou a percepção de que um novo ciclo global de afrouxamento monetário será iniciado — o que afeta diretamente o Copom, que pode se ver forçado a continuar reduzindo a Selic.
Mas novos cortes na taxa básica de juros brasileira geram pressão sobre o câmbio, já que o diferencial de juros em relação aos EUA permanecerá inalterado caso o Copom acompanhe o movimento do Fed. Assim, vemos uma pressão contínua no câmbio.
Nesta quinta-feira, as curvas de juros fecharam em alta, num movimento de correção após as fortes baixas vistas nos últimos dias. Mas, mesmo com essa abertura dos DIs, os contratos mais curtos ainda estão em níveis muito baixos, evidenciando que o mercado aposta em mais cortes na Selic.
Veja abaixo como ficaram as curvas mais líquidas nesta quinta-feira:
- Janeiro/2021: de 3,76% para 3,88%;
- Janeiro/2022: de 4,22% para 4,43%;
- Janeiro/2023: de 4,82% para 5,07%;
- Janeiro/2025: de 5,79% para 6,01%.
A Origem
A própria postura do BC é motivo de estresse para o mercado de câmbio. Na última terça-feira (3), data em que o Fed cortou os juros nos EUA, a autoridade brasileira assumiu um tom bastante vago ao comentar sua visão do atual momento de turbulência visto no exterior, sem dar qualquer pista sobre os próximos passos quanto à política monetária local.
E a forma escolhida pelo BC para atuar no câmbio e tentar trazer alívio — via três leilões extras de swap cambial, no valor de US$ 1 bilhão cada, sempre anunciados com antecedência — não foi efetiva. Pelo contrário: apenas aumentou a frustração de quem esperava uma atitude mais enfática.
Para Ricardo Gomes da Silva, operador de câmbio da corretora Correparti, o contexto externo mais complicado tem desencadeado um movimento de fuga de capitais do país. E, para ele, o BC deveria anunciar medidas mais estruturadas para atender à demanda crescente por dólares.
Silva cita a postura do banco central do Chile, que, em meio aos protestos sociais vistos no país no fim de 2019, anunciou um programa prolongado de leilões de swap, garantindo a injeção de recursos no sistema por um período definido. "O Brasil poderia fazer algo parecido, garantindo o abastecimento do mercado por um tempo pré-determinado".
O operador da Correparti, no entanto, lembra que, além do contexto internacional, há também a falta de credibilidade da economia brasileira, em meio à frustração com o crescimento de 1,1% do PIB em 2019 e à leitura de que as projeções para 2020 tendem a ser revisadas pra baixo.
"Há uma descrença grande", disse, citando a dificuldade para avanço das reformas e o ambiente político conturbado.
Rede de Mentiras
Após caírem mais de 30% ontem, as ações ON do IRB (IRBR3) até chegaram a abrir em alta, em meio à demissão da alta cúpula da companhia em função do vexame envolvendo o megainvestidor Warren Buffett.
No entanto, essa ligeira recuperação durou pouco: ainda durante a manhã, os papéis viraram ao campo negativo e fecharam em queda de 16,17%, a R$ 15,97. Mais cedo, em teleconferência, a empresa afirmou que não vai rever os balanços passados, questionados pela gestora Squadra.
Foi apenas um sonho
Nenhuma ação do Ibovespa fechou em alta nesta quinta-feira. Sendo assim, eis as cinco maiores baixas do índice hoje:
- Gol PN (GOLL4): -16,77%
- IRB ON (IRBR3): -16,17%
- Azul PN (AZUL4): -14,53%
- CVC ON (CVCB3): -9,83%
- MRV ON (MRVE3): -9,30%
Medo se espalha por Wall Street depois do relatório de emprego dos EUA e nem a “toda-poderosa” Nvidia conseguiu impedir
A criação de postos de trabalho nos EUA veio bem acima do esperado pelo mercado, o que reduz chances de corte de juros pelo Federal Reserve (Fed) em dezembro; bolsas saem de alta generalizada para queda em uníssono
Depois do hiato causado pelo shutdown, Payroll de setembro vem acima das expectativas e reduz chances de corte de juros em dezembro
Os Estados Unidos (EUA) criaram 119 mil vagas de emprego em setembro, segundo o relatório de payroll divulgado nesta quinta-feira (20) pelo Departamento do Trabalho
Sem medo de bolha? Nvidia (NVDC34) avança 5% e puxa Wall Street junto após resultados fortes — mas ainda há o que temer
Em pleno feriado da Consciência Negra, as bolsas lá fora vão de vento em poupa após a divulgação dos resultados da Nvidia no terceiro trimestre de 2025
Com R$ 480 milhões em CDBs do Master, Oncoclínicas (ONCO3) cai 24% na semana, apesar do aumento de capital bilionário
A companhia vive dias agitados na bolsa de valores, com reação ao balanço do terceiro trimestre, liquidação do Banco Master e aprovação da homologação do aumento de capital
Braskem (BRKM5) salta quase 10%, mas fecha com ganho de apenas 0,6%: o que explica o vai e vem das ações hoje?
Mercado reagiu a duas notícias importantes ao longo do dia, mas perdeu força no final do pregão
SPX reduz fatia na Hapvida (HAPV3) em meio a tombo de quase 50% das ações no ano
Gestora informa venda parcial da posição nas ações e mantém derivativos e operações de aluguel
Dividendos: Banco do Brasil (BBAS3) antecipa pagamento de R$ 261,6 milhões em JCP; descubra quem entra no bolo
Apesar de o BB ter terminado o terceiro trimestre com queda de 60% no lucro líquido ajustado, o banco não está deixando os acionistas passarem fome de proventos
Liquidação do Banco Master respinga no BGR B32 (BGRB11); entenda os impactos da crise no FII dono do “prédio da baleia” na Av. Faria Lima
O Banco Master, inquilino do único ativo presente no portfólio do FII, foi liquidado pelo Banco Central por conta de uma grave crise de liquidez
Janela de emissões de cotas pelos FIIs foi reaberta? O que representa o atual boom de ofertas e como escapar das ciladas
Especialistas da EQI Research, Suno Research e Nord Investimentos explicam como os cotistas podem fugir das armadilhas e aproveitar as oportunidades em meio ao boom das emissões de cotas dos fundos imobiliários
Mesmo com Ibovespa em níveis recordes, gestores ficam mais cautelosos, mostra BTG Pactual
Pesquisa com gestores aponta queda no otimismo, desconforto com valuations e realização de lucros após sequência histórica de altas do mercado brasileiro
Com quase R$ 480 milhões em CDBs do Banco Master, Oncoclínicas (ONCO3) cai mais de 10% na bolsa
As ações da companhia recuaram na bolsa depois de o BC determinar a liquidação extrajudicial do Master e a PF prender Daniel Vorcaro
Hapvida (HAPV3) lidera altas do Ibovespa após tombo da semana passada, mesmo após Safra rebaixar recomendação
Papéis mostram recuperação após desabarem mais de 40% com balanço desastroso no terceiro trimestre, mas onda de revisões de recomendações por analistas continua
Maiores quedas do Ibovespa: Rumo (RAIL3), Raízen (RAIZ4) e Cosan (CSAN3) sofrem na bolsa. O que acontece às empresas de Rubens Ometto?
Trio do grupo Cosan despenca no Ibovespa após balanços fracos e maior pressão sobre a estrutura financeira da Raízen
Os FIIs mais lucrativos do ano: shoppings e agro lideram altas que chegam a 144%
Levantamento mostra que fundos de shoppings e do agronegócio dominaram as maiores valorizações, superando com sobra o desempenho do IFIX
Gestora aposta em ações ‘esquecidas’ do Ibovespa — e faz o mesmo com empresas da Argentina
Logos Capital acumula retorno de quase 100% no ano e está confiante com sua carteira de ações
Ibovespa retoma ganhos com Petrobras (PETR4) e sobe 2% na semana; dólar cai a R$ 5,2973
Na semana, MBRF (MBRF3) liderou os ganhos do Ibovespa com alta de mais de 32%, enquanto Hapvida (HAPV3) foi a ação com pior desempenho da carteira teórica do índice, com tombo de 40%
Depois do balanço devastador da Hapvida (HAPV3) no 3T25, Bradesco BBI entra ‘na onda de revisões’ e corta preço-alvo em quase 50%
Após reduzir o preço-alvo das ações da Hapvida (HAPV3) em quase 50%, o Bradesco BBI mantém recomendação de compra, mas com viés cauteloso, diante de resultados abaixo das expectativas e pressões operacionais para o quarto trimestre
Depois de escapar da falência, Oi (OIBR3) volta a ser negociada na bolsa e chega a subir mais de 20%
Depois de a Justiça reverter a decisão que faliu a Oi atendendo um pedido do Itaú, as ações voltaram a ser negociadas na bolsa depois de 3 pregões de fora da B3
Cogna (COGN3), C&A (CEAB3), Cury (CURY3): Veja as 20 empresas que mais se valorizaram no Ibovespa neste ano
Companhias de setores como educação, construção civil e bancos fazem parte da lista de ações que mais se valorizaram desde o começo do ano
Com rentabilidade de 100% no ano, Logos reforça time de ações com ex-Itaú e Garde; veja as 3 principais apostas da gestora na bolsa
Gestora independente fez movimentações no alto escalão e destaca teses de empresas que “ficaram para trás” na B3
