Presidente da Shell critica modelo de leilão do pré-sal
André Araujo afirmou que, ao contrário do que se pensa, o pré-sal é cheio de riscos e surpresas, e os bônus estão muito altos
Como "narcisos", indústria e governo falharam ao dimensionar os últimos leilões de petróleo. Foi o que disse o presidente da Shell no Brasil, André Araujo, em palestra na Fundação Getulio Vargas no Rio de Janeiro. Segundo ele, ao contrário do que se pensa, o pré-sal é cheio de riscos e surpresas, e os bônus estão muito altos. "Quem não é do setor acha que essa indústria tem o bolso muito cheio", acrescentou. O executivo chamou o setor à reflexão e defendeu que as empresas tenham liberdade para decidir por conta própria o retorno que são capazes de dar aos governos.
"No momento em que tiver uma série de descobertas, não precisa ninguém dizer que o bônus vai ser alto. O bônus vai ser alto, é natural. A nossa indústria tem capacidade suficiente para fazer uma avaliação e dar retornos para o governo adequadamente pelo que espera daquelas áreas", afirmou o executivo.
O bônus de assinatura é uma ferramenta típica do contrato de concessão usado em áreas de pós-sal. Por esse regime, sai vencedor do leilão a empresa que apresentar o maior lance pelo bloco do seu interesse. Já no regime do pré-sal, o de partilha, além de um bônus previamente fixado pelo governo, parte da produção é repassada à União e a empresa estatal PPSA controla os custos de cada projeto para ter a certeza de que não haverá desperdícios. Na partilha, portanto, a interferência do Estado é maior.
Mas, diante da ausência das gigantes estrangeiras nos leilões desta semana, o governo já cogita mudar o regime do pré-sal. Por enquanto, predomina a defesa da extinção da preferência dada à Petrobras para que lidere o desenvolvimento das áreas. As companhias petroleiras, no entanto, pedem um pouco mais - a completa substituição do regime de partilha pelo de concessão.
Apesar das críticas ao desenho dos leilões, o presidente da Shell elogiou a atuação da Petrobras nas duas licitações desta semana e demonstrou que gostaria de ter comprado a área mais nobre do megaleilão de quarta-feira, o campo Búzios, arrematado pela estatal em parceria com a CNODC. A fatia da sócia chinesa foi de apenas 5%.
"Búzios é um bloco que todos queriam ter. Nós adoraríamos estar na posição da empresa que domina aquele bloco", afirmou, complementando que, no lugar da Petrobras, "não ia querer mais parceiro nenhum".
Já no leilão de quinta-feira, mesmo tendo exercido seu direito de preferência no leilão em três dos cinco blocos ofertados, a Petrobras comprou, em conjunto com a chinesa CNODC, apenas o bloco de Aram, o maior e mais caro da rodada. As duas empresas vão pagar R$ 5,05 bilhões pela área e foram as únicas, das 17 habilitadas, a participar da 6.ª Rodada de Partilha de Produção.
*Com informações do jornal O Estado de S. Paulo.
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